Morreu o jornalista e escritor Altino do Tojal, autor de “Histórias de Macau”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor e jornalista Altino do Tojal morreu no domingo à noite, aos 78 anos, em Brunhais, Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, disse à Lusa fonte da família, acrescentando que as cerimónias fúnebres se realizam esta quarta-feira.

De acordo com a mesma fonte, o velório do autor de “Os Putos” inicia-se na quarta-feira, às 11:00, e o funeral realiza-se no mesmo dia, às 15 horas, na Igreja de Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso.

A fonte familiar indicou ainda que o corpo do escritor seguirá depois para o Porto, para ser cremado, “como era a sua vontade”.

Altino do Tojal nasceu a 26 de julho de 1939, em Braga, onde viveu até aos 27 anos, segundo recordam vários amigos.

Trabalhou em diversos jornais, nomeadamente no Jornal de Notícias, no lisboeta O Século, até ao seu encerramento, e depois no Comércio do Porto.

Destacou-se na escrita de ficção e a sua obra “Os Putos” foi adaptada ao teatro, à televisão e à banda desenhada.

A primeira versão deste livro surgiu ainda em 1964, com o título “Sardinhas e Lua”.

Escreveu igualmente “O Oráculo de Jamais” (1979), “Os Novos Putos” (1982), “Orvalho do Oriente” (1981) e “Viagem a Ver o Que Dá” (1983) .

Nos anos de 2005/2014, a Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) retomou títulos do autor, como “Ruínas e Gente”, “Jogos de Luz e Outros Natais” e ainda antologias como “Noite de Consoada”, “Histórias de Macau” e “Os Putos – Contos Escolhidos”.

Encetados na década de 1960, “Os Putos” constituiram um projeto que Altino do Tojal manteve em curso, durante anos, com histórias de crianças de rua, que o escritor Urbano Tavares Rodrigues definiu como “crianças sós, iludidas, deserdadas”, vítimas da “máquina trituradora dos adultos acomodados à brutalidade, à estupidez pomposa, à intriga reles, ao senhor rei hábito”.

Numa introdução à edição mais recente da INCM, datada de 2014, Altino do Tojal escreveu: “Fez-me bem escrever este livro, conto a conto, durante meio século, porque dei por mim a sublimar dificuldades de sobrevivência e fastios existenciais que, de contrário, exigiriam um estoicismo superior àquilo de que sou capaz, para serem toleráveis”.

“Embora desejando que ‘Os Putos’ fizessem doer a consciência tão cruelmente como os vivi, quis também que arrebatassem a imaginação tão magicamente como os sonhei. O facto de continuarem a ser lidos, tanto tempo decorrido, permite concluir que, da semente dos meu propósitos, germinou boa árvore.”

17 Jul 2018

Cinemateca Paixão | “Histórias de Macau 1” em exibição a partir de Sábado

A Cinemateca Paixão vai revisitar a primeira edição da série “Histórias de Macau”. As sessões arrancam no próximo Sábado e prolongam-se até ao final do mês

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Cinemateca Paixão exibe, a partir do próximo Sábado, a primeira edição da série “Histórias de Macau”, rodada há dez anos na cidade. “Os Melhores e os Piores Tempos” (de Ho Ka Cheng), “Incerteza” (de Chan Ka Keong), “Avião de Papel” (de Vincent Hoi), “O Momento Certo” (de Albert Chu) e “Rua de Macau” (de Sérgio Perez) são as curtas que formam a longa-metragem que tem como fio condutor os bairros da cidade.

Sérgio Perez recorda como “Rua de Macau” foi parar ao “Macau Stories”, como é mais conhecida a série realizada por Albert Chu. “O filme estava em finais de pós-produção nos finais de 2008, mas ainda estávamos a pensar como o lançar, mas soubemos que o Albert Chu e outros realizadores locais estavam a fazer o ‘Macau Stories’. Foram ver, gostaram e acharam que fazia todo o sentido que a curta integrasse o Macau Stories. Eu também achei que sim e fiquei muito sensibilizado”, recorda o realizador.

“É uma história que não sei como a justificar à audiência”, tem uma narrativa “aparentemente simples, feita num determinado momento da história de Macau, que aborda temas como o encontro de culturas, de pessoas com diferentes perspectivas do mundo e, de alguma maneira, uma Macau que se está também a descobrir ou a redescobrir”, descreve o realizador ao HM. Sérgio Perez explica ainda que as duas personagens em torno das quais gira a narrativa acabam por “carregar um pouco em si algumas Macau que se procuram encontrar, reencontrar ou descobrir o seu espaço”.

Uma década depois

Apesar de a experiência ter sido feita por um Sérgio Perez que hoje “será um bocadinho diferente”, o facto de o filme ainda ser exibido mostra que esforço valeu a pena. “Foi um filme feito com várias limitações, completamente financiado por mim, com o meu próprio equipamento, com voluntariedade de amigos – alguns profissionais, outros nem tanto”, conta. Na altura, o processo de produção era muito diferente” comparativamente com os restantes realizadores, com “muitos fins-de-semana” e que se estendeu “por mais de um ano”.

Embora remonte a 2008, a história “acaba, de certa forma, por “ainda ser intemporal, porque não ficou datada”, apesar de numa década se terem operado mudanças no cenário. “O restaurante onde foi filmado parte do filme já não existe. Aliás, muitos dos espaços já não existem e a pessoa que nos concedeu o espaço também já cá não está”, exemplifica o cineasta.

“Fiz o ‘Rua de Macau’ para ser visto no grande ecrã e sempre que vejo que pegam nele e lhe dão exposição na tela fico muito contente”, diz Sérgio Perez, dando conta de que a curta-metragem ainda recentemente foi exibida pelo Instituto Confúcio em Barcelona, o que o deixou “surpreso”.

“Espero que o filme agarre o público, que consigam vê-lo de forma agradável, do princípio ao fim, e que tirem as suas próprias conclusões”, realça o realizador.

A primeira edição da série de “Histórias de Macau” vai ser exibida na Cinemateca Paixão aos sábados e aos domingos. A entrada é livre.

5 Mar 2018