Hoje Macau China / ÁsiaManufactura | Actividade no nível mais baixo em dois anos Apesar da diminuição das exportações, a culpa do abrandamento resulta em grande parte da queda da procura interna. Economistas aconselham o Governo a baixar impostos e a estimular o sector privado [dropcap]A[/dropcap] actividade da indústria manufactureira (PMI, na sigla em inglês) da China caiu para o nível mais baixo em dois anos, em Outubro, segundo dados ontem divulgados, numa altura de fricções comerciais entre Pequim e Washington. O Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês revelou que o PMI recuou para 50,2 pontos, depois de em Setembro se ter fixado nos 50,8. Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade. Os pedidos para exportação recuaram, mas o maior impacto foi a queda na procura interna. As vendas nos sectores automóvel e imobiliário caíram, desde que Pequim dificultou o acesso ao crédito, visando travar o ‘boom’ no endividamento. “A pressão económica negativa a curto prazo é relativamente grande”, admitiu o economista do GNE, Zhang Liqun, em comunicado. Pequim precisa de baixar impostos, reduzir as restrições ao crédito e “impulsionar a confiança no sector privado” escreveu em comunicado um grupo de economistas do banco de investimento Citigroup. A resistir As exportações chinesas para os EUA têm-se mantido resilientes, apesar de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter imposto taxas alfandegárias sobre metade das importações oriundas da China, numa disputa em torno das ambições chinesas para o sector tecnológico. Em parte, isto deve-se às fábricas terem respondido aos pedidos antes da entrada em vigor das taxas. Mas produtos de alto valor, como equipamento médico e para fábricas, expressaram confiança de que vão manter as vendas no mercado norte-americano, apesar do aumento dos preços. “A queda na procura do exterior não parece ser o principal culpado”, escreve Julian Evans-Pritchard, analista na consultora Capital Economics. As novas encomendas em Outubro recuaram 1,2 ponto, para 50,8, segundo o GNE. Os novos pedidos para exportação caíram 1,1 ponto, para 46,9. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, tem vindo a desacelerar, à medida que a liderança do país enceta a transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento. No último trimestre, o ritmo de crescimento económico fixou-se nos 6,5%, o nível mais baixo desde a crise financeira mundial, em 2009. Em 2017, a economia chinesa cresceu 6,8%.
Tiago Bonucci Pereira VozesInvestimento Chinês em África [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]este texto traça-se um panorama geral das relações comerciais entre a China e África, bem como da natureza dos investimentos chineses. O assunto é complexo, mas pretende-se aqui identificar as principais variáveis, aspectos problemáticos, “mitos” propagados, bem como perspectivas futuras. As exportações chinesas para África têm se mantido relativamente estáveis nos últimos anos. No entanto, entre 2014 e 2015, as exportações de África para a China caíram 66 por cento em valor, fundamentalmente devido à queda do preço do petróleo, a principal importação chinesa. Recursos naturais constituem o grande bolo das importações chinesas, pelo que as flutuações do mercado encontram correspondência imediata nos valores de exportação para a China que, de 2014 para 2015, regrediram para valores de 2007, tendo-se mantido estáveis de 2015 para 2016. Em termos de investimento directo estrangeiro (IDE), entre 2003 e 2016 regista-se um aumento contínuo de fluxo agregado de IDE da China em África, de 500 milhões de dólares americanos (USD) em 2003, para 39.9 mil milhões de USD em 2016. Neste capítulo, embora os Estados Unidos da América (EUA) continue a liderar as estatísticas, os anteriores valores representam, em termos relativos, respectivamente 2 por cento e 70 por cento do stock de IDE dos EUA em África, o que reflecte também a estagnação de investimento americano no continente no período pós crise económico-financeira do final da década passada. A queda de valor de bens primários nos últimos anos resultou num novo padrão no direccionamento do IDE chinês em África. Países ricos em recursos naturais como Angola e a Nigéria viram acentuadas quedas no IDE chinês, enquanto que países como o Quénia, Etiópia e Tanzânia sairam beneficiados. O IDE chinês incide principalmente nos sectores mineiro, construção e indústria transformadora, sector este que ganhou proeminência nos últimos anos com a tranferência de operações de empresas chinesas para África, fruto do aumento dos custos laborais na China. No que concerne empréstimos da China a governos e empresas estatais de países africanos, é de referir que valores por vezes divulgados na imprensa são manifestamente exagerados. A publicação The Economist Corporate Network, por exemplo, reportava em 2015 que os bancos estatais chineses (China Eximbank, China Development Bank, CDB) tinham-se comprometido com financiamentos num total de cerca de 1 bilião de USD durante a década seguinte, valor exagerado em pelo menos uma ordem de grandeza. Um olhar crítico sobre reportagens como a citada permite desvendar a origem destes exageros. Para que empresas chinesas, e governos africanos, possam requisitar financiamento a bancos chineses, precisam de ter à partida um contrato assinado. Por vezes são anunciados projectos na sequência da assinatura de memorandos de entendimento, que raramente têm resultados prácticos. O padrão identificado anteriormente para o comércio e investimento directo estrangeiro é observado também na análise de financiamento chinês para África: crescimento acentuado até 2013, seguido de ligeiro decréscimo. Entre 2000 e 2015 a China providenciou um total de 95 mil milhões de USD em empréstimos e linhas de crédito para governos e empresas estatais africanas. O maior beneficiário destes empréstimos foi Angola (20 por cento), seguido da Etiópia (14 por cento) e o Quénia e o Sudão (7 por cento). Os empréstimos são dirigidos maioritáriamente (63 por cento) para os sectores de transportes (construção e manutenção de estradas; caminhos-de-ferro), energia (projectos hidroeléctricos; linhas de transmissão de energia; gasodutos; centrais eléctricas a carvão e gás) e telecomunicações. O sector mineiro absorve 10 por cento dos empréstimos, sendo que estes consistem maioritariamente (mais de 80 por cento) em linhas de crédito para a empresa estatal angolana Sonangol. Apenas um terço dos empréstimos são garantidos com bens primários, prática usual para investimentos em países considerados de alto risco, mas que possuem bens que investidores consideram que ajudam a cobrir os riscos associados a investimentos nesses países, nomeadamente o risco de incumprimento. Trata-se de resto de uma prática da qual a própria China usufruiu no início do seu processo de reforma e abertura. Estima-se que linhas de crédito (garantidas com petróleo) providenciadas pelo China Eximbank ao governo angolano tenham financiado a construção de 127 obras públicas. É esta, portanto, a principal razão para a utilização deste modelo de financiamento, e não tanto a tentativa de garantir acesso a recursos naturais. O exemplo de Angola é ilustrativo: a China importa cerca de metade do petróleo produzido por Angola, mas companhias petrolíferas chinesas apenas possuem cerca de 10 por cento da produção de petróleo angolano, mercado que é dominado por empresas ocidentais como a ExxonMobil e a Total. Os termos contratuais associados aos empréstimos dos bancos estatais chineses impõem sempre a preferência pela utilização de bens e serviços da China. A controvérsia associada a esta relação entre financiamento chinês e fornecedores chineses tem origem sobretudo na ideia errada que financiamento chinês em países em vias de desenvolvimento corresponde a ajuda ao desenvolvimento, quando a função de todos os bancos exportação-importação, como o China Eximbank ou o US Eximbank, é precisamente o de providenciar acesso ao crédito para compradores de bens do país. Ou seja, muito do que é dito sobre a abordagem chinesa em matéria de investimentos em África não corresponde à verdade. A abordagem é fundada em princípios comerciais, e busca a expansão comercial chinesa, estando integrada no Going Out Policy. Recursos naturais constituem um aspecto fundamental nesta relação entre a China e África (tal como na relação entre África e os EUA e a União Europeia), constituindo a larga maioria das importações chinesas. Todavia, é importante lembrar que a própria China foi até 1993 um exportador líquido de petróleo, e que na fase inicial do seu processo de reforma celebrou vários acordos de compensação comercial em termos semelhantes aos que propõe a países africanos. A volatilidade do mercado de bens primários pôs a nu fragilidades associadas à dependência excessiva de alguns países em recursos naturais, incluindo dificuldades ao nível de pagamento de dívidas. A situação actual deve, portanto, funcionar como um incentivo para diversificar a economia e promover a boa governança (países como o Quénia e a Etiópia têm feito progressos significativos neste capítulo). No fim de contas, é a melhor forma de conquistar a confiança de investidores. A China é, hoje em dia, um player incontornável em África. Mas existem aqui também desafios importantes para o lado chinês. Como referia em 2007 o antigo Presidente Moçambicano Joaquim Chissano numa conferência em Oxford dedicada ao tema de perspectivas futuras para ajudas ao desenvolvimento “devemos procurar formas de aliar ajuda à atracção de recursos para o sector privado, por forma a apoiar a emergência de uma classe empresarial robusta com uma participação forte nas economias nacionais”. Ajuda externa representa uma fracção minoritária do financiamento chinês, mas a lógica é aplicável ao discurso de “benefício mútuo”. O sucesso em África serviria como exemplo noutras faixas e noutras rotas.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesAs leis da globalização (II) “The BRI launched by President Xi Jinping in 2013, which is intended to promote economic development and exchanges between China and more than 60 countries, is gaining momentum. The revival of the ancient Silk Road economic ‘belt’, combined with the 21st Century sea lanes of communication known as the ‘road’, is intended to enhance global connectivity and increase commercial activity.” Alessandro Arduino [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] comércio internacional pode realizar-se sem a multinacionalização, e muitos são os que acreditam ser a vaga do futuro. A revista “The Economist” prevê uma diminuição crescente de pequenas empresas que usam o comércio electrónico para comprar e vender, em uma escala global. O comércio “online”, ainda é significativamente menos internacionalizado, que o comércio “off-line”. É à luz das mudanças que se fazem no ambiente político, que parece ser o momento particularmente inoportuno, para pensar que se pode ser global, apenas criando um “site” ou juntando-se a uma plataforma “online”. Os que pensam que a sua empresa deve continuar a fazer negócios em uma diversidade de mercados, precisa de descobrir se deve mudar o tipo de estratégias que usa, em resposta às pressões proteccionistas. As empresas usam a adaptação quando desejam ajustar-se às diferenças entre países para serem responsáveis localmente, e usam a associação de empresas para alcançar economias de escala e capacidade que se estende através das fronteiras nacionais, sendo que as estratégias de arbitragem são utilizadas para explorar as diferenças, como os baixos custos laborais em um país ou melhores incentivos fiscais em outro. As empresas devem usar essas estratégias, pelo que terão de mudar algo, mesmo que seja pouco, em um mundo proteccionista, mas talvez menos do que se pensa. O presidente da “General Electric (GE)”, Jeffrey Immelt, não está só quando fala do suporte arrojado da sua empresa distanciado da associação e dá importância à localização no ambiente actual. As empresas devem procurar oportunidades para ampliar os seus esforços de adaptação, porque tornarem-se mais sensíveis às diferenças pode ajudar a reduzir o impacto do proteccionismo. A forma mais óbvia para uma empresa se adaptar é a multiplicidade de produtos, políticas e posicionamento no mercado para se adequarem aos mercados locais. No entanto, cada mudança aumenta os custos e a complexidade. Logo, a adaptação inteligente, geralmente, envolve a limitação da quantidade ou variedade de produtos, bem como encontrar formas de melhorar a eficácia e a eficiência de qualquer alteração introduzida. As empresas, por exemplo, podem projectar plataformas comuns sobre as quais as alterações locais são oferecidas, ou podem externalizar alguns dos custos da adaptação, através de franquias, empreendimentos conjuntos ou outros tipos de parcerias. Mas, enquanto uma maior adaptação pode ter sentido, as multinacionais não devem colocá-la automaticamente como prioridade, o que só prejudicaria as suas fontes de vantagem competitiva em relação aos concorrentes locais. As empresas globais, especialmente as de economias avançadas, normalmente justificam as suas estratégias transfronteiriças principalmente com base na associação. Os casos mais clássicos, revelam investimentos em activos tecnológicos ou de “marketing” intangíveis que podem escalar através das fronteiras nacionais. Tais vantagens normalmente devem ser bastante grandes, para superar a vantagem do juízo doméstico dos concorrentes locais. A lógica económica para a associação não se evaporará para multinacionais que tenham construído um negócio saudável e lucrativo em mercados estrangeiros, mesmo que alguns países tornem mais caro operar dentro das suas fronteiras. Quanto à arbitragem, as oportunidades para que as multinacionais verticais se globalizem no lado da oferta, em vez do lado da procura, reduziram um pouco nos últimos anos, mas ainda permanecem imensas. Mesmo com o aumento da prosperidade nos grandes mercados emergentes, o PIB “per capita” dos Estados Unidos ainda é sete vezes maior que o da China e trinta e três vezes o da Índia. As diferenças nos regimes fiscais entre países, também não vão desaparecer e continuarão a proporcionar oportunidades de arbitragem. Assim, e de acordo com a “Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)”, a dispersão das taxas de imposto sobre as empresas entre os países pouco mudou desde 2007, e o progresso na contenção dos paraísos fiscais tem sido lento. Além disso, as diferenças entre países em termos de segurança, saúde e ambiente continuam a persistir também, embora a exploração dessas diferenças suscite preocupações éticas. As multinacionais que saem dos mercados emergentes tendem a começar as suas vantagens com as primazias arraigadas em arbitragem, concorrentes no exterior com base em baixos custos domésticos. Tal estratégia continua a ser o motor que impulsiona o crescimento e a lucratividade e rentabilidade da indústria “offshore” de serviços de “Tecnologia de Informação (TI)” da Índia, que inspirou o “The World Is Flat: A Brief History of the Twenty-first Century” de Thomas L. Friedman, iniciando uma onda de interesse em estratégias de avaliação. Após mais de uma década, os salários dos programadores na Índia, ainda são apenas uma fracção dos praticados nos Estados Unidos, e a redução de custos contínua sendo a principal razão pela qual as empresas optam por terciarizar. Os maiores fornecedores centrados na Índia, ultrapassaram os concorrentes ocidentais em termos de crescimento e rentabilidade e, a partir de Junho de 2016, os quatro principais vendedores concentrados na Índia, desfrutaram de arbitragens de mercado superiores a 50 por cento maiores, do que os seus quatro principais concorrentes ocidentais. À medida que as empresas de países avançados e emergentes se dedicam à liderança global, cada um deve reforçar a sua fraqueza tradicional, para os operadores históricos, a arbitragem e para os insurgentes, a associação. Os donos do mundo desenvolvido em serviços de TI, como a Accenture e a IBM, expandiram os seus esforços na Índia, enquanto as empresas indianas estão a tentar fortalecer as suas marcas e capacidades tecnológicas. O alicerce de Immelt para a localização implica um impulso à sua estratégia de adaptação. A GE, como a maioria das outras multinacionais, não pode desistir da associação ou da arbitragem. As vantagens baseadas em associação da GE são o que sustentam a sua capacidade de competir em cento e setenta países. A sua máquina de “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)” ou “Investigação e Desenvolvimento (I&D)” de quase seis mil milhões de dólares de investimentos anuais, produz inovações tecnológicas de destaque mundial, o valor da marca de trinta e quatro mil milhões de dólares abre as portas em todos os locais, os seus famosos programas de formação de gestão atraem e cultivam talentos, e o seu alcance em produtos, serviços e geografias contribui para o imenso potencial de intercâmbios de associação de fronteira, e enquanto as observações de Immelt minimizam a arbitragem salarial, tal como o fez na década de 1980, em contraste com a direcção focada, actualmente, na venda de mais produtos ao exterior, a arbitragem tornou-se suficientemente enraizada na empresa nas últimas décadas, que provavelmente não vai desaparecer e continuará a ser parte da sua estratégia de globalização. É de entender que a estratégia de localização da GE é melhor entendida, como a que mantém uma força central na associação enquanto atenua a prioridade da empresa na arbitragem e torna-se mais adaptável. Quanto ao ajustamento com a sociedade, associar-se com, onde e como competir, são as questões principais, salientando como fundamental, o modo de como se deve envolver com a sociedade, que está a tornar-se cada vez mais proeminentes nas agendas dos líderes empresariais, excepto em indústrias altamente regulamentadas, as empresas historicamente tratam as interacções com os governos, a média e o público, como uma reflexão posterior na definição das estratégias. Mas, em muitos casos, as empresas estão a ter maiores impactos de factores políticos e macroeconómicos do que de considerações competitivas. Tais factores, incluem movimentos de taxas de câmbio impulsionados pelo “Brexit”, compartilham flutuações de preços em resposta às alterações de políticas e ao custo de mudança de planos de investimento à luz das modificações antecipadas na política comercial. É de acrescentar à lista o aumento das ONGs, a proliferação das médias sociais e o aumento do sentimento anti-globalização. As empresas são constrangidas nas suas respostas a esses desenvolvimentos por uma série de factores. Em primeiro lugar, a reacção contra a globalização também é, em parte, uma reacção contra os grandes negócios. A reputação geral dos negócios está em um mínimo histórico. O “Pew Research Center”, em uma pesquisa recente, perguntou aos entrevistados nos Estados Unidos, o quanto as pessoas em dez profissões contribuíram para o bem-estar da sociedade. Os executivos de empresas classificaram o futuro, com excepção dos advogados, e apenas 24 por cento dos entrevistados disseram ter pensado que os líderes empresariais contribuíram muito. O “Barómetro de Confiança Edelman” de 2017, também relata um mínimo histórico para a credibilidade dos executivos empresariais e das decisões das empresas sobre como implantar o capital de reputação que possuem e que são dificultadas pelas tensões entre os cidadãos de um país e o seu governo. O presidente executivo da Uber, Travis Kalanick enfrentou problemas com a percepção pública de se ter juntado ao conselho consultivo de negócios de Trump, pelas incertezas acerca de como evoluiria a situação económica e social nos Estados Unidos, acabando por renunciar ao cargo a 21 de Junho de 2017, depois de um conjunto de acusações, desde assédio sexual a sexismo na empresa, passando pelo uso de um programa de computador para enganar autoridades reguladoras de várias cidades no mundo, até suspeitas de roubo de propriedade intelectual para o fabrico de carros auto guiados. Assim e nesse contexto, é necessário falar mais sobre questões sociais e entender porque os líderes empresariais são muitas vezes instruídos a ter certos comportamentos, para não ser considerado como uma panaceia. Ainda que seja difícil oferecer instruções simples sobre como lidar com essas complexidades, a lei da semi-globalização sugere uma liminar e uma visão. Em primeiro lugar, a injunção é estar em consonância com o facto de os governos pensarem sempre que uma empresa que opera é uma actividade incerta, e que tal seja uma estratégia sustentável. [continua]
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA emergência da China (I) “Zhou Enlai was a quintessential Chinese leader and devoted his postwar career to preserving and promoting Chinese national interests until his death.” “The Making of China’s Peace with Japan: What Xi Jinping Should Learn from Zhou Enlai” – Mayumi Itoh [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Imperador Napoleão afirmou que o mundo devia ter cuidado com o dragão adormecido, para que não o despertasse. A China não estava apenas adormecida, mas perdida num tempo antes da modernidade e incapaz de emergir do sonho denso de um mundo anterior, no qual tinha sido o país mais avançado do planeta, certamente o mais virtuoso e sábio, mas de alguma forma foi submerso pelo poder e pelos saques do que antes eram Estados bárbaros com regras primitivas e populações rudes. O arrastamento de uma China sonâmbula para a globalização foi um enorme choque para um império que se tinha isolado. As potências imperiais do século XIX, unidas por uma rápida modernização do Japão, sujeitaram a China a enormes humilhações que continuaram no século XX, especialmente por parte do Japão que ocupou uma grande parte do seu território nos anos anteriores à II Guerra Mundial. Os chineses não se solidarizaram, pois encontravam-se divididos em dois campos armados concorrentes, com aspirações para duas formas muito diferentes de República, uma administração de fantoches japoneses, e vários enclaves do senhor da guerra. Os exércitos chineses, não importa o quão desesperadamente e tardiamente se procuraram modernizar-se, acabaram por sucumbir diante dos japoneses devido à sua terrível liderança. A facção nacionalista do “Kuomintang” (Partido Nacionalista Chinês), liderado por Chiang Kai- shek, foi um aliado dos Estados Unidos, Reino Unido e da União Soviética durante a guerra, e lutou com os britânicos na Birmânia, mas enfrentou quer o exército o japonês, como o exército comunista do Presidente Mao. No final da II Guerra Mundial, a luta continuou na China, e os comunistas saíram vitoriosos em 1949, dirigindo as forças nacionalistas de Chiang para o exílio na ilha de Taiwan. Todavia, a China estava em ruínas e o regime comunista iniciava as suas novas políticas sociais e económicas, com grande custo para a estabilidade do país. A diplomacia foi, com excepção da União Soviética comunista uma prioridade e os Estados Unidos como aliado dos nacionalistas derrotados, determinante no congelamento da China à diplomacia internacional, retirando-lhe respeitabilidade. Os Estados Unidos, utilizando o seu poder de veto nas novas Nações Unidas, impediram a China de ocupar o seu lugar no Conselho de Segurança, mantendo o regime nacionalista no seu lugar da ONU. As relações com a União Soviética começaram a arrefecer, em 1956, quando Nikita Khrushchev iniciou o processo de repudiar os excessos tirânicos de Estaline. Os chineses consideraram como o ínicio de um revisionismo muito longo, o que justificou uma nova diplomacia, com o fim de encontrar aliados em um mundo mais vasto. O lugar de primeiro secretário do partido comunista soviético foi ocupado por Khrushchev, após a morte de Estaline em 1953, e não havia indicações públicas de que se iria desviar significativamente do legado que tinha herdado. O discurso de quatro horas de Khrushchev, em 25 de fevereiro de 1956, foi de acusação a Estaline por ter conduzido um culto de personalidade, assustando desse modo todo o mundo comunista, incluindo a China. Tornou-se claro para os chineses, mesmo antes do discurso, que confiar unicamente na União Soviética, em termos de apoio diplomático era imprudente. O primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, assistiu à “Conferência Afro-asiática de Bandung”, que se realizou entre 18 e 24 de Abril de 1955, e que foi uma enorme reunião de líderes do mundo emergente e o precursor-chave para o “Movimento dos Países Não Alinhados (MNA)”, que reuniu cento e quinze países, tendo proferido um discurso que constituiu um marco no movimento. A incursão diplomática do primeiro-ministro chinês teve como fim a procura de aliados diplomáticos e grangear a apreciação internacional para o que China tinha realizado. Simultaneamente, foi uma tentativa da China de reconhecer que outros também tinham passado por um século ou mais de uma terrível imperialização. Os chineses tinham estado demasiado isolados do mundo, não tinha fundamentos empíricos para a solidariedade e não poderiam ser por razões ideológicas, pois a maioria do mundo afro-asiático não era comunista, embora muitos países tivessem inclinações para uma forma ou outra de socialismo. O primeiro-ministro Zhou fez um discurso de empatia, baseado essencialmente em principios éticos, referindo o facto de outros países os terem despojado e que os chineses os ajudariam. Outros países impuseram a sua soberania e os chineses não interfeririam nos assuntos internos dos países, cujo funcionamento pertencia exclusivamente aos seus governos. A combinação de assistência e não-intervenção ou não-interferência tem sido algo que os chineses aplicaram como principío e grande motivação desde essa época. A China, no seguimento da “Conferência de Bandung”, iniciou a sua assistência financeira às nações emergentes, apesar da Republica Popular da China (RPC) ter apenas sete anos de existência e o seu governo, gerir um país desesperadamente pobre e subdesenvolvido. Os modelos de arranque rápido do presidente Mao para apressar a modernização e a industrialização não resultaram e tiveram enormes custos em termos de deslocamento social. O presidente Mao era um poeta visionário que tentava ser um planeador industrial, com desconhecimento de indústria ou industrialização, dado não ser esse o seu mester. Os que o rodeavam, como o primeiro-ministro Zhou e mais tarde Deng Xiaoping, pegaram nas peças do quebra-cabeças e tentaram construir com sucesso uma ordem pragmática e científica para o desenvolvimento chinês. O primeiro-ministro Zhou liderou o caminho em termos de relações internacionais com o seu discurso de Bandung, tendo sido extremamente influente e pioneiro nos conceitos das “quatro modernizações”, em 1963. O primeiro-ministro Zhou, também foi pioneiro no que mais tarde se designou pela “Teoria dos Três Mundos”, que considera que as relações internacionais compreendem três mundos político-económicos, em que Primeiro Mundo, compreendia as superpotências, o Segundo Mundo, compreendia os países aliados das superpotências e o Terceiro Mundo, compreendia os países do MNA. Ainda que, esta teoria tenha sido articulada como a visão oficial do mundo chinês, novamente por Deng Xiaoping, num discurso na ONU, em 1974, foi o primeiro-ministro Zhou, que estabeleceu o seu conteúdo na década de 1960. Foi bastante poético para o presidente Mao ter-se entusiamado com o tema e ter sido oficialmente declarado como uma formulação sua, aplaudida pela presidente da Zâmbia, Kenneth Kaunda, considerado como um rei-filósofo africano, durante a visita à China, em 1974. Os temas enunciados pelo primeiro-ministro Zhou, em Bandung, desenvolveram-se, mas antes de 1974, ocorreu um evento diplomático inovador, que deu à China a liberdade internacional para desenvolver a sua visão de Bandung e a aproximação com os Estados Unidos ocorreu. A teoria das quatro modernizações foi mais tarde considerada como política pelo sucessor do presidente Mao, Deng Xiaoping, em 1978. As modernizações foram fundamentais para a China desenvolver o seu sector industrial e, portanto, a base económica que era necessária às suas relações internacionais de assistência aos outros países, bem como para a concorrência com o mundo ocidental desenvolvido. A aproximação dos Estados Unidos e da China foi um objectivo de Henry Kissinger, que desejava três situações, sendo a primeira, a liberdade de enfrentar a União Soviética, como uma superpotência antagonista única, sem a interferência da China. como outro poder conflituante; em segundo, um sentido de limites responsáveis ao comportamento regional chinês, devendo os Estados Unidos sair com sucesso da guerra de Vietname; e, em terceiro, a incorporação da China no concerto das grandes potências, quer para o tornar credível e viável, com nenhum país a jogar cartas viciadas fora da mesa e obrigar os chineses a respeitar as regras de ser parte de um concerto de nações, e, fossem previsíveis as suas acções. Os chineses consideraram razoável, o que significava que China não tinha que enfrentar, quer a União Soviética, como os Estados Unidos, sendo um enorme passo para uma região mais pacífica, se de facto os Estados Unidos resolvessem os seus interesses no Vietname. A China seria reconhecida, finalmente, como uma grande potência, mesmo estando dentro do concerto de nações, terminando assim a era das humilhações e que poderiam ser tomadas medidas para alcançar o progresso económico, em um regime comercial que não excluía o Ocidente e, em particular, os Estados Unidos. Todavia, Kissinger não tinha ligações diplomáticas directas com a China. Além disso, o conhecimento da China por parte dos Estados Unidos era limitado, dada a purga de linguistas e sinólogos do Departamento de Estado durante a era de McCarthy, anti-comunista de caça-bruxas. Os chineses não se encontravam em melhor posição. Até certo ponto, sem processos organizacionais e sem planeamento dos temas, os papéis fundamentais desempenhados por Kissinger e Zhou, representaram a forma mais pura de comportamento do actor racional, visto na diplomacia internacional do pós-guerra, embora, no bom sentido deva ser entendido que as duas individualidades confiaram altamente na intuição. O seu sucesso em poder desenvolver uma formidável empatia pessoal foi um acidente da história. Kissinger teve que fazer a referência a ditadores como porta de entrada, e os chineses tiveram que implantar o ténis de mesa como símbolo de que uma nova história era possível. Olhando para trás, revela que tal estratégia foi de certa forma idiota. Kissinger fez as conversações secretas de abertura diplomática em 1970 com o presidente paquistanês Yahya Khan, ex-responsável pela rebelião no Paquistão Oriental no mesmo ano, e eventualmente da sangrenta secessão do Bangladesh e com o romeno Nicolae Ceausescu, o último ditador comunista que certamente não lamentou as atrocidades cometidas de sessenta mil mortos, quando foi sumariamente executado, a 25 de Dezembro de1989, tendo Kissinger pedido a ambos que usassem os seus bons ofícios para demonstrar a vontade de conversar com a China. A China mostrou que estava disposta à abertura de conversações diplomáticas e usou o subterfúgio de convidar atletas dos Estados Unidos a jogar uma partida de ténis de mesa no seu território, tendo acontecido em Abril de 1971. No isolamento diplomático da China, após a II Guerra Mundial e na era subsequente de hostilidade política, nenhum contacto desse tipo parecia possível. Foi o advento da “Diplomacia de Ping-Pong”, e o sentido geral internacional foi de que as relações entre os Estados Unidos e a China poderiam estar descongeladas. Mesmo assim, Kissinger fez duas visitas secretas à China, em Julho e Outubro de 1971, e trabalhou com o primeiro-ministro Zhou Enlai na preparação da visita pública do presidente Nixon à China, em 1972. A visita foi cheia de pompa, mas era apenas o rosto de uma aproximação, cujos detalhes tinham pouco a ver com Nixon ou Mao. Ainda que do lado chinês tivesse quase tudo a ver com Zhou, não existia uma confiança total nos Estados Unidos, como nunca se daria até ao presente. Após tantos anos de hostilidade, não era possível uma transformação do dia para a noite no que concerne à política externa. Os chineses continuaram a trabalhar na “Teoria dos Três Mundos”. A teoria real não durou muito tempo como uma conceptualização activa do mundo. Era mais um sentimentalismo que qualquer outra coisa, tendo o sentido de que a China tinha um papel de liderança, especialmente, entre os que também estavam a sair da humilhação. A teoria propôs um Primeiro Mundo de alcance e ambição imperial, e isso era uma união conjunta dos Estados Unidos e da União Soviética, ou seja, as duas grandes superpotências ainda procuravam o domínio global. O Segundo Mundo era constituído por uma zona intermediária, consistindo nos países da Europa, embora a teoria não o dissesse, pois os chineses nunca tiveram uma abordagem articulada da América do Sul. Este mundo poderia ser cortejado pelo Primeiro ou pelo Terceiro Mundo e o sucesso desse namoro poderia determinar a luta de poder entre o Primeiro e o Terceiro. Nesse sentido, a teoria tinha objectivos diplomáticos. O Terceiro Mundo era basicamente o mundo emergente, o não alinhado, mas com um retoque que consistia em ser um mundo liderado, defendido e protegido pela China. Foi esse conceito de que a China poderia fazer essas coisas e que outros países do Terceiro Mundo desejariam que as fizesse mas que nunca as faria contra os interesses desses países, que em muito pouco tempo se revelaria falso. A União Soviética, em 1979, de “fora de um céu azul”, que tem o significado de um evento que ocorre inesperadamente, sem qualquer aviso ou preparação, como os estrategistas militares ocidentais descreveram, ou seja, sem sinais de alerta ou mesmo sinais visíveis de preparação, invadiram o Afeganistão. O Ocidente não conseguiu impedi-lo e nem o poderia fazer a China. Uma parte do Terceiro Mundo foi ultrapassada por metade do Primeiro Mundo e a China, longe de ser o seu efectivo campeão e protector, só podia assistir, tão surpreendida e despreparada como o Ocidente. Todavia, outro evento significativo ocorreu entre 17 Fevereiro a 16 de Março de 1979, que foi a invasão do Vietname pela China. Tendo sido aliado do Vietname do Norte na guerra contra os Estados Unidos e o regime por estes apoiado no sul, os chineses envolveram-se num conflito com o estado unificado que ajudaram a criar. A invasão foi breve. Os vietnamitas sentiram o embaraço e afastaram as forças chinesas, sem ter havido um derrotado. Endurecidos por anos de luta contra os Estados Unidos, os chineses eram simplesmente mais do mesmo. Mas esse foi precisamente o problema. A China comportou-se como um gigante do Primeiro Mundo, não estando a defender essa parte do Terceiro Mundo. Após 1979, a teoria nunca foi novamente mencionada. Isto não significou que os chineses abandonaram o princípio da solidariedade com o mundo emergente. A China simplesmente percebeu que não poderia ser automaticamente o seu líder. A China também percebeu que tinha muito a aprender sobre as complexidades e as ambições desse mundo. Estas podiam não coincidir com as ambições chinesas, podendo até, no caso dos vietnamitas, ser contra elas.