Com pezinhos de lã, a China tornou-se um universo paralelo

Porque é que estas marcas estrangeiras foram “contaminadas pela cor local”?

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] semana passada a Internet chinesa viu-se inundada de discussões sobre a mudança na China do “inocente” nome da McDonald’s para 金拱, que é como quem diz, Arcos Dourados.

Aparentemente isto mexeu com os nervos dos jovens chineses fãs da cadeia americana de “fast-food”, pela dificuldade que têm em aceitar que uma “experiência exótica” tenha de ser submetida ao gosto e à estética locais, o que para eles não tem encanto nenhum.

A McDonald’s tem sido vista como símbolo do estilo de vida ocidental, que encerra em si o conceito da sociedade de consumo, mas também de  uma sociedade urbana com valores modernos e liberais. Para além disso, para eles, a McDonald’s representa o movimento das marcas estrangeiras que defendeu a abertura e as reformas na China – e estes jovens testemunharam todo o processo de adesão de um país socialista ao mundo capitalista. Quem diria que esta cadeia de “junk food” tinha tanto significado histórico e tanta conotação emocional? Em 1987, quando a primeira loja da KFC (Kentucky Fried Chicken) inaugurou em Pequim, a invasão de clientes foi tão grande que a gerência teve de pedir a ajuda da polícia para manter a ordem. As pessoas chegaram mesmo a realizar copos-de-água na KFC. Em 1990, quando abriu o primeiro McDonald’s na China, em Shenzhen, o entusiasmo ultrapassou os limites do imaginável. No dia da abertura, as receitas bateram o recorde mundial e o número de visitantes representou um marco histórico.

Actualmente a McDonald’s chinesa serve pratos inspirados na gastronomia local. A cadeia de “fast food” já não realiza copos-de-água. Levou algum tempo, mas hoje em dia os chineses já perceberam que “junk food” é efectivamente o que o seu nome indica, uma comida que não presta. Aos poucos, estas marcas estrangeiras concluíram o processo de adaptação local e criaram o seu próprio universo paralelo, neste imenso mercado chamado China.

Enquanto romancista e autora, tenho tendência para gostar de universos paralelos e da ideia romântica que lhes está associada. Mas será que a realidade se irá parecer cada vez mais com eles?

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