Manchete ReportagemJogo | Campeonatos online “podem ser via” para a diversificação Sofia Margarida Mota - 16 Ago 2016 A inclusão de jogos online na diversificação das actividades turísticas de Macau e por parte dos casinos é uma ideia a considerar por parte da Associação Grow Up eSports. Se noutras paragens o jogo no ecrã é um desporto a ter em conta, em Macau não é reconhecido como tal. Um negócio de milhões, com profissionais qualificados e uma modalidade ainda sem concepção legal ou operacional para integrar o negócio dos casinos, mas que não deixa de dar cartas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s jogos online são actualmente uma indústria de milhões. Milhões em gente e dinheiro. Já há atletas dos ecrãs e equipas especializadas. Para uns é um desporto, para outros nem por isso, mas na RAEM as cartas estão dadas para que, no futuro, se abram portas a uma actualização da indústria do Jogo e do Turismo. Em Macau há pelo menos uma entidade empenhada em fazer valer uma nova modalidade na caminhada para a diversificação do turismo e das áreas associadas ao Jogo. Numa sociedade cada vez mais ligada à rede, e em que a vida física dá tantas vezes lugar a uma outra dentro de ecrãs, a Associação Grow Up eSports quer abraçar esta nova tendência no seu lado “saudável”. A Associação sem fins lucrativos, “filha” da homónima em Portugal, tem como objectivo “o desenvolvimento de actividades atentas às novas tendências e que promovam as preferências de entretenimento digital de uma comunidade maioritariamente jovem, incentivando a participação em eventos sociais e competitivos”, como afirma o presidente, Fernando Pereira, ao HM. A Grow Up eSports, que teve início em terras lusas em 2002, conta por lá com cerca de mil membros e é reconhecida oficialmente pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) “como uma das Associações mais inovadoras de Portugal”. Em Macau, a competição virtual ainda está longe de ser vista como uma actividade desportiva, muito menos capaz de colocar desporto e Jogo no mesmo saco. Em resposta ao HM, o Instituto do Desporto (ID) afirma que “a prática do desporto visa a promoção da saúde física e mental enquanto que o Jogo pode trazer efeitos adversos à mesma”, lê-se. No entanto, Fernando Pereira juntou-se a Frederico Rosário, membro da Associação, e os dois estão de mãos na massa. Para o presidente é claro que “a tendência dos Desportos Electrónicos como nova forma de entretenimento é inquestionável”. Numa actualidade em que o tempo dos mais jovens é passado em grande parte a jogar Playstation, telemóvel ou computador, é altura de assegurar que esta prática – em vez de acrescentar maleitas sociais – possa entes representar, com a ajuda de entidades como a Grow up, uma prática “saudável e que os benefícios da mesma sejam devidamente aproveitados”. Perícia VS Sorte De modo a diversificar também o público e o leque de apostadores daquela que é a indústria rainha da RAEM, Fernando Pereira realça que “as apostas em eSports já estão a começar a ser vistas como uma alternativa às tradicionais slot-machines”. Para o presidente da Associação de jogos online esta é uma área que pode vir a colorir com outros tons não só o tipo de apostas no Jogo, como ainda vir a representar uma área apelativa para faixas mais jovens, sendo que “além de serem acerca de jogos que os próprios jogam ou seguem em casa, são totalmente dependentes de habilidade e não do acaso”. Também é baseado na habilidade que Frederico Rosário fala ao HM. Para além de membro da Associação, Frederico é um jogador. “Não sou profissional, sou um jogador amador”, apresenta-se. No entanto também lhe é óbvio que “enquanto nas máquinas, que já nem dão moedas mas sim o recibo para quem ganha, o apostador apenas depende da sorte, se falarmos de jogos online não estamos a apostar nas habilidades dos jogadores que são conhecidos”. Para Frederico Rosário os jogos agora implicam aptidões de processamento cognitivo. “Já não é como no Super Mário”, jogo em que deu os primeiros passos na consola. “Os jogos agora podem incluir cerca de 780 acções por minuto”, diz, enquanto ilustra a complexidade que se vive no mundo virtual. Num minuto, o jogador tem que falar com a equipa de que faz parte e fazer um número de acções conjugando os instrumentos de que dispõe para atingir os objectivos. Outros hábitos Frederico Rosário é filho de um engenheiro e lembra-se de, aos dois anos, o pai “ter comprado a máquina” com que jogava na altura Super Mário. Se hoje em dia os jogos são muitas vezes apontados como alguma conotação anti-social, dado o número crescente, apesar de indefinido, de jovens que cada vez mais se fecham nos seus quartos ligados à rede, para este jogador o contentamento não é disfarçado quando fala nos tempos de meninice. “Quando havia tufões os miúdos juntavam-se todos a jogar.” Agora esta vertente social acontece de outra forma. “Enquanto jogamos em rede não são raras as vezes em que acabamos por partilhar com os outros elementos da nossa equipa o que nos vai acontecendo na vida”, afirma o jogador. Por outro lado, Fernando Pereira refere ainda que, ao trazer os jovens para competições destas modalidades online, também se está a trazer estas pessoas para o convívio social. Um desporto para fazer vida Frederico joga por lazer mas também começa a participar em torneios. Em vésperas de competição em Hong Kong, já considera que “se passar a primeira etapa já é um vencedor”. Também é de vencedores que se trata quando se fala das competições online dirigidas por profissionais. “Cada vez mais se pode viver de jogos online.” Em Macau já há quem o faça e participe nas equipas da China. E não se está a falar de tostões de ordenado. “São pagos cinco ou seis milhões ao ano”, afirma o jogador. No mundo da rede, que não se vê, existem equipas – como a Coreia do Sul, por exemplo – que, tal como no futebol, “roubam os melhores jogadores com contratos mais prometedores. “Quem é bom vai sendo contratado por equipas que pagam cada vez mais”, ilustra. Para Frederico é como qualquer outro desporto. Há treinadores, equipas e mesmo nutricionistas e psicólogos para manterem em forma estes atletas virtuais. “Macau costuma ser mais lento do que os outros”, afirma, e a Grow Up quer trazer as modalidades para serem por cá disputadas como se faz nos outros sítios. “Acho que um dia o ID vai ver o nosso trabalho e reconhecer que somos uma Associação de desporto”, afirma o jogador. Trazer a Macau cada vez mais eventos dentro dos parâmetros das competições online e com eles atrair os vizinhos espectadores da Coreia do Sul, China e Japão e das regiões de Taiwan e Hong Kong é um objectivo mais que definido da Associação. Tal como nos desportos com atletas de carne e osso, também aqui uma “grande maioria dos entusiastas destes jogos gosta de assistir aos seus ídolos jogar, tal como acontece em qualquer outra modalidade desportiva”, afirma Fernando Pereira. Casinos de olho aberto Frederico Rosário refere ainda que o MGM Cotai já pensou nesta área e o Studio city também estará a fazer o mesmo. O HM tentou resposta das operadoras, mas não conseguiu até ao final da edição. Ainda assim, o entusiasmo dos casinos é reiterado pelo presidente da Associação. “Os casinos têm-se demonstrado muito abertos à introdução de eventos de eSports nas suas arenas, pois está comprovado serem espectáculos com elevada projecção, tanto offline como online.” Para o promotor desta modalidade, é fundamental que as operadoras que queiram manter a sua relevância apostem nas novas tendências e comuniquem na língua que os seus possíveis futuros clientes comunicam. “Neste momento, essa língua são os eSports.” Em Las Vegas, um outro epicentro do sector do Jogo que muito trouxe a Macau, “já existe a vontade de se avançar com esta componente de apostas”, como esclarece Fernando Pereira. Dúvidas Até este momento, Davis Fong, académico da área do Jogo da Universidade de Macau, “não consegue ver que exista ainda um modelo legal e operacional de cariz internacional capaz de regular esta área nos casinos. É necessário para Macau que existam estas molduras operacionais e legais em que o território se possa apoiar para eventualmente levar o jogo virtual ao casino. Mas “ainda é cedo” para que isso aconteça em Macau. Para o investigador, o mercado local “ainda é muito pequeno e, por outro lado, ainda não há uma empresa de tecnologia local envolvida nos jogos virtuais”. Por isso, antes da existência de uma configuração legal e de uma estrutura económica dedicada ao desenvolvimento de meios necessários a esta área, não será fácil o seu estabelecimento no território. Davis Fong não põe de parte que no futuro possa ser uma área a considerar por cá. Fernando Pereira alerta, por seu lado, para esta necessidade que também já foi pensada em Vegas. “Antes que isso seja possível, é necessário que todo um sistema de regulação e inspecção de jogos seja colocado em prática, de forma a que possa haver controlo sobre possíveis batotas, doping, ou mesmo resultados combinados”, remata. Números 20 milhões de USD em prémios monetários no evento “The International 2” é o montante que bate todos os recordes estabelecidos até à data em iniciativas do género 200 milhões de RMB definido para 2016 definidos pela World Cyber Arena na China 670 milhões de internautas envolvidos 370 milhões de jogadores 325 milhões de USD em patrocínios em 2016 800 milhões de USD em patrocínios previstos para 2019 32 milhões de espectadores sendo que 8,2 milhões são telespectadores concorrentes