Paulina Chiziane recebe prémio em Lisboa a 5 de Maio

A escritora moçambicana Paulina Chiziane vai receber o Prémio Camões, atribuído em 2021, no próximo dia 5 de Maio, numa cerimónia a decorrer no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, anunciou o Ministério da Cultura.

O prémio será entregue à autora de “Balada de Amor ao Vento” e “Ventos do Apocalipse” pelas mãos do primeiro-ministro, António Costa. A entrega do galardão acontece 10 dias depois da cerimónia de entrega do Prémio Camões a Chico Buarque, vencedor em 2019.

Para o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, “a entrega do Prémio Camões à escritora moçambicana Paulina Chiziane é um momento de enorme significado e enorme simbolismo para a cultura em português. É a primeira mulher negra a receber aquele que é o prémio de maior prestígio da língua portuguesa”.

Na altura da atribuição do prémio, o júri, que elegeu por unanimidade a escritora moçambicana, justificou a escolha com a “sua vasta produção e recepção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional da sua obra”.

O júri referiu também a importância que Paulina Chiziane dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana, e sublinhou o seu trabalho recente de aproximação aos jovens, nomeadamente na construção de pontes entre a literatura e outras artes.

Para as mulheres

Após receber a distinção, Paulina Chiziane dedicou o prémio às mulheres, considerando que este serve para valorizar o papel do sexo feminino numa altura em que o seu trabalho ainda é subvalorizado.

Alguns dos seus livros foram publicados em Portugal e no Brasil, e estão traduzidos em inglês, alemão, italiano, espanhol, francês, sérvio, croata.

Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, Moçambique, em 1955. Estudou Linguística em Maputo. Actualmente, vive e trabalha na Zambézia. Ficcionista, publicou vários contos na imprensa.

O seu primeiro romance, “Balada de Amor ao Vento” (1990), foi publicado após a independência do país, e é também o primeiro romance publicado de uma mulher moçambicana.

“Ventos do Apocalipse”, concluído em 1991, saiu em Maputo, em 1993, como edição da autora e foi publicado em Portugal, pela Caminho, em 1999, antecedendo “Balada de Amor ao Vento”, em Portugal, pela mesma editora, em 2003.

A Caminho possui aliás os títulos da autora publicados em Portugal: “Sétimo Juramento” (2000), “Niketche: Uma História de Poligamia” (2002), “O Alegre Canto da Perdiz” (2008). Da sua obra fazem igualmente parte “As Andorinhas” (2009), “Na mão de Deus” e “Por Quem Vibram os Tambores do Além” (2013), “Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento” (2015), “O Canto dos Escravos” (2017), “O Curandeiro e o Novo Testamento” (2018).

28 Abr 2023

Literatura | Paulina Chiziane dedica Prémio Camões 2021 às mulheres

O Prémio Camões 2021 serve para valorizar o papel das mulheres numa altura em que o seu trabalho ainda é subvalorizado, disse na quarta-feira à Lusa a escritora moçambicana Paulina Chiziane, depois de receber a distinção.

“Afinal a mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prémio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro”, referiu a autora.

Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, com “Balada de amor ao vento”, em 1990. “Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher”, referiu, numa alusão à temática do género, um dos fios condutores da sua obra.

Paulina Chiziane, 66 anos, confessou-se confusa com a notícia do prémio. “Eu nem sequer me lembrava que o prémio Camões existia”, porque os confinamentos provocados pela COVID-19 deixaram-na “bem fechada em casa, desligada de tudo”.

O prémio surgiu como uma surpresa bem-vinda. “Uma surpresa muito boa para mim, para o meu povo, para a minha gente”, que em África escreve “o português, aprendido de Portugal”. “E eu sempre achei que o meu português não merecia tão alto patamar. Estou emocionada”, acrescentou.

O seu último trabalho foi “A voz do cárcere” escrito em conjunto com Dionísio Bahule, lançado este ano, em Maputo, depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos – ela a escutar as mulheres, ele, os homens.

“Há tantas ideias”, disse à Lusa sobre o futuro, ideias que “nem sempre o corpo consegue realizar”.

Mas pode ser que “este prémio seja um motor para eu me sentir um pouco mais de pé, porque às vezes fico cansada”, seja pela idade, referiu, ou pelo impacto “da COVID, que impede tudo”, disse, numa alusão à pandemia.

Paulina Chiziane disse que o Prémio Camões pode ser “um alento novo”, um símbolo que de que a sua caminhada “valeu a pena” e de que “é preciso continuar a lutar”.

A escolha da escritora moçambicana foi feita por unanimidade pelo júri do Prémio Camões 2021, anunciou na quarta-feira a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca.

A decisão destaca a “vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional” da obra, segundo nota que anunciou a distinção.

A autora esteve em Macau em 2013 como um dos nomes integrantes do cartaz do Festival Literário Rota das Letras.

22 Out 2021