Manchete SociedadeLee Hay Ip, Presidente da Associação de Engenharia Geotécnica e membro do CPU Flora Fong - 21 Set 2015 Obrigar as construtoras a contratar profissionais específicos para avaliar o solo antes de qualquer construção é uma das sugestões de Lee Hay Ip, que diz que, durante anos, nunca se prestou muita atenção a este problema. O engenheiro diz ainda que a construção de mais uma ponte para ligar Macau à Taipa seria mais viável do que um túnel [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uais são os trabalhos principais da Associação de Engenharia Geotécnica de Macau? A nossa Associação já foi fundada há cerca de oito anos e é constituída por membros de diferentes áreas, como engenheiros civis, funcionários da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), professores da Universidade de Macau e empreiteiros. Trocamos experiências, por exemplo eu sou conselheiro de design. Todos nós temos interesse na área geotécnica, que é a construção das fundações de um edifício. Ao longo do tempo em Macau, não tem vindo a ser dada muita atenção à engenharia geotécnica. Antigamente os edifícios não eram altos, os mais altos tinham apenas cerca de dez andares e não tinham muitos problemas. Mas depois da transferência de soberania e da abertura das licenças de Jogo, foram construídos muitos prédios altos, começando pela Torre de Macau, que foi o segundo projecto em Macau no qual participei na construção, em 1999. Depois, os casinos, o metro ligeiro, o Terminal do Pac On, entre outros. Podemos observar que acontecem várias vezes a prorrogação e excesso de despesas das obras de grandes dimensões e 80% foram por causa da engenharia geotécnica. Portanto, o objectivo da nossa Associação é aumentar a consciência dos residentes de Macau face à importância desta engenharia geotécnica, bem como aumentar o nível de conhecimento dos engenheiros do sector, através da realização de seminários anuais. A Associação participou em algumas obras públicas nos últimos anos? Não participámos através da Associação. Macau ainda não chegou a este nível, nem tem este hábito. Se tivermos em conta Hong Kong e Taiwan, as associações podem participar na construção de obras, ainda que sem fins lucrativos. Seria bom se Macau pudesse atingir esse nível? Sim, e acredito que vai ser desenvolvido gradualmente. Por exemplo, a Associação de Engenharia Geotécnica de Macau foi convidada para avaliar os concursos da construção do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa Guangdong-Macau na Ilha da Montanha. Isto acontece pela primeira vez e espero que, quando abrirem concursos públicos de obras de grande dimensão em Macau, o Governo possa convidar mais as associações para avaliação, aumentando a imparcialidade. A questão do problema de solo no parque de materiais e oficina do metro ligeiro – grande percentagem do solo era lodo, não permitindo a fixação das estacas – já foi admitido pelo Gabinete para as Infra-Estruturas e Transportes (GIT), ainda que o organismo tenha já garantido que as fundações já encontraram a rocha mãe e a aplicação das estacas já foi concluída no essencial. Tem conhecimento desta questão? Não participei na obra, apenas li notícias. Na minha opinião, este projecto é um óptimo exemplo para mostrar a importância de se investirem mais recursos na engenharia geotécnica no início de uma obra. Um dos trabalhos importantes é a investigação do solo, antes de se construir, para saber não só de que é composta a terra, bem como onde está a rocha. Seria melhor se todas obras fossem investigadas por engenheiros civis e geotécnicos devidamente licenciados. Portanto actualmente em Macau não se faz uma investigação desse tipo ao solo? Não. O Governo recruta apenas as empresas de construção para investigar o solo. Como o Regime de Qualificações nos Domínios da Construção Urbana e do Urbanismo entrou em vigor em Julho, existe uma tendência para melhorar, mas o regime ainda não regulamenta isso, porque entre os 13 domínios não são classificados os engenheiros civis e os geotécnicos. Espero mesmo que se aprenda com tantos problemas que têm acontecido nas obras e se adicione a engenharia geotécnica entre as profissões necessárias, assegurando a segurança e a qualidade das obras. O contrato de exclusividade do Canídromo vai expirar no final do ano e existem diversas opiniões sobre preservar o negócio ou alterar o local noutras instalações. Qual a sua opinião? É uma boa oportunidade para aproveitar o espaço subterrâneo para resolver o problema das inundações, que tem influenciado as zonas mais baixas e o porto interior quando há tufão. Acho considerável que, no espaço subterrâneo da área de 200 mil quilómetros quadrados do Canídromo, se construa uma grande piscina para escoar as águas da inundação, até porque as propostas do Governo para resolver o problema não têm funcionado. A largura da barragem [pensada pelo Executivo] poderá impedir o funcionamento da via marítima, os barcos e os bens transportados, além de que existe um potencial risco de falha da barragem, o que pode piorar a situação da inundação. Sobre as estações de bombeamento a ideia não é completa o suficiente, sobretudo quando houver tufões, porque o nível de água é muito alto. Assim, poderia bombear-se a água para um determinado espaço, de forma temporária, que seria o do Canídromo. O terreno do Canídromo é adequado para construir a piscina que apontou? Essa é uma boa questão, porque através de um mapa geológico de Macau que a nossa Associação fez em 2013, o Canídromo pertence a uma zona de aterro e existe condições de se construir por baixo do campo desportivo dentro do Canídromo, como por exemplo o Auto-Silo da Nam Van (Pak Wu) que também pertence à zona de aterro e foi escavado vários andares subterrâneos sem problemas. Pela minha análise preliminar, a piscina poderia ter até quatro metros de altura e ocupar um terço da área toda do campo, que já seria suficiente para guardar a água das inundações. Se for construída isso iria não só resolver o problema das inundações, mas também iria permitir que a água pudesse ser utilizada para regar as plantas. É também membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). A DSSOPT afirmou numa reunião recente que a elaboração do plano director vai precisar de três a cinco anos para ser feita. Qual é a sua opinião? Parece-me um pouco devagar demais e mostra que a ordem das coisas foi trocada. Normalmente, os planeamentos de cada zona são elaborados após um plano director. Aqui, temos o exemplo das consultas públicas sobre o planeamento das várias zonas dos novos aterros, que acabaram há pouco tempo. Muitas pessoas acham que as etapas estão ao contrário. Mas não podemos esperar e não fazer nada antes de sair o plano director, Portanto, o Governo não tem escolha, a construção de 32 mil habitações na Zona A deve começar já, bem como outros planeamentos. Esta troca na ordem das coisas pode causar conflitos ou falta de coordenação entre os planeamentos preparados para as diversas zonas e o plano director? De certeza que vai acontecer isso, mas é a escolha de esperar ou desenvolver. Macau tem um desenvolvimento rápido, está carente de habitações e cheio de problemas de trânsito. Vale a pena colocar a qualidade de vida em modo de espera por causa do plano director? Isso é inevitável. No que toca à quarta passagem entre Macau e Taipa, a DSSOPT vai decidir a construção em ponte ou túnel no final deste ano. Tem preferência? Pela minha experiência em engenharia há mais de trinta anos, a forma mais viável é a ponte. Em primeiro lugar, construir pontes é mais barato do que construir um túnel. Depois, de forma geral, um túnel é construído apenas quando não puder ser construída uma ponte. Como por exemplo em Hong Kong, no porto de Victoria não há pontes mas foram construídos vários túneis, porque as pessoas não gostam de pontes que podem tapar a vista e não deixar passar iates grandes. Em Macau é diferente e, pelas informações que obtive, não vi razões para não se construir uma quarta ponte. Além disso, o nível da dificuldade na construção de um túnel da futura zona A para zona E é alto devido à sua inclinação necessária, que implicaria utilizar mais espaço nos dois lados da ponte. É também melhor pôr o metro ligeiro a funcionar de forma elevada do que subterrâneo? Neste caso não, porque construir passadiços elevados ao longo das estradas causa um grande impacto no trânsito e faz as ruas ficarem mais estreitas. É melhor os traçados construídos pela forma subterrânea na península de Macau. No entanto, as leis de Macau não permitem que o Governo possa aproveitar todo o espaço subterrâneo, por exemplo o dos terrenos privados. Só a revisão das leis poderia que as passagens do metro fossem construídas totalmente em subterrâneo.