Covid-19 | Surto em Cantão leva Governo a pedir que se evitem deslocações

Os vinte casos identificados domingo na província vizinha colocaram Macau em modo de alerta e o Governo apela aos residentes para que evitem as deslocações ao Interior. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura realçou que em tempo de pandemia não se pode garantir a 100 por cento a segurança da RAEM

 

O surto comunitário dos últimos dias na Província de Cantão levou o Governo a apelar aos cidadãos para evitarem as deslocações ao outro lado da fronteira. A mensagem foi deixada ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieng U, durante a conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia da covid-19.

Desde domingo, a província de Cantão relatou 20 casos, 18 dos quais na cidade de Guangzhou e dois em Foshan. Um dos casos esteve em contacto próximo com um residente local, o que fez com que a pessoa de Macau tivesse de ser colocada de quarentena.

“Uma vez que surgiram novos casos em Guangzhou e Foshan aproveito para uma vez mais apelar a todos os cidadãos que, caso não seja necessário, não saiam de Macau e não se desloquem a locais com casos identificados”, apelou.

“Talvez haja pessoas que pensem que Macau nunca vai passar pela epidemia, mas já antes houve recaídas e não podemos nunca garantir a 100 por cento que não há mais casos”, acrescentou.

O surto levou a que tenham sido adoptadas medidas mais restritivas de circulação de pessoas. Em Macau, ainda não se coloca o cenário de ser imposta quarentena para quem vem do outro lado da fronteira, mas poderá haver um agravar das restrições se surgirem casos. “Se houver casos temos de voltar a Junho do ano passado […] Por isso, espero que os residentes não se desloquem a países e regiões com casos confirmados”, sublinhou.

Mais testes e código amarelo

Também ontem foi anunciado que as pessoas que se deslocarem aos hospitais com febre vão ser testadas à covid-19 e durante o tempo em que aguardarem pelo resultado serão reencaminhadas para casa, onde se espera que cumpram o isolamento.

Nesse período, a cor do código de saúde dos afectados vai ser alterada para amarelo, até que se confirme que não estão infectados. “Como sabemos há casos novos nas regiões vizinhas […] por isso vamos testar as pessoas para descobrir o mais cedo possível potenciais infecções”, afirmou Alvis Lo Iek Long, director dos Serviços de Saúde (SSM).

Na ocasião, o médico abordou igualmente a situação das 31 pessoas que viajaram com o residente local que esteve em contacto próximo com um infectado, em Cantão. Apesar disso, apenas o homem do contacto próximo está de quarentena, e Alvis Lo avançou ontem com a explicação para os diferentes critérios. “As 31 pessoas são da mesma excursão, mas não estiveram no mesmo local que o contacto próximo. Mesmo assim, as 31 pessoas vão fazer três testes de ácido nucleico”, indicou. “Achamos que a medida é suficiente, porque também temos de ser razoáveis nas medidas que tomamos”, justificou.

Hong Kong mais longe

Durante a conferência de imprensa de ontem, os representantes foram questionados sobre a possibilidade de se aliviarem as restrições de circulação com Hong Kong. A pergunta foi feita com base nos dados de domingo, quando Cantão apresentou 20 casos, o que não impede a circulação para o outro lado da fronteira sem quarentena, enquanto Hong Kong apresentou zero casos. Contudo, neste momento, não é possível circular para a RAEHK sem cumprir o isolamento médico.

No entanto, a diferença foi explicada com uma maior confiança da RAEM nos mecanismos do Interior do que da RAEHK. “As nossas decisões têm por base dados científicos. O Governo tem contactado com Hong Kong e quando forem alcançados os 14 dias sem casos, vamos iniciar as negociações para uma circulação mais próxima”, afirmou Alvis Lo.

De seguida, o médico, fez a comparação com Interior: “Em relação a Guangdong foram aplicadas restrições muito fortes desde que foi descoberto o caso. Podemos considerar que têm capacidade para testar toda a zona afectada e que o risco é médio”, defendeu o director dos SSM. “A capacidade do Governo de Guangdong é muito forte e recebemos prontamente a comunicação com os casos confirmados. […] Acho que as medidas que tomaram são suficientes”, acrescentou.

Vacinação com 48 mil marcações

De acordo com a informação disponibilizada, o processo da vacinação começa a ser mais requisitado. Segundo a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, só na última semana houve mais de 48 mil marcações, o que representou uma média diária superior a 7 mil agendamentos por dia. O número levou a secretária a agradecer à população.

Este aumento vai fazer com que os cidadãos que pretendam ser inoculados com a vacina BioNTech/Pfizer tenham de aguardar alguns dias, depois de realizarem a marcação. Os que têm agendada a segunda dose não vão ser afectados por eventuais atrasos.

“Neste momento temos cerca de 20.500 doses da vacina MRNA. Essas doses são de reserva e para as pessoas levarem a segunda dose. Por isso, se fizermos os cálculos já não temos vacinas de MRNA suficientes e as pessoas que fizerem a marcação vão ter de esperar um pouco mais”, reconheceu Tai Wa Hou, coordenador do Plano de Vacinação contra a Covid-19.

A necessidade de espera foi explicada pela secretária, que acrescentou que o fornecimento está a ser feito de acordo com a procura, para evitar o desperdício. “Temos vacinas suficientes. Mas uma vez que o período da validade é mais curto, pedimos aos fornecedores que nos abastecessem pouca quantidade de uma vez”, clarificou. “Antes havia centenas de pessoas a receber esta vacina por dia, mas recentemente houve um grande aumento de marcações, com cerca de mil vacinas MRNA por dia. Por isso, no armazém não temos vacinas suficientes, temos de pedir imediatamente ao fornecedor. Temos de pedir para satisfazer a procura”, acrescentou.

Ainda de acordo com as contas de Elise Ao Ieng U, a espera entre a marcação e a vacinação deverá ser de “um ou dois dias”, pelo que considerou que as pessoas não se precisam de preocupar porque “as vacinas são suficientes”.

Óbito | Notícia da morte de advogado atrasada a pensar na família

Durante a conferência de imprensa de ontem, Alvis Lo admitiu que a notícia da morte do advogado Francisco Gaivão foi atrasada por motivos familiares. “Sentimos que tínhamos de considerar a situação da família”, reconheceu o médico. Os esclarecimentos foram prestados, depois de os responsáveis do Governo terem sido questionados sobre uma eventual ligação entre a morte e a vacinação do advogado de 48 anos. Inicialmente, o caso tinha sido classificado como de reacção adversa à vacinação, mas o Governo acabou por considerar que não havia ligação entre a vacinação e a morte.

“Sabemos que a epiglotite necrosante aguda pode causar asfixia, por isso achamos que o caso não tem a ver com a vacinação”, sublinhou Alvis Lo.

Sobre a qualificação como reacção adversa, o director dos SSM diz que faz parte de um processo inicial, em que por uma questão de transparência qualquer sintoma é tido como reacção adversa e que só mais tarde, em caso de necessidade, é investigada.

Código de saúde | Problema sem impacto

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, garantiu que os problemas com o código de saúde de Cantão não afecta a capacidade dos Governo de detectarem o percurso das pessoas infectadas com Covid-19. A posição foi explicada com base na “comunicação permanente” entre as autoridades das regiões. Contudo, a secretária mostrou-se preocupada com a concentração nos últimas dias de pessoas nas Portas do Cerco e apelou aos residentes para que utilizem outras fronteiras.

1 Jun 2021