Han Lili | Literatura local é de qualidade mas precisa de divulgação

 

 

A literatura de Macau está bem e recomenda-se. A ideia é passada pela académica Han Lili que esteve no Fórum do Livro de Macau em Lisboa para apresentar e discutir a produção e necessidades da actividade literária local

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] necessário divulgar a literatura que se produz em Macau. A sugestão é deixada pela académica e poetisa Han Lili, após ter participado no primeiro Fórum do Livro de Macau em Lisboa. A também professora do Instituto Politécnico de Macau foi, a convite da Associação Amigos do Livro, dar a conhecer um pouco da produção literária que se faz na região, de modo a suscitar a discussão acerca da temática.

Um dos problemas que a produção literária local atravessa é a falta de divulgação e o Fórum proporcionou um momento para que tal fosse feito. Com um balanço “muito positivo” do evento, Han Lili não deixa de sublinhar o facto de mesmo as pessoas que são de Macau e que estavam presentes em Lisboa desconhecerem algumas das traduções que já existem de obras escritas em chinês na região. A situação demonstra que “a produção literária que por cá se faz não é suficientemente divulgada, e o Fórum proporcionou um momento de debate acerca das dificuldades e caminhos a seguir de modo a motivar a literatura local”, refere Han Lili no balanço que faz da sua participação na iniciativa.

Divulgação é prioridade

“Os escritores locais enfrentam muitos desafios, porque o mercado não tem muita procura”, afirma a académica, pelo que considera “imperativo que sejam divulgados na China Continental e com iniciativas como o Fórum do Livro de Macau”, para que as traduções possam ser incentivadas e as obras possam rumar a outros continentes. “Há falta de informação em Macau acerca do que cá se produz literariamente, e é preciso divulgar e materializar esta ponte entre as duas culturas”, ilustra ao HM.

No cerne das questões debatidas em Lisboa esteve a necessidade de apoio social e institucional para divulgar a literatura de Macau. “Para dar a conhecer livros é necessário que as pessoas saibam que existem e que os leiam, é preciso público.”

Neste sentido, é urgente que se passe à sensibilização social de modo a fomentar o hábito de ler obras escritas por locais. Han Lili considera ainda que “se houver este mercado e esta procura, será uma forma de incentivar os próprios tradutores a realizar um trabalho mais exaustivo e elaborado, de modo a ter o sucesso necessário na sua função”.

No entanto, a dificuldade em traduzir este tipo de obras, e especialmente a poesia, é vivida na primeira pessoa pela académica. Paralelas à necessidade de tradução para uma maior divulgação estão as dificuldades associadas ao processo de passar conceitos, nem sempre concretos, para um outro sistema linguístico.

No sentido de promover o bilinguismo e a sua materialização no que respeita à tradução literária, Han Lili considera que as directivas de Pequim no sentido de desenvolver a língua portuguesa são fundamentais e “já se notam”. “A estratégia do Governo Central e respectiva implementação das Linhas de Acção Governativa já se reflectem, por exemplo, nos cursos de Tradução que são motivo de cada vez mais candidaturas”, explica, sem deixar de salientar que é preciso mais. Para traduzir uma obra literária não basta ser tradutor, há que ter sensibilidade e dominar por completo as culturas em que as línguas com que se trabalha se inserem.

“No mercado é muito difícil encontrar tradutores de qualidade, sobretudo de obras literárias, área em que não chega ter o curso e é preciso ter a sensibilidade necessária para, por exemplo, poder traduzir poesia.”

A ilustrar a situação, Han Lili dá o seu próprio exemplo enquanto poetisa. “Não traduzo os meus poemas, ou os escrevo em português ou em chinês, porque há elementos que não podem ser traduzidos”, explica.

No entanto, na opinião da académica, os escritores locais estão cada vez mais incentivados e precisam de mais iniciativas por parte das próprias instituições.

A académica, que foi falar de literatura chinesa de Macau à capital portuguesa, considera que o tema engloba não só a literatura produzida por autores locais, mas também a que foi escrita por outros desde que seja sobre o território, ou feita por quem por cá tenha passado. “Para poder alargar a dimensão que abrange a literatura de Macau, recorri à definição proposta por José Seabra Pereira, em que literatura de Macau não significa que seja escrita por pessoas de Macau, mas sim aquela que é sobre a terra, porque Macau não é um conceito geográfico”, explica Han Lili ao demonstrar que o tema é alargado.

Na calha para o futuro

Macau já tem uma produção literária “sólida”, afirma ao HM, que se reflecte tanto no que respeita à escrita em português como em chinês, e mesmo em obras traduzidas, algumas pelos próprios autores. Han Lili destaca Yao Jingming, que escreve em chinês, português ou mesmo inglês. No entanto, “apesar de Yao Jingming fazer as suas traduções, tem muitas obras que ainda não têm versão em português”. Para a professora, o académico é um exemplo do que de sólido e de qualidade se faz em Macau ao nível da escrita”. “Além de ter uma sensibilidade poética, [Yao Jingming] consegue escrever em línguas diferentes, sem que interfiram uma com a outra”, explica.

Outra referência proposta para futura tradução é a poetisa Susana Yun ou Tai Ki, que “é uma excelente romancista”. Ao recorrer a pequenas histórias, Tai Ki consegue tecer um argumento complexo e muito estruturado, o que lhe valeu o prémio de literatura, durante três anos, atribuído pela Fundação Macau: “Isto demonstra que a qualidade começa a ser reconhecida”.

 

9 Nov 2016

Fórum do Livro de Macau | Casa cheia em Lisboa para ouvir poetas da terra

[dropcap style≠’circle’]«A[/dropcap] poesia é uma grande ligação entre os povos e os homens». As palavras foram ditas pelo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na sessão sobre poetas de Macau que teve lugar na Fundação Casa de Macau, no sábado em Lisboa. Parte do programa do Fórum do Livro de Macau, foi o primeiro evento unicamente dedicado à poesia e aos vários poetas, portugueses e chineses, que escreveram e escrevem sobre Macau.

A sessão, coordenada por Fernando Sales Lopes, que a abriu com poemas de Camilo Pessanha, passou por vários nomes e várias línguas. Ouviram-se versos em Português, em Mandarim e em Patoá com um poema de Adé. A barreira linguística, sempre a maior, continua a dificultar o conhecimento de poetas chineses e poucos são traduzidos para Português. Mas, e apesar do grande obstáculo linguístico, Fernando Sales Lopes acredita que é importante qualquer passo de aproximação. E o encontro de sábado, organizado pela Associação de Amigos do Livro em Macau e pela Fundação Casa de Macau, realizou-se nesse sentido. A casa estava cheia com muitos amigos a trocarem palavras de reencontro num espaço onde se partilha o amor pelo Oriente.

Na sua breve comunicação, o ministro da Cultura fez questão de referir que por ocasião da recente visita do primeiro-ministro à China, pôde testemunhar «o interesse genuíno do governo central chinês em Macau». As marcas da nossa história, disse o ministro Castro Mendes, são fundamentais para a construção do futuro. «Macau é uma charneira entre a grande nação chinesa e o mundo de língua portuguesa», acrescentou.

Recordar é dizer

Para Fernando Sales Lopes, com a sessão em Lisboa queria igualmente recordar amigos como o poeta Alberto Estima de Oliveira que faleceu em 2008. Presente na sala, foi o jornalista Hélder Fernando quem recordou os versos de Estima de Oliveira. Numa tarde em que o sol quente entrava pelas janelas do icónico edifício em Lisboa, várias foram as palavras de saudade sobre o poeta Estima de Oliveira. A sessão que se estendeu por quase duas horas deixou o “palco” aberto para todos os poetas e, a alguns presentes no público, foram dados sinais a chamá-los para ouvir a poesia dita pelo próprio. Foi o que sucedeu com Jorge Arrimar mas também com Ana Cristina Alves que leu uma tradução chinesa de um poema. António Bondoso, António Graça de Abreu, José Augusto Seabra, Cecília Jorge, Yao Jingming, Fernanda Dias, Alberto Estima de Oliveira, Fernando Sales Lopes, e a lista dos poetas lembrados podia continuar. A poesia encheu a Fundação Casa de Macau numa sessão onde estiveram igualmente presentes o general Garcia Leandro e o general Rocha Vieira, antigos governadores de Macau durante a administração portuguesa.

Maria João Belchior

31 Out 2016

Fórum do Livro | Apresentado «Macau Histórico e Cultural»

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]presentado em Lisboa no Fórum do Livro de Macau, pela editora Livros do Oriente, a obra “Macau Histórico e Cultural”, de António Aresta, reúne vários textos, escritos em diferentes momentos, sobre algumas das figuras mais importantes na história e na cultura de Macau. Trata-se de uma colectânea de artigos que, desde há vários anos, o investigador e docente de filosofia, tem vindo a publicar em diferentes locais. Nas palavras do editor, Rogério Beltrão Coelho, esta edição faz todo o sentido tendo em conta que António Aresta reuniu nos últimos anos uma grande riqueza de temas e de assuntos, agora juntos num livro.

De Álvaro Semedo, o “clássico fundador da sinologia portuguesa”, até Eça de Queiroz e a emigração chinesa de Macau, o livro percorre vários séculos e episódios históricos. António Aresta descreve-o como um “pequeno e honesto esforço para pensar Macau”. Diferente da organização mais comum por ordem cronológica, a obra, está fora da “habitual narrativa historiográfica”, privilegiando o estudo das personalidades enquadradas na sua época. Para o autor, há uma dívida a saldar com nomes como Manuel da Silva Mendes, Carlos Montalto de Jesus, Charles Boxer, Luís Gonzaga Gomes e Austin Coates. Todos autores independentes mas com um amor comum – Macau.

Novos trilhos

No prefácio da obra, Daniel Pires escreveu que há caminhos que se abrem com este livro. De facto, percorrendo o Índice aguça-se-nos a curiosidade sobre alguns dos eventos descritos e fora da habitual análise histórica. Mais do que focar-se unicamente nas figuras e no seu tempo, o autor investigou também a imprensa antiga, reconstruindo alguns dos eventos aí contados, ainda que na parte “não oficial”. É o exemplo da visita do rei do Cambodja a Macau em Julho de 1872, cuja descrição António Aresta recuperou, interpretando à luz do seu tempo os motivos estratégicos da visita.

Além do território, também  a história dos edifícios de Macau surge no livro. A compilação, resultado de uma escolha, obedece a um sentido de curiosidade e compreensão da cultura no território. E entrelinhas deixa questões dando espaço ao leitor para pensar nas suas próprias perguntas.

Maria João Belchior

28 Out 2016

Livros em português e em chinês em debate no fórum que se realiza em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]proximar Portugal e Macau em termos editoriais não é uma tarefa fácil. Mas, mesmo ciente das dificuldades, a Associação de Amigos do Livro em Macau considera ser muito importante aproximar os dois locais pelos livros e pelas traduções em português e chinês.

Rogério Beltrão Coelho, presidente da Associação de Amigos do Livro em Macau, realçou no fórum que decorre esta semana em Lisboa a relevância que tem poder ler em língua portuguesa o que se escreve em Macau. “Temos o dever de traduzir para português o que se escreve em Macau”, diz. Não é, contudo, um trabalho fácil pela própria distância entre as duas línguas, assim como pela dificuldade que existe de encontrar quem possa traduzir literatura, com um excelente domínio de ambos os idiomas.

Realçando o papel positivo da Fundação Rui Cunha, o editor fez questão de frisar que “é uma instituição absolutamente privada que apoia, sem criar condições, tudo o que se produz em português e em chinês.”

Mais cultura portuguesa

O presidente da associação referiu ainda que existe actualmente uma esperança muito grande pelos sinais que chegam de Pequim. Nos últimos anos, o Governo Central tem dado indicações de querer dar uma força cada vez maior à cultura portuguesa no território. O aumento da procura dos cursos de Língua Portuguesa por parte de estudantes chineses é igualmente um sinal positivo para o reforço da cultura na região.

Em termos literários, Macau continua a alimentar um imaginário colectivo que inspira escritores e poetas. O professor José Carlos Seabra Pereira considera que “o delta literário nunca esteve tão fecundo como agora para a literatura portuguesa e macaense.” Uma opinião partilhada por Margarida Duarte que moderou a mesa redonda acerca dos livros sobre Macau publicados em Portugal.

“Hoje há muita gente a escrever e a escrita foi melhorando”, disse Margarida Duarte, acrescentando que “há mais gente que se está a revelar”. No entanto, continuou, “ainda vai ser preciso mais uma geração para falarmos do valor literário das obras”.

A escrita de romances históricos, um género que entrou no top de vendas nas livrarias nos últimos anos, também se foi inspirar em Macau. Há livros que são escritos em Portugal por gente que não vive no território, mas há igualmente livros escritos in loco por autores portugueses que passaram as últimas décadas na cidade. São dois pontos de vista, duas formas de olhar.

Margarida Duarte considera que um dos problemas de escrever sobre Macau se prende com o exotismo. “Quem lá está, olha do lado de dentro mas de qualquer maneira não conhece o outro, e acaba a falar sobre si. Quem está deste lado, incorre no problema de estar sempre a explicar o outro”, disse. Entender para lá das pistas mais óbvias é o desafio que se coloca à escrita.

Para Margarida Duarte existe ainda um outro obstáculo – e maior. Se o exotismo pode acabar por ser uma armadilha, por outro lado, “continua a haver um grande desinteresse de Portugal sobre tudo o que diz respeito ao Oriente e ao que diz respeito a Macau, e isso é que é uma pena”. Um problema que, diz, tem muitos anos de história.

Maria João Belchior

27 Out 2016

Mais apoios para o Fórum do Livro de Macau

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]em mil patacas acrescem aos apoios para que os objectivos do Fórum do Livro de Macau em Lisboa sejam atingidos. A “ajuda” vem por parte da Santa Casa da Misericórdia de Macau e foi dada a conhecer por carta à associação promotora do evento, a “Amigos do Livro”. Segundo a associação este é um apoio que “vem contribuir, largamente, para a concretização do orçamento necessário à realização do Fórum do Livro de Macau em Lisboa”.
O argumento que sustenta este apoio é explicado, e prende-se com o facto da Santa Casa assumir “a sua matriz cultural essencialmente portuguesa”, por um lado e por outro porque “não se trata de uma associação recém-criada” mas sim de uma entidade que tem dedicado mais de 30 anos à produção da “maior parte das edições de renome sobre a história, cronologia, cultura e iconografia de Macau, em Português, Chinês e Inglês.”
As cem mil patacas anunciadas juntam-se às 119 mil cedidas pelo Instituto Cultural e que ficaram muito aquém das necessidades essenciais para a produção do Fórum. A Associação Amigos do Livro aguarda ainda a resposta do apoio pedido a uma outra instituição de modo a garantir o orçamento indispensável.

23 Set 2016