Perfil PessoasMarieta da Costa, arquitecta | A fazedora de mundos Isabel Castro - 25 Nov 201625 Nov 2016 [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á conhecia Macau antes de vir para cá morar: o território era destino de férias por causa de ligações familiares. Há cinco anos, fez as malas e decidiu deixar Londres, cidade onde nasceu o primeiro filho, e mudou-se para a terra do marido. “O espírito de comunidade em Inglaterra não existe da mesma maneira que em Macau e foi também isso que nos fez voltar, além de que o meu marido tem cá família”, diz Marieta da Costa, arquitecta. Um salto no tempo para o início do percurso que, feitas as contas, a fez chegar aqui. Marieta da Costa chegou ao final do 9o ano e, à semelhança de quase todos os miúdos com 14 ou 15 anos, não fazia ideia do que queria ser quando fosse grande. A mãe ainda lhe recordou que gostava de desenhar, tinha jeito e era criativa, mas a arquitecta não imaginava, na altura, que fosse possível colocar a criatividade ao serviço de uma profissão. “A minha mãe decidiu pôr-me numa universidade a fazer exames psicotécnicos. Nessa altura, ainda não se ouvia falar muito disso. Estive um dia inteiro a fazer exames muito rigorosos e, quando vieram os resultados, dava tudo para Arquitectura, Design de Interiores, Design de Equipamentos, professora de Educação Visual”, conta. A mãe decidiu procurar “a melhor escola de Artes em Portugal, ao nível do secundário”, e foi assim que acabou por ir parar à António Arroio, onde estudou Design de Equipamentos, “com uma componente técnica muito grande”. Curso terminado, quis ser arquitecta. “Não me adaptei, porque vinha de um ensino muito artístico e a universidade de arquitectura onde estive era muito ‘vamos copiar o Siza Vieira’, ‘porque é que ele é muito bom?’, ‘porque é o ‘Souto de Moura é fantástico?’. Queria fazer coisas à minha maneira”, explica. Primeiro ano feito, esteve de férias em Inglaterra para melhorar o inglês. Ao final de um mês, voltou para Portugal, fez as malas e regressou a Londres. “Foi um grande choque para os meus pais, porque o ano lectivo em Inglaterra já tinha começado e normalmente prepara-se a entrada no ano anterior.” Os pais tinham medo que perdesse o interesse pelos estudos. “Disse-lhes que ia trabalhar e ver qual era a melhor universidade para fazer arquitectura, e assim fiz.” Marieta da Costa começou a trabalhar, enquanto preparava as candidaturas às universidades de Arquitectura. Porque também se interessava por Design de Interiores, concorreu a um curso nesta área. Entrou em todas as instituições de ensino superior, mas a escolha foi para a Chelsea College of Arts. A licenciatura em Arquitectura exigia sete anos, um tempo que, à época, era em demasia. O Design de Interiores tinha vencido. “No último ano conheci o meu marido, estávamos a fazer o mesmo curso, mas faltava-nos qualquer coisa. Eu sabia que me faltava arquitectura. Então acabei o curso e fui para a London Metropolitan University.” Foram anos “muito bons”, de “muito trabalho”. “Entretanto, engravidei. Tive de fazer a minha defesa de projecto enquanto o Lio ficava nos braços do pai à espera que a mãe acabasse. Foi um bocado complicado, mas correu tudo muito bem.” A mudança para Macau foi fácil, mas ao nível profissional a integração foi “um pouco complicada”, sobretudo porque decidiu por um caminho alternativo. “Não queria ir trabalhar para casinos, nem no sector privado. Decidi abrir a minha empresa. Não andei à procura de trabalho. Ia fazendo muito design de interiores, fazia muito restauro. Há dois anos comecei com um projecto novo”, explica. O “projecto novo” chama-se arquitectarte: aulas de arquitectura para crianças com idades compreendidas entre os três e os cinco anos. “Não é ensinar Arquitectura no verdadeiro sentido da palavra. É pegar numa forma, num objecto, e dar uma série de ideias para que percebam o que é habitar o sítio onde estamos, olhar em redor e ver as coisas de forma diferente”, descodifica. “É pegar num quadrado e explicar que dá para fazer uma coisa 3 D, um objecto. Trabalho muito a tridimensionalidade.” Quanto a Macau, é uma cidade que a faz sentir-se em casa. Cinco anos depois de se despedir de Londres, as comparações continuam a ser inevitáveis. “Toda a gente diz que Macau é difícil e eu vejo muitas lacunas mas, comparando com outros sítios, existe imenso apoio”, aponta. Além do factor familiar, há “os amigos que se constroem e que se adoptam como parte da família”. Marieta da Costa encontra “um espírito de comunidade” que não existia no sítio onde viveu década e meia.