Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeFIJ | Caso Jinan terá dado origem a casos de auto-censura nos media chineses A doação de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan pela Fundação Macau terá originado situações de auto-censura em alguns meios de comunicação em língua chinesa. É o que aponta o último relatório da Federação Internacional de Jornalistas, que fala de injustiças aquando da visita de Li Keqiang [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais recente relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), referente ao ano de 2016, tece duras críticas ao panorama da comunicação social em Macau, com foco para situações de auto-censura e alegada pressão exercida por parte de entidades governamentais. Com o título “Macau discrimina”, a FIJ relata uma situação denunciada pela Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social, ocorrida a 13 de Maio do ano passado, sobre a produção noticiosa acerca dos cem milhões de yuan que foram doados pela Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan. A associação “lançou um comunicado a condenar as acções de diversos jornalistas locais que fizeram auto-censura ao seu trabalho”, sendo que “vários jornalistas recusaram revelar os nomes dos funcionários do Governo que foram fontes de artigos que eles próprios escreveram sobre alegados favorecimentos levados a cabo pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On”. “O comunicado aponta: ‘Os artigos foram eliminados e os comentários mais críticos dos entrevistados foram removidos. Alguns jornalistas deliberadamente começaram a desempenhar outras funções. Um dos órgãos de comunicação enviou uma lista de entrevistados aos jornalistas e disse que deveriam ser contactados aquando da produção de notícias importantes. Os jornalistas foram ainda avisados de que as notícias deveriam ser positivas’”, lê-se. Segundo a FIJ, a mesma associação referiu que há “razões para acreditar que os órgãos de comunicação social exerceram auto-censura, mas também receberam pressão do Governo”. O relatório faz referência ao facto de Chui Sai On ser parte integrante da direcção da Universidade de Jinan, ao mesmo tempo que também preside ao conselho de curadores da FM. “Chui Sai On foi acusado de utilizar dinheiros públicos para os seus próprios interesses políticos”, aponta o documento. Li Keqiang só para alguns O relatório da FIJ faz também referência ao tratamento dado aos media aquando da visita de Li Keqiang. “Em Outubro, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang visitou Macau. Os media locais seguiram todos os procedimentos para pedirem o acesso aos locais de visita, mas pelo menos um meio de comunicação viu ser-lhe negada a permissão para ter acesso à maioria dos eventos, sem que lhe tenha sido dada qualquer explicação”, pode ler-se. Na prática, um “órgão online independente e livre” terá sido “tratado de forma injusta por parte do Governo” de Macau, aponta a FIJ. Sem apontar nomes, a entidade afirma que este “teve apenas permissão para participar em apenas três dos 12 eventos organizados, enquanto os media tradicionais obtiveram permissão para estar nos 12 eventos”. O documento refere ainda o facto de as autoridades policiais não terem divulgado informações sobre dois falsos atentados à bomba, um caso denunciado pela Associação de Jornalistas de Macau. “Quando foram questionados sobre o atraso na transmissão de informação para nós, responderam que ‘Não informamos os media até que todos os riscos tenham sido afastados’”. A associação disse que o acto foi uma clara violação do direito à informação”, esclarece o documento. Os recados da FIJ Na visão da FIJ, os meios de comunicação social locais “enfrentaram obstáculos, não só da parte do Governo que atrasou o fornecimento de informação, mas também ao nível da auto-censura imposta pelas direcções [dos meios de comunicação].” É ainda feito o aviso para a necessidade de maior isenção por parte dos jornalistas. “Consideramos urgente que todos os profissionais de media estejam alerta e que defendam o jornalismo profissional. Devem manter uma solidariedade profissional e manterem-se neutros, precisos, equilibrados e justos. Devem recusar pedidos de manipulação de fontes, questões pré-seleccionadas ou submeter questões para aprovação do Governo ou orquestrar reportagens ‘exclusivas’.” A FIJ defende ainda que “o facto de as pessoas estarem em silêncio não significa que a sociedade é harmoniosa”. “O papel dos media deve ser o de observar e registar o que acontece, e não assumir este ou aquele lado. Um desequilíbrio de poder entre a elite que governa e as pessoas comuns pode levar a uma sociedade desastrosa, na qual ninguém se sente seguro e respeitado.” “Os jornalistas devem estar atentos às necessidades das pessoas e evitar suprimir da informação ou transformarem-se em ‘parceiros’ do outro lado da barricada. Se isso acontecer, as pessoas que apoiam a verdade devem dizer em voz alta ‘não!’”, alerta a FIJ. Ao HM, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), referiu que a entidade não foi contactada pela FIJ. “A nossa associação está a levar a cabo um inquérito sobre questões relacionadas com a liberdade de imprensa e acesso às fontes, estando agora a iniciar o processo de análise e redacção [do relatório]. Quando tivermos o relatório em mãos, vamos tentar ter uma visão sobre os problemas levantados”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaLeong Veng Chai questiona financiamento a actividades da Universidade de Jinan [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eong Veng Chai quer saber quantas actividades relacionadas com a Universidade de Jinan foram custeadas pelo Executivo de Macau, meses depois da deslocação de Chui Sai On para participar no jantar dos 110 anos da instituição de ensino A Universidade de Jinan voltou a ser notícia em finais do ano passado quando o Chefe do Executivo, Chui Sai On, se deslocou ao continente para participar num jantar de celebração dos 110 anos da instituição de ensino superior, após a polémica doação de 100 milhões de renmimbi por parte do Governo de Macau. O mesmo jantar foi pago pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). O deputado Leong Veng Chai considera, contudo, que o Governo tem de explicitar todas as actividades relacionadas com a Universidade de Jinan que já custeou. “Para além do jantar da Universidade de Jinan, quais foram as outras actividades realizadas? Quais foram os serviços públicos que financiaram essas outras actividades? Qual foi o gasto total do dinheiro público para isto?”, questionou o deputado numa interpelação escrita. Referindo-se ao jantar, Leong Veng Chai lembra que “o logótipo da Fundação Macau estava nesse pano de fundo”. “Outras notícias relataram que, para além do jantar ter sido pago pela DST, houve ainda outras actividades que foram, provavelmente, financiadas por outros serviços públicos de Macau. No entanto, o Governo não deu resposta precisa aos cidadãos”, acrescentou o deputado, número dois de José Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa (AL). Que regras? O financiamento do jantar de aniversário obrigou a responsável máxima pela DST, Helena de Senna Fernandes, a dar explicações aos jornalistas, tendo esta referido, segundo Leong Veng Chai, que “o financiamento do referido jantar tinha sido aprovado pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, e que não tinha sido definido nenhum limite máximo quanto ao seu valor”. Ainda assim, Leong Veng Chai não se mostra satisfeito e deseja saber quais os critérios utilizados para a concessão dos apoios financeiros. “A directora (Helena de Senna Fernandes) afirmou aos jornalistas que nas futuras aprovações dos pedidos de financiamento ia considerar divulgar ao público mais informações. Então quais são as condições e os padrões ao nível da aprovação de financiamentos?”, interpelou. O deputado questionou ainda se “as condições e os padrões para a aprovação dos pedidos locais e do estrangeiro são iguais”. “Durante o processo de apreciação e aprovação, quais são as informações que o Governo vai divulgar?”, inquiriu ainda Leong Veng Chai.