Sexanálise VozesRelacionamentos Tânia dos Santos - 10 Mai 2016 [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á solteiros, apaixonados, namorados fechados e abertos, amigos coloridos, casados e parceiros. Há definições e redefinições sociais, pessoais e históricas. Pressões judaico-cristãs, crenças milenares e forças biológicas. Há uma panóplia de relacionamentos e de como eles se criam e desenvolvem. Há narrativas de todos os tipos com os mais distintos desfechos, acompanhadas de alegria, tristeza ou frustração. Há conversas de café e de cerveja que abrem ou fecham os olhos, esclarecem e enaltecem as coisinhas mundanas que muito têm de profundidade (relacional). Não há um relacionamento igual ao outro, muito menos sexo. Se há espaço de contestação pela solteirice que chateia alguns e que conforta outros, há espaço para definir novas relações e os novos tipos de relacionamento. Começa-se pelo sexo que depois desenvolve-se num sentido de intimidade único, ou ao contrário, começa-se pelo companheirismo de ir a jantares e ao cinema que quando as borboletas estiverem prontas a explodir, fazem-nas explodir na cama. Não há um caminho real para chegarmos a uma relação. Há honestidade, que nunca foi muito bem praticada, nem com os outros, nem connosco próprios. ‘O que é que realmente queremos?’ Ninguém o sabe ainda. Se o amor cega, o sexo turva a visão. Queremos aquele conforto do sexo ou a atenção romântica sem saber muito bem o que é que isso implica, ou exige. Deixamo-nos levar por moldes cinematográficos sem grande sentido crítico (ou outros moldes quaisquer) e esperamos coisas que podem nem fazer sentido. O desafio das relações inter-pessoais são a consequência de uma forma de desenvolvimento egoísta, individualista. Os gostos, as manias, os desejos, as crenças, as frustrações de cada um encontram-se com as dos outros. Ainda mais se mostra com a pessoa com quem nos deitamos numa cama, sem roupa, sem protecção, vulneráveis e simples. Mostramo-nos na beleza e podridão e esperamos que o vínculo se formalize, que se torne real, exactamente como o imaginamos. Os corpos dançam da mesma forma que a nossa imaginação cria e o nosso coração acredita. Se aceitamos a diversidade, em vez de uma história de amor prototípica, sabemos que podemos escolher entre outras opções. Há um certo nível de liberdade para concretizar alguns dos nossos desejos. Por exemplo, investe-se num relacionamento com o número de participantes que quisermos. O poliamor, o nome oficial, é praticado com toda a dedicação possível por aqueles que querem ter um manancial de pessoas com quem lidar, satisfazer e amar. Há quem ainda esteja no extremo oposto, com um parceiro, e que não acredita no sexo, nem o sente. São os novos relacionamentos assexuados que têm ganho adeptos. Espalha-se amor (e sexo se se desejar) por quem queremos espalhar, mas depois falta o relacionamento. O dia-a-dia que se torna aborrecido mas que se reinventa quando os envolvidos trabalham para isso. São níveis de intimidade distintos à medida que se caminha para à frente no relacionamento. Simplesmente assumir que a definição garante o desenvolvimento é errado. Nesta situação de maior vulnerabilidade (i.e. em relacionamento) luta-se contra o hiato de um dualismo que Descartes previu. A lógica racional e a loucura emocional explicam-se e discutem bastante pelo que acham que deveriam ser e aquilo que estão a sentir. Afinal, quem não tem medo de relacionamentos?