Lonely tones | Fortes Pakeong Sequeira apresenta exposição na AFA

Chama-se “Lonely Tones” e é um trocadilho com os clássicos desenhos animados “Looney Tunes”. A exposição de Fortes Pakeong Sequeira é inaugurada, sábado, na Art for All Society e quer dar ao público outra abordagem da solidão

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ugs Bunny, Duffy Duck ou Porky Pig são personagens que integram infâncias vividas na companhia dos conhecidos “Looney Tunes”. É a reinterpretação destes bonecos que também protagoniza a exposição de Fortes Pakeong Sequeira. A mostra é inaugurada no próximo sábado na Art for All Society (AFA).

A ideia do artista local partiu da sua experiência pessoal com os filmes de animação. “Os “Looney Tunes” eram dos meus desenhos animados preferidos e ainda hoje, quando me sinto de alguma forma só, penso naqueles momentos que me faziam rir”, começa por recordar Fortes Pakeong Sequeira ao HM. Por outro lado, considera, “são uma ferramenta para fazer rir as pessoas, e por isso precisamos deles quando nos sentimos mais tristes, e mesmo sozinhos”, disse.

É na solidão e nos seus “tons” que os trabalhos apresentados na AFA têm fundamento. “Quero mostrar com a utilização metafórica destes desenhos animados que as pessoas não precisam de ter medo da tristeza e da solidão. Quero dizer às pessoas que a solidão pode ser prazerosa”, refere o artista.

Momento de reflexão

À semelhança de outras exposições do artista, também “Lonely Tones” pretende dar liberdade ao público para que se interrogue e procure as suas respostas pessoais quando se encontra perante situações de solidão. Sem ter a presunção de dar respostas, Fortes Pakeong Sequeira quer promover a reflexão. “Uso a minha forma de fazer as coisas para dar a conhecer os meus conceitos mas quero, ao mesmo tempo, envolver as pessoas num processo pessoal, que é só delas, quando vêem o meu trabalho”, explica.

Em exposição vão estar 14 trabalhos, na sua maioria em vídeo. A opção pela criação de vídeos tem que ver com o próprio conceito de Fortes Pakeong e com a evolução de um trabalho idêntico que o artista já tinha realizado. Fortes Pakeong quer agora pegar no trabalho já feito e reproduzi-lo de outra forma. “Desta vez não vou mostrar os trabalhos originais que faziam parte de uma instalação, vou antes projectar vídeos de forma a conseguir uma maior interacção com o público. A razão prende-se com a interpretação pessoal que pretende promover. “Quando se vê um vídeo ou uma animação, estamos habituados a finais felizes, especialmente se falamos de desenhos animados feitos para crianças”. Mas aqui não há fim, não há respostas ou desfechos. O objectivo é “que cada um descubra as suas respostas mais internas, dentro do próprio vídeo”.

Já o curador, José Drummond, na apresentação que faz de “Lonely Tones” considera que se trata “uma proposta ontológica brilhante que desafia o conceito dos desenhos animados da idade dourada onde Bugs Bunny ou Duffy Duck nos deveriam fazer rir”. Para o efeito, “Lonely Tones”  mostra a existência como uma farsa em que “no final, estes desenhos animados não são mais desenhos animados – são um espelho de nós mesmos ao mesmo tempo que são, como em todas as obras de Fortes Pakeong Sequeira, um auto-retrato sincero e pungente”, remata José Drummond.

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