Eventos MancheteI had a dream | Exposição positivamente vandalizada Filipa Araújo - 28 Ago 201528 Ago 2015 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] exposição do publicitário Henrique Silva, mais conhecido por Bibito, de fotomontagens de figuras públicas da história do mundo, tais como o Presidente da República Cavaco Silva, o ditador Hitler, ou Mao Tsé Tung, foi “positivamente” vandalizada. Não é um erro. A reacção dos vândalos é vista pelo próprio artista como algo positivo, apesar do mesmo assumir que nunca pensou que alguém tivesse a coragem de reagir. Partindo do princípio que a mostra é “um trabalho que se baseia na provocação”, a exposição “I had a Dream – Eu tive um sonho mau” brinca, por um lado, com a expressão de Luther King “I have a dream” em contraponto com os sonhos destas pessoas que o artista representa ou interpreta. “Elas também tiveram um sonho, uma visão, só que era mau”, explica. “Estou contente que alguém se tenha insurgido e vandalizado a galeria, não que queira fazer o incitamento a tais actos, mas gostei de ver que alguém actuou contra algo que o revoltava. Seja estupidez e ignorância – como muita gente o acusou no meu Facebook – ou seja porque for, actuou. Para um país tão orgulhoso dos seus brandos costumes, achei o máximo”, argumentou o artista. O objectivo da exposição era claro: agarrar em imagens e estereótipos que representam o lado menos bom de cada um de nós e “de algum modo recontextualizar de uma forma humorística e ligeira”. A intenção do publicitário era a de criar uma reacção, seja ela qual fosse, nas pessoas. Para Bibito é preciso que a sociedade consiga libertar-se do tabu e de um passado de peso. É preciso viver “melhor com o passado, sem ressentimentos, sem ressabiamentos”. Viver agarrado a esse lado negro, diz, traz sempre complexos e outras coisas como a intolerância ou vinganças. Erros de avaliação Os vidros da galeria Passevite, na freguesia de Arroios, encheram-se de rabiscos em cor laranja com insultos, mas nada que preocupe os proprietários do espaço. “Isto foi um acto isolado, acreditamos que tenha sido feito entre as cinco ou seis horas da madrugada. Quem o fez só olhou para a montra, não percebeu que a imagem do Hitler tinha a cara do Bibito, que foi manipulada. Foi alguém que não veio com certeza conhecer a exposição na sua íntegra. Passou, olhou, viu o Hitler achou que seria uma espécie de culto ao chefe e fez isto”, contou ao HM, Rui Lourenço, um dos quatro sócios da Passevite. Exposta desde o início do mês, I had a dream termina já no próximo fim-de-semana e foi recebida de forma muito positiva por quem a visitou. “Do ponto de vista das pessoas que iam passando a reacção nunca foi negativa, antes pelo contrário, as pessoas olhavam, espreitavam e riam-se, isto pelo seu carácter provocatório e o humor característico do Bibito”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade de expor em Macau, e criar novas figuras deste mundo oriental, Bibito não fecha a porta. “Não sei. Talvez se houvesse um convite. No entanto, por um lado, e estando grande parte do trabalho baseado na minha realidade, acho que o impacto que tem no nosso ‘ocidente’ seria completamente diferente do que teria em Macau, por outro, não sei até que ponto me sentiria confortável para ironizar líderes ou personagens locais, não que não seja permitido, mas as reacções seriam diferentes”, explica. Ainda assim é algo a pensar “na altura e conforme o contexto”.