Andreia Sofia Silva EventosLivro | Filipa Simões lança guia que faz levantamento de arte urbana em Macau É hoje lançado no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo o livro “Guide to Street Art in Macau”, da autoria da designer Filipa Simões. A obra faz um mapeamento dos seis pontos do território onde existe arte urbana, como o graffiti, mas não só. A autora fala de um “crescente interesse” do Governo sobre esta área nos últimos anos “Guide to Street Art in Macau” [Guia para a Arte de Rua em Macau] é o nome do livro da autoria de Filipa Simões, designer e docente, lançado hoje, a partir das 18h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, na Ponte 9. Trata-se da primeira obra que apresenta um mapeamento exaustivo, com curadoria, em seis zonas do território onde existe arte de rua, nomeadamente o graffiti. Trata-se de quatro zonas na península, uma na Taipa e outra em Coloane. A arte de rua não é ainda algo banal em Macau, mas tem vindo a fazer-se notar nos últimos anos. Filipa Simões descreve ao HM que “o cluster mais prolífico e diverso centra-se à volta da Praça de Ponte e Horta, no Porto Interior, onde está sediado o ‘Outloud!’, o festival de graffiti de Macau”, cuja influência “se estende até à zona de A-Ma, que se divide entre becos na zona do Manduco e zona industrial do porto”. Por sua vez, na zona central da península, “as obras encontram-se dispersas em pequenos grupos, com maior frequência nas zonas históricas”. Já na zona norte, em locais como o Fai Chi Kei ou Iao Hon, “as obras reflectem o carácter mais denso e opressivo da paisagem urbana”, enquanto nas ilhas são “mais bucólicas e pitorescas”. Filipa Simões frisa que a publicação desta obra “é um convite para descobrir Macau através da ‘street art’, de forma mais atractiva e acessível para uma audiência abrangente”, além de ser “uma celebração do entusiasmo e interesse em Macau da parte dos artistas e promotores que estão por trás destas obras”. O livro não pretende ser “uma obra final, até pelo carácter transitório desta forma de arte, que está sempre em mutação”. A ajuda do “Outloud!” A autora dá conta de que este livro não apresenta “um levantamento exaustivo de toda a arte de rua de Macau, mas sim uma selecção curada”. “Começámos por fazer um levantamento abrangente das obras por todo o território. Estivemos também em contacto com artistas locais e organizadores do festival ‘Outloud!’, que nos ajudaram a descodificar o universo da ‘street art’ em Macau. Seguiu-se um trabalho de selecção, onde procurámos criar uma narrativa com as obras escolhidas, agrupando-as depois em percursos que fossem mais interessantes de descobrir”, acrescentou. Filipa Simões destaca que a intenção foi “evidenciar cada obra, mas também mostrar o diálogo com a vida quotidiana da cidade”. As imagens são da autoria de David Lopo. Se noutras cidades do mundo a arte de rua assume, muitas vezes, um carácter marginal, por ser realizada em locais proibidos, em Macau o posicionamento da “street art” é bem mais equilibrado, existindo “um diálogo forte com o mundo do graffiti na China Continental, mesmo pelas limitações de espaço no território”. Assim, destaca Filipa Simões, “o modelo da obra encomendada é visto de uma forma mais positiva do que no panorama de ‘street art’ ocidental. Mesmo que na sua génese seja uma arte ‘marginal’, em Macau este equilíbrio entre a mensagem do artista e o interesse do Governo tem sido profícuo. No entanto, não é algo definidor do panorama de ‘street art’ local.” A designer refere, neste ponto, o facto de já se encontrarem diversos exemplos de obras encomendadas por privados, além das iniciativas de grupos de artistas locais que têm fomentado esta área, nomeadamente a organização do festival “Outloud!”. Potencial turístico Filipa Simões entende que, nos últimos anos, se tem notado “maior abertura e interesse do Governo” em relação à arte de rua, pelo “potencial” que tem “na promoção cultural e do turismo”. “Vários sectores do Governo têm tirado vantagens disso, apropriando-se da narrativa de forma positiva. As iniciativas do Governo na qualidade de promotor ou financiador têm contribuído muito para a expansão da ‘street art’ em Macau”, disse ainda. A designer não tem dúvidas de que a arte de rua “é uma ferramenta poderosa para promover a identidade cultural das cidades e activar zonas urbanas mais delapidadas e esquecidas”. Neste sentido, nota-se que já existe “um interesse natural por parte dos turistas em fotografar as obras icónicas de graffiti”, o que demonstra que a arte de rua “adiciona mais uma ‘layer’ [camada] a Macau, que já de si é culturalmente muito densa e fascinante”. Olhando para a história da arte de rua no território, a autora do livro refere que esta tem vindo a ser feita nos últimos 25 anos, apesar de estar ainda “numa fase inicial quando comparada com outras cidades da região ou mesmo internacionais”. O facto de, no período da covid-19, Macau ter estado praticamente fechada ao mundo, com poucas saídas e entradas, espoletou a veia artística de muitos. “A evolução nos últimos anos, mesmo em contexto condicionado pela covid-19, tem dado sinais de uma evolução muito rápida e positiva. O impacto é notório no ‘feedback’ que se obtém nas redes sociais, tanto da população local como de visitantes.”
Sofia Margarida Mota EventosArte de rua | Festival Out Loud a 3 e 4 de Novembro O festival local dedicado à arte de rua – Out Loud- tem lugar nos próximos dias 3 e 4 de Novembro no Armazém Tai Fung. É também aqui que Thomas Lo vai mostrar a sua primeira obra de grande dimensão através de uma instalação que pretende tirar o público do frenesim quotidiano [dropcap]“H[/dropcap]ealing” é a primeira obra de grande dimensão do artista local Thomas Lo e que vai estar patente ao público na próxima edição do Out Loud, festival de arte de rua. O evento decorre nos próximos dias 3 e 4 de Novembro no Armazém Tai Fung, na ponte do cais nº8. Para o artista que tem estado ligado à Gantz, a trupe local conhecida pelos murais que desenha com grafite, o festival é um marco importante na divulgação do que se faz em Macau na área da arte de rua. Com esta instalação, Thomas Lo pretende convidar o público a um momento de isolamento. O trabalho que inclui elementos em betão, iluminação e projecção de vídeos vai representar um espaço para “as pessoas estarem com elas próprias”, afirmou ao HM. “Espero que as pessoas consigam, ao verem a exposição, desligar-se da sociedade. Espero que consigam sair da sua vida quotidiana”, disse. A razão é simples. Para Lo, as pessoas estão demasiado absorvidas pelas rotinas do dia a dia e “vivem como se fossem robots”. Por isso, considera importante ter um trabalho que possibilite sair desse estado, acrescentou. Thomas Lo admite porém que “Healing” não é um trabalho que possa ser num primeiro momento classificado como arte de rua, mas “tem elementos que a integra,” apontou. Por outro lado, é através deste tipo de diversidade de trabalhos que se pode atrair mais interessados na intervenção de rua, considera. Território fraco O artista lamenta os fracos progressos que esta área artística tem tido no território. Sem menosprezar o que considera ser “grandes esforços daqueles que estão ligados a esta expressão”, Lo sublinha que não há um interesse visível por parte dos jovens locais quando se fala de street art, sendo que “os jovens de Macau são preguiçosos e não se focam em objectivos claros”. Como solução, Thomas Lo sugere que festivais como este em que a gama de actividades vai além do tradicional grafitti, possam vir a despertar a atenção dos mais novos. “É necessário realizar actividades diferentes para poder atrair mais gente e ter uma perspectiva diferente tanto acerca da arte de rua como de projectos apresentados sob outras formas”, apontou. Por outro lado, seria fundamental trazer artistas estrangeiros ao território para poderem trocar conhecimentos com os locais e mudar a dinâmica do que tem acontecido neste sentido, até porque, “têm estado em Macau alguns artistas importantes mas apenas para apresentarem o que fazem e sem trocarem informações com quem cá está”, disse. Enquanto expressão artística, a arte de rua podia trazer ainda algumas mais valias ao território: “Podia ajudar a mostrar às pessoas que Macau é mais do que casinos, restaurantes e lojas onde se compram produtos de luxo”, rematou.
Fa Seong A Canhota VozesA arte de rua é mal vinda [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]romover as indústrias culturais, criativas e artísticas tem sido recentemente uma meta do Governo de Macau, ou, talvez mais, um “slogan”. Neste sentido, são muitos os festivais, espectáculos e outro tipo de eventos, que acontecem para aumentar o valor artístico da cidade. No entanto e também verdade, é que nem todos os tipos de arte são bem vistos pelas autoridades, sobretudo quando se fala de arte de rua. Vários são os casos em que turistas ou artistas estrangeiros acabaram detidos por estarem a mostrar as suas competências artísticas nas ruas da cidade. Uns dançam, outros cantam, tocam ou pintam, mas, aos olhos das autoridades estão a violar a lei da “obrigatoriedade de notificação ou licença”. É esta execução da lei que tem estado no centro de algumas polémicas, tanto na comunicação social como no mundo virtual. Ao que parece, na base do descontentamento está a incompreensão das detenções e da razoabilidade destas acções. Actualmente, todas as actividades realizadas em espaços públicos devem ser requeridas ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Só em Abril deste ano é que apareceu a notícia do aparecimento de uma proposta de lei que regulamente os espectáculos de rua. Alexis Tam, por exemplo, considera que Macau pode aprender com os países estrangeiros onde este tipo de espectáculos são comuns. Penso que apesar de Macau ser muito pequeno, atrai turistas estrangeiros que escolhem este território. Ao tocar nas nossas ruas trazem alguma felicidade para a população local enquanto satisfazem o seu espírito artístico. Macau deve aproveitar este encanto o que está para além do brilho do jogo. Contudo, na proposta de lei proposta pelo Governo, os interessados em fazer espectáculos de rua têm que entregar um requerimento a pedir autorização que será avaliado pelas entidades competentes. Paralelamente será também criada uma comissão de apreciação para avaliar o local, a forma e o conteúdo tanto da proposta, da sua “adequação” ao público e da segurança dos equipamentos associados. Não entendo, não concordo e não penso que seja lógico que a arte de rua seja restringida. Como é que é possível um artista viajar para Macau e fazer um pedido ao Governo para cantar uma canção? Como é que um turista que quer mostrar e partilhar os seus dotes na sua passagem pelo território tem possibilidades de fazer de fazer este tipo de pedidos? A regulamentação é sempre boa na perspectiva do Executivo mas, na realidade, não beneficia o desenvolvimento das artes de rua, nem ajuda a quebrar o impasse que os artistas encontram. Talvez a segurança pública tenha que manter as ruas sem qualquer actividade não autorizada, mas não considero que Macau mereça o nome de Centro Mundial de Turismo e Lazer quando não consegue acolher espectáculos ou performances simples, muitas vezes sem fins lucrativos, e que não representam qualquer risco para a população.