Ho Chio Meng | 9,3 milhões de patacas foram parar a sala VIP

Em mais uma sessão do julgamento do antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng confirmou que transferiu 9,3 milhões de patacas para o irmão, que acabaram por ir parar a uma sala VIP

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]firma não ter estado ligado ao negócio, mas a confirmação foi ontem feita no Tribunal de Última Instância (TUI). Segundo a Rádio Macau, Ho Chio Meng, ex-procurador da RAEM, afirmou ter transferido 9,3 milhões de patacas para o irmão, de nome Ho Chiu Shun, através da compra de participações na Sociedade de Promoção de Jogos Seng Ou Limitada. A transferência foi feita no início de 2015 mas, segundo o arguido, a ideia era que o dinheiro fosse investido na compra de um apartamento na zona da Praia Grande, que estava em nome do irmão desde 2006. O dinheiro terá sido investido ainda em imóveis, um parque de estacionamento e depositado em várias contas poupança em Macau e na China.

De acordo com a emissora, que está a acompanhar o julgamento, Ho Chio Meng alegou não saber que aquele dinheiro seria, meses mais tarde, investido numa sala VIP. Com base na versão do Ministério Público (MP), o arguido cometeu este crime quando já tinha conhecimento da investigação levada a cabo pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC).

Ho Chio Meng recordou perante o juiz uma conversa com o irmão, em que este lhe terá dito que o sector VIP dos casinos representava um negócio “com futuro”, mas disse que a decisão de investir o dinheiro no sector junket partiu exclusivamente de Ho Chiu Shun.

O ex-procurador não conseguiu mostrar provas da compra do apartamento, por, segundo a sua versão, não ter tido tempo de assinar as escrituras, por já estar sob investigação.

Dinheiro lavado?

Na tese do MP, o investimento numa sala VIP faz parte de um esquema de branqueamento de capitais. Ho Chio Meng não conseguiu explicar as transferências de dinheiro feitas entre o seu irmão e os sócios de dez empresas que, durante dez anos, ficaram com os contratos atribuídos pelo MP.

A acusação diz que coube ao antigo procurador a atribuição de instruções a dois sócios destas empresas, também arguidos, para abrirem contas, receberem e movimentarem dinheiro vindo de subornos pagos. Essa ideia parte de conversas telefónicas alegadamente mantidas entre Ho Chio Meng, o irmão, um cunhado e mais dois sócios de duas empresas. Ho recusou e disse ter feito “um jogo” quando leu a sua própria acusação: “adivinhar” qual era a sua voz no meio dos telefonemas.

O ex-procurador reiterou a inocência, alegando que a tese do MP é apenas uma “dedução”. “Para a acusação, é impossível [descrever] factos objectivos. Não há factos que possam apresentar. Apenas dizem: ‘O fulano pediu, o fulano deu instruções’. Isto é uma presunção”, declarou. E insistiu: “Têm de dizer quais os factos, a data, a hora [a que foram cometidos], como dei instruções e qual foi o resultado”.

Na mesma sessão de julgamento, o antigo procurador admitiu ainda ter omitido bens da sua declaração de rendimentos, alegando desconhecimento da lei. Deixou ainda uma frase: “Não fiz de propósito”.

Ho Chio Meng ilibou a sua mulher, Chao Sio Fai, de ter culpas no cartório. “Fui eu quem fez as declarações. A minha mulher não teve conhecimento, nem se meteu no assunto. A responsabilidade cabe a mim.” Chao Sio Fai é também arguida, acusada de prestar falsas declarações, algo que causa “tristeza” ao antigo procurador.

As declarações de rendimentos dizem respeito ao período entre 2010 e 2015. Contas na China e em Macau, 300 mil patacas num cofre de uma das casas do casal, um apartamento e um parque de estacionamento na Areia Preta serão os bens que faltam nessas declarações. Ho Chio Meng disse que comprou esta fracção para o pai.

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