Andreia Sofia Silva EventosTaipa | Fins-de-semana culturais na Fábrica de Panchões e Casas-Museu Workshops de desenho ao ar livre, no meio da natureza da Antiga Fábrica de Panchões e Casas-Museu da Taipa, e muita música. É esta a oferta para os fins-de-semana culturais de Maio na zona da Taipa Velha, promovidos pela operadora de jogo Sands. Depois de um primeiro workshop este domingo, segue-se no sábado o próximo com Lio Man Cheong O próximo fim-de-semana, marcado por mais um feriado, do 1º de Maio – Dia do Trabalhador, traz eventos culturais para a zona da Taipa, nomeadamente workshops de desenho ao ar livre com artistas chineses e vários concertos. A organização cabe à operadora de jogo Sands China. Porém, a iniciativa estende-se por vários fins-de-semana de Maio. O segundo workshop de desenho decorre sábado, 3 de Maio, junto às Casas-Museu da Taipa com o artista Lio Man Cheong. Segue-se, no dia 10 de Maio, no mesmo local, outro workshop criativo com Lei Tak Seng, seguindo-se, a 17 de Maio, a sessão com Lam Chi Ian, desta vez na Antiga Fábrica de Panchões Iec Long. O horário de funcionamento é, em todas as sessões, das 14h30 às 17h30. Segundo um comunicado da Sands China, estes eventos pretendem “mostrar o charme” das zonas antigas do território, bem como “promover Macau através da integração da cultura e turismo”. Dado o “enorme sucesso” da primeira edição do workshop de desenho, no ano passado, a operadora de jogo “convidou novamente quatro artistas de Macau para orientarem workshops de desenhos em locais históricos”, proporcionando “aos amantes de arte uma oportunidade de intercâmbio artístico com quatro artistas de renome, que partilharão os seus conhecimentos e ideias sobre desenho”. Depois dos desenhos feitos em conjunto, os participantes terão a oportunidade de mostrar os trabalhos numa exposição nas Casas-Museu. “Através destes trabalhos, as pessoas são encorajadas a apreciar a paisagem de Macau sob diferentes perspectivas, melhorando a atmosfera artística e promovendo o envolvimento da comunidade”. Música para todos Mas nem só de desenho se faz este evento. Jovens músicos terão também a oportunidade de actuar no fim-de-semana, mais concretamente entre sábado e segunda-feira, dias 3 e 5, todos os dias às 15h30 e 16h30, à entrada da Antiga Fábrica de Panchões Iec Long. Os músicos convidados prometem criar “uma atmosfera melodiosa e festiva a este local histórico rico em património industrial de Macau”, além de se proporcionar “aos jovens músicos locais uma oportunidade para ganharem experiência e aperfeiçoarem as suas capacidades através de actuações públicas”, refere a operadora de jogo, em comunicado. Citado pela mesma nota, Wilfred Wong, vice-presidente executivo da Sands China, disse que a Antiga Fábrica de Panchões Iec Long “representa a história e a cultura industrial únicas de Macau de há mais de 100 anos, enquanto as Casas-Museu da Taipa, de estilo português, são um local popular para visitantes de todo o mundo, oferecendo interesse arquitectónico nas paisagens pitorescas das zonas húmidas [mangal da Taipa]”. A empresa pretende continuar “a injectar novos elementos nos bairros [antigos], reforçando a integração das artes e da cultura com o turismo para desenvolver ainda mais o encanto multicultural e a vitalidade artística de Macau”, referiu Wong.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteGonsalo Oom, arquitecto: “Gosto da influência das igrejas no espaço urbano” “Desenhos Expressionistas de Macau” é a exposição de Gonsalo Oom que mostra, a partir do dia 28, uma série de trabalhos acerca da paisagem do território. As obras vão estar na Creative Macau e trazem, na sua maioria, a interpretação do (também) arquitecto da expressão urbana da península É a sua primeira exposição individual no território. O que é que vamos ver na Creative Macau? A exposição chama-se “Desenhos Expressionistas de Macau” e tem que ver com a minha leitura e interpretação do território. São desenhos artísticos. Não são tão figurativos como os que faço em arquitectura, e deixam margem para uma interpretação. Sou arquitecto e normalmente temos de fazer desenhos sempre muito rigorosos, o que não acontece neste caso. Da arquitectura ao desenho artístico. Como é que aconteceu esta passagem? Comecei a desenhar para dar os trabalhos de presente aos meus amigos que casavam. Desenhava igrejas essencialmente. Têm que ver com arquitectura e era uma coisa de que gostava. Não tinha muito dinheiro e era um bom presente. Recordo que, na altura, tinha tanto trabalho acerca deste tipo de edifícios que quase que dava para fazer um roteiro das igrejas de Lisboa. Já na altura desenhava a carvão. Esta exposição também é maioritariamente a carvão. Sim. O carvão tem algumas particularidades, um bocadinho como o que acontece nos materiais que se escolhem na pintura. Há desenhos em que, por exemplo, uso aquilo que pode ser visto como tinta-da-china, mas não o é. É tinta de cargas de caneta em que também é requerida uma técnica específica. Quando tiro a carga da caneta, a tinta começa a borrar e há que saber controlar esse borrão. É uma mancha que se vai trabalhando para se retratar o que se está a ver, mas de uma forma, digo, expressionista. Este trabalho também depende de uma série de factores, como a emoção. É tudo desenhado à vista. Não dá para estar em casa a ver fotografias. Mas há sempre algumas dificuldades quando se sai para desenhar à vista. Temos sempre de lidar com insectos, com o calor e mesmo com pessoas. Desenhei uma vez ali em frente à Escola Portuguesa e quando os alunos saíram e me viram a trabalhar não consegui fazer mais nada. O mesmo aconteceu nas Ruínas de São Paulo. Encontrei um sítio porreiro, mais discreto, mas as pessoas acabaram por me descobrir. Gosto mais de estar recatado. Não desisto, mas estas situações acabam por interferir no trabalho. Macau é um lugar fotogénico? Sim. Os contrastes que existem no território, apesar de nem sempre serem bons, resultam muito bem no desenho. Que lugares escolheu para desenhar para esta mostra? Lá está, vamos ter igrejas e outras situações urbanas. Gosta especialmente de igrejas? Gosto da influência das igrejas no espaço urbano. A igreja é um local de conforto e de calma. Agora são mais as lojas, em Macau. Uma pessoa entre numa loja e tem a oportunidade de se refrescar, mas acho que antigamente as pessoas também iriam para as igrejas com esse objectivo (risos). Gosto também, ao nível urbano, da influência dos casinos, da massa formada por eles. Desenhei umas coisas para umas paredes grandes, era uma sequência de painéis com a skyline de Macau vista da Taipa. Tenho alguns trabalhos assim, nesta mostra. Enquanto arquitecto, como vê a alteração da paisagem local? Acho óptimo. Quer dizer, não deixa de provocar alguma perturbação porque as coisas parecem não ter controlo e há situações muito fortes. Em termos de urbanismo há coisas que “chocam”. Chegar às Ruínas de São Paulo e ver o prédio que está atrás é muito estranho. É um edifício que acaba por estragar um elemento icónico do património. Vim pela primeira vez para Macau em 2006. Voltei para Portugal pouco depois e regressei em 2013 numa altura de muita construção, pelo que assisti a muita transformação que acabou por afectar a paisagem. Já participou noutras exposições – e também na Creative Macau – com outro tipo de trabalhos. Sim. Já participei com objectos, principalmente com peças de mobiliário. Desenhar móveis é uma obsessão que tem que ver com a tridimensionalidade. Esta oportunidade foi uma sorte. Tenho um dos meus desenhos integrado na exposição que está a decorrer no mesmo local actualmente, e a responsável, Lúcia Lemos, constatou que tinha um espaço de um mês para preencher e acabou por me convidar. A minha primeira ideia até foi uma exposição com os trabalhos feitos pelas pessoas de Macau que desenham. Há muita gente a fazer isso e que depois não tem como mostrar o que faz. Achei que seria giro fazer uma coisa dessas. Será o próximo passo. Já alguma vez pensou em dedicar-se apenas à pintura e ao desenho? Caso não tivesse trabalho como arquitecto, dedicava-me ao desenho a tempo inteiro. É uma coisa natural em mim, mas é preciso trabalho. Não é uma coisa que se possa dizer que as pessoas têm jeito. É preciso trabalhar muito também. O jeito não é o fundamental.