André Namora Ai Portugal VozesCuidado com as malas “Olha a mala…” era uma canção da fadista Celeste Rodrigues. Tornou-se imensamente popular. Lembrei-me da canção porque na semana passada as malas foram o tema principal da comunicação social. Todos nós temos uma mala. A maior parte das pessoas que viaja de avião tem uma mala de porão onde introduz os mais variados pertences. Normalmente colocamos no interior as roupas, sapatos, produtos de higiene e lembranças para os familiares e amigos. Existem muitas senhoras que não se dando conta do risco colocam nas malas de viagem algumas das suas jóias valiosas. Há pessoas que arriscam em transportar quantias de dinheiro enroladas em papel de prata. E há o tráfico de droga em muitas das malas de porão com os mais diversos disfarces. A mala de viagem é fundamental como algo de muito íntimo e que nos acompanha. Muitas vezes a mala não chega ao destino e temos de esperar vários dias que apareça e também há casos em que algumas das malas nunca mais se vêem. As companhias aéreas são obrigadas, nestes casos, a indemnizar os passageiros que ficaram sem malas. No entanto, os produtos que nos pertenciam e de que gostávamos muito nunca mais os vemos. Isto, acontece por todo o mundo e quase todos os dias nos mais diferentes aeroportos. A mala de viagem em pleno tapete de recolha num aeroporto está completamente identificada pelo próprio, devido à sua cor e até ao acessório ligado à pega da mala com o nosso nome e o nosso telefone. A propósito, lembrei-me de um texto da escritora Yvette Vieira, que dizia assim: “Recentemente li uma notícia sobre uma turista inglesa que se atirou ao mar, na ilha da Madeira, alegadamente para ir atrás a nado de um navio cruzeiro onde estaria o marido, a mulher foi resgatada das águas do mar por três jovens que decidiram ir à pesca nessa mesma noite e um dos pormenores que me chamou à atenção em toda esta história rocambolesca foi que a senhora em questão conseguiu-se manter a tona, nas águas frias do Atlântico, graças à sua mala. E esse último facto não me surpreendeu, porque seja em que circunstância for uma mulher nunca larga a sua mala. O que me leva ao tema que pretendo explorar, as mulheres e as suas malas. Neste mundo existem dois tipos de apreciadoras de carteiras, as que usam malas de grande porte e as mulheres que preferem os tamanhos pequenos. Eu pertenço ao primeiro grupo, porque toda a minha vida está concentrada na minha mala. Sou daquele tipo de mulher que numa emergência consegue tirar da mala, como se tratasse de uma cartola de mágico, todo o tipo de coisas, desde pensos rápidos, pomadas, papel para escrever, água, comprimidos para uma dor de cabeça, etc, etc, pensem seja no que for e provavelmente esse objecto consta do conteúdo da minha mala. Mais, tenho uma amiga que possuiu entre os seus pertences pessoais uma chave de fendas que tinha sido esquecida na mala e que a acompanhou durante quase um ano. E não estou a brincar! Isto sem falar das malas das mamãs que são verdadeiros armazéns de parafernálias que vos deixariam de queixo caído. Mas, porquê uma mulher sente necessidade de ter tudo na sua carteira? Não sei. Gostaria de ter uma explicação lógica para tal comportamento quase insano, que implica quilos de pertences transportados diariamente com consequências a longo prazo para a nossa estructura óssea, no meu caso só posso dizer que não gosto de ser apanhada desprevenida.” Pois, o caso é mesmo este, o de não sermos apanhados desprevenidos. Não ficarmos sem uma mala onde no seu interior estão objectos dos quais gostamos muito e que nos desgosta particularmente se os perdemos. Aconteceu que, a notícia caiu que nem uma bomba sobre o roubo alegadamente praticado por um deputado do partido Chega. O mesmo partido que não pára de falar em criminalidade e que os criminosos devem ser todos presos. Pois, o deputado açoriano do Chega estava debaixo de olho das autoridades desde Novembro do ano passado, devido a uma denúncia anónima, de que roubava malas que não lhe pertenciam dos tapetes rolantes dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada. As autoridades desta vez confirmaram através de imagens de vídeo-vigilância que o deputado levou malas que alegadamente não lhe pertenciam. Foram feitas buscas às suas casas de Lisboa e dos Açores, resultando em suspeita de ter mesmo roubado malas de outros passageiros. Parece um caso caricato, mas não é. Segundo o comentador televisivo e advogado Rogério Alves, se se vier a comprovar o roubo de malas tratar-se-á de um crime grave que pode ir até uma pena de oito anos de prisão. Entretanto, o deputado em causa Miguel Arruda, depois de ser afastado do Chega, vergonhosamente decidiu continuar no Parlamento como deputado não inscrito. Imaginem só o desaparecimento da vossa mala de viagem de porão de avião. A perda dos vossos pertences, o desgosto consequente e até o prejuízo causado por uma tara mental de alguém que se habituou a levar malas de outros e ficar a usufruir de tudo de bom que essas malas teriam no interior. Agora, o acto ser praticado por um deputado da Assembleia da República é que nem o diabo imaginaria ser possível. Aguardam-se as investigações finais e qual a última decisão judicial sobre os alegados roubos de malas do deputado do Chega. O mais importante é que os amigos leitores tenham cuidado com as vossas malas… P.S. – KUNG HEI FAT CHOI
André Namora Ai Portugal VozesO fascismo está sempre atrás da porta Em Portugal gerou-se um fenómeno político no dia 25 de Abril de 1974 que poucos antifascistas se deram conta do sucedido. Aconteceu que a grande maioria dos funcionários da PIDE/DGS e altas patentes da administração pública passou-se logo para o Partido Socialista (PS), para o Partido Popular Democrático (PPD), para o Centro Democrático-Cristão (CDS) e até para o Partido Comunista. Bem disfarçados e escondidinhos foram caminhando por esta pseudo democracia até aos dias de hoje. Mas, entretanto, já o gato foi às filhoses, porque mais de cinquenta por cento desses “fascistas-democratas” já mudaram de partido político várias vezes. Uns, que estavam como militantes e até membros do PS já se passaram para o Partido Comunista e para o PPD/PSD. E o mais espampanante é que alguns desses já estão ao lado do neofascista do Chega. Outros deixaram o PPD/PSD e foram para o CDS de onde já saíram para o Chega. Há ainda outros que conseguiram vestir a pele de cordeiro de tal forma que são hoje funcionários da Polícia Judiciária e dos serviços secretos da República. E afinal, há ou não fascistas em Portugal? Há e não são poucos. Voltámos a ter uma maioria silenciosa que começa a despontar no tal fenómeno fascizante chamado Chega, que está a ser financiado por quase toda a extrema-direita europeia. O Chega não é nada e é tudo. Há quem não dê valor nenhum ao antigo social-democrata André Ventura e simplesmente o definem como populista e demagogo. Estão errados. André Ventura sabe muitíssimo bem o que está a fazer e para onde quer ir. Por exemplo, há dias teve até o desplante de afirmar que o Chega queria ser governo. Estão a ver a jogada? Como os sociais-democratas e os democratas-cristãos se habituaram a ser governo e a ter de imediato um lugar numa autarquia, no executivo ou na Assembleia da República têm assistido às quedas na adesão dos portugueses aos seus partidos e nessa conformidade estão a ser ludibriados por André Ventura que lhes acena com a ida para o governo, o que se traduz na possibilidade de um “tacho” aqui ou acolá. O Chega não tem programa de uma mudança credível, moderna, democrática para o país. O Chega está apostado em captar o maior número de latifundiários, empresários e saudosistas do antigo regime para se transformar numa organização ditatorial que pudesse governar Portugal com mão de ferro e com leis, cuja maioria coartaria a liberdade de informação e outras. Os portugueses eleitores em partidos ditos democráticos não se estão a aperceber do avanço que está a ser gerado pela demagogia e aldrabice anunciadas por Ventura. Mas, ele tem levado a água ao seu moinho. Todos os meses as empresas de sondagens realizam inquéritos a nível nacional e já chegámos a um ponto em que os inquiridores ficaram de boca aberta porque o Chega estava praticamente com a mesma percentagem do PPD/PSD, não do Bloco de Esquerda ou de outro partido, mas sim do PPD/PSD que sempre foi o mais votado ou o segundo com mais preferência do eleitorado. O Partido Socialista está a governar o país, anda distraído com uma terceira ponte que quer construir entre Lisboa e a Margem Sul sobre o rio Tejo; com um comboio de alta velocidade entre o Porto e Vigo, sem pensar que o mais importante seria entre o Porto e Lisboa ou entre as capitais portuguesa e espanhola; com as patetices do ministro Pedro Nuno Santos e do agora governante João Galamba; com as injecções de milhões de euros no Novo Banco; com os refugiados que acomoda em estabelecimentos turísticos sem sequer avisar ou indemnizar os proprietários; com a luta interna no governo e no interior do partido onde muitas figuras (já) públicas não querem deixar o poder ou, se possível, subir ao lugar de António Costa, enfim, um partido de importância vital para impedir o avanço da maioria silenciosa e que nada faz por isso. O PS assiste ao André Ventura a enganar os portugueses e chama-lhe “sonhador”, “populista” ou “demagogo” e nada faz para esclarecer os portugueses que por trás daquela falácia está uma espécie de fascismo disfarçado de salvador do povo, tipo Hitler. Por seu turno, o PCP e BE não têm força política para travar um avanço politicamente a rondar uma ditadura. As forças que se dizem democráticas têm de olhar para Espanha e ver o que aconteceu com o partido de extrema-direita, o VOX, que paulatinamente foi andando até chegar à meia centena de deputados no Congresso de Espanha, sendo já a terceira força política. A nossa nova geração que sempre viveu em liberdade nem sabe o que é não poder estar a uma esquina a conversar com amigos, só quer copos pelo meio das ruas, noitadas sem máscara e sem distanciamento físico, pergunta aos pais o que foi isso do 25 de Abril e acha uma imensa piada aos gritos de André Ventura quando se põe no Parlamento a insultar tudo e todos. Os jovens deviam ter um papel importantíssimo nas universidades, onde deveria ser obrigatório o ensino de uma disciplina sobre política que lhes ensinasse o que tem sido o seu país desde que terminou a monarquia. Infelizmente, em política a juventude está apenas activa nas minorcas associações juvenis que pertencem aos principais partidos. Mesmo assim, há dias, perguntei a um jovem da Juventude Comunista quem foi Salazar e ele respondeu-me que foi “o fascista que matou Álvaro Cunhal”… Não brinquemos mais com coisas muito sérias porque o fascismo está sempre atrás da porta. *Texto escrito com a grafia antiga
João Santos Filipe PolíticaPresidente da Secção de Macau do PSD em manifestação do partido CHEGA Vitório Cardoso justificou a presença no evento à imprensa portuguesa por considerar que Portugal contribuiu para uma mistura “perfeita” das raças. José Cesário, deputado eleito com o apoio do PSD de Macau, recusou comentar o assunto [dropcap]O[/dropcap] presidente da secção de Macau do Partido Social Democrata, Vitório Cardoso, foi uma das cerca de 1.200 pessoas que participaram na manifestação promovida pelo partido Chega, liderado por André Ventura, com o tema “Portugal não é racista”. O evento decorreu no domingo à tarde, em Lisboa, e Vitório Cardoso fez-se acompanhar por uma bandeira do seu partido, que a nível nacional não se associou ao evento. O HM entrou ontem em contacto com Vitório Cardoso para perceber as razões que o levaram a participar no evento e se poderia haver aproximação da secção de Macau às posições do Chega. No entanto, o presidente da secção do PSD recusou responder: “São assuntos internos político-partidário portugueses e que só dizem respeito a Portugal”, justificou. Contido, em declarações ao Jornal de Notícias, Vitório explicou a presença com o facto de considerar que os portugueses contribuíram para uma mistura perfeita de raças ao longo da História. “Estou aqui para lembrar a ‘miscigenação perfeita’ produzida no Oriente pelos portugueses”, sustentou o social-democrata. Também no seu perfil de Facebook, Cardoso afirmou não admitir que se semeie racismo “numa Nação que com o mundo miscigenou” nem permitir que se destrua “a memória histórica e grandiosa dos Descobrimentos nem vandalismos contra o Infante Dom Henrique, Padre António Vieira ou outros”. Ambiente de silêncio Antes do evento, André Ventura afirmou que a manifestação era “de tudo menos de supremacia branca, de tudo menos de nazis”. As declarações não afastaram membros da extrema-direita, como Mário Machado, ligado ao movimento skinhead. Face a este cenário, o HM contactou José Cesário, deputado do PSD eleito pelo círculo Fora da Europa, sobre a participação de Vitório Cardoso na manifestação. Também Cesário optou pelo silêncio: “Considerando as funções que tenho [como deputado] nem sequer me devo envolver nestas matérias. Como deputado não me pronuncio sobre isso. São questões de natureza partidária”, explicou. Miguel Bailote, militante do PSD e ex-líder da secção de Macau, adoptou uma postura semelhante. “Sou militante, mas como fui o anterior presidente da secção não entendo que seja oportuno fazer comentários sobre uma pessoa que me substituiu. Não seria cordial comentar”, afirmou. Quem também recusou comentar o assunto foi Lola do Rosário, que integrou a lista de José Cesário nas últimas legislativas. “Não sei de qualquer participação do Dr. Vitório nesse evento e por isso não tenho nada a declarar”, respondeu.