Das livrarias

[dropcap]E[/dropcap]stou numa livraria em Estrasburgo para um encontro com leitores, uma livraria com cerca de trinta e cinco anos de existência na qual trabalham cinco pessoas. Uma senhora ao meu lado pergunta por um livro de que leu resumo e crítica num jornal de Maio; não sabe precisar o jornal em questão ou o título do livro ou o autor, mas é um romance histórico que versa a República de Weimar e, na escola onde trabalha – é professora de geografia –, duas colegas falaram-lhe muito bem do livro. O livreiro chama um colega, justificando-se: a minha especialidade não é de todo o romance histórico, madame.

Chega o segundo livreiro: esta senhora procura um romance que saiu em Abril, Maio, sobre a república de Weimar, não se recorda se o autor é francês ou se… Sim – interpõe o outro – já sei. Venha comigo – dirigindo-se à senhora.

Veja se é este que procura – a senhora faz que sim com a cabeça, sorri –, é este mesmo. Eu lembrava-me de que a capa era em tons de azul, mas nem por nada me conseguia lembrar do nome. Se me permite – prossegue o livreiro – temos outro título aqui na livraria que poderia interessar-lhe, é o mesmo tema tratado de uma perspectiva inteiramente diferente, na minha opinião bastante mais realista… não diria realista, ambos os livros são bastante fiéis na perspectiva que cada um deles traduz dos acontecimentos pós-primeira guerra, mas são duas histórias contadas de modo muito diferente, e penso que até se complementam. A senhora segue-o, regressam à prateleira de onde o livreiro retirou o primeiro livro e ali se demoram em conversa sobre livros, a república de Weimar, o que já leram este ano e o que mais gostaram de ler e porquê.

Em França e exceptuando talvez Marselha, não há cidade que não tenha umas quatro ou cinco livrarias independentes. E uma livraria independente – pelo menos para os franceses – não é só uma livraria que não pertence a uma grande cadeia de retalho de livros. É sobretudo um local onde trabalham pessoas cuja especialidade é encontrar aquilo que se procura e aquilo de que nem se sabia estar à procura. Chega-se lá e descreve-se o bicho de que se tem uma vaga recordação num braile confuso e não só o especialista o conhece como consegue trazer à colação do interesse toda uma zoologia de criaturas da mesma família.

Em Portugal quase já não temos livreiros, tirando honrosas mas insuficientes excepções. As pessoas que trabalham nas Fnacs e Bertrands da vida não são, na sua grande maioria, especialistas. São mal pagos (como quase toda a gente) e não se lhes exige que acompanhem o “mercado literário” de um ponto de vista outro que o ponto de vista do departamento de marketing. O livro é um produto como outro qualquer e, como qualquer produto, está sob alçada da coordenação estratégica dos departamentos que tratam especificamente de produto: o departamento de marketing e o departamento comercial. Pouco importa que os possíveis clientes andem perdidos nas livrarias entre a savana da auto-ajuda e a cordilheira das culinárias do mundo sem saber exactamente destrinçar as diferenças entre secções ou focar-se num título em particular: desde que saiam dali com um tijolo debaixo do braço – e mesmo que não mais regressem – está tudo bem. O que interessa são os objectivos, e estes não vêem miolos.

As livrarias em Portugal tornaram-se uma espécie de restaurante típico cuja gestão passou para o filho mais velho: vamos cortar nos custos, refazer a ementa em função da estrangeirada que por aí anda à procura do very typical mas com um twist. Quando se derem conta do barrete já estão de regresso aos seus países. Desde que a sala esteja sempre cheia, tanto dá isto ser um restaurante ou uma manjedoura.

27 Set 2019

Terrorismo | Morre quinta vítima do ataque em Estrasburgo

[dropcap]O[/dropcap] número de vítimas mortais do atentado terrorista de terça-feira em Estrasburgo elevou-se ontem para cinco, após a morte de um dos feridos graves, um homem de nacionalidade polaca, ontem ocorrida, indicaram fontes judiciais.

“O meu irmão Barto Pedro Orent-Niedzielski acaba de nos deixar. Ele agradece-vos o vosso amor e a força que lhe deram”, escreveu na rede social Facebook o irmão do residente em Estrasburgo de 36 anos, originário de Katowice, na Polónia.

O atentado, que fez também 11 feridos, alguns dos quais se encontram ainda em estado grave, ocorreu no centro de Estrasburgo, no espaço do mercado de Natal, e o seu autor, Chérif Chekatt, de 29 anos, foi abatido na quinta-feira pela polícia, após dois dias em fuga. Sete pessoas foram detidas e interrogadas no âmbito da investigação aberta pelo ministério público de Paris.

Os pais e dois irmãos de Chekatt foram libertados no sábado sem acusações, perante a ausência de elementos que os incriminassem, e ontem outras duas pessoas próximas do autor do ataque foram libertadas, também sem acusações, ao passo que a sétima pessoa continua detida.

17 Dez 2018

Uma das vítimas mortais no ataque em Estrasburgo é um turista tailandês de 45 anos

[dropcap]U[/dropcap]m turista tailandês é um dos três mortos no tiroteio que ocorreu na terça-feira em Estrasburgo, França, informou o jornal local The Nation, confirmando um relato feito anteriormente por uma testemunha à emissora inglesa BBC.

Anupong Suebsamarn, de 45 anos, morreu vítima de um disparo na cabeça quando caminhava com a sua esposa pelo Mercado de Natal da cidade francesa, segundo representantes de uma associação de tailandeses em França citados pelo jornal The Nation.

O casal chegou no dia anterior a Estrasburgo, onde hoje é esperada a chegada do embaixador da Tailândia em França, segundo indicou àquela organização a esposa do falecido, quando se encontrava no hospital.

O ataque no Mercado de Natal de Estrasburgo, na terça-feira à noite, provocou pelo menos três mortos e 12 feridos, seis dos quais em estado crítico, anunciou hoje de madrugada o ministro do Interior francês, Christophe Castaner. Anteriormente, a polícia francesa indicara quatro mortos, mas o balanço foi revisto sem explicação.

Segundo Christophe Castaner, um dispositivo de 350 elementos das forças policiais foi mobilizado para encontrar o autor do ataque. Já as autoridades locais informaram na sua conta da rede social Twitter que as manifestações foram proibidas até novo aviso em todo o território da comuna de Estrasburgo.

O homem tem 29 anos, nasceu em Estrasburgo e tem no seu cadastro condenações em França e na Alemanha. O Ministério Público francês abriu uma investigação por homicídio e tentativa de homicídio relacionada com uma organização terrorista, assim como por associação terrorista.

O Governo francês elevou o nível de alerta no país para “emergência por atentado”, com um reforço de controlo nas fronteiras, aumento de segurança nos mercados de Natal e mobilização de meios envolvidos no dispositivo anti-terrorismo.

A cidade de Estrasburgo, localizada no nordeste da França, junto à fronteira com a Alemanha, acolhe a sede do Parlamento Europeu.

Os euro deputados, confinados desde o início da noite de terça-feira no Parlamento Europeu, começaram a sair do edifício após as 02:00 de hoje.

Os funcionários e euro deputados foram escoltados pela polícia em autocarros e carrinhas para o centro da cidade.

O parlamento ficou confinado desde o começo da noite, após um tiroteio no centro de Estrasburgo, a poucos quilómetros da instituição europeia localizada no norte da cidade.

12 Dez 2018