Andrea Prado, visual merchandiser | Da Amazónia para a selva urbana

[dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]omo eu vim do Brasil, achava que a China ficava no fim do mundo.” As palavras são de Andrea Prado, que hoje recorda o quão Macau lhe parecia longínquo ao chegar. Algo com que não sonhava, quando saiu de Belém, no belíssimo estado do Pará. Tinha, na altura, 15 anos. Com laços familiares em Portugal, o pai de Andrea sempre acalentou mudar-se para a Europa. Assim foi, chegaram a Portugal, alugaram um carro e percorreram o país de norte a sul durante dois meses, com particular detalhe para o norte. Passaram vários dias em cada cidade para as experimentar, para as provar. Lisboa, Coimbra, Porto, Braga, Guimarães, as principais cidades, até porque o pai de Andrea “tinha de trabalhar e não dava jeito ir para uma aldeia”.

Quando chegou a altura de decidir, o Porto foi o sítio eleito por acharem que era mais fácil a integração. “Era uma cidade fácil de atingir, de conquistar e muito romântica. Além disso, conheci os filhos de uns amigos do meu pai, que eram meio artistas, e deram-nos CD dos Bandemónio e dos Delfins”, lembra. Lisboa não dava para Andrea, era muito dispersa, e tinha-se de usar mais o carro.

Entretanto, vieram os estudos de design de moda e o amor. Casou-se com Simão, arquitecto. Na altura começava a rebentar a crise em Portugal e, com um filho a caminho, a vida em Portugal começava a perder encanto. Uma situação complicada para um casal em que ambos são profissionais liberais. Ele no atelier de arquitectura, ela no atelier de design de moda. “Quando a crise começou, o mercado da moda foi o primeiro a ser afectado, as coisas supérfluas são deixadas mais à parte”, recorda. Estava na altura de fazer as malas outra vez.

Rumar a Oriente

A resolução estava tomada, restava saber para onde ir. Chegaram a ponderar o Brasil mas, como o marido de Andrea tinha residência de Macau, o casal pensou que seria mais fácil a mudança e integração.

Quando chegou, não tinha qualquer expectativa de Macau, até porque a Ásia era um mundo novo. Num ápice a distância para o Brasil aumentou consideravelmente. Tinha uma ligeira ideia de sujidade e desorganização, o que acabou por bater certo. Mas não conhecia o outro lado, o factor surpresa de um contexto cultural completamente diferente. “Acho piada às discrepâncias e às desigualdades de uma cidade tão confusa e descomposta. Já estive em muitos sítios, mas aqui as coisas são tão desreguladas, e têm um lado cómico que podemos achar exagerado ou mesmo excêntrico”, lembra a visual merchandiser.

Na adaptação, o facto de a cidade ainda manter a língua portuguesa nas placas das ruas e nos serviços foi algo que ajudou bastante, não é a mesma coisa que “ir para Zhuhai ou Shenzhen”, acrescenta.

Por outro lado, Andrea fala de um sentimento de clausura. “Para onde quer que vás tens de passar fronteiras, pagar vistos, dá um pouco a sensação de prisão.” Além disso, a designer não acha piada à forma como se “constrói e destrói sem a mínima consciência, plano ou organização, sem se pensar na população de forma coerente”.

Muito diferente dos anos da Macau romântica e charmosa que o seu marido conheceu, do glamour do Hotel Lisboa, e da cidade que parecia muito mais pequena, quando o Cotai não existia.

Mãos à obra

Nos primeiros tempos ficava muito em casa com o bebé e não foi fácil encontrar emprego. Primeiro surgiu-lhe uma proposta para o Studio City como técnica de guarda-roupa para espectáculos. Ficou na dúvida, até que lhe surgiu a possibilidade de trabalhar na Prada como visual merchandiser, onde está há dois anos.

Hoje em dia, o trabalho é das melhores coisas de Macau, onde trata das montras da Prada, assim como de todo o arranjo visual de produtos nas lojas, em coordenação com as vendas e distribuição.

Se o emprego é um mar de rosas, criar o filho de três anos em Macau não tem sido nada fácil. “É uma cidade suja, muito poluída, e uma criança que vá para um parque não pode brincar na relva, só no alcatrão”, comenta Andrea. Essa foi uma das razões que fizeram a família mudar-se para Coloane, para ter mais espaço, mais verde, mais liberdade.

Se por um lado, é fácil encontrar uma babysitter, a preços baixos, Andrea não vê nisso uma vantagem assim tão grande. “Se fosse em Portugal poderia deixar com a minha irmã, ou encontrar uma escola com a qual me identificaria mais em termos de métodos de ensino e pedagogia”, confessa.

 

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