Fringe | Experiência criativa alia meditação a imagens em movimento

Numa experiência que associa ondas cerebrais a imagens, “Focus to – release” incentiva os participantes a meditar, aproveitando esse momento para criar arte. A curadora do projecto, Kathine Cheong, revelou-se satisfeita com a continuidade do Festival Fringe e com a escolha de locais públicos, como mercados e praças, para a apresentação de espectáculos

 

O festival Macau City Fringe traz ao público a experiência criativa “Focus to – release”, de Kathine Cheong e Sueie Che. Em sessões que duram aproximadamente meia hora, a experiência procura associar ondas cerebrais a imagens em movimento, enquanto promove o bem-estar das pessoas. A actividade decorre no Estaleiro Naval nº2, com sessões entre amanhã e segunda-feira.

“Os participantes escolhem um aroma e depois meditam com taças tibetanas para entrarem num estado de relaxamento. As suas ondas cerebrais são captadas por um dispositivo e as imagens do aroma vão mudar de acordo com o estado de foco ou libertação”, descreve o programa.

Kathine Cheong explicou ao HM que a ideia surgiu no seguimento de um projecto académico de Sueie Che. A designer de media digital no projecto de graduação explorou o uso de ondas cerebrais associado a vídeos de animais, na esperança de captar a atenção das pessoas sobre temas relacionados com a vida. Licenciada em Psicologia, Kathine Cheong considerou interessante associar ondas cerebrais a meios relacionados com a arte.

“Apercebi-me que, especialmente durante o período da pandemia, as pessoas não têm nada para fazer, só podem ficar em casa, não podem viajar, e mesmo quando ficam em casa por vezes têm de trabalhar, não se sentem realmente relaxadas”, observou Kathine. Assim, surgiu a ideia, de por um curto período de tempo, incentivar ao relaxamento através de meditação, aproveitando esse momento para criar trabalhos artísticos, com imagens em movimento das suas ondas cerebrais.

Durante a experiência, os participantes contam com a presença de uma consultora de saúde e bem-estar que ajuda com a secção de meditação. “Durante a secção de meditação, os participantes usam um detector de ondas cerebrais e sentam-se ou deitam-se no tapete, para relaxarem”, explicou Kathine Cheong. Pela natureza da actividade, o participante acaba por não observar todo o processo.

Há dois tipos de bilhetes disponíveis. Por um lado, o de participante, restringido a maiores de 18 anos. Quem quiser apenas observar o processo criativo pode comprar um bilhete diferente, permitido a partir dos 16 anos. No caso de a sessão ser com audiência é admitido um máximo de seis indivíduos no local. O objetivo é usufruírem da atmosfera e da projecção em directo do vídeo das ondas cerebrais dos participantes.

Os produtos artísticos resultantes da experiência vão posteriormente ser exibidos numa instalação na Praça Jorge Álvares, de 30 de Janeiro a 28 de Fevereiro.

Apostar no local

Esta é a primeira série do programa “Focus to” a ser lançada, mas as autoras esperam fazer mais colaborações com o conceito de ondas cerebrais, aliado a espectáculos, dança ou música. O evento conta com o apoio da Art Jam Cultural Association, criada no ano passado por Kathine Cheong. O objectivo do grupo é “ter uma criação de arte interdisciplinar” que junte música, dança ou outras áreas como a psicologia a meios digitais. Se o contexto da pandemia apresenta dificuldades, a curadora entende que também é uma oportunidade para o auto-conhecimento e perceber o que se pretende fazer.

“Especialmente em Macau, a fronteira está fechada, não podem entrar artistas estrangeiros, não podemos ver actuações do exterior. (…) Podemos aproveitar esta oportunidade para mostrar mais as nossas competências ou conceitos criativos. Também para outras associações, é uma óptima oportunidade para as pessoas verem os artistas e a arte de Macau”, disse.

Kathine Cheong olha também para o Fringe City Festival como uma plataforma para se mostrarem conteúdos em formatos diferentes de outros festivais organizados pelo Instituto Cultural, revelando-se “muito contente” por ter sido novamente organizado este ano. A curadora considera que o cartaz é mais próximo da população de Macau, nomeadamente pela arte ser exibida em frente às pessoas em locais pouco usuais.

“Normalmente, quando vemos espectáculos é sempre no teatro ou na ‘black box’, mas de alguma forma neste festival podem ser vistos no mercado, numa praça normal, ou mesmo um flash mob em áreas diferentes em Macau. Acho que é muito importante e um festival muito especial que se deve continuar a organizar”, frisou.

22 Jan 2021

New Woman Festival | Três dias de eventos e workshops sobre o corpo e mente

A primeira edição do New Woman Festival, que acontece entre os dias 26 e 28 de Junho, é mais do que uma ode ao trabalho e ao papel das mulheres, sendo também um local para se debaterem temas relacionados com a saúde física e mental. Kathine Cheong, directora do evento, quer pôr as pessoas de Macau, homens e mulheres, a olharem para as questões de género

 

[dropcap]D[/dropcap]epois de três anos consecutivos a organizar exposições de arte contemporânea, a “New Woman Development Association of Macao” propõe-se organizar, pela primeira vez, um festival dedicado à condição feminina e a mostrar o que de melhor fazem as mulheres de Macau. No entanto, o New Woman Festival é mais do que isso, uma vez que é também um evento inclusivo, convidando homens a olhar para o universo feminino.

Este ano, o tema do festival é a dualidade “como conceito de corpo, mente e consciência sobre vários assuntos que têm sido debatidos nos últimos anos”, contou ao HM Kathine Cheong, directora do festival.

“Vamos promover vários workshops e actividades para que os participantes saibam mais sobre o seu corpo e a sua saúde mental. Queremos promover a saúde física e mental para todos os residentes e também fazer com que o público perceba a beleza única de cada mulher”, acrescentou Kathine Cheong.

Apesar do festival se realizar em ano de pandemia, a escolha do tema foi pura coincidência. “As pessoas em Macau estão muito ocupadas com as suas vidas, o trabalho e a família. O corpo parece ser apenas uma ferramenta que os ajuda a realizar todas as tarefas, até que uma doença ou algum problema de saúde os obriga a olhar para ele. Nem sempre se preocupam com a saúde mental. Daí termos decidido organizar alguns workshops que ensinam as pessoas a lidar com as emoções e a ganhar consciência das suas imperfeições”, acrescentou a directora.

A primeira edição deste festival conta com um programa diversificado composto por três áreas, ou séries, que versam sobre os temas da arte, experiência, corpo, mente, mulheres e celebração. Entre os dias 26 e 28 de Junho, o público poderá participar em workshops que ensinam a olhar para o corpo e para as emoções e a compreendê-las, através de tatuagens, música e dança. Está também prevista a exibição de vários documentários.

Homens incluídos

A pandemia da covid-19 e as consequentes alterações no movimento das fronteiras obrigou a alguns ajustamentos no programa, uma vez que alguns workshops decorrem online. Apesar de ser um festival que mostra aquilo que as mulheres fazem de melhor em várias áreas, este não está fechado ao universo masculino.

“Os participantes terão também oportunidade para conhecer mais sobre o poder das mulheres e os seus talentos em vários domínios. Mas na verdade queremos também ter homens a participar no festival. Queremos explorar as questões do género com o público, para que haja uma maior inclusão de uma maneira divertida. Queremos que haja uma maior reflexão sobre esta matéria.”

Kathine Cheong não tem dúvidas de que, hoje em dia, a sociedade de Macau está mais aberta a debater as questões de género, embora haja ainda muito por fazer. “Têm de existir mais oportunidades para que as mulheres mostrem aos outros o seu poder. Muitas vezes parece que os homens não se preocupam com as questões das mulheres, que é uma questão apenas delas. Mas há dois géneros, precisamos de mais homens a participar em assuntos ou debates relacionados com as mulheres, para que compreendam mais as nossas emoções e as nossas questões.”

Relativamente ao posicionamento da comunidade chinesa neste debate, é ainda mais difícil. “Queremos mostrar os talentos das mulheres jovens de Macau, mas quando casam ou têm filhos estas pessoas quase que desaparecem. Este é um fenómeno que acontece recorrentemente, sobretudo na comunidade chinesa.

Quando as mulheres se tornam mães, esquecem-se muitas vezes do que gostam ou do que querem fazer. Por isso queremos promover estes eventos que possam constituir uma plataforma para estas mulheres poderem promover o seu trabalho ou levar o público a saber mais sobre aquilo que fazem”, adiantou a directora do festival.

Questionada sobre as áreas onde o talento feminino necessita de sobressair mais, além das artes e cultura, Kathine Cheong não tem dúvidas de que são necessárias mais mulheres a desenvolver trabalhos na área da ciência e tecnologia. “A nossa sociedade está a desenvolver-se muito rapidamente e temos de nos adaptar a essa fase, mas não vemos muitas mulheres a fazer ciência em Macau, sobretudo na área da tecnologia. Penso que o Governo poderia fazer mais nesta área e temos algumas associações que fazem esse trabalho, mas é necessário ir além das artes e cultura”, rematou a responsável.

O programa da primeira edição do New Woman Festival arranca a 26 de Junho com a “Art Jam I”, uma sessão de improviso artístico onde todas as formas de arte são bem vindas. No sábado, dia 27, o festival começa com o “Body-Cultural Image Experimental Workshop I”, entre as 10h e as 13h. Segue-se depois o workshop intitulado “Listen to the Story of the Body: Dance Movement Therapy Experiential Workshop”, entre as 14h e as 16h. Segue-se depois um evento com uma tatuadora e a exibição do filme “Searching Eva”.

No domingo, o programa começa com novo workshop, também entre as 10h e as 13h, seguindo-se eventos dedicados à fotografia, ao cinema e à dança. O programa oficial pode ser consultado no website e redes sociais. Este festival acontece no espaço HUB Macau, na avenida Venceslau de Morais, 205-207, Edifício Industrial Chun Foc 3A. Os bilhetes custam 100 patacas se comprados à entrada, 80 patacas se forem comprados com antecedência.

9 Jun 2020