Ásia tem de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s nações asiáticas têm de gastar 26 biliões de dólares em infra-estruturas até 2030 para combater a pobreza, os efeitos das alterações climáticas e impulsionar o crescimento económico, aponta um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ontem divulgado.

No seu relatório apresentado ontem em Hong Kong, o BAD, instituição com sede em Manila, afirma que os governos de alguns dos países mais pobres do mundo que devem investir em quase todas as áreas, desde transportes, a telecomunicações, passando pelo saneamento e fornecimento de electricidade e de água.

Os especialistas do BAD instam os legisladores da Ásia a duplicar a actual despesa em infra-estruturas, que se situa aproximadamente em 881.000 milhões de dólares por ano.

“A procura de infra-estruturas ao longo da Ásia e no Pacífico excede em muito a actual oferta”, afirmou o presidente do BAD, Takehiko Nakao, em comunicado.

Em falta

A Ásia é uma das regiões economicamente mais dinâmicas do planeta, mas também é ‘casa’ de 400 milhões de pessoas que vivem sem electricidade, de 300 milhões que carecem de água potável e de 1.500 milhões que não têm acesso a saneamento básico, segundo os dados do BAD.

Além disso, muitos países precisam de portos, caminhos-de-ferro e estradas adequadas que permitir ligar os seus territórios de forma eficiente, observa o BAD no relatório.

Em concreto, o banco estima que, até 2030, nos países asiáticos em desenvolvimento falta investir 14,7 biliões de dólares em electricidade, 8,4 biliões em transportes, 2,3 biliões em telecomunicações e 0,8 biliões em instalações sanitárias.

Os 1,7 biliões por ano que o BAD aconselha que sejam investidos até 2030 no seu mais recente relatório representam mais do dobro do que o calculado no anterior relatório do tipo que elaborou, em 2009, para o período 2010-2020, altura em que instava a investimentos na ordem dos 750.000 milhões de dólares por ano.

Os especialistas da instituição atribuem essa diferença, por um lado, ao aumento do número de países incluídos no relatório – dado que o de 2009 referia 32 e o deste ano abarca todos os 45 países em desenvolvimento da Ásia e Pacífico e, por outro, ao aumento dos preços que se verificou desde então.

1 Mar 2017

Banco asiático “corrige falta de investimento em infra-estruturas”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] novo embaixador do Brasil em Pequim considerou que o Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), a primeira instituição financeira internacional proposta pela China, “corrige a falta de investimento em infra-estruturas” de outros bancos multilaterais.

“Os bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, fizeram um erro há 20 anos, quando praticamente deixaram de financiar a infra-estrutura e o crescimento, e se concentraram apenas na área económico-social”, afirmou Marcos Caramuru de Paiva.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata notou que o BAII “vem corrigir” essa “queda expressiva nos investimentos em infra-estruturas”, registada “em quase todos os países em desenvolvimento”.

Fundado no início deste ano, o banco proposto por Pequim foi visto inicialmente em Washington como um concorrente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, duas instituições sediadas nos Estados Unidos e habitualmente lideradas por norte-americanos e europeus.

Apesar do seu carácter multilateral – mais de vinte países fora da Ásia, da Austrália à Alemanha, aderiram ao BAII -, a instituição tem sede em Pequim e a China é o accionista maioritário, com 29,78% do capital.

Das grandes economias mundiais, apenas os EUA e o Japão ficaram de fora.

O Brasil é o único membro em todo o continente americano e o nono maior accionista, com uma quota de 3.181 milhões de dólares; Portugal tem uma participação de cerca de 13 milhões de dólares.

Quem pode, pode

“Os bancos multilaterais de desenvolvimento tradicionais já não têm recursos para financiar infra-estruturas, mas a China tem esses recursos”, apontou o embaixador do Brasil.

“Tem uma [taxa de] poupança interna de 46% do PIB e uma quantidade extraordinária de reservas”, notou.

O diplomata apontou ainda a “explosão de oportunidades” que existe na nação sul-americana para as empresas chinesas que actuam no sector das infra-estruturas.

Em 2015, durante a visita ao Brasil do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, os dois países anunciaram acordos bilaterais no valor de cerca de 53,3 mil milhões de dólares.

Em Setembro passado, o Presidente do Brasil, Michel Temer, anunciou um programa de leilões, prevendo a concessão ou venda de mais de 30 projectos nas áreas de energia, aeroportos, rodovias, portos, ferrovias e mineração.

Caramuru de Paiva diz ter a “convicção de que esses planos vão ser lançados no final deste ano e, sobretudo, ao longo de 2017”.

“Nas conversas que tenho tido com os chineses isso é muito claro. Eles estão dispostos a aplicar aquele volume de recursos, seja porque são recursos oriundos das reservas ou do sistema financeiro”, disse.

Antigo cônsul-geral do Brasil em Xangai, Marcos Caramuru de Paiva já esteve colocado em Kuala Lumpur e foi director executivo do Banco Mundial, em Washington.

Vive há nove anos na China, onde é também sócio e gestor da KEMU Consultoria, empresa com sede em Xangai.

A China tornou-se, em 2009, no principal parceiro económico do Brasil, ultrapassando os EUA, e no seu maior investidor externo.

No ano passado, o volume das trocas comerciais bilaterais cifrou-se em 71,80 mil milhões de dólares, menos 17,37%, face a 2014.

Os dois países integram também o grupo BRICS, o bloco de grandes economias emergentes, que é ainda composto por Rússia, Índia e África do Sul.

7 Nov 2016