Poesia | Lisbon Poets & Co celebra edição de Camilo Pessanha em espanhol, inglês e francês

“Clepsydra”, obra-prima de Camilo Pessanha, quase toda escrita em Macau, ganhou novas edições bilingues em português/inglês, português/francês e português/espanhol com a chancela da editora portuguesa Lisbon Poets & Co. O editor Miguel Neto acredita ter chegado mais perto da organização que Pessanha queria para os seus escritos e que não foi conseguida por Ana de Castro Osório na edição de 1920

 

[dropcap]E[/dropcap]ste ano celebra-se o centenário da primeira edição de “Clepsydra”, a obra mais importante do poeta Camilo Pessanha, editada em 1920 por Ana de Castro Osório. Como forma simbólica de celebrar a data, a editora portuguesa Lisbon Poets & Co celebra a edição de duas edições bilingues, “Clepsydra – The Poetry of Camilo Pessanha” e “Clepsydra – La Poesía de Camilo Pessanha”, com introdução da académica Helena Buescu, da Universidade de Lisboa, e organização e fixação do texto por parte do professor Paulo Franchetti. Franchetti havia, inclusivamente, trabalhado na obra de Pessanha em edições anteriores publicadas em língua portuguesa.

“Estas duas edições são importantes para dar a conhecer a falantes de outras línguas [a obra de Pessanha]. Também vamos publicar uma edição em francês, que está a ser terminada, e vamos traduzir para outras línguas. Pessanha já é pouco lido e editado em Portugal e em outros países é, de facto, muito pouco conhecido”, apontou ao HM o editor Miguel Neto. É também objectivo da Lisbon Poets & Co “fazer esse contributo [para reavivar a memória]”. “

“A sua poesia tem uma natureza velada, é um pouco inacessível e difícil, o que não torna muito fácil uma leitura imediata. Além disso, Pessanha esteve longe de Portugal, passou quatro décadas em Macau e foi lá que escreveu a maior parte dos poemas, e em Portugal produziu muito pouco”, frisou Miguel Neto.

Ainda assim, isso não impediu Pessanha de ser considerado um dos nomes maiores do Simbolismo português. “‘Clepsydra’ é realmente marcante e é também a maior representação do Simbolismo em língua portuguesa, além de ser um livro que marcou toda a poesia vindoura, com Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa e poetas posteriores, como Eugénio de Andrade.”

Questão de organização

Aquando da primeira publicação de “Clepsydra”, em 1920, Ana de Castro Osório não terá seguido a organização dos poemas conforme o desejo de Pessanha. A descoberta foi feita por Paulo Franchetti através de um documento depositado na Biblioteca Nacional colado a um dos primeiros exemplares de “Clepsydra”.

Estas duas edições bilingues apresentam, portanto, uma organização o mais possível aproximada à vontade do autor. Aos poemas cuja ordem é indicada pelo autor juntam-se os restantes organizados por Paulo Franchetti, onde se incluem “dois poemas inacabados, poemas satíricos e poemas citados de memória por outras pessoas”.

Por esse motivo, “o que está no livro não é apenas uma aproximação possível e mais recente à ‘Clepsydra’, mas também a toda a poesia de Pessanha, e é a primeira vez que ela é traduzida integralmente para inglês e para espanhol”, rematou Miguel Neto.

Além destas edições, a editora Lisbon Poets & Co também promoveu nas redes sociais, em parceria com várias livrarias portuguesas independentes, vídeos com a leitura de poemas de Camilo Pessanha. A campanha dura até esta quarta-feira, dia 15.

13 Jul 2020