Tânia dos Santos Sexanálise VozesComo escolher um vibrador? Para as que querem abraçar o novo ano a experimentar novas formas de obter prazer, os brinquedos sexuais são uma boa forma de o conseguir. Para quem já espreitou as lojas online ficará certamente assoberbada com a quantidade de artigos existentes no mercado. Há tudo para todos os gostos sexuais e todas as carteiras. Este é um pequeno guia para quem gostaria de comprar o primeiro brinquedo sexual, mas que nunca conseguiu decidir-se por qual. Por razões de natureza algo evidente, focar-me-ei nos brinquedos sexuais para as pessoas com vulva. A variedade é muita porque há apetites diversos, que reflectem as diferentes formas como nos relacionamos com o sexo, com o nosso corpo e de como ele se comporta. Focar-me-ei nos vibradores, esse feliz ícone da cultura pop, com a ressalva de que a variedade de brinquedos para pessoas com vulvas ou pénis – ou para diversão a dois – dão uma dissertação. Os vibradores têm a incrível capacidade de estimular toda a zona da vulva, incluindo o clitóris, o órgão do prazer, ajudando a atingir o orgasmo. Um dos mais populares estimuladores clitorianos é a magic wand. Apresentado como um massajador para o corpo no final dos anos 60, aumentou em popularidade desde que a Betty Dodson, a educadora mais fervorosa dos orgasmos para a libertação humana, publicitou o seu uso comum na zona da vulva. Ao contrário do que muita gente pensa, a wand – que tem a forma de uma varinha e acaba com uma ponta grande e arredondada – não serve a penetração. Várias marcas já puseram no mercado a sua versão da wand, apesar do original ser da marca Hitachi que se viu surpresa ao ver o massajador muscular transformado em brinquedo sexual. Quando foi mencionado num episódio d’O Sexo e a Cidade em 2003, as fãs esgotaram o stock. Os vibradores de forma fálica já servem a penetração. Um dos mais populares tem o formato que lhe chamam de ‘coelhinho’ (bunny) por ter uma dupla forma fálica e fazer lembrar as orelhas de um coelho. Esta serve para ajudar a estimular a vagina bem como o clitóris, simultaneamente. Há outras ainda mais complexas, que até estimulam a zona do períneo ou penetram o ânus. Dependendo da sofisticação do brinquedo, ele pode vibrar e mexer-se rotativamente para o prazer garantido. Uma inovação mais recente são os estimuladores de ar que de algum modo simulam sexo oral. Estes brinquedos terminam numa forma em donut, isto é, com um buraquinho no centro onde ‘encaixam’ o clitóris. Coloco-os na categoria de vibrador, porque a maior parte deles pode vibrar também. Estes podem ter dois motores, um de estimulação de ar, e outro de vibração e podem controlá-los como bem vos apetece. Para alguns destes brinquedos, este controlo pode ser tão mais sofisticado com a ajuda de uma aplicação – ao ponto de poder vibrar ao som da vossa música favorita. A marca que tem popularizado estes estimuladores de ar é a Satisfyer, com a melhor relação qualidade-preço. O seu sucesso é tão grande que a marca já descreve o objecto, tal como acontece com Chiclete, Gillette ou Tupperware. Para as que quiserem experimentar, existe a versão one night stand. É baratinha e tem a duração máxima de 90 minutos, sem possibilidade de trocar pilhas ou recarregar baterias. Uma proposta interessante para quem quer fazer o test-drive sem esgotar o orçamento mensal. Para as que se convertem, podem depois investir num brinquedo mais duradouro. A escolha, por isso, depende muito do que se gosta. Procuram algo para estimulação do clitóris e da zona da vulva? Querem um brinquedo para penetração? Querem um foco mais preciso no clitóris? Mantenho a ressalva que precisam de confirmar se as marcas e os fabricantes utilizam produtos seguros para as partes íntimas. Há muitas marcas com todas estas propostas que vos referi, e como devem calcular, brinquedos sexuais mais baratinhos podem não ter tanta qualidade. Felizmente que há quem se ocupe a experimentar e opinar sobre artigos sexuais, caso queiram dicas mais especificas. Estas são as sortudas que recebem nas suas caixas de correio muitos brinquedos para uma opinião honesta para mais tarde publicarem nas redes sociais. A Scarlet O’Hara é uma dessas pessoas, e recomendo o visionamento caso já tenham um brinquedo sexual em mente, e gostassem da opinião de alguém que já experimentou há volta de centenas brinquedos sexuais. É isto. Votos de Good Vibrations.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesVibra, vibra, vibrador! [dropcap]A[/dropcap] controvérsia que normalmente gira em torno dos vibradores começa logo na história da sua génese. A assumpção comum – e que já está bem integrada na cultura popular (até em peças da Broadway) – é de que os vibradores terão sido criados pelos médicos vitorianos para o alívio da tão malfadada maleita da altura, a histeria. Estes médicos estariam carentes por um utensílio que os auxiliassem na intensa tarefa de massajar todas as detentoras de vulvas que precisavam do alívio de sintomas. Reza a lenda que os vibradores conheceram o seu grande propósito orgásmico porque os médicos precisavam de descansar os pulsos, de tanto trabalho que teriam. Acontece que esta versão da história não é assim tão precisa. Foi Hallie Lieberman que recentemente contestou esta suposta teoria com a sua mais recente obra Buzz: The Stimulating History of the Sex Toy. Não há qualquer evidência/relatos/factos que o início dos vibradores terá sido esse – não deixem que a internet ou a academia vos indique o contrário. Os vibradores terão sido um auxílio médico, sim, mas nada indica que terão sido usados nos tratamentos de histerias, muito menos usados nos genitais em contexto médico – por mais caricata e curiosa que esta imagem seja. Os primeiros vibradores terão sido usados no tratamento de problemas nos rins, surdez, ou dores de cabeça. Ninguém pode dizer com certeza que o uso nos genitais estivesse a acontecer de facto. A história da sexualidade tem destes problemas, ninguém sabe ao certo o que se fazia porque os relatos sobre tudo o que envolvia sexo ou genitais, não eram muitos. Foi só nos anos trinta que se começou a ver os vibradores a interagir com vulvas, nos vídeos pornográficos da altura. E a partir daí tornou-se mais fácil acompanhar a sua evolução. Nos anos 60 tornaram-se num ícone de empoderamento feminino, especialmente em contexto norte-americano, onde se viu o surgimento de empresas com uma abordagem diferente da tradicional sex-shop. Um vibrador à antiga – e às vezes nos dias de hoje – implicava a interacção com o senhor de meia idade da loja de produtos sexuais local, que, acompanhado por comentários pouco agradáveis, podia oferecer informação pouco útil sobre os produtos. Agora há consultoras capazes de informar as pessoas com vulvas das possibilidades do mercado. Até os estudos de marketing e design têm relatado e incentivado a proliferação de produtos sexuais, agora com ares mais modernos e apetecíveis e até com maior consciência ambiental sobre os materiais utilizados. Assim parece-se normalizar cada vez mais a utilização do vibrador como um utensílio comum à descoberta do prazer individual e/ou em companhia. O vibrador já não é um objecto para as solteironas desesperadas, como tantos filmes e séries quiseram vender. Re-significaram-se os vibradores para todas e todos, de qualquer sexo, género, orientação, idade e estado civil. Apesar da ideia ser recorrente, os vibradores não são uma ameaça à sexualidade saudável, ou um sinal de comportamento desviante, nem são um competidor direito ao pénis. Os defensores de uma educação sexual com foco no prazer sugerem que os brinquedos sexuais devem ser incluídos, explicados e contextualizados porque são poderosos complementos a uma consciência plena do corpo. Claro que os vibradores ainda têm um logo caminho a percorrer para uma aceitação mais tranquila. Ainda há desconforto, vergonha e mal-entendidos. Há pénis que, ingenuamente, ainda se sentem ameaçados por um pedaço de borracha que vibra, se estende e se manipula. Já para não falar no difícil acesso a produtos de qualidade (são caríssimos!), na generalidade. O vibrador pode ser um objecto de auto-conhecimento e de empoderamento, mas também se arrisca a tornar-se numa forma de comercialização do prazer sem uma narrativa coerente e contestadora das normatividades que atrapalham. Por isso é que vale a pena reflectir sobre o progresso do vibrador e para que lados caminha, e se as promessas de libertação sexual que o vibrador traz sempre se concretizam.