Mandarina | “Em Casa” é o novo livro da editora portuguesa

A editora portuguesa Mandarina, fundada por Catarina Mesquita, acaba de lançar um novo livro destinado a um público infantil e focado nos tempos de pandemia que se vivem actualmente. “Em Casa”, escrito por Catarina e Joe Tang, conta as histórias de Júlia e Pou e a forma como as comunidades portuguesa e chinesa lidaram com o confinamento

 

Primeiro, foi o “Na Rua”, um livro que fazia com que os pequenos leitores fossem descobrindo Macau e o seu património a cada virar de página. O sucesso desta obra da editora Mandarina foi tanto que o livro já vai na terceira edição. Mas chegou a hora de fazer o oposto e contar uma história sobre a pandemia e de como é viver em confinamento.

Chegou, assim, o “Em Casa”, a mais recente história para crianças da editora portuguesa fundada por Catarina Mesquita. Ex-jornalista, Catarina é autora da história portuguesa, protagonizada por Júlia, enquanto o escritor de Macau Joe Tang é o autor da história de Pou, um menino que faz parte da comunidade chinesa. Desta forma, o “Em Casa” vai revelando os detalhes das diferentes formas que estas comunidades tiveram de reagir à pandemia.

Ao mesmo tempo, trata-se de uma continuação da história já contada nas páginas de “Na Rua”, com os mesmos personagens. “É uma obra de ficção muito baseada em factos reais, uma compilação de uma série de acontecimentos. Do lado da Júlia sublinhamos o facto de ela ter o avô longe, não poder andar de avião, ou visitar o avô com tanta frequência, ter de fazer os testes e lidar com uma nova realidade que é chegar à escola e perceber que muitos dos amigos tiveram de ir embora porque os pais ficaram sem trabalho e tiveram de regressar aos seus países”, contou Catarina Mesquita ao HM.

Do lado do menino Pou a história é semelhante, “pois há a dinâmica de uma vida que muda completamente”. “Por um lado, o Pou tem a oportunidade de estar com os pais em casa como nunca teve, e dessa forma podem fazer coisas que nunca tinham feito antes, pelo facto de estarem fechados em casa. Isso acaba por apelar à criatividade”, acrescentou.

Catarina Mesquita diz ter escolhido este tema “por tocar a todos e por marcar a história de Macau e de muitas crianças”. “É, sem dúvida, uma recordação. O livro traz uma mensagem de esperança e força em que basicamente a Júlia e o Pou sabem que, apesar da vida deles ter mudado muito, nos seus corações as pessoas continuam vivas e perto.”

A obra está à venda em diversas livrarias do território, incluindo a Livraria Portuguesa, e custa 150 patacas. As ilustrações ficaram a cargo de Fernando Chan. “As ideias foram partilhadas entre nós [com Joe Tang], foi um trabalho muito conjunto, com muita partilha, de como eu, portuguesa, vivi a pandemia, e de como o Joe, sendo chinês, viveu a mesma situação, estando nós em realidades completamente distintas. Em parte, eles tiveram mais cuidado com as máscaras, e da nossa parte houve maior indignação”, adiantou Catarina Mesquita.

Uma edição difícil

A fundadora da Mandarina, no mercado desde 2019, revela que o “Em Casa” é um “livro com duas histórias”. “Nesse aspecto conseguimos manter a mesma dinâmica, embora o final seja comum. Mantivemos uma coisa que as crianças em ‘Na Rua’ adoraram, que é o cruzamento de histórias ao longo do livro. Isso faz com que o livro não morra no texto, permitindo explorar a ilustração e descobrir outras coisas.”

A edição deste livro demorou a acontecer devido à pandemia, o que faz com que só agora esteja nas bancas depois de um período de pré-encomendas.

“Quando tínhamos o livro pronto a ser impresso tivemos algumas dificuldades porque veio a pandemia e não podemos receber os livros naquele mês em que estivemos fechados. Os livros, quando chegaram, vieram embrulhados em plástico, algo que antes não acontecia.”

Catarina Mesquita assegura que o surto não trouxe grande impacto a um mercado que, já de si, é pequeno. “Vejo que desde que a covid chegou que Macau tem editado alguns livros de qualidade para crianças em chinês, mas não vejo um desaceleramento por causa da pandemia porque as edições infantis nunca ocorreram em grande quantidade. No caso da Mandarina, mantivemos o mesmo número de edições, e a covid não tem desacelerado o negócio. Penso que há até mais investimento da parte dos pais para comprar livros, pois querem ter materiais para entreter as crianças, para que estas possam fugir do digital.”

Catarina Mesquita diz notar menos leitores portugueses. “Quando fizemos o pré-lançamento do livro recebemos algumas encomendas e percebemos que havia menos público português, que já não está cá. Mas a Mandarina sempre trabalhou muito para o mercado local e não apenas para a comunidade portuguesa.”

Este “continua a ser um negócio que não é altamente rentável, pois não se consegue sobreviver a cem por cento dos livros que editamos. Mas temos sempre surpresas a cada edição, com novas perguntas sobre a distribuição e apresentação das obras, por exemplo. É um caminho que se vai construindo”, rematou.

23 Out 2022

Macau Book Carnival | 23ª edição da feira do livro arranca esta sexta-feira 

Começa esta sexta-feira mais uma edição do Macau Book Carnival, uma feira do livro organizada pela Associação de Promoção da Literacia de Macau. Com eventos para toda a família, além da venda de livros com desconto, a feira do livro recebe, no sábado, para uma conversa sobre o livro bilingue “Na Rua”, da editora Mandarina

 

[dropcap]A[/dropcap] 23ª edição do Macau Book Carnival começa esta sexta-feira e, à semelhança dos anos anteriores, tem lugar no ginásio do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Até ao dia 19 de Julho o público poderá não só usufruir de livros mais baratos como também ter acesso a espectáculos musicais e outras actividades para toda a família.

Este sábado, dia 11, por volta das 15h30, tem lugar uma sessão de lançamento do livro bilingue “Na Rua”, lançado pela editora de livros infantis Mandarina. A sessão conta com a presença de Catarina Mesquita, fundadora da Mandarina, e o escritor Joe Tang.

Ao HM, Imwa Chan, presidente da Associação de Promoção de Literacia de Macau, explicou que a edição deste ano conta com a presença de 30 livrarias e editoras, que vão apresentar obras em chinês, inglês e português. A apresentação do livro “Na Rua” partiu de um convite da associação.

“Esperamos que os leitores chineses que querem aprender português possam comprar o livro”, frisou.
Imwa Chan assegura que, 22 anos depois, esta feira do livro tornou-se mais do que local onde se vendem livros com desconto. “Sinto-me encorajada com o facto de este não ser apenas um evento para vender livros com desconto, mas pode também ser uma plataforma para que livrarias, e escritores e leitores se possam reunir num só espaço e possam trocar impressões sobre o seu trabalho. Trata-se de uma plataforma para promover a literatura de Macau, uma vez que o território é um lugar cheio de cultura e história, com uma grande ligação ao património.”

Anos de desafios

Imwa Chan assegurou ao HM que organizar uma feira do livro como esta nos últimos 22 anos não foi fácil. A maior dificuldade prendeu-se com a falta de uma localização específica. “Lembro-me que houve um ano em que tivemos de organizar esta feira num centro comercial, um espaço muito pobre para este tipo de eventos.

Temos de ter um parceiro a longo prazo para que possamos ter uma localização permanente, e felizmente que o IPM nos apoiou.”

“Quando o semestre termina o ginásio fica disponível para o nosso evento. Finalmente conseguimos obter uma localização permanente e um calendário regular para organizar a nossa feira do livro, o que corresponde às expectativas dos leitores locais”, acrescentou.

A ideia para a organização do Macau Book Carnival surgiu graças à presença regular de Iwma Chan na feira do livro que todos os anos se organiza em Hong Kong.

“Há 20 anos achei que havia a necessidade de organizar uma feira do livro em Macau no período das férias para os leitores. Sempre visitei a feira do livro anual em Hong Kong e pensei que necessitávamos de um evento semelhante em Macau, mesmo que tenhamos uma população mais pequena em relação a Hong Kong”, explicou ao HM.

Desde então que a adesão ao evento tem sido positiva, uma vez que, segundo Imwa Chan, o ano passado estiveram presentes na feira cerca de 5.000 pessoas.

O evento conta com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Cultural. O Instituto Português do Oriente (IPOR) tem sido uma presença habitual no evento mas este ano, alegando falta de recursos humanos, a entidade não estará representada.

O Macau Book Carnival acontece todos os dias da semana entre 10 e 19 de Julho. Durante a semana o horário de funcionamento é entre as 11h e as 21h, enquanto que aos sábados e domingo a feira tem as portas abertas entre as 11h30 e as 21h30.

9 Jul 2020

Editora “Mandarina Books” aposta na literatura e conteúdos infantis

Catarina Mesquita, jornalista portuguesa radicada em Macau, decidiu lançar a “Mandarina Books”, uma editora de livros para a infância e pretende também produzir conteúdos para um público mais jovem. Na agenda para este ano está uma exposição de ilustração a acontecer no território

[dropcap]N[/dropcap]um mercado editorial de pequena dimensão como é o de Macau, a jornalista Catarina Mesquita decidiu explorar o nicho da literatura para a infância e abrir uma nova editora. Chama-se “Mandarina Books”, tem alguns meses de existência e pretende trabalhar com os dois idiomas oficiais do território e o inglês, conforme contou a fundadora ao HM.

“Somos uma editora e produtora de conteúdos para a infância, mas somos, na nossa essência, apaixonados pela cultura para os mais novos. Temos alguns planos que não passam só pela edição de livros, mas também por trazer a Macau projectos tanto para as crianças, como para os pais. Momentos que os levem a pensar, a estar juntos e a transformar sonhos em realidade.”

Catarina Mesquita pretende, com a “Mandarina Books”, publicar “não só conteúdos originais como obras que já existam e não estejam disponíveis no mercado em outras línguas”.

Apesar de ser um projecto muito recente, já existem eventos em carteira. “Estivemos recentemente na Feira Internacional do Livro Infantil a fechar alguns contratos com outras editoras nossas parceiras para que possamos editar ainda este ano algumas colecções de livros de histórias já editadas no estrangeiro.

O primeiro livro original sairá para as bancas a 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, e será “mais interactivo” do que as obras comuns para os mais pequenos. “Estamos a olear a máquina para que assim que ela comece a trabalhar a todo o gás possamos pôr conteúdos de qualidade cá fora”, adiantou Catarina Mesquita.

Como a aposta da “Mandarina Books” passa também pela ilustração, Macau poderá esperar uma iniciativa nesta área. “Uma exposição de ilustração está também na agenda deste ano ainda com data a definir, para que seja um momento em família e de forma a que as crianças possam também cada vez mais ir a exposições e se liguem ao mundo ‘offline’”.

Isto porque quem faz a “Mandarina Books” assume que a ilustração é “uma paixão”. “Queremos também dar especial importância a quem dá cor ao mundo infantil reunindo assim um portfólio de ilustradores de Macau ou residentes em Macau que possam ver os seus trabalhos publicados em outros lugares”, frisou.

A sorte das mandarinas

O nome da editora vem do famoso fruto que se diz dar boa sorte, e que na época do Ano Novo Chinês se encontra à porta de vários estabelecimentos. “O nome surge da necessidade de criar uma pequena mascote. Foi inspirado nas mandarinas da China, um fruto tradicional desta região e cujo significado de prosperidade e sorte se quer ver associado a este projecto.”

Catarina Mesquita ansiava pela criação da editora há cinco anos, data em que se mudou de Portugal para Macau. “A Mandarina tem sido um trabalho de paciência quase como que plantar uma árvore (lá está, de mandarinas). Lancei as sementes e com o tempo elas foram crescendo, furaram a terra e estão agora a começar a dar os primeiros frutos. Queremos que esta árvore seja resistente ao ponto de muitos quererem construir uma casa nesta árvore – colaborando connosco seja com os seus textos há muito guardados na gaveta, seja com ilustrações.”

A jornalista já tinha trabalhado na área da literatura para a infância, uma experiência que nunca esqueceu. “Percebi que não era apenas uma área em que eu gostava de trabalhar mas também uma área que tem muito para dar a Macau.”

Catarina Mesquita percepcionou “a necessidade do mercado de conteúdos nas três línguas”, além do facto de que “existem muitas crianças em Macau e muitos pais que querem que as crianças aprendam línguas através do contacto com os livros”.

A “Mandarina Books” entra no mercado editorial numa altura em que os mais pequenos não passam sem o recurso às novas tecnologias. “É um desafio interessante vingar numa fase em que os estímulos para as crianças são brutais como os tablets, os telefones e as televisões. Sou duma geração em que recebíamos sempre um livro desde que éramos bebés até terem surgido os telefones.”

“Sinto que há muitos pais a quererem combater isto com a força de um livro e é aí que a Mandarina quer estar: ao lado dos pais que ainda querem que os seus filhos alimentem a imaginação com histórias e das crianças que podem perceber que um livro pode mesmo ser um amigo”, concluiu.

Pela qualidade

Para os próximos meses, Catarina Mesquita assume querer investir mais na qualidade do que na quantidade. “Já há algumas ofertas no mercado e não queremos encher prateleiras de livros. Há quem caia no erro de achar que um livro infantil, por si só é um projecto fácil: juntamos ilustração a um texto e já está. Costumo dizer que o mercado para a infância é o mais exigente: o olhar das crianças é crítico, inteligente e não tem filtros”, apontou.

Apesar da editora pretender trabalhar com as três línguas, Catarina Mesquita pretende chegar ao público falante de chinês. “Temos a ambição de chegar aos leitores chineses essencialmente para também nós aprendermos com ele. A nossa equipa é essencialmente estrangeira e conhecemos a realidade dos nossos países que estão habituados a lidar com o livro infantil desde pequenos”, rematou.

15 Abr 2019