Associação portuguesa vai promover cortiça em nove cidades chinesas

O programa Academia da Cortiça na China, lançado pela Associação Portuguesa da Cortiça (Apcor), vai realizar 15 eventos de promoção em nove cidades chinesas entre 08 e 16 de janeiro.

Segundo uma publicação na rede social chinesa WeChat, os eventos vão acontecer na capital chinesa, Pequim e em sete províncias, incluindo em Guangdong, província do sul da China, vizinha a Macau.

A primeira edição da Academia da Cortiça na China, em 2018, atraiu quase 2.000 participantes ao longo de 93 eventos em 33 cidades chinesas, que resultaram na formação de mais de 30 embaixadores da cortiça.

Após uma pausa de três anos, a Apcor relançou o programa em setembro de 2020, com um seminário em Pequim, com ligação por videoconferência a outras quatro cidades: Chengdu, Wuhan, Xiamen e Hangzhou.

Em 2020, o mercado chinês ocupou o 10.º lugar nas exportações portuguesas de cortiça, com uma fatia de 2,1 por cento do total, correspondente a 22 milhões de euros, segundo dados da Apcor. A venda de rolhas, no valor de 14,1 milhões de euros, representou cerca de dois terços do total.

O mercado chinês do vinho é já o quinto maior do mundo, embora apenas cerca de 3% dos 1,4 mil milhões de habitantes beba regularmente vinho.

A lista de eventos da Academia da Cortiça divulgada na terça-feira incluía uma ação no dia 15 de janeiro na cidade portuária de Ningbo, na província de Zhejiang, entretanto cancelada pelas autoridades.

5 Jan 2022

Do vinho à cortiça, empresários chineses apostam em produtos típicos de Portugal

Reportagem de João Pimenta, da agência Lusa

Em Pequim ou Xangai, do vinho da Madeira à cortiça, pequenos e médios empresários chineses estão a apostar em produtos típicos portugueses, atestando a crescente sofisticação e cosmopolitismo da emergente classe média urbana da China.

No complexo de torres envidraçadas Chaowai SOHO, situado no distrito financeiro da capital chinesa, a recentemente inaugurada Madeira Home (“Casa da Madeira”, em português), ostenta milhares de garrafas de vinho da Madeira, algumas datadas de finais do século XIX.

“Estávamos em busca de algo perdurável e que pudesse até ser herdado pela próxima geração”, explica à agência Lusa a dona do estabelecimento, Zhang Ruoxi.

Zhang, que gere há dez anos anos, em conjunto com o pai, uma empresa de importação de vinho, tinha “dificuldade” em promover produtos devido às suas “características homogéneas”, com “sabores e vinícolas com identidades semelhantes”.

No vinho Madeira, porém, encontrou a “exclusividade” de um “sabor e legado únicos”: a “longevidade” da produção vinícola, com garrafas armazenadas há mais de cem anos, aliada ao espírito de “aventura e exploração” da Era dos Descobrimentos portuguesa.

“O vinho passa de geração em geração: tem um caráter familiar”, explica. “Isso é algo que valorizamos muito”.

Retratos de navegadores portugueses, incluindo Vasco da Gama e João Gonçalves Zarco, o primeiro administrador do arquipélago da Madeira, e painéis de azulejos importados de Portugal, atribuem genuinidade ao estabelecimento.

Embora apenas cerca de 3% da população chinesa beba regularmente vinho, a China é já o quinto maior mercado do mundo, devido à sua dimensão populacional – 1,4 mil milhões de habitantes.

“As pessoas estão cada vez mais interessadas em experimentar novos tipos de vinho. Em Pequim ou Xangai, todas as noites os jovens saem para beber um copo”, observa Zhang.

No espaço de uma década, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.

O país asiático tornou-se o maior emissor de turistas e o maior mercado para marcas de luxo do mundo. As duas realidades confundem-se: os cerca de 170 milhões de chineses que viajaram para o exterior, em 2019, representaram mais de um terço de todas as vendas globais de bens de luxo, segundo analistas.

Em Xangai, Li Shuhua inaugurou, no ano passado, uma loja dedicada exclusivamente a produtos em cortiça importada de Portugal, após quase 20 anos a trabalhar com aquela matéria-prima como material complementar no calçado ou canas de pesca.

“Um material tão bom era usado apenas como complemento, foi então que pensamos: por que não utilizá-lo como material principal”, conta à agência Lusa.

A marca, designada Kaoge, uma conversão fonética para chinês da palavra inglesa cork (“cortiça”, em português), fabrica e comercializa sapatos, carteiras, bolsas, malas ou chapéus em cortiça.

Huang Xiaomian, o designer da marca, aponta a cortiça como paradigma da economia circular, numa altura em que o ambiente ocupa um lugar cada vez mais importante para os governos e consumidores.

“Se não nos importamos com o meio ambiente hoje, estamos a degradar o ambiente para os nossos filhos”, aponta. “Tudo é um ciclo”.

O designer chinês refere uma “consciencialização cada vez maior sobre a importância da sustentabilidade na indústria têxtil chinesa”, onde “novos regulamentos estão a ditar a transição para material renovável”.

As trocas comerciais entre a China e Portugal aumentaram 4,82% em 2020, em relação ao ano anterior, segundo dados das alfândegas chinesas. Pequim importou mais 19,6%, ou o equivalente a 2,3 mil milhões de euros, face a 2019.

6 Jun 2021

Design | Lusodescendente promove cortiça nos EUA

[dropcap]A[/dropcap] promoção da cortiça como um “material incrível” e “muito sustentável” é uma das motivações da designer lusodescendente Melanie Abrantes, que desenha peças únicas na Califórnia com a matéria-prima importada de Portugal. A artista, que fundou a marca Melanie Abrantes Designs em Oakland, produz artigos para casa com vários tipos de cortiça que são vendidos em lojas da especialidade, como a cadeia de decoração West Elm do grupo Williams-Sonoma. “Estou a tentar mostrar às pessoas que a cortiça tem muitos formatos, utilidades e visuais, em comparação com outros materiais”, disse à Lusa a designer, que está agora a tentar criar uma linha “usando as capacidades de isolamento” da matéria-prima.

A lusodescendente foi incluída na lista de 2018 dos 100 Maiores Criativos dos Estados Unidos pela revista Country Living, que a considerou uma “cork whisperer” e destacou o seu virtuosismo na arte de trabalhar a cortiça.

“Os meus produtos são virados para a estética e têm um visual muito específico, mas só faço coisas úteis”, disse. “Nada é puramente decorativo”. As características específicas da cortiça, como a sua porosidade, ajudam ao elemento funcional das peças de design.

Entre os produtos em cortiça que Melanie Abrantes criou estão caixas de jóias, candeeiros de tecto, cinzeiros para canábis, castiçais e vasos para plantas. Várias criações misturam cortiça e madeira, o outro material em que a artista se especializou e sobre o qual publicou o livro “Carve”, em 2017.

Os produtos são feitos com mais que um tipo de cortiça, incluindo um tipo “cortiça-mármore”, que “tem um preço mais elevado” mas leva as pessoas “a responderem bem às peças”.

O custo dos artigos é um dos desafios da criadora, com etiquetas que vão até às largas centenas de dólares.

“As pessoas não percebem que a cortiça é um material muito caro que ainda é retirado à mão”, argumentou, justificando com o facto de os consumidores norte-americanos estarem habituados a usar cortiça em objetos simples, como rolhas e tábuas de cozinha, cujos preços são baixos. “Tento educar as pessoas em relação ao valor da cortiça”.

A artista irá mostrar o seu trabalho em maio de 2019 na New York Design Week, como parte do grupo de designers independentes JOIN Design, e está em conversações para participar no programa televisivo da NBC “Making It”, que põe fazedores a criarem trabalhos manuais.

Neta de portugueses, Melanie Abrantes visita Portugal uma vez por ano, dividindo-se entre Lisboa, onde reside a avó, e produtores de cortiça no norte. “A razão pela qual trabalho com cortiça é devido à minha herança genética”, afirmou a lusodescendente, de 28 anos. “Todas as vezes que ia a Portugal quando era mais nova via produtos diferentes feitos com cortiça e achava fascinante, porque nem sabia que se podia fazer algo com o material”, recorda.

Natural de Sugar Land, perto de Houston, Texas, a artista estudou no Otis College of Art and Design em Los Angeles antes de abrir o seu estúdio em Oakland. Além de fazer dois workshops por mês sobre técnicas para trabalhar madeira e cortiça, também faz sessões em empresas. Os seus produtos estão à venda em cerca de 40 lojas nos Estados Unidos e nalgumas boutiques internacionais, incluindo Japão, França e Inglaterra.

28 Dez 2018