Breves PerfilJoana Ieong, professora do ensino secundário Andreia Sofia Silva - 4 Dez 20154 Dez 2015 [dropcap=’circle’]A[/dropcap] pouca experiência que ainda tem na área do ensino já lhe mostrou que ensinar os mais novos não é pêra doce. Por entre a papelada burocrática das aulas, dos testes e exames, há que ensinar letras e números a crianças que nem sempre querem estar sentadas a aprender. Professora na secção inglesa do ensino secundário do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Canossianas da Caridade, Joana Ieong, de 24 anos, reconhece as dificuldades. Mas, para já, estar numa sala de aula é mesmo aquilo que a jovem de Macau quer fazer. O percurso académico foi feito na Universidade de Macau, com uma licenciatura em Educação, com especialização no Chinês. “Pensei que poderia ser professora, então escolhi estudar Chinês, mas também domino o Inglês e tenho conhecimentos de Matemática. Fiquei em Macau por causa da minha família, porque não tinha condições financeiras para ir estudar para fora. E também queria estudar Chinês, então pensei que estudar em Macau fosse a melhor opção. Na escola também dou aulas de Cantonês, então acho que o ter estudado em Macau foi a melhor opção”, contou ao HM. Joana Ieong considera que não é fácil dar aulas e muito menos a alunos locais, que nem sempre querem trabalhar. “Os estudantes de Macau são um pouco preguiçosos, porque penso que tudo começa nos pais, que trabalham fora de casa e não têm tempo para cuidar dos filhos. Então as crianças gostam de brincar e têm muitas actividades depois das aulas e ficam com menos tempo para os estudos. Preferem brincar em vez de estudar.” Casas e velhice Ao olhar para a terra que a viu nascer, Joana Ieong encontra as dificuldades normais de uma economia que sofreu o ‘boom’ que ninguém esperava. Ainda vive com os pais, mas o facto de ter de entrar no mercado imobiliário deixa-a com vários receios. “Em relação aos problemas existentes, só aponto a questão da habitação e da economia, porque as coisas em Macau estão muito caras. O meu salário, comparando com outros, é mais baixo e também é impossível comprar uma casa. Talvez até à minha velhice tenha de pagar uma renda de casa e esse é o problema mais grave. Tenho 24 anos, mas daqui a uns anos quero casar, mas talvez eu e o meu namorado não possamos pagar uma habitação. Preocupo-me bastante em relação a esse ponto”, disse. Quando não dá aulas, Joana Ieong opta por ficar em casa aos fins-de-semana, uma vez que, fora de portas, encontra apenas uma cidade em constante rebuliço. “Macau é uma cidade muito pequena e há casinos por toda a parte, então não há muitos lugares de entretenimento em que possamos relaxar. Há demasiados turistas e, nos fins-de-semana em que passeio por Macau, só encontro pessoas, então normalmente prefiro ficar em casa.” Apesar de ter estudado Chinês, Joana Ieong ficou com a curiosidade desperta em relação ao Português, até porque o namorado aprendeu a língua de Camões na universidade. “Gostaria de sair daqui e ir a Portugal. Tenho muitos amigos que foram estudar para Portugal e disseram-me que é um bom sítio para ir e onde as coisas são mais baratas”, assume. Joana Ieong não acha mal algum que o território ainda possua uma comunidade portuguesa com alguma expressão. “É muito importante termos uma comunidade portuguesa aqui, porque o Português também é uma língua de Macau. Mas não há muitas pessoas que falem o Português hoje em dia. Eu gostava de aprender Português também, mas trabalho aqui e tenho muitas coisas para fazer, por isso ainda não encontrei tempo para estudar. Talvez deixe de ser professora para estudar”, admite ao HM. Olhando para o sistema de ensino, a professora do ensino secundário considera que o Executivo deveria investir ainda mais no ensino das línguas e não apenas da segunda língua oficial. “As crianças deveriam aprender mais línguas e não apenas o Inglês. Hoje em dia a maioria das pessoas diz que o Inglês é importante, mas penso que deviam aprender mais línguas estrangeiras, a língua materna, o Inglês e outra”, conclui.