Feira do Livro de Lisboa | Arnaldo Gonçalves apresenta obras de ciência política

“Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade” e “Macau, Depois do Adeus” foram os livros apresentados no domingo por Arnaldo Gonçalves na Feira do Livro de Lisboa. O académico, especialista em ciência política e relações internacionais e ex-residente de Macau, está a preparar um novo livro sobre a China

 

Arnaldo Gonçalves, ex-residente de Macau, onde viveu 26 anos, e especialista em ciência política e relações internacionais, esteve no domingo na Feira do Livro de Lisboa a apresentar duas obras antigas de sua autoria. Uma delas, lançada pela COD em 2014, intitula-se “Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade”, um livro que mais condiz com a sua essência política, e “Macau, Depois do Adeus”, uma edição IpsisVerbis, onde é traçado um olhar sobre o período da RAEM pós-transição.

A residir em Portugal há três anos, Arnaldo Gonçalves começou por contar ao HM que a presença informal na Feira do Livro, onde deu autógrafos e conversou com leitores, aconteceu devido ao contacto com a Essência do Livro, tendo em conta o fecho da representação do Turismo de Macau em Lisboa.

Com o fim da entidade terminou a presença habitual da livraria na Feira do Livro, onde se revelavam algumas obras sobre Macau e a China. “Continuei a publicar depois disso. Há um problema de ligação entre os editores de Macau e de Portugal, não existindo distribuição das obras editadas. Descobri a Essência do Livro, localizada no Porto, e enviei-lhe um email a propor a apresentação”, disse.

Os dois livros “marcam perspectivas complementares da minha identidade”, ligadas à vivência de 26 anos em Macau e o trabalho desenvolvido na Administração portuguesa e chinesa. Sobre o encerramento da livraria e o fim da representação do Turismo de Macau em Lisboa, o autor considerou natural.

“O Governo de Macau tem uma vocação chinesa muito grande e há um alinhamento com a República Popular da China. Não privilegiam uma relação com a Europa e Portugal, e esse é um capitulo que está encerrado. Para eles é algo que faz parte da história. Agora olham para a fronteira, para a Grande Baía e para o que acontece na China. Talvez, no lugar deles, fizéssemos a mesma coisa.”

Arnaldo Gonçalves estabelece mesmo um paralelismo entre o desligamento de Macau em relação a Portugal e à Europa com o que aconteceu após a descolonização portuguesa. “Dei por mim a pensar que o processo de Macau, na última década, não é assim tão diferente do das colónias portuguesas em África, em que houve um desligamento da elite local em relação ao passado português.”

O livro sobre a China

Apesar de aposentado, Arnaldo Gonçalves não deixa de reflectir e escrever. O último livro lançado intitula-se “Por quem os sinos não dobram: A Maçonaria e a Igreja Católica”, um tema recorrente para o autor. Mas a China está também sempre presente, e será tema central da sua próxima obra, já em preparação.

“Estou a escrever um livro sobre a China, porque estou a chegar ao fim de mais uma década de vida que, ao mesmo tempo, são três décadas de Macau e China, e é tempo de eu escrever um livro sobre o país. Vou analisar a ligação da China com o mundo, a política externa chinesa, a análise do período de Deng [Xiaoping] e Hu Jintao”, contou.

A obra não deixa de lado um olhar sobre o perfil político de Xi Jinping, Presidente chinês, que Arnaldo Gonçalves considera ser alguém “muito contraditório”. Pedindo uma “relação adulta” entre a China e os EUA em prol da paz mundial, o analista entende que a China se está a aproximar da Rússia, embora haja diferenças entre os seus líderes. “Se acertarem [a China e EUA] uma relação adulta, isso é fundamental para a paz e segurança no mundo. Essa relação é necessária para a paz no mundo e para a paz regional”, rematou.

6 Set 2022