Perfil PessoasHeron Sou, viajante: “A viagem dura até que a conta esteja a zero” Tomás Chio - 1 Abr 20164 Abr 2016 [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]eron Sou é um jovem de Macau e está a caminho de uma viagem à volta do mundo. Inicialmente, o plano passava apenas por viajar para os países da América do Sul e da América Central, como México, Cuba, Brasil, Argentina e Chile. Demorou três meses na sua viagem para a América, porque não comprou um bilhete de avião para regressar a Macau. Mas a curiosidade não o deixou desistir: Heron Sou decidiu continuar o seu caminho. “Acho que a minha viagem ainda não se parecia com uma viagem à volta do mundo e não queria acabar de viajar”, conta-nos. Sou assegura-nos que “a viagem dura até “aparecerem zeros no saldo da conta”. Até porque o objectivo, confessa, é que os destinos vão cada vez aumentando mais. A viagem começou porque Heron Sou não encontra nada de especial que o prenda a Macau. Este é um território, para o jovem, muito cheio e aborrecido, uma cidade pobre “que só tem dinheiro e mais nada”. Sendo de cá, Heron sente-se feliz por Macau ter transportes públicos que o levem a todo o lado e diversidade para consumos de qualquer apetite. Mas não há natureza. Não há mar transparente, nem montanhas, nem gelo. O jovem é “um produto complemente feito em Macau”: desde o ensino infantil ao mestrado, fez todo o percurso no território. Foi atleta de Squash e representou Macau em jogos internacionais no estrangeiro. Fez um intercâmbio na Noruega, enquanto tirava a licenciatura, e foi essa experiência que lhe deu uma nova visão: o mundo é tão grande e as coisas não correm sempre ao sabor do vento de Macau. Nem ao seu estilo. Do plano à prática Apesar de nos repetir que Macau é aborrecido para quem é jovem, Heron Sou relembra que, quando tinha tempo livre, sempre foi um “jovem normal como os outros”: ia ao cinema, praticava desporto ou namorava, mas a falta de coisas para fazer por cá fazia-o, às vezes, optar por ficar em casa. “Quando era criança, gostava muito de ver coisas com extraterrestres e civilizações antigas na televisão e isso também foi uma das razões principais que me atraíram para ir à América”, diz-nos. Em Setembro do ano passado, o jovem finalizou o mestrado em Educação Física e Estudo do Desporto na Universidade de Macau (UM), onde trabalhava também como funcionário. Trabalhou na UM quatro anos, onde lidou com vários tipos de emprego desde a limpeza, à administração, segurança… sentia-se desafiado. Mas isso era algo que não o completava e Heron Sou queria algo mais na sua vida. “Era um atleta de Squash, sou treinador e tenho uma licença de árbitro para esta modalidade, mas sentia-me como um estudante da escola primária quando olhava para o mundo. Precisava muito de sair daqui.” O orçamento para a viagem era de dez mil dólares americanos, mas Heron também não queria visitar os países “como um vagabundo”: foi aos restaurantes para experimentar a gastronomia e ficou acomodado em hotéis. Mas agora que o plano mudou, o orçamento é uma coisa que já não tem valor para ele. Os familiares não discordaram da viagem. Heron Sou falou aos pais sobre o plano, apresentou-lhe a ideia de mudar de emprego e de fazer uma viagem bem longe da família. Os amigos apoiaram-no e deram até sugestões para ter cuidado com a vida… e com a carteira. Para o seu futuro, ainda não tem ideia do que quer fazer. “A maioria dos pessoas não imagina o que quer. Não sabia o que gosto de fazer. Pensei que podia encontrar o meu interesse durante a viagem, mas a realidade é que o mundo é cruel, precisamos do dinheiro para sobreviver, cada coisa que precisamos temos de a pagar. É horrível, não é?” Heron começou a viagem sozinho, mas conheceu muitos amigos novos durante a viagem: foi o caso de um casal de Hong Kong que conheceu na Bolívia, um alemão no México e alguns amigos da Noruega que até o acompanharam em parte da viagem. E as memórias ficam. A bem ou a mal. “Faço diários e vou preparar um álbum de fotografias que tirei durante as viagens. Isso é fixe”, disse ao HM. O próximo destino já está marcado: Heron Sou vai para o Egipto, porque queria comparar as pirâmides egípcias às mexicanas. Neste momento, o jovem está a descansar em Espanha. É que a viagem ainda agora começou e Heron também quer visitar o Pólo Sul, depois de ter ido ao Árctico.