Timor-Leste | Presidente reúne com Xanana para discutir novo Governo

A reunião entre os dois históricos líderes timorenses deverá confirmar a formação de um novo executivo a partir da aliança entre o partido vencedor das eleições, o CNRT, e a terceira força partidária o PD

 

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, confirmou que vai reunir-se hoje com o presidente do partido vencedor das legislativas de 21 de Maio, Xanana Gusmão, para discutir o novo Governo.

“Amanhã (hoje) vou encontrar-me com o presidente do CNRT [Congresso Nacional da Reconstrução Timorense] seguido do presidente do PD [Partido Democrático] para discutir a formação do novo Governo, do nono Governo”, disse Ramos-Horta, num discurso no Palácio Presidencial.

O encontro com Xanana Gusmão, que será o próximo primeiro-ministro, e com os responsáveis do PD, é um dos primeiros passos no processo de formação da nova maioria parlamentar que sustentará o próximo Governo.

O cenário mais provável é o de uma aliança entre o CNRT e o PD, numa maioria de 37 deputados, tendo os dois partidos começado já negociações para esse processo.

Os líderes das bancadas do parlamento nacional deverão definir a data de tomada de posse dos novos 65 deputados eleitos, podendo dias depois concluir-se a tomada de posse do executivo, que deverá incluir membros do CNRT e do PD.

Ramos-Horta falava perante várias individualidades timorenses e representantes do corpo diplomático, numa conferência sobre as eleições legislativas de 21 de Maio e as suas implicações na política doméstica e interna do país.

No encontro, o chefe de Estado defendeu a necessidade de acelerar o processo, tendo em conta os compromissos internacionais, como o cumprimento do roteiro de adesão de Timor-Leste à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), e os objectivos nacionais de desenvolvimento.

O chefe de Estado defendeu ainda que o novo executivo dê continuidade a projectos de importância iniciados pelo actual executivo, como o cabo de fibra óptica submarino ou as obras no aeroporto da capital, Díli.

Expectativas presidenciais

No seu discurso, Ramos-Horta disse que espera que o novo Governo seja pragmático em algumas das suas políticas, nomeadamente no combate à “totalmente inaceitável insegurança alimentar” que ainda existe, 20 anos depois da restauração da independência.

Aspecto que considerou “urgente e prioritário”, uma questão “moral imperiosa”, mas que é também um “investimento no futuro”, nas novas gerações. Mais esforços na educação e na saúde nacional são outras prioridades, disse.

Ramos-Horta disse que gostaria que houvesse uma suficiente maioria de apoio ao Governo no Parlamento Nacional para que possa “aprovar uma lei que permita governar, nos próximos anos, com ordens executivas em alguns assuntos prioritários”.

“Tudo o relacionado com o nosso processo de adesão à ASEAN, que seja feito pelo Conselho de Ministros. Enviam para mim e eu assino para acelerar. Se não fizermos isso, vai ser muito difícil implementar o roteiro”, considerou.

O chefe de Estado pediu ainda ao futuro Governo que “não despeça gente a torto e a direito” e que se esforce para abraçar todos, mesmo os derrotados nas eleições.

“É uma pena neste país que quando um novo Governo entra, até os pobres empregados de limpeza que não pertencem ao partido político certo são despedidos. Imagine-se nos níveis mais altos”, afirmou.

Sobre a transição geracional, Ramos-Horta recordou que muitos dos que ainda se continuam a referir como “nova geração”, já não são tão jovens: “alguns dos que se dizem jovens até já são avós”.

O chefe de Estado mostrou-se ainda confiante que o pragmatismo predomine nas negociações entre Timor-Leste e a Austrália para fechar o acordo sobre a exploração dos poços de Greater Sunrise.

“Já se demorou demasiado tempo. Temos que chegar a acordo sobre o desenvolvimento. Há 10 anos os australianos diziam que trazer o gasoduto para Timor não era viável, agora dizem que já é, mas o problema é o custo. Se for esse o problema, podemos mobilizar recursos”, disse.

Indícios de fraude

O CNRT, o partido mais votado nas legislativas timorenses de 21 de Maio, considera haver indícios de fraude eleitoral, incluindo na atribuição de votos errados a partidos, mas reiterou que respeita o resultado. Responsáveis do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) referem ter recolhido mais de 70 irregularidades na tabulação em vários pontos do país, explicando que vão encaminhar as queixas para o Ministério Público (MP) para investigação “Detectámos cerca de 70 irregularidades na introdução de números na base de dados entre as actas dos centros de votação e da tabulação municipal”, explicaram aos jornalistas o porta-voz do CNRT, Tomás Cabral, e uma deputada do partido, Carmelita Moniz.

“Respeitamos o resultado validado pelo Tribunal [de Recurso], respeitamos a decisão, mas estamos a dizer que isto não fica por aqui. A investigação do MP tem que andar e as violações, se foram um crime, têm que ser punidas por lei”, afirmou Tomás Cabral.

Novos deputados dia 22

Os líderes das bancadas do parlamento nacional timorense deliberaram ontem marcar para 22 de Junho a tomada de posse dos seus sucessores, eleitos no mês passado, confirmaram fontes parlamentares. As fontes parlamentares explicaram à Lusa que a decisão foi tomada numa reunião de mais de duas horas e meia dos líderes das bancadas, onde os representantes dos partidos da maioria chegaram a defender a realização da tomada de posse mais tarde. Duarte Nunes, chefe da bancada do CNRT, confirmou que a decisão de 22 de Junho foi a possível, explicando que as bancadas da actual maioria cessante chegou a insistir numa tomada de posse muito mais tarde, em Setembro.

“Foi a decisão tomada na reunião dos líderes. Para nós é uma data aceitável e melhor do que arrastar até Setembro”, disse. A data acordada ontem é dez dias mais tarde do que o Presidente da República, José Ramos-Horta, tinha solicitado ao presidente do Parlamento, Aniceto Guterres Lopes, durante a reunião de ambos, também ontem, no Palácio Presidencial.

7 Jun 2023

Líder do CNRT fala de desejo de mudança da população

O presidente do CNRT, Xanana Gusmão, cujo venceu as legislativas de domingo, disse ontem que o voto traduz um cansaço e uma vontade de mudança da população, perante o que ocorreu nos últimos anos no país.
“Sentimos em todo o processo, em toda a campanha, (…) que o povo está cansado. Cansado e quer mudança”, disse Xanana Gusmão em declarações aos jornalistas na primeira reação aos resultados finais provisórios.
“Quer mudança em temos de reafirmar e consolidar o processo de construção do Estado. Orgulhávamo-nos de ser um país que já estava a sair da fragilidade para a resiliência. E, de repente, voltou tudo para trás”, afirmou.
Xanana Gusmão falava na sede do CNRT, em Díli, na sua primeira reação pública depois da finalização da contagem dos votos pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), que confirmam a sua vitória ampla nas legislativas de domingo.
Sem querer confirmar se vai ser primeiro-ministro, se haverá alianças com outras forças políticas ou se haverá elementos de outros partidos no executivo – até a votação ser certificada pelo Tribunal de Recurso – Xanana Gusmão disse que o próximo Governo vai ser de “consolidação do Estado e das instituições”.
Questionado sobre se a derrota da Fretilin, que registou o seu pior resultado de sempre, pode implicar o fim da actual liderança, Xanana Gusmão ironizou: “temos tantos problemas com essa gente toda aqui, que nem sequer tenho tempo para pensar naquilo fora da casa”.

Com toda a tranquilidade
O líder timorense deixou uma mensagem de agradecimento à maturidade e comportamento de toda a população, considerando o mais importante do voto o facto de todo o processo decorrer em tranquilidade e sem problemas entre os partidos.
“Aprecio muito a consciência popular em prol da paz e estabilidade. Durante a campanha, todos, muitos jovens que começam a assumir na cabeça e no coração que a violência não tem lugar em Timor-Leste”, afirmou.
“Tudo correu de forma pacífica, em calma, durante a votação e a contagem. Não houve problemas em lado nenhum. Isso é que é importante. Festa da democracia é isso, ir votar, com respeito mútuo, com respeito uns aos outros e, no fim, não há problemas”, disse.
“Sim, estou contente. Poderia estar mais contente se o resultado fosse maior. Mas é suficiente em termos de que sabemos que vamos trabalhar. Contente, porque vamos responder às preocupações, ansiedades, sonhos e aspirações da população”, disse.

24 Mai 2023

Timor-Leste/Eleições | Ramos-Horta exige auditoria internacional a falhas na divulgação de resultados

As falhas na contagem dos votos motivaram o desagrado de Presidente timorense que vai promover uma auditoria internacional para apurar o que se passou.
O Presidente timorense vai exigir uma auditoria internacional para investigar as falhas na divulgação dos resultados das eleições legislativas de domingo, disse ontem o chefe de Estado à Lusa.
José Ramos-Horta acusou ainda o Governo de ter partidarizado o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) nos últimos dois anos, retirando pessoas com experiência e capacidade da entidade que está a ser visada pelas falhas na divulgação dos resultados.
“Não compreendo porquê, já estamos no segundo dia, e não há actualização permanente da tabulação, não está sendo feita. O STAE apresenta a desculpa falaciosa de que o problema é da internet, [mas] não é problema da internet”, afirmou o chefe de Estado, após uma reunião com o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Timor-Leste.
“O problema é que ao longo destes dois anos partidarizaram o STAE, retiraram todo o pessoal com experiência durante muitos anos, e que foram objecto de elogios de todos, que trabalharam na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e República Centro Africana. Retiraram e puseram pessoas que são políticos”, acusou.
Por uma questão “de transparência”, Ramos-Horta quer explicações, que entende só poderem ser garantidas através de uma auditoria internacional: “Eu vou exigir primeiro uma auditoria, [uma] auditoria aprofundada. E não vai ser uma auditoria nacional. Vai ser uma auditoria internacional, com gente competente, com capacidade de investigação criminal para ver o que se passou”, prometeu.

A culpa é da internet
O STAE admitiu algumas falhas, devido a problemas técnicos e de internet, que estão a atrasar a divulgação dos resultados.
O director-geral, Acilino Manuel Branco, disse à Lusa que tem havido problemas nas comunicações por internet dos municípios para Díli, para que a tabulação dos resultados possa ser inserida.
Quase 19 horas depois do fecho das urnas, no domingo, o STAE ainda só tinha divulgado dados correspondentes a cerca de 48 por cento dos centros de votação, o que equivale a cerca de 258 mil votantes, num universo de mais de 890 mil eleitores recenseados.
As únicas formas de conhecer a contagem progressiva do resultado é visitar o próprio STAE, em Díli, e consultar duas televisões disponibilizadas no local ou, em alternativa, acompanhar o quadro da contagem, que é retransmitido pela Rádio Televisão de Timor-Leste (RTTL).
Ainda assim, o sinal para a RTTL não é sempre em tempo real e, em vários momentos há um atraso significativo. Não há qualquer site ‘online’ para consulta, e o STAE optou, este ano, e ao contrário do que fez nas eleições anteriores, de só divulgar os dados da contagem nacional, sem publicar os quadros com as contagens nos municípios e na diáspora, apesar de já estarem fechadas em alguns locais.
Os dados dessa votação nos municípios passam num longo rodapé nos ecrãs, não sendo possível conhecer os votos de cada partido, nem outros dados sobre a votação, como participação, indicando-se apenas as percentagens obtidas pelas forças políticas.
Apesar das falhas na contagem, o STAE tem sido aplaudido, incluindo pelo próprio José Ramos-Horta, pelo trabalho eleitoral realizado no terreno, com mais de 20 mil pessoas destacadas em todo o país.

23 Mai 2023

Timor-Leste | Legislativas a 21 de Maio. Partidos com expectativas elevadas

CNRT e Fretilin, os dois partidos timorenses com maior expressão política, têm elevadas expectativas para as eleições legislativas que decorrem no país no próximo dia 21. O KHUNTO confia na possibilidade de vir a duplicar o número de deputados

 

A campanha para as eleições legislativas de Timor-Leste, marcadas para o próximo dia 21, já corre a todo o gás e os partidos candidatos mostram confiança na obtenção de bons resultados. No caso do partido timorense KHUNTO, a previsão é de que possa vir a duplicar os lugares no parlamento, passando de cinco para 11, com vitórias em vários municípios do país, o que ajudará a dar o triunfo à plataforma que sustenta o actual Executivo.

Marito Magno, conselheiro nacional do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) disse, em entrevista à Lusa, que a “plataforma continuará a ter maioria no parlamento” e “vai até aumentar esse poder”. Magno refere-se ao acordo entre o KHUNTO, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e o Partido Libertação Popular (PLP), do actual Governo, de que continuarão a formar uma plataforma para governar depois das eleições.

“Vamos aumentar. A Fretilin está muito sólida no terreno, nós vamos aumentar para 11 cadeiras, no mínimo, e o PLP vai manter ou aumentar também”, referiu.

“No nosso caso temos a referência do apoio de 56 mil votos à nossa candidata presidencial. Mas agora os nossos números são ainda maiores. No mínimo 80 mil. Esperamos ganhar em Ainaro, Manufahi e Manatuto. Apesar de Manatuto ser a terra de Xanana Gusmão, o KHUNTO vai ganhar”, afirmou.

Garante que o CNRT não vai ser o mais votado e que se for, está “excluída hipótese de apoiar um Governo CNRT”, vincando que o partido continua na plataforma que governa actualmente.

De frisar que, na última quinta-feira, o vice-presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), tido como a maior força da oposição no país, disse, também à Lusa, estar confiante numa maioria absoluta, argumentando ter consolidado a sua estrutura e ter visto grande apoio antes e durante a campanha

“Estamos 100% confiantes na maioria absoluta. Estamos a trabalhar no terreno. E a maioria em que estamos a pensar não é mais que a resposta do povo, o povo que sofreu durante o período da covid-19 e nos últimos anos”, disse Tomás Cabral.

“O CNRT começou em 2007 e tem-se vindo a transformar em todo o território, com uma evolução grande, mais estruturas a nível das 2.225 aldeias, estruturas mais bem preparadas a todos os níveis”, vincou ainda.

Essa evolução, explica, assenta também na criação e crescimento de três estruturas — mulheres, jovens e profissionais do partido — que envolveu formação técnica dos quadros e “formação especial a quadros políticos”.

“Estamos a trabalhar para maioria absoluta. O presidente do partido e o partido estão a trabalhar forte para podermos ter uma maioria. E população em si está a perceber qual o caminho que quer seguir”, afirmou.

Apesar de ter estado, desde a sua criação, como primeira ou segunda força política no país, o CNRT acaba por ser necessariamente conectado ao seu líder, Xanana Gusmão, o que leva alguns a questionar que futuro terá o partido, sem a cara mais conhecida da política nacional. “Quem diz que não vai haver CNRT depois de Xanana só está a tentar fazer propaganda política. Se fosse assim, quando as nossas bases de apoio à resistência foram destruídas em 1979, a luta contra a indonésia teria acabado. E não ocorreu isso”, explica.

“O CNRT está a trabalhar, a organizar-se, tem uma estrutura própria, já. Com Xanana ou sem Xanana estamos a construir, a fortalecer as estruturas”, insiste.

Sinal mais

Marito Magno, conselheiro do KHUNTO, avalia positivamente a convivência no atual Governo – rejeita acusações de que os três partidos actuavam quase de forma separada no Executivo – e dá como exemplo da solidez as reuniões regulares dos líderes máximos dos três partidos. “Não é verdade que cada partido puxe para si. Todas as decisões são tomadas em conselhos de ministros e as grandes medidas, cesta básica, apoio a trabalhadores e subsídio do fim do ano, por exemplo, são apoiadas por todos”, disse.

“A oposição sempre gosta de criticar. Mas o oitavo Governo é diferente. Fez um orçamento virado para o povo, para a comunidade. E por isso a comunidade sente grande satisfação com a política do Governo”, sublinhou.

Magno, que é um dos responsáveis pela elaboração do programa e da campanha eleitoral, vincou que o partido tem estado nos últimos anos a consolidar toda a sua estrutura, que vai “desde o conselheiro máximo até às aldeias” do país.

“A situação é muito diferente relativamente ao passado, porque então não tínhamos essa estrutura de bases. Agora chegamos a todo o território. Em cada aldeia temos no mínimo 42 pessoas”, referiu. “Houve muitas mudanças, inclusive na estratégia. Cada membro tem competência para recrutar e mobilizar novos militantes, no quadro do sistema do juramento”, disse.

Bases sólidas

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, afirmou, há seis dias, à Lusa, que o partido está “muito sólido”, mais coeso e com a estrutura ainda mais consolidada até à base, o que dá confiança de vitória nas legislativas. “Está muito sólido. Tenho descido até às bases e notamos essa força desde as aldeias até ao nível nacional. Não é apenas o Comité Central que está muito sólido, mas são todas as estruturas”, disse.

Alkatiri explica que “pela primeira vez na vida”, durante a pré-campanha e a campanha, desceu até às aldeias e ainda mais “até às knuas” — as estruturas bases tradicionais da organização do país. Uma oportunidade “para perceber melhor o porquê de o povo estar ainda a sofrer, com uma taxa de subnutrição e de pobreza tão elevada, depois de termos gastos 16 mil milhões de dólares nos últimos anos, sem contar os apoios internacionais”.

Um processo que permitiu avaliar melhor as necessidades no terreno e, ao mesmo tempo, fortalecer a própria estrutura do partido, com unidades nas aldeias e células nas knuas (tribos). “Temos que identificar líderes naturais no seio do povo. Isso é muito importante porque eles e elas é que vivem com a comunidade, que melhor a conhecem”, refere.

“Mobilização sem organização é só festa. A mobilização com organização é a realidade e isto é a diferença entre o que fazemos agora e o que os outros fazem, especialmente o CNRT”, considerou.

Apesar de a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) se apresentar sozinha – como o tem feito, aliás, desde as primeiras eleições para Assembleia Constituinte -, o partido assinou um acordo de plataforma política com os seus actuais parceiros no Governo, o Partido Libertação Popular (PLP) e o KHUNTO. PLP e KHUNTO estão no Governo por terem feito parte de uma coligação pré-eleitoral Aliança de Mudança para o Progresso, AMP) com o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) que venceu as antecipadas de 2018 com maioria absoluta.

A saída do CNRT do Governo levou à entrada da Fretilin que o viabilizou e permitiu que terminasse o mandato. “Se a posição da plataforma que temos hoje se mantiver depois das eleições, quer queiram quer não, governamos em termos percentuais. Isso não vai acontecer, haverá quem suba, quem desça e quem se mantenha. Mas a Fretilin vai subir e compensará qualquer um deles, no caso de descerem”, disse.

Mais do que isso, porém, Alkatiri refere que a plataforma foi uma base que existe desde 2020, mas que ao longo da governação contou com o apoio de outros partidos, o que “mostra que há sensibilidade e uma real vontade de cooperar” na governação.

“Se houver mais partidos, menos votados, mas com representação no parlamento, temos que os saber incluir. E iria mais longe ainda, para dizer que o ideal seria um entendimento com o CNRT para se poderem corrigir algumas medidas tomadas até agora, incoerentes e inconsistentes”, disse.

Questionado sobre que avaliação faz do trabalho da plataforma na governação, Alkatiri recorda que a plataforma liderou o país em momentos “muito difíceis”, como a pandemia da covid-19 e desastres naturais.

“Não é fácil gerir um governo de três partidos, de tantos membros, numa situação dessas. Mas no essencial, para servir o povo, serviu-se bem e mesmo na pandemia. Timor-Leste foi dos países menos afectados em termos de óbitos e isso significa que houve um esforço para servir” a população, afirmou.

CNE | Comissão lamenta feridos e incidentes

O presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) timorense lamentou ontem os vários incidentes que ocorreram na parte leste do país durante a primeira metade da campanha eleitoral e que causaram vários feridos.

“Lamentamos profundamente os incidentes que têm ocorrido na campanha, especialmente na parte leste, na zona de Viqueque. O processo está em investigação pela polícia e pelo Ministério Público”, disse José Belo em conferência de imprensa. “Como órgão eleitoral lamentamos esta situação e voltamos a apelar a todos os cidadãos para que mantenham um bom comportamento, moderando a sua acção. Mesmo pequenos incidentes têm impacto na imagem do país dentro e fora”, vincou.

José Belo fez uma conferência de imprensa de balanço da primeira metade da campanha, que começou a 19 de Abril e decorre até 18 de Maio, destacando várias questões detectadas pelas equipas da CNE no acompanhamento dos partidos. Notando que a campanha, em geral, “tem corrido bem”, Belo voltou a relembrar os partidos políticos para que sejam disciplinados e evitem a participação de crianças em actos de campanha e, ao mesmo tempo que “evitem levar militantes de uns municípios para os outros”, o que pode causar “riscos adicionais”. José Belo referiu-se igualmente à participação de grupos de artes marciais (GAM) em actos de campanha, referindo que está em curso a campanha de partidos políticos e, como tal, não deve servir “representar a filiação de artes marciais a partidos”. Nesse sentido apelou a que não se usem símbolos de artes marciais na campanha e se evite referência à afiliação a GAM.

2 Mai 2023

Timor-Leste/Eleições | Menos filas e menos votantes na segunda volta das presidenciais

Uma menor afluência de eleitores, pelo menos em Díli, parece ser a tónica dominante da segunda volta das eleições presidenciais em Timor-Leste, marcada por menos filas e por uma aparente subida na abstenção.

Com as urnas já fechadas em todo o território timorense e ainda nos centros de votação da Austrália e da Coreia do Sul, funcionários eleitorais em vários locais de votação na capital timorense, Díli, confirmaram à Lusa a menor afluência.

Na escola número 5 no bairro do Farol, em Díli, por exemplo, os dados preliminares indicam uma queda de quase 25% no número total de votantes face à primeira volta.

“Temos tido muito menos gente hoje. Nunca houve filas”, disse à Lusa a responsável do centro de votação.

Às 15:00, momento do fecho das urnas, apenas tinham votado cerca de 1.400 eleitores, menos 500 que os mais de 1.900 que aqui votaram na primeira volta.

A falta de filas evidenciou-se em vários pontos da cidade visitados pela Lusa ao longo da jornada eleitoral, com a votação a decorrer com normalidade.

Devido à diferença horária, a contagem já foi concluída em dois dos três centros de votação na Austrália, Sydney e Melbourne, com José Ramos-Horta a registar uma ligeira vantagem face a Francisco Guterres Lú-Olo, de 106 contra 86 votos.

O processo de contagem vai agora começar em todo o território timorense com os resultados a caírem a ‘conta gotas’, pelo menos até quarta-feira.

Até ao momento, e salvo incidentes pontuais, não há indicações de problemas registados durante a jornada eleitoral.

19 Abr 2022

Timor-Leste/Eleições: AMP vence legislativas antecipadas com maioria absoluta

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) venceu as eleições legislativas antecipadas de sábado em Timor-Leste com mais de 305 mil votos, ou 49,56% do total, segundo os dados praticamente finais do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE).

Os dados dizem referência a um escrutínio de quase 99%, faltando apenas nove dos 85 centros de votação do município de Bobonaro, onde a AMP lidera com ampla vantagem (mais de 51,29% dos votos).

Com este apoio eleitoral, a AMP, liderada pelos ex-Presidentes Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak obtém 34 dos 65 mandatos do Parlamento Nacional, o que lhe permite formar o VIII Governo constitucional sem necessitar de qualquer apoio adicional.

Em segundo lugar ficou a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que liderou a coligação minoritária do anterior Governo, e que obteve cerca de 211 mil votos, ou 34,27% do total, mantendo o mesmo número de deputados, 23.

No Parlamento estará também o Partido Democrático (PD) – parceiro da Fretilin no VII Governo, que perde dois deputados para cinco, tendo obtido quase 49 mil votos ou 7,95% do total.

Pela primeira vez no parlamento estará a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) – uma coligação de quatro pequenos partidos – que terá três lugares e que obteve quase 34 mil votos ou 49,56% do total.

Nenhuma das outras oito forças políticas conseguiu chegar à barreira dos 4% de votos válidos que é necessária para conseguir eleger deputados.

Os dados mostram um aumento da taxa de participação, que em 2017 foi de 76,74% (584 mil votantes num universo de 760 mil) e este ano aumentou para quase 80% (626.500 num universo de 784 mil.

Os três partidos que integram a AMP conseguiram aumentar, em conjunto, a sua vantagem sobre a Fretilin, de cerca de 84.500 em 2017 para mais de 90 mil.

Globalmente, a AMP teve mais de 94 mil votos que a Fretilin (a diferença era de cerca de 83.600), tendo aumentado o seu apoio total em cerca de 52.500 votos, enquanto a Fretilin viu crescer o seu apoio eleitoral em quase 41 mil votos.

De referir ainda o aumento de cerca de 5.700 votos da FDD.

Os piores resultados foram dos partidos que integram a coligação MSD, que perderam mais de 10 mil votos, e do PD que perdeu quase seis mil.

Até ao momento ainda nenhuma das forças políticas fez qualquer declaração pública sobre o resultado eleitoral.

Os dados têm agora que ser reconfirmados na Comissão Nacional de Eleições (CNE), numa tabulação nacional – não se trata de uma nova contagem, apenas de uma verificação das atas.

É nessa fase que é decidida, com a presença dos partidos, a distribuição dos quase 600 votos “reclamados”, ou seja, votos em que, no momento de contagem, houve disputa sobre a quem deveriam ser atribuídos.

Os resultados finais terão depois que ser confirmados pelo Tribunal de Recurso, o que se prevê ocorra até final de maio, devendo os deputados tomar posse em junho.

Só depois deverá ocorrer a formação do Governo que deverá ser liderado, como o próprio disse à Lusa, por Xanana Gusmão, que regressa assim ao cargo que abandonou em 2015.

De referir que a AMP venceu na maioria dos municípios, em concreto Aileu, Ainaro, Bobonaro, Covalima, Dili, Ermera, Liquiçá, Manatuto, Manufahi e ainda na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA) e no centro instalado na Coreia do Sul.

A Fretilin, por seu lado, venceu em todos os municípios do leste do país, Baucau, Lautem e Viqueque e ainda na Austrália, Portugal e Reino Unido.

13 Mai 2018