China / ÁsiaInterrompida de bilionário que ameaça denunciar corrupção interrompida Hoje Macau - 21 Abr 2017 [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m bilionário chinês que ameaça tornar pública a corrupção envolvendo a liderança chinesa teve a sua entrevista a uma emissora norte-americana interrompida, depois de Pequim ter avançado que foi colocado sob mandado de captura pela Interpol. Na quarta-feira, Guo Wengui estava a ser entrevistado pela rádio Voz da América (VOA), financiada pelo Governo dos Estados Unidos, quando os apresentadores interromperam o programa, que devia prolongar-se por três horas. Seis horas antes de Guo falar à rádio norte-americana, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lu Kang disse que a Interpol tinha emitido um “alerta vermelho” para a captura de Guo Wengui. A VOA negou qualquer alegada interferência política da China na interrupção do programa. Lu Kang recusou adiantar quais os crimes de que Guo é acusado, mas o jornal de Hong Kong South China Morning Post avançou que o bilionário é suspeito de ter subornado um responsável dos serviços secretos chineses, condenado por corrupção em Fevereiro passado. Guo deixou de ser visto em público, em 2014, mas voltou a aparecer recentemente, em duas entrevistas a órgãos de comunicação publicados em chinês além-fronteiras e numa série de mensagens difundidas através da rede Twitter, nas quais dizia ter informações comprometedoras para a liderança chinesa. Em mensagens enviadas à agência noticiosa Associated Press (AP), Guo disse acreditar que o alerta emitido pela Interpol tinha como objectivo pressioná-lo a desistir da entrevista à rádio VOA. O bilionário do sector estatal recusou responder a questões sobre a ligação ao antigo vice-director dos serviços secretos chineses, mas considerou o alerta da Interpol uma manobra inútil da liderança chinesa. “É tudo mentira, tudo ameaças (…) Demonstra que eles temem que eu revele informação explosiva”, acrescentou. Observadores consideraram que a informação divulgada por Guo poderá agitar as disputas internas entre facções do PCC, antes do congresso que se realizará no Outono e que promoverá uma nova geração de líderes. Suspeitas e intrigas O “alerta vermelho” reaviva também preocupações sobre a eleição de um antigo vice-ministro chinês para presidente da Interpol, em Novembro passado. Guo viverá actualmente no Reino Unido ou nos Estados Unidos, dois países sem acordo de extradição com a China. A ascensão de Guo, desde as origens humildes na província central de Henan até se tornar um bilionário do sector estatal com projectos prestigiados, como o Parque Olímpico em Pequim, tem suscitado histórias escabrosas na imprensa chinesa. O bilionário terá alegadamente cooperado com Ma Jian, o antigo quadro dos serviços secretos chineses, para obter um vídeo de um vice-prefeito de Pequim, que travou um projecto imobiliário de Guo, a ter relações sexuais. A difusão do vídeo levou à queda do vice-prefeito. Guo é suspeito de ter subornado Ma com 8,8 milhões de dólares, segundo o South China Morning Post, que cita fontes anónimas. No início da entrevista com a VOA, na quarta-feira, os responsáveis do programa informaram os ouvintes de que funcionários chineses avisaram os representantes daquela rádio em Pequim sobre dar espaço a Guo para difundir alegações infundadas. O programa chegou abruptamente ao fim quando Guo começou a descrever as intrigas e suspeitas que envolvem os líderes do Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo o Presidente chinês, Xi Jinping, e um dos aliados mais próximos. O apresentador disse que o programa tinha que ser interrompido devido a “algumas questões”. Na rede de mensagens instantâneas Twitter, Guo escreveu que o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês está por detrás da interrupção. Esta semana, o jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo, que cita documentos corporativos e entrevistas que parecem confirmar pelo menos alguma da informação avançada por Guo sobre negócios envolvendo a elite do PCC. O Ministério de Segurança Pública chinês recusou comentar o caso.