Sexanálise VozesLiterariamente pelo sexo Tânia dos Santos - 26 Jan 2016 [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o seguimento dos incentivos à masturbação, vêm os facilitadores de erotização que hoje em dia são de muito fácil acesso – nomeadamente a pornografia. Mas porque incentivos visuais não podiam ser mais óbvios, sugerem-se alternativas. Os movimentos pró-leitura são infindavelmente úteis, e não vi razão porque não devesse pregar o uso literário para satisfazer não só a nossa sede de conhecimento, mas também o nosso desejo. A tese é de que usar literatura para fins masturbatórios ou simplesmente para exercícios de imaginação erótica será muito mais saudável, porque pelo menos é complementada pelo desenvolvimento de capacidades linguísticas. Há leituras sexuais para todos os gostos, não há necessidade de serem categorizadas como brejeiras, rascas, ou sem gosto. Há alguma memória de ver em quiosques portugueses uns livros de capa cor-de-rosa e de pessoas bem aparecidas (demais), de qualidade literária duvidosa, mas de expressão sexual suficientemente potente. O estereótipo tem tendência a colar-se às donas de casa desesperadas que vêm as suas fantasias satisfeitas com suas secretas leituras. Mas juntando o útil ao agradável, porque não envolvermo-nos na arte das letras (melhor desenvolvida) com excitantes descrições de sexo? Por uma experiência intelectual e sexualmente estimulante. A lista de autores de escrita erótica é extensa, o meu conhecimento em relação aos ditos autores talvez seja mais limitada. Todos os géneros literários encontram-se erotizados, temos manuais de sexo (e.g. Kama Sutra), romances, poesia, biografias, autobiografias. Desde já garanto uma diversidade na explícita sexualidade, por isso, certamente existem autores adequados a cada um de nós. Muito provavelmente uma boa procura seja imperiosa. Deixo aqui poucas (mas boas) sugestões: D. H. Lawrence – Um pioneiro no eroticismo literário, a quem fora outrora acusado de ter desperdiçado a sua carreira em pornografia barata. Nonsense. D. H. Lawrence quis explorar emoção e comportamento humano à sua última consequência, e por isso, não deveria ser o acto anti-obscenidade a pará-lo. O mundo foi-lhe tão cruel que até nos obituários a ele dedicados mostraram antipatia e hostilidade. Mas a ele agradecemos a coragem e convicção. Quem agora o lê, dificilmente se chocará com o seu conteúdo, mas uma boa referência para quem gosta do setting de há dois séculos atrás. Henry Miller – Um grande fã de D. H. Lawrence, quis deixar um legado erótico-literário, mas zangado. Entre várias obras eróticas, o ‘Trópico de Câncer’ passa-se em Paris, onde o autor viveu momentos especialmente boémios. Uma reflexão sobre a condição humana de uma brutal sexualidade, sem freio, nem filtro. Para quem tem interesse em pesquisar as diferentes formas de nomear e descrever o órgão sexual feminino. Anaïs Nin – Amante de Henry Miller (muito conveniente, muita prática inspirativa) deixou literatura erótica, porque, apesar de uma curiosa pelo sexo, havia uma coleccionador que pessoalmente lhe encomendava estórias (bem pagas). O ‘Delta de Vénus’ é um conjunto dessas mesmas estórias, com descrições femininas em conteúdo e em perspectiva. Depois de só homens explorarem (e arreliarem meio mundo com) a considerada ‘vulgaridade’, Nin torna-se na pioneira do sexo oposto, na procura erótica das palavras. As vantagens de nos debruçarmos na leitura para exercício imaginativo sexual traz várias vantagens, mas há uma que me vem à cabeça assim de repente: é silencioso! O ideal para quem partilha casa e não quer pôr headphones para ouvir arfejos exagerados. E depois, claro, o produto final imaginativo torna-se numa co-produção entre o escritor e o leitor. Há espaço para tornar a experiência nossa, adicionando aqui e ali pormenores reflectores da nossa individualidade, por exemplo: ajustar tamanhos de mamas, pôr mais ou menos pêlos no peito do rapaz, imaginar-se um vouyer ‘real’ do encontro ou, mesmo, imaginar-se um elemento extra. O problema é que se a leitura tem como consequência a masturbação, ocorre-me alguma dificuldade com a posição das mãos, pegar no livro e/ou virar a página e carícias genitais. Problema logístico. Talvez ultrapassável se se usar uma estante? Deixo ao critério criativo de cada um. Acima de tudo, votos de motivação literária. Leia-se mais.