Repórteres sem Fronteiras | Representante impedida de entrar em HK

A Repórteres sem Fronteiras (RSF) declarou que um dos seus representantes teve entrada recusada em Hong Kong, onde pretendia assistir ao processo do empresário pró-democracia Jimmy Lai, que está detido.

A representante da RSF, Aleksandra Bielakowska, baseada em Taipé, teve a entrada negada no aeroporto internacional de Hong Kong, onde pretendia “reunir com jornalistas e seguir uma audiência no processo de Jimmy Lai”, segundo a organização não-governamental. Bielakowska foi “detida durante seis horas, revistada e interrogada (…), antes de ser expulsa do território”, especificou-se no texto.

Esta foi a primeira vez que um representante dos RSF teve a entrada recusada no território ou foi detido à chegada a Hong Kong. A RSF está “consternada por este tratamento inaceitável”, declarou Rebecca Vincent, dirigente da organização em comunicado. “Nunca testemunhámos esforços tão flagrantes das autoridades para se subtraírem ao exame dos processos judiciais”, acrescentou.

12 Abr 2024

Repórteres sem Fronteiras denunciam “nova ordem mundial de comunicação” da China

[dropcap]A[/dropcap]organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertou hoje para a ameaça à liberdade de imprensa que acarreta a “nova ordem mundial da comunicação”, criada pela China, acompanhando a crescente influência política e económica do país.

O relatório da RSF, que coincide com a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a França, nota que Pequim trabalha há dez anos para controlar a informação além-fronteiras. A China é um dos país do mundo com menos liberdade de imprensa e mantém mais de 60 jornalistas na prisão.

Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, tem ainda investido milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

A RSF revela que a China criou uma “máquina de propaganda” internacional, na qual tem investido “maciçamente”, e que inclui a agência noticiosa oficial Xinhua e a televisão estatal CGTN, cada uma com mais de 10.000 funcionários.

Pequim tem ainda transformado a narrativa sobre o país através da compra de participações em grupos de comunicação estrangeiros, conteúdo pago ou convites a dezenas de milhares de jornalistas de todo o mundo para visitarem a China, com todas as despesas pagas, para alterar as suas percepções sobre o país, destaca a RSF.

A Xinhua ou a televisão estatal CGTN contam já com centenas de delegações além-fronteiras e têm agressivamente procurado parcerias no exterior, visando publicar conteúdo aprovado pela Propaganda do PCC, sob o selo de órgãos de comunicação independentes.

Também a Rádio Internacional da China (CRI, na sigla em inglês, ou os jornais oficiais Diário do Povo e China Daily têm promovido visitas à China, que, nos últimos anos, trouxeram ao país asiático milhares de jornalistas estrangeiros.

Desde 2017, o China Daily gastou quase 16 milhões de dólares para publicar suplementos em jornais norte-americanos, segundo dados reportados ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros, que exige que entidades que representam os interesses de outros países divulguem as suas finanças.

New York Times ou Wall Street Journal são alguns dos órgãos que publicam suplementos do China Daily, mas cujas versões electrónicas estão bloqueadas no país asiático. Em Portugal, a CRI assegura uma emissão diária através da Rádio Iris FM, sediada nos arredores de Lisboa.

A RSF afirma que Pequim não se contenta em controlar as suas redes sociais e motores de busca, como o WeChat ou o Baidu, como tem encorajado outros países a copiar os seus regulamentos.
Em 2009, a China criou o World Media Summit, que é financiado e organizado inteiramente pela Xinhua, e que se realiza em “países conhecidos pelo seu autoritarismo”, nomeadamente Rússia ou Catar.

O RSF é particularmente crítico de Xi, que “em cinco anos de feroz repressão contra jornalistas e blogueiros conseguiu impor uma visão totalitária no país, que se estende agora além-fronteiras”.
A investida de Pequim foi oficialmente lançada em 2009, após protestos pró-independência do Tibete e em defesa dos Direitos Humanos terem acompanhado a passagem da Tocha Olímpica, em várias cidades do mundo, nas vésperas dos Jogos Olímpicos em Pequim.

Numa era em que a internet destruiu o modelo de negócio da imprensa tradicional, o regime chinês anunciou um investimento equivalente a 5,8 mil milhões de euros, visando reforçar a presença global dos seus órgãos de comunicação.

25 Mar 2019

Estocolmo | RSF pede à China que pare de atacar imprensa sueca

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) acusa a embaixada chinesa em Estocolmo de tentativas constantes de interferência nos conteúdos da imprensa sueca. As relações diplomáticas entre os dois países têm vindo a degradar-se, desde o caso do livreiro sueco de origem chinesa desaparecido e posteriormente detido pela polícia quando seguia com dois diplomatas suecos num comboio para Pequim

[dropcap]A[/dropcap]organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu ontem à embaixada da China em Estocolmo que pare de assediar os jornalistas suecos, e acusou Pequim de querer impor a censura além-fronteiras.

O apelo da RSF surgiu após um recente ataque da embaixada da China à emissora pública sueca SVT.

Em comunicado, a embaixada criticou a SVT por difundir, em Fevereiro passado, uma mensagem do representante de Taiwan no país, a pedir apoio à democracia taiwanesa perante os “ataques de Pequim”.

A RSF acusou ainda o embaixador chinês na Suécia de “embarcar numa verdadeira cruzada contra a imprensa do país”, desde que assumiu o cargo, em Agosto de 2017.

Desde então, a representação diplomática chinesa criticou vários meios de comunicação suecos, incluindo os diários nacionais Dagens Nyheter e Svenska Dagbladet, bem como a agência de notícias TT.

“Uma missão diplomática não precisa de denegrir o conteúdo editorial do país anfitrião”, afirmou o representante da RSF na Suécia, Erik Halkjaer.

O director da RSF na Ásia Oriental, Cedric Alviani, considerou ainda que os ataques da China à imprensa sueca “são indicativos da atitude desinibida com a qual Pequim está agora a tentar impor a censura além-fronteiras”.

A RSF lembrou que a China é um dos países do mundo com menos liberdade de imprensa e que mantém mais de 60 jornalistas na prisão.

Livreiros e outros casos

As relações entre a Suécia e a China têm sido perturbadas, ao longo dos últimos anos, pelo caso de Gui Minhai, um editor e livreiro sueco de origem chinesa, de 54 anos, que vendia em Hong Kong obras críticas do regime chinês.

Em 2015, Gui Minhai desapareceu durante umas férias na Tailândia. O livreiro reapareceu numa prisão chinesa, tendo afirmando então, em declarações transmitidas na televisão, que se tinha entregue às autoridades por causa do envolvimento num acidente de trânsito na China, em 2003.

Em Outubro de 2017, as autoridades chinesas libertaram Gui Minhai, mas o editor e livreiro voltou a ser detido mais tarde pela polícia chinesa, em Janeiro de 2018, quando seguia com dois diplomatas suecos num comboio para Pequim, onde tinha marcada uma consulta.

A disputa diplomática agravou-se depois de, em Setembro passado, a polícia sueca ter expulso uma família de turistas chineses de um hotel, em Estocolmo.

Após o incidente, um programa humorístico da SVT satirizou o comportamento dos turistas chinesas, levando Pequim a acusar o canal público de racismo e a exigir um pedido de desculpas.

20 Mar 2019