EditorialA única coisa que tenho para te dar é o mundo Carlos Morais José - 29 Dez 201520 Abr 2016 [dropcap style=circle’]S[/dropcap]ó há uma solução: avançar. Não parar. Não soluçar. Seguir em frente. Eis o único movimento digno desse nome, eis a única saída. O resto são desculpas. Todos as temos, todos as proferimos e todos nos arrependemos. Qual a mais-valia da inércia? Qual o lucro que preside ao sossego? Que vantagem tiramos da repetição? Cada leitor terá a sua resposta, cambada de imbecis, como se não existisse apenas uma e uma única, solitária, desdenhosa, impante de glória e desejos de vitória: seguir em frente, andar avante, deslizar sobre os carris sem tergiversar. Nunca um passo atrás, como queria Lenine, porque esse só me permitirá meio passo em frente. Nunca a contemplação, ainda menos as crenças em visões ou segredos esotéricos. O único esoterismo que vale a pena é o de minha mãe. O resto são mitologias bacocas. Vamos em frente. Sem hesitações, baias ou devoluções. Não devolvas o que compraste; não empenhes o que não é teu. Não olhes para trás porque as causas das coisas não existem. São uma factura que, ainda por cima, te obrigam a pagar. Diz que não. Não vás por aí. É que ele existem melhores caminhos. Ainda que se façam sozinhos. Dá-me a tua mão. Não te levarei a nenhum lado porque também não sei qual a via, onde pára afinal essa estrada. Só quero a tua mão, porque gosto de ti e me apetece a tua companhia. Nada nos diria que a vida é mesmo assim. Atrapalhada e confusa, desgastada velha de cabaré. Oficiante das noites e dos dias, do nevoeiro, do sortilégio dos odores. Mas é. Assim mesmo: dotada de todos os sentido que lhe quiseres proporcionar. Vem comigo, por favor. Não esperes demais. A única coisa que tenho para te dar é o mundo. O resto, sinceramente, pode esperar. Eu não posso. Falece o tempo. E nele se dissolve esta partícula a quem num dia de desespero ensinaram a dizer “eu”.