Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasPães de Deus _ Insurgiu-se a caridade por via católica com aspectos que nos parecem iniciais e só por ela continuados como um solfejo de garantias eternas, mas esta interpretação que nos remeteu para o Humanismo actual não é ainda uma originalidade nascida no ventre de Maria. Já Buda nascera contemplando a caridade, enquanto uma certa apostasia monoteísta inventava os seus dogmas para a circunscrever a eventos só seus, que um tal dissidente judeu, pertencia ainda a um grupo ascético dos «Puros do deserto» e não fora jamais por si mesmo capaz de criar o seu próprio dogma. Neste xadrez das coisas feitas e pensadas, não facultaremos a vinculação aos dados de quem por inépcia e mau caminho, recriou uma narrativa que por séculos fez vítimas e Concílios de terror. _ A fome faz parte da condição humana, e também animal, sendo o grande impulso para a capacidade da manutenção das espécies, a fome feroz obrigou a legislar e a capacitar os seres a uma justa retribuição das fontes alimentícias, o que acabou por fazer proliferar a nossa espécie com redobrado sucesso, mas, não é uma componente caritativa, e muito menos dirigida aos menos ou mais necessitados; trata-se de função vital. Ser-nos-ia inconcebível enquanto alcateia maior condenar um outro à fome, essa – monstruosidade de grupo- e alguém ainda se robustecer de influência no cumprimento de tal matéria. É por interpretação irregular que nasce a subserviência e a triste condição daqueles que têm fome. Se por incapacidade mental os seres não se sabem nutrir, haverá sempre recurso médico para a disfuncionalidade, e garantias de que a situação se reverta com as leis certas do tempo social. Que Bancos Alimentares são Bancas Rotas de imodéstia, e por que não dizer, de redes mal posicionadas para a dignidade e transparência enquanto práticas maiores. – Não ao escuteiros meninos nos peditórios! Não às senhoras fedorentas nas actividades de nutrição no espaço social- . Sabemos que há fomes atávicas, e a memória dela como instinto maior gera a ganância produzida por esse indomável espectro que leva a armazenar ao que a outros faz falta. Mas, voltemos aos pães. _ Os pães que prodigalizam o produto da primeira transformação tal como o vinho, nascem longe no tempo, inserindo-se no sedentário caminho de Noé quando planta a vinha depois do Dilúvio, e vamos posteriormente encontrar no «Livro dos Reis» o efeito socializante da sua multiplicação e a dádiva benigna daqueles que repartem « REIS 42»:( mais tarde iremos ver a adaptação desta passagem em São Lucas « Primeira multiplicação dos pães») e constatamos que não há muita capacidade para interligar os diálogos que ficaram interrompidos no sectarismo de séculos junto aos povos cristianizados. A mesma história não requereu entre estes últimos a exegese merecida para cumprimento da compreensão, e foi nesta base semi-ignorada que levámos a outros povos batalhões de equívocos que bastaram. Esta multiplicação, no entanto, é mais que uma noção de quantidade (ambas chamam a atenção para tal facto) nas duas passagens elas mostram-nos a consciência do bem que é repartir e comer na boa repartição de grupo; não precisamos de muito, talvez do melhor que a vida dá e transforma em Ceia comensais satisfeitos. Como o alimento era abençoado ele percorria a divindade do ser que estaria nutrindo, tudo isto ainda à margem da conspiração prazerosa das inqualificáveis receitas culinárias dos nossos dias. _ Para dizer que não desvendaremos jamais a “Encíclica” imposta sem nos debruçarmos nos Hebreus que ditaram nas muitas transformações do texto bíblico as bases da composição que fez nascer um Cristo. Mas, também, toda esta trança entre língua hebraica, aramaica, grega e romana (latim) nos distanciou, quem sabe, do sentido profundo da mensagem.- Que uma Mensagem existe! O nosso poeta, aquele judeu da Covilhã, interpretou-a poética e conscientemente à sua maneira, e talvez lhe tenhamos perdido o rasto, de tão absortos que andamos na genialidade individual fruto do acaso e de outras patranhas. «O Reino da Quantidade e os Sinais do Tempo» de René Guénon dá-nos ainda ampla amostragem da derrota que foi a avidez, aqui, onde já nada havia a fazer para a transfiguração maravilhosa da « Multiplicação dos Pães».- Quatro planetas não bastavam para tanta fome! Aqui chegados, talvez ir de novo ao «Livro dos Reis» que um Cristo é afinal de contas tão alto que não há guindaste para o alcançar. Mas ele veio deste veio de vida que um Povo em marcha ditou nestes sinais.