Hoje Macau EventosRússia | Navalny “terrivelmente satisfeito” com Óscar a documentário sobre o seu activismo O líder oposicionista russo, Alexei Navalny, que está detido, afirmou quarta-feira que está “terrivelmente satisfeito” que um filme sobre o seu envenenamento e ativismo político tenha ganho o Óscar para o melhor documentário. Em várias mensagens na sua conta da rede social Twitter, o político congratulou o realizador Daniel Roher e os outros envolvidos na produção de ‘Navalny’, bem como a sua esposa Yulia e os seus aliados na Fundação Anticorrupção. “Claro que estou terrivelmente contente, mas enquanto me alegro, procuro não esquecer que não fui eu quem ganhou o Óscar, afinal de contas”, disse. O documentário descreve a carreira de Navalny no combate à corrupção dos dirigentes, o seu envenenamento quase fatal em 2020, que atribuiu ao Kremlin a sua recuperação ao longo de cinco meses na Alemanha e o seu regresso a Moscovo, em 2021, quando foi imediatamente colocado sob custódia, no aeroporto. Condenado depois a dois anos e meio de prisão, Navalny viria a ter outra condenação de mais nove anos. Navalny tem sofrido uma pressão constante dos dirigentes russos. Passou várias semanas em regime de isolamento, dentro de uma designada “cela de punição” e no mês passado foi colocado em uma unidade residencial restrita durante seis meses. Em termos concretos, tem sido privado de telefonemas ou visitas de familiares, apesar de aparentemente ser autorizado a escrever cartas e a receber advogados. Nas mensagens na Twitter, Navalny confirmou que tinha sabido sobre o Óscar enquanto estava à espera de uma audiência em tribunal, através de uma ligação vídeo a partir da sua prisão. Adiantou que o seu advogado procurou dar-lhe a notícia colocando uma folha de papel frente à câmara, mas que não conseguiu ver o que tinha escrito, pelo que o advogado teve de gritar “O teu filme ganhou um Óscar”.
Hoje Macau China / ÁsiaNavalny | Analistas dizem que russos perderam o medo de Vladimir Putin A população russa está a perder o medo de Vladimir Putin, mas o Presidente russo dificilmente negociará com os opositores ao regime, para não mostrar sinais de fraqueza, dizem analistas consultados pela Lusa. Este fim de semana, a polícia russa deteve mais de 4.700 pessoas e bloqueou os centros de várias cidades, incluindo a capital, durante novas manifestações no país pela libertação do opositor Alexei Navalny. Os apoiantes de Navalny apelam à realização de novos protestos em Moscovo, na terça-feira, quando este for presente a tribunal numa audição que poderá levá-lo à prisão por vários anos, prometendo a continuação das manifestações que têm realizado em várias cidades russas. “Os manifestantes que pedem a libertação de Navalny não são necessariamente apoiantes seus. São, sobretudo, pessoas que admiram a coragem que ele tem demonstrado ao enfrentar o Presidente Putin”, explicou Judy Dempsey, analista da organização Carnegie Europe e diretora executiva da revista Strategic Europe, em declarações à Lusa. Pavel Slunkin, especialista em política russa do Conselho Europeu para Relações Internacionais, acrescentou que Putin dificilmente aceitará negociar com os manifestantes, com receio de passar uma imagem de fraqueza. “Para os regimes autoritários, o diálogo com a sociedade e com os opositores políticos é visto como uma manifestação de fraqueza inaceitável. Logo, o Governo russo quer demonstrar a sua força e a sua vontade de ser muito duro”, disse Slunkin, em declarações à Lusa. Slunkin recordou que um documentário recentemente divulgado na Rússia por Alexei Navalny foi visto por mais de 100 milhões de pessoas. O vídeo revela uma ligação direta entre Putin e os seus colaboradores e negócios corruptos, com evidentes danos para o prestígio do regime. Contudo, Judy Dempsey acredita que não será esse dano reputacional que fará Putin mudar de rumo, embora o Presidente se encontre perante um dilema sem solução. “Se ele libertar Navalny vai mostrar fraqueza e perder popularidade; mas, se não libertar Navalny, vai ter de usar de muita violência, e vai perder popularidade”, disse Dempsey, admitindo que não sabe que atitude tomará o Presidente russo. “Os russos estão fartos de corrupção. E querem tornar isso muito visível. Mas não subestimemos o poder da violência policial das forças de segurança russas”, acrescentou Judy Dempsey, para realçar a determinação do regime em continuar a conter os movimentos oposicionistas. Pavel Slunkin chamou a atenção, contudo, para o impacto que esta repressão pode ter no prestígio, interno e externo, de Putin, em particular junto daqueles que olhavam para ele como um líder honesto e equilibrado. Os protestos podem provocar a atitude do Governo, na véspera das eleições gerais para o Parlamento russo, da Duma, em setembro próximo, que, na perspetiva de Slunkin, podem ser “um teste para a autoridade do regime” de Putin. “Eu espero uma reação previsível das autoridades autoritárias russas: mais repressão ativa sobre os dissidentes e mais esquemas para controlo da campanha eleitoral”, concluiu Slunkin, acrescentando que considera improvável que os resultados eleitorais tragam grandes surpresas, numa Duma onde o partido que apoia Putin tem 75% dos lugares. Também Judy Dempsey considera que as eleições para o Parlamento estão muito longe e que Putin está, porventura, mais preocupado com as eleições presidenciais, que apenas acontecerão em 2024. Por outro lado, Putin não parece preocupado com a eventualidade de sanções internacionais motivadas pelo agravamento da repressão policial, não sendo de esperar um aumento de ameaças por parte da União Europeia, explicou Dempsey. “A União Europeia não tem vontade de colocar mais sanções. E não tem sequer uma estratégia para enfrentar a Rússia”, disse Judy Dempsey. “Com os Estados Unidos, a situação pode ser diferente. Há uma nova atmosfera em Washington, que parece querer experimentar uma dualidade nas relações com Moscovo”, acrescentou a especialista em política russa, referindo-se à forma como a Casa Branca está a negociar acordos de armas nucleares com o Kremlin, ao mesmo tempo que procura mostrar mais dureza na reação às ameaças russas. Pavel Slunkin recorda que as sanções não têm tido grande efeito sobre a Rússia, referindo-se ao impacto das medidas tomadas pela comunidade internacional sobre os eventos da Crimeia, pelo que suspeita que novas ações retaliatórias seriam infrutíferas. “O que não quer dizer que não tenham significado. Apenas não devemos colocar grande esperança nas sanções”, disse Slunkin. “Mas os protestos estão em todo o lado, na Rússia. E devem subir de tom, apesar da repressão. E internacionalmente vai também aumentar a vigilância às atitudes do Kremlin. E tudo isso representa, para já, uma enorme incógnita sobre o futuro político da Rússia”, concluiu Judy Dempsey.