Desporto Grande Prémio de MacauPilotos mais jovens têm entre 17 e 19 anos Joana Freitas - 23 Nov 201523 Nov 2015 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]inda têm cara de adolescentes, mas são autênticos homens adultos com carros na mão. Os mais jovens pilotos do Grande Prémio correm na Fórmula 3 e contam apenas 17 anos. Naquela que foi a 62ª edição do maior evento desportivo do território, não se deixaram levar pela experiência nas corridas ou o posto da idade. Impressionaram quem se sentou nas bancadas e quem sentiu mais de perto a emoção do fim-de-semana. São os putos da Guia, que fazem o circuito de mais de seis quilómetros em pouco menos de dois minutos. São, entre outros tantos, Sérgio Sette Câmara, Callum Ilott e Charles Leclerc. “Quando tinha oito anos costumava ir à pista [de corridas] da minha cidade. Tive de experimentar. Depois, o meu pai comprou-me um kart e comecei aí”, conta-nos satisfeito Ilott. Nascido no mês em que acontece o Grande Prémio, em 1998, o jovem britânico esmerou-se naquela que foi a sua estreia no território. Desde que começou no kart oferecido pelo pai, não parou os treinos, todas as noites depois da escola – elemento que não vem à mente quando pensamos em pilotos que correm num GP como este, mas que é, como numa vida normal de adolescente, um elemento constante. “Gostava de dizer que a minha vida é correr, mas o meu pai – e a Red Bull (patrocinadora) querem que continue a ir à escola. Quando não estou a correr, estou na escola.” O caso é semelhante com Sérgio Sette Câmara. O brasileiro de 17 anos chegou a Macau pela primeira vez directamente de Belo Horizonte. Mas não sem antes por um 3o lugar no Zandervoort Masters of F3. Começou a correr “bem cedo”, quando tinha apenas seis anos. O kart foi também a via para um F3. “Comecei por brincadeira, como todos os pilotos. Depois, fomos começando a levar a coisa mais a sério, fiz algumas corridas de profissionais, comecei a correr na Europa e no ano passado fiz algumas corridas de F3. E agora Macau”, conta ao HM. Callum Ilott (Fotografia de Kelsey Wilhelm) O circuito da Guia “dá um pouco de medo”, principalmente nas primeiras voltas. “Assusta. Especialmente no primeiro treino… ‘não posso errar? Como assim?’”, conta, rindo. “Acostumei-me e consegui adaptar-me bem, acho.” Sette Câmara não tem uma vida adolescente “100% normal”, porque apesar de praticar um desporto com treinos “limitados” – já que não pode estar no carro todo o dia -, estar com amigos nem sempre é possível, ainda que o “ir à escola” tem de ser. “Gosto da minha vida, não é nada ruim. Gosto de correr.” Charles Leclerc é um ano mais velho que Ilott e Sette Câmara. Vem do local onde existe um dos circuitos mais famosos do mundo – Monte Carlo, no Mónaco – e ficou em 4º lugar no FIA Formula 3 Championship este ano. Estreou-se também em Macau, onde conseguiu subir ao segundo lugar do pódio. Para ele, não houve nada a temer. “O circuito não me assusta. Se tivermos medo, não conseguimos ser rápidos. Mas é uma pista espectacular, é muito raro ter uma pista de cidade como esta e o ambiente é espectacular”, atira o jovem, em conversa com o HM. Charles Leclerc (Fotografia de Kelsey Wilhelm) Ficámos a saber que corre desde os cinco anos, depois de, nesta idade, ter pregado uma peta ao pai: para não ir à escola disse sentir-se doente e acabou o dia a assistir a uma corrida com o pai e o melhor amigo dele. O pai do piloto Jules Bianchi, que tinha uma pista. “Eles ensinaram-me tudo sobre o que é correr e eu disse que queria fazer isto quando fosse mais velho. E daí, corri em karts e, agora, em F3.” A escola, os amigos e a Guia Na lista dos pilotos mais novos sobressaem os nomes de outros jovens. O canadiano Lance Stroll é um deles, bem como George Russell, ambos com 17 anos, e Andy Chang, que chegou aos 19 o mês passado. A família de Sette Câmara, diz-nos o piloto, é um dos seus mais fortes apoios, bem como o manager e a equipa restante. Se é difícil para a mãe e pai vê-lo a correr? “Eles já estão habituados” a que a sua vida seja atrás do volante. O brasileiro assegurou-nos que não se sente pressionado por estar a representar um país que venceu na Guia através de Ayrton Senna, mas a felicidade de correr aqui é um dos motivos que o faz querer regressar e vencer também. Sérgio Sette Câmara (Fotografia de Kelsey Wilhelm) O regresso ao Grande Prémio é desejo comum dos três jovens. Ilott, que se aventurou principalmente em campeonatos britânicos, chegou “bastante novo” aos internacionais e venceu a WSK Final Cup antes de por os pés na Guia, partilha o mesmo sentimento por Macau. E pelo rigor que o nosso circuito impõe. “Não tenho medo do circuito, mas ele choca. Quando corremos a primeira vez é chocante, é tão rápido e tão estreito em alguns sítios. E é tão longo. Parecemos destinados a fazer asneiras em algum ponto. Mas adoro”, diz-nos. A estreia na Guia foi prova de que conseguem fazer muito ao volante de um F3, apesar de juventude. A adrenalina com a corrida e até algumas experiências menos boas põe-lhes um sorriso na cara sempre que lhes perguntamos se vão voltar. “Com certeza.”