Andreia Sofia Silva Eventos MancheteLivraria portuguesa | Obra de Philip J. Stern sobre colonialismo britânico lançada este sábado “Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism”, da autoria do historiador Philip J. Stern, será lançado este sábado na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. Nesta obra, lançada no ano passado com a chancela da Harvard University Press, analisa as relações entre o sector público e privado na era do colonialismo britânico, com o foco no mundo empresarial Philip J. Stern, historiador premiado e especialista na história do colonialismo britânico, vai estar em Macau este sábado para apresentar, na Livraria Portuguesa, a partir das 18h30, o seu mais recente livro que se debruça sobre o mundo empresarial no antigo império colonial britânico e a relação com o sector público. “Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism” coloca, segundo a descrição da obra, a “corporação, mais do que a Coroa, no centro do colonialismo britânico, argumentando que as empresas construíram e governaram o império global, levantando questões sobre o poder público e privado que eram tão preocupantes há 400 anos como o são actualmente”. Falamos de zonas onde os ingleses governaram ou administraram ao longo de séculos, como é o caso da Irlanda, Índia, Américas, África ou Austrália, e onde a sua presença acabou por ser “um negócio de empresas”, que foi a força motriz do colonialismo. Segundo a mesma descrição da obra, “as corporações conceberam, promoveram, financiaram e governaram a expansão ultramarina, reivindicando territórios e povos e assegurando, ao mesmo tempo, que a sociedade britânica e colonial fosse investida, literalmente, nos seus empreendimentos”. Actualmente ligado à Duke University, onde é professor associado de História, Philip J. Stern ganhou um prémio com a obra “The Company-State”, lançado em 2011 e que conta a história da corporação como tendo tido um papel fulcral em toda a política colonial dos ingleses. Neste livro agora apresentado em Macau, o autor aprofundou o tema. Das controvérsias Em “Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism”, procura-se mostrar como as empresas coloniais eram também “implacavelmente controversas, frequentemente endividadas e propensas ao fracasso”. Foi comum a criação de sociedades anónimas adaptadas à expansão ultramarina dos ingleses “não por ser um rolo compressor inevitável, mas porque, tal como o próprio império, era uma contradição esquiva: pública e privada; pessoa e sociedade; subordinada e autónoma; centralizada e difusa; imortal e precária; nacional e cosmopolita”. Ou seja: “uma ficção jurídica com um poder muito real”, é descrito. Philip J. Stern conseguiu assim, com esta obra, “romper com histórias tradicionais em que as empresas assumem um papel de apoio, fazendo o trabalho sujo dos Estados soberanos em troca de monopólios comerciais”, argumentando que “as empresas assumiram a liderança na expansão e administração globais”. No livro, é ainda explicado que em territórios como a Irlanda ou América do Norte, no século XVI, ou ainda nas ilhas Malvinas já na década de 80, “as empresas foram actores fundamentais”, sendo que “o colonialismo de risco não terminou com o fim do império”, pois o legado dessas empresas continuou a “levantar questões sobre o seu poder que são tão relevantes hoje como eram há 400 anos”. “Desafiando a sabedoria convencional sobre onde o poder é detido à escala global, Stern complica a distinção supostamente firme entre a empresa privada e o Estado, oferecendo uma nova história do Império Britânico, bem como uma nova história da corporação”, é descrito. Com um doutoramento pela Universidade de Columbia concluído em 2004, Philip J. Stern diz focar o seu trabalho “nos vários aspectos legal, político, intelectual e nas histórias de negócios que formaram o Império Britânico”. “Os meus interesses incluem o papel que as empresas e corporações tiveram no mundo empresarial colonial, a exploração estrangeira e a cartografia, e a historiografia da Índia britânica”, entre outras matérias.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTurismo | Quarta-feira bateu recorde em número de visitantes Macau recebeu, esta quarta-feira, 166,1 mil visitantes, número que ultrapassa as 162,1 mil pessoas que, há cinco anos, visitaram o território também na Semana Dourada, mas no dia 5 de Outubro. Governo fala em “níveis ideais” de turistas para este período. Zona das Ruínas de São Paulo tem sido sujeita a controlo de multidões Os números de visitantes de Macau durante a chamada Semana Dourada estão a corresponder às expectativas das autoridades. Na quarta-feira, no dia seguinte ao Dia Nacional da China, o território recebeu 166,1 mil visitantes, número que “ultrapassou o recorde de 162,1 mil registado a 5 de Outubro de 2019, marcando o número mais elevado de que há registo estatístico nos feriados do Dia Nacional”, apontou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em comunicado. Números oficiais preliminares, apontam que o território recebeu na terça-feira, 1 de Outubro, data dos 75 anos da implantação da República Popular da China (RPC), 128,3 mil visitantes, sendo que, em conjunto com os visitantes do dia 2, quarta-feira, “correspondem a um total de perto de 277 mil”, com um aumento de 20 por cento da média diária, é referido na mesma nota. A DST destaca ainda dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) sobre os visitantes de há cinco anos, que mostram como o território tem registado uma boa recuperação no sector do turismo. “Os três anteriores valores diários mais elevados registados por altura do Dia Nacional ocorreram todos nos feriados de 2019: dia 5 de Outubro (162,1 mil), dia 3 (161,6 mil) e dia 2 (159,3 mil)”. Mais de 700 mil Números divulgados pelo Corpo de Polícia e Segurança Pública (CPSP) revelam ainda a enchente registada em Macau nos últimos dias: um total de 708.954 entradas e saídas nos postos fronteiriços, quase 710 mil pessoas. A DST destaca também que “a recuperação da indústria turística local decorre a um ritmo célere e avança para um novo patamar de desenvolvimento”, tendo em conta o panorama “positivo” do sector nos períodos do Ano Novo Chinês e férias de Verão, sem esquecer que “o número de visitantes em Agosto registou novo recorde histórico”. A zona das Ruínas de São Paulo, um dos monumentos mais visitados do território, foi ainda alvo de medidas de controlo de multidões, dado o elevado número de visitantes no local, além de que muitos percursos de autocarro foram alterados para melhor circulação no território. Na mesma nota, a DST destaca que para estes números contribuíram também os muitos eventos e actividades organizadas para estes dias de celebração, nomeadamente o 32.º Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau que, no dia 1, contou com as apresentações de empresas de pirotecnia do Interior da China e de Itália. No próximo domingo, dia 6, será dia de apresentar os dois últimos espectáculos do evento, a cargo de companhias do Japão e Portugal.
Andreia Sofia Silva EventosExposição sobre design de cartazes de Macau para ver no Porto Decorre até ao dia 31 de Outubro, na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade do Porto, a exposição em formato pop-up de design de cartazes de Macau. A iniciativa acontece graças à junção de forças entre a Associação de Design de Cartazes de Macau e Associação Cultural Portuguesa, e conta com apoios do Fundo de Desenvolvimento Cultural da RAEM. A mostra está patente desde o dia 23 de Setembro. Com curadoria de Hong Ka Lok, este destacou, na inauguração da mostra, que esta é também uma forma de comemorar os 25 anos da RAEM, tendo sido escolhidos 25 cartazes que “constituem uma selecção das realizações do design de Macau ao longo dos anos, permitindo ao público português ter uma visão abrangente do crescimento e desenvolvimento do território desde o seu regresso à China há 25 anos”. Além disso, a exposição “destaca também o panorama do design de Macau, oferecendo uma plataforma internacional que possibilita à nova geração de designers de Macau mostrar o seu talento”. Os cartazes falam de eventos como o Festival de Artes de Macau, o Festival Fringe de Macau, a Semana de Design de Macau, os Prémios de Design de Macau, a Zona do Estaleiro de Lai Chi Vun e o Festival de Artes Sino-Português, oferecendo uma visão abrangente sobre o crescimento e desenvolvimento de Macau. Conexões artísticas Criada em 2009, a Associação de Design de Cartazes de Macau tem-se comprometido a fornecer uma plataforma para que os designers locais possam mostrar, trocar e criar, através da organização de exposições profissionais. Segundo a mesma nota, a entidade procura também, em “consonância com os esforços do Governo de Macau, promover o intercâmbio e cooperação cultural sino-portuguesa e impulsionar o desenvolvimento diversificado das indústrias”. Com o trabalho desenvolvido, a associação procura “reflectir, através do design, a profunda conexão entre a cultura chinesa e a cultura única dos países de língua portuguesa”. No caso da ACPT – Associação Cultural Portuguesa, trata-se de uma associação independente, tendo como objectivos de acção a “promoção e intercâmbio de negócios culturais e criativos entre culturas portuguesas que se relacionem com a língua portuguesa e o resto do mundo”. Promove-se, assim, o intercâmbio de actividades académicas, culturais e económicas relacionadas com indústrias culturais e criativas, incluindo todas as disciplinas de artes plásticas, arquitectura, design, cinema, literatura, música, artes performativas e empreendedorismo.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | “Echoes of a Golden Age” no Cotai até Janeiro Pode ser vista até ao dia 5 de Janeiro a exposição “Echoes of a Golden Age”, na Sands Gallery no empreendimento Grand Suites do Four Seasons, no Cotai. São expostas 121 obras de arte de nove artistas contemporâneos de Macau, com o intuito de celebrar os 75 anos da República Popular da China e o 25.º aniversário transição da soberania de Macau para a China Chama-se “Echoes of a Golden Age” [Ecos de uma Idade de Ouro] e é mais uma exposição com arte feita em Macau para celebrar o chamado “duplo aniversário”: os 75 anos da República Popular da China e os 25 anos da RAEM. A mostra, que inclui 121 obras artísticas, incluindo selos, pode ser vista na Sands Gallery, no hotel Four Seasons, até ao dia 5 de Janeiro, e é uma co-organização entre a operadora de jogo Sands China e a Sociedade de Artistas de Macau, incluindo várias entidades governamentais, sendo comissariada por Lam Chi Ian, artista de Macau. Incluem-se, assim, trabalhos de Lam Chi Ian e ainda Ung Vai Meng, que presidiu ao Instituto Cultural; Lai Ieng, Lok Hei, Ng Wai Kin, Lio Man Cheong, Lei Tak Seng, Chan Hin Io e Ao Kuan Kin. Segundo um comunicado, cada um dos artistas “apresenta uma vasta experiência nas várias disciplinas” artísticas, sendo que o público poderá ver, nas obras, “uma variedade de formas, incluindo pintura a tinta da china, pintura a óleo, aguarela, pintura acrílica, esboço, desenho com fineliner, ilustração digital e fotografia”. Relativamente às temáticas, inclui-se “o desenvolvimento de Macau e suas características culturais e sentimentos públicos de antes e depois da reunificação”, celebrando-se, assim, “a prosperidade e o patriotismo de Macau desde a reunificação e o poder de união do povo de Macau para seguir em frente”. A organização descreve ainda que se pode obter, com estas obras, “uma excelente visão geral das mudanças dos tempos a partir de várias perspectivas, partilhando ao mesmo tempo a alegria deste ano de duplas celebrações”. Selos especiais Os artistas participantes desta mostra criaram ainda selos com cenas que retratam “o esplendor centenário das Casas da Taipa ou as maravilhas modernas como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”. São reflectidas “as mudanças históricas com desenhos únicos que registam a mudança dos tempos na pequena tela de uma moldura de selo”. Citada pela mesma nota de imprensa, Lok Hei, artista e presidente da Sociedade de Artistas de Macau, defendeu que os selos e obras expostos “revelam-nos o amor dos artistas locais por Macau ao retratarem os traços dos edifícios locais em tempos passados e as novas paisagens da cidade numa nova era”. “A exposição das obras dos nove artistas não só representa o nosso tributo às duplas celebrações, como também é um reflexo do património histórico de Macau devido à integração das culturas chinesa e ocidental e ao rápido desenvolvimento da cidade desde a sua reunificação”, concluiu. Lam Chi Ian, artista e curador, afirmou que o tema central por detrás da mostra, “Macroacontecimentos através de macrovisões” acaba por incorporar “a grande ambição que é transmitida nas obras dos nove conhecidos artistas locais”. Trata-se de uma exposição que constitui uma “representação viva da forma como Macau se tem revigorado ao longo do seu desenvolvimento histórico”, pretendendo-se “contar as histórias de Macau através do suave poder da cultura e arte”.
Andreia Sofia Silva EventosLançado em Lisboa livro com poemas traduzidos de Han Shan Acaba de ser editado, com a chancela da Grão-Falar, mais um livro de poesia chinesa traduzida. Trata-se de “Han Shan – Poemas”, com tradução, selecção, notas e prefácio de António Graça Abreu. O lançamento decorreu na última quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). O poeta Han Shan terá vivido no século VIII, mas, segundo o prefácio da obra, é um nome misterioso, provavelmente um pseudónimo, pois “ninguém sabe ao certo quem foi o poeta, quando viveu, ninguém sabe onde o encontrar”. “O seu nome, que significa ‘Montanha Fria’, corresponde por certo a um pseudónimo, e, por detrás destes dois caracteres, esconde-se um letrado estranho, evanescente, quase ignorado pelas muitas e desvairadas gentes que têm vivido debaixo do céu”, lê-se. Tendo em conta que, na China, “pelo menos desde o século II a.c. se acostumou a biografar os seus filósofos, poetas, letrados e mandarins, Han Shan acabou também por ser objecto de uma curiosa nota biográfica”, lê-se ainda no prefácio. “Pobre diabo com juízo” Han Shan foi, assim, uma figura que despertou alguma estranheza. Graça Abreu, ao traduzir palavras de Liu Qiuyin, Governador de Taizhou, um mandarim dos séculos VIII ou IX, revela um “testemunho com múltiplos detalhes sobre a figura excêntrica de Han Shan, um pobre diabo com juízo que habitava as montanhas Tiantai”, que, com referências actuais, “não é longe da actual cidade de Linhai, no nordeste da província de Zhejiang”. O poeta “deve ter tido uma vida longa”, vivido “em datas incertas entre os anos de 650 e 850”. “Se a vida de Han Shan se prolongou até 780, o poeta poderá ter conhecido e convivido com alguns dos maiores poetas da China de sempre, homens como Wang Wei, Li Bai e Du Fu”, descreve-se ainda. Ainda no prefácio, é referido que Han Shan era, até há bem pouco tempo, “completamente desconhecido em Portugal, o que de resto acontecia com quase todos os poetas chineses”, apesar de “Macau e de uma continuada presença portuguesa de quatrocentos e cinquenta anos em terras da China”. O livro, com cerca de 160 páginas, inclui dezenas de poemas de Han Shan, que escreveu versos como “Habito a montanha, / Ninguém me conhece. / Entre nuvens brancas, / O silêncio, sempre o silêncio”.
Andreia Sofia Silva EventosCCCM | Celina Veiga de Oliveira recordou autores de Macau Foi com a palestra “Um Colar de Pérolas – Perspectiva Global da Literatura de Macau em Língua Portuguesa no Século XX” que a historiadora Celina Veiga de Oliveira apresentou, em Lisboa, alguns dos mais icónicos autores de Macau. Na sessão, couberam os escritos de Camões, Deolinda da Conceição, Henrique de Senna Fernandes ou Maria Ondina Braga No ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, o maior poeta português, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) promoveu, na última quinta-feira, uma conversa sobre a literatura que se fez no território ao longo de todo o século XX, na habitual sessão “Conversas Sábias”, organizada todas as semanas. Coube a Celina Veiga de Oliveira, historiadora, docente e antiga residente em Macau, protagonizar esta palestra, que recordou “vultos que, em Macau, produziram obra literária de considerável valor no século XX”. Intitulada “Um Colar de Pérolas – Perspectiva Global da Literatura de Macau em Língua Portuguesa no Século XX”, a sessão começou com a definição de Ferreira de Castro, autor que um dia intitulou Macau como uma “cidade liliputiana”, descrevendo o Rio das Pérolas como o “Rio Pérola”. “Para mim é a forma mais poética para designar o rio que banha Macau”, disse Celina Veiga de Oliveira, que fez a relação com a literatura ali realizada, “o vasto rio literário de Macau”. Foi também destacada Deolinda da Conceição, autora do livro de contos “Cheong Sam – A Cabaia”, alguém que foi “jornalista feminista, com opinião própria, uma mulher muito avançada para a sua época”. Para Celina Veiga de Oliveira, este livro constituiu “um marco na literatura macaense em que uma mulher se assumiu como autora”. Maria Ondina Braga, autora portuguesa que deu aulas em Macau no Colégio Santa Rosa de Lima, foi outra das autoras referenciadas. Celina Veiga de Oliveira destacou dois livros que têm o território como cenário: “A China vive ao lado” e “Nocturno em Macau”. Falou-se “de uma grande escritora”, que “reporta na sua obra os costumes e modos de vida chineses e macaenses, em especial em desassossego interior”, demonstrando “uma mulher muito ansiosa”. Em “A China vive ao lado” são “contos de inspiração chinesa” em que o primeiro deles “fala-nos do aborto que uma jovem chinesa fez e a descrição do ambiente em que o fez”. Era uma vida difícil, pois a jovem refugiou-se em Macau com a avó, e “vivia varrendo o chão do templo, sustentando-se com a comida das oferendas”. Já em “Nocturno em Macau” retrata-se “a vida das professoras do Colégio de Santa Fé, um microsmo das relações pessoais em espaço fechado”. Destacam-se as professoras Ester, “muito provavelmente o alter ego de Maria Ondina Braga”, Chiao, a professora chinesa, a professora goesa e um “muro fora do colégio”. Para Celina Veiga de Oliveira, trata-se de um “livro difícil de resumir e maduro”. “É a sua alma que espelha no desenvolvimento da narrativa que tem de ser lida para ser apreciada. A certa altura fala dos chineses, e diz algo interessante: que eram completamente indiferentes às procissões católicas de Macau, mas que davam muita atenção ao 10 de Junho. Para o chinês, o seu amor era os pais, os filhos e os seus antepassados, a vida e a morte”, apontou Celina Veiga de Oliveira. Os filhos da terra Além do destaque a Henrique de Senna Fernandes, um dos grandes autores de Macau, Celina Veiga de Oliveira lembrou ainda Maria Pacheco Borges, com o livro “Chinesinha”, “contos que Maria Borges escreveu com carinho, agilidade e subtileza”. Houve ainda tempo para falar de José Santos Ferreira, mais conhecido por Adé, amigo pessoal de Celina. Para esta, foi “um filho da terra e representante do patuá local, nunca esquecendo a língua portuguesa”, pois Adé considerava “o português como sendo a sua língua mátria”. No final da palestra, Celina Veiga de Oliveira apresentou ainda uma lista de autores que considera importante por serem contemporâneos em Macau, nomeadamente Dora Nunes Gago, com “Palavras Nómadas” ou “Floriram por engano as rosas bravas”, que têm Macau como espelho de fundo, e também Carlos Morais José, com a obra “Anastasis”. Couberam nomes que, no essencial, viveram em Macau ou que escreveram sobre o território.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeRua da Felicidade | Protestos para a suspensão de zona pedonal Vários comerciantes da Rua da Felicidade lançaram uma acção conjunta no último fim-de-semana afixando papéis às portas das lojas onde exigem o cancelamento da zona pedonal no local conforme prometido pelo Governo Os comerciantes da Rua da Felicidade exigem que o Governo, através do Instituto Cultural (IC), cumpra a promessa de cancelar a zona pedonal localizada entre a Travessa do Aterro Novo e Travessa do Mastro. Para isso, lançaram uma acção conjunta, que decorreu nos últimos dois dias, com a afixação de papéis e folhas de jornal sobre o assunto, exigindo acções concretas após a reunião levada a cabo entre o IC estes comerciantes. Segundo o jornal All About Macau, o deputado Ron Lam U Tou, que tem acompanhado o caso, explicou que a acção conjunta dos comerciantes visa demonstrar que “apenas querem que o Governo não cause problemas, tratando-se de um pedido simples”. “Querem apenas um ambiente de negócios comum”, adiantou. Além disso, o IC tem demorado a reagir ao pedido dos comerciantes. Ron Lam disse que foi pedida uma resposta concreta no prazo de uma semana, mas não houve ainda reacção, sendo que os comerciantes pediram a suspensão da zona pedonal antes da chegada da Semana Dourada. Assim, nas palavras do deputado, os comerciantes sentem-se desapontados por considerarem sincera a atitude do Executivo, pensando que as autoridades queriam, de facto, manter uma comunicação aberta com eles. Sem efeitos Além da colocação de papéis nas portas das lojas, os comerciantes, um total de 41, assinaram uma petição a pedir o cancelamento da zona pedonal, a qual foi entregue ao Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, e a Sam Hou Fai, candidato ao cargo, logo depois da reunião com o IC. Lançado a 29 de Setembro do ano passado, o plano de criar uma zona pedonal na Rua da Felicidade foi realizado em conjunto com a operadora de jogo Wynn, responsável pela organização de actividades e decoração. Entre as 11h e a 1h é proibida a circulação de carros em algumas zonas, sendo apenas permitido o acesso com motociclos. Os comerciantes ouvidos pelo All About Macau dizem que o plano pedonal não tem grandes efeitos nos negócios. O dono de um antiquário participou na acção conjunta, mas tem uma postura neutra sobre a criação de uma zona pedonal, explicando que pode atrair mais visitantes, mas que estes nem sempre compram, e tiram fotografias em vez de consumirem. Outra comerciante que participou na campanha, afirmou que, inicialmente, estava de acordo com a criação de uma zona pedonal, mas que não notou um grande aumento de visitantes tendo em conta a Semana Dourada do ano passado. Esta proprietária sugeriu mudar os horários de funcionamento da zona pedonal e também evitar a ocorrência de obras viárias durante os feriados.
Andreia Sofia Silva PolíticaAliança do Povo defende mais terrenos para espaços de terceira idade A associação Aliança do Povo defende que mais terrenos sejam disponibilizados para a construção de espaços para a terceira idade, nomeadamente lares de idosos ou centros de apoio. Segundo o Jornal do Cidadão, Chan Peng Peng, vice-presidente da associação, apontou que, actualmente, há 2.500 vagas em lares de idosos, sendo que 200 são a curto prazo, e que até 2028 haverá mais 900 vagas na zona A dos novos aterros. Porém, na sua visão, o número está longe de ser suficiente. A responsável destacou o exemplo do Lar de Cuidados de Ká Hó, subordinado à Federação das Associações dos Operários de Macau, que tem 200 vagas, mas uma lista de espera de 300 pessoas, sendo que outros lares também estão cheios. Em causa, está também um longo período de espera que pode ir além de um ano. “Recebemos um caso de um residente cujo pai teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), não tinha como cuidar dele, e poucas pessoas estavam disponíveis para cuidar do pai em casa. Após candidatar-se a uma admissão num lar de idosos, foi informado que tinha de esperar pelo menos um ano e que a opção seria ir para Zhuhai.” Mais apoios Outro pedido de Chan Peng Peng, passa pelo aumento do valor da reforma, que permanece inalterado desde Janeiro de 2020. A responsável refere queixas dos idosos quanto à insuficiência do valor, tendo em conta a crise económica causada pela pandemia e a inflação. O facto de muitas lojas terem encerrado faz com que, em muitas famílias, os filhos tenham deixado de poder auxiliar financeiramente os pais já idosos. Tendo em conta o tema do trabalho da terceira idade, a dirigente associativa destaca que os jovens têm, actualmente, dificuldade em encontrar emprego, sendo essa dificuldade acrescida no caso das pessoas com mais de 65 anos. São, assim, na sua óptica, pouco eficazes as medidas anunciadas pelo Executivo, sendo que a aposta deveria ser levar as operadoras de jogo a criar mais oportunidades de emprego para idosos, indo de encontro às responsabilidades sociais das empresas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAreia Preta | Inaugurada residência oficial para idosos Foi ontem inaugurado o edifício que irá servir de residência para idosos no lote P da Areia Preta. No discurso de inauguração, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, referiu a importância deste projecto para as políticas habitacionais, concebido para responder “às necessidades reais dos idosos” São 37 andares em que cada apartamento terá uma área útil de 33,17 metros quadrados. É assim a nova residência para idosos erguida no lote P da Areia Preta, cujo terreno foi anteriormente concessionado para o projecto habitacional Pearl Horizon, que nunca foi terminado. Na cerimónia de inauguração de ontem, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, disse tratar-se de um “importante projecto da acção governativa interdepartamental do Governo da RAEM”, tendo sido concebido “em plena consideração as necessidades reais dos idosos”. De resto, a secretária não esqueceu a importância do projecto tendo em conta o envelhecimento populacional. “À medida que a RAEM se torna numa sociedade envelhecida, o Governo tem vindo a implementar várias medidas no âmbito do Plano de Acção para o Desenvolvimento dos Serviços de Apoio a Idosos nos Próximos Dez Anos, a fim de ajudar os idosos a terem uma vida saudável e activa, bem como apoiá-los na sua integração na comunidade, através da mobilização de toda a sociedade”. Promessa cumprida A residência para idosos ontem inaugurada já fazia parte do discurso governamental desde 2020, quando, nas Linhas de Acção Governativa desse ano, se falou da “criação de residências destinadas a idosos com algumas condições económicas e que necessitam de cuidados”, nomeadamente os que vivem sozinhos ou moram em prédios sem elevador, mais antigos. Assim, estas casas prometem “elevar a sua qualidade de vida, proporcionando uma nova opção de moradia na velhice”, declarou a governante. “Além de ser proporcionado na Residência um espaço habitacional agradável e confortável, foram introduzidos equipamentos tecnológicos e instalações sem barreiras, com o intuito de proporcionar segurança e protecção aos idosos no dia-a-dia”, acrescentou. Elsie Ao Ieong U referiu também o “apoio esmagador por parte dos idosos” a este projecto, com o “número de candidatos sido muito superior ao previsto”, pelo que se duplicou o número de casas disponibilizados na primeira fase, passando a mais de 1.500. O Governo promete agora “continuar a promover o desenvolvimento diversificado dos serviços para idosos e a colaborar com toda a sociedade para transformar Macau numa sociedade inclusiva”.
Andreia Sofia Silva SociedadeTurismo | Grande subida de excursionistas da Índia Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram um grande aumento anual de excursionistas oriundos da Índia. Nos oito primeiros meses, o território recebeu 18 mil excursionistas vindos deste país, o que representa um aumento de 1.165,9 por cento em relação a igual período do ano passado. Só no mês de Agosto, foram recebidos dois mil excursionistas, um aumento anual de 337,5 por cento. Destaque também para a vinda de 51 mil excursionistas oriundos da Coreia do Sul em oito meses, um aumento de 587,9 por cento face a 2023. Registou-se, em termos gerais e também nos oito meses deste ano, um total de 1.388.000 excursionistas, um crescimento de 127,6 por cento face a igual período de 2023, sendo que 1.240.000 eram excursionistas do Interior da China. Quanto à ocupação hoteleira, nos oito meses de 2024 a taxa foi de 85,5 por cento, mais 4,6 por cento face aos primeiros oito meses de 2023. Os estabelecimentos hoteleiros hospedaram 9.773.000 indivíduos, mais 12,9 por cento face a idêntico período de 2023, sendo que o período médio de permanência dos hóspedes se manteve em 1,7 noites.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteLisboa | Ana Jacinto Nunes com nova mostra na galeria Belard “Numa Cadeira: Um Ganso ao Colo, um Cão aos Pés” é a nova exposição de Ana Jacinto Nunes, ex-residente de Macau, que pode ser vista até Novembro na galeria Belard, em Lisboa. Através de pinturas, esculturas e desenhos, a artista revela o seu mundo interior contado de forma visual, sujeito a várias leituras, por não serem necessárias palavras Catarina Mantero, pintora e fundadora da galeria Belard, em Lisboa, entrou um dia na casa de Ana Jacinto Nunes, artista e ex-residente de Macau, e deixou-se fascinar por aquilo a que chama o “mundo mágico de Ana”, cheio de detalhes, histórias e elementos que, gradualmente, se vão descobrindo. Há cadeiras, cães, gansos ao colo e, desde a pandemia, uns óculos de mergulho que remetem para a necessidade de respirar. As formas vão aparecendo e ganhando um ritmo próprio nas suas obras. Depois desta visita, nasceu a vontade de realizar uma exposição individual de Ana Jacinto Nunes que foi inaugurada esta quarta-feira, e que fica patente até Novembro. Nesta entrevista, a artista prefere transferir para Catarina Mantero, curadora, a explicação da sua arte, que transmite a ideia de casa e do mundo específico da artista. A mostra “Numa Cadeira: Um Ganso ao Colo, um Cão aos Pés” é o resultado de peças escolhidas por Catarina Mantero que fazem uma espécie de retrospectiva da carreira da artista que já viveu em muitos lugares, mas que considera ainda Macau um pouco como a sua casa. “A minha vida vai mudando e o meu trabalho também vai mudando com ela. Ando sempre à volta das mesmas questões, que não sei muito bem quais são, mas são da minha vida. Só posso trabalhar sobre o que sinto e o que anda comigo, e entusiasmo-me mais com determinada técnica a certa altura. Em cada técnica tenho, se calhar, uma resposta diferente, embora seja a mesma mão. Podem surgir coisas mais pesadas ou mais leves. Às vezes temos de respeitar o caminho que os materiais ou os pincéis fazem”, descreveu ao HM Ana Jacinto Nunes. A cada pergunta, a resposta acaba por recair em Catarina Mantero. Para a artista, a explicação é simples, recorrendo à literatura. “Um escritor escreve um livro. E depois perguntam sobre o que é. A resposta é: ‘leiam’. A tinta é toda igual. Costumo dizer: ‘Queres saber como se faz? Ensino-te’. Não é a técnica que faz o artista. Há imensos segredos.” Assim sendo, o objectivo é que, na galeria Belard, as obras expostas falem por si, numa comunicação visual e não verbal. “Tenho de respeitar esta postura da Ana, porque o que ela diz é que, se quisesse escrever, escrevia um romance. Demos este nome a esta exposição por ser uma experiência, um convite a entrar no mundo da Ana, colocando perguntas a fim de deixar as pessoas sentirem a experiência destas obras. Isso vai ser o reflexo de cada um: vão ver um sofá, um banco, um ganso, uma senhora, muitos elementos reconhecíveis, mas depois cada um constrói uma narrativa, que vai ter uma parte da projecção da Ana, incluindo o lado de quem estar a observar”, descreve a curadora. O nome da exposição é, assim, “bastante invasivo, transmite-nos uma imagem, mas não nos diz nada de concreto, abrindo-se, assim, a porta para algo sensorial que não seja imediatamente inteligível”. “É um nome com muitos símbolos, que se repetem na obra da Ana, e que lança uma pergunta: porquê tantas cadeiras, cães, o ganso ao colo, que é uma coisa invulgar?”, acrescentou. Para Catarina Mantero, “a Ana é pintora, escultora, desenha, e tenho muito interesse nessas várias vertentes dela como artista, não só enquanto galerista e artista, mas também como observadora e consumidora de arte”. “A Ana está sempre a questionar a técnica que usa para narrar aquilo que tem cá dentro. O que ela tem a dizer sai-lhe pelas mãos”, referiu ainda. Dois anos de galeria Ana Jacinto Nunes tem o atelier em casa e juntos compõem o seu mundo muito próprio, que está cheio de trabalhos que se apresentam nesta mostra, mas nem todos são novos. “Vemos as influências de vários momentos no seu percurso artístico, mas o que queria trazer é este fascínio que sinto cada vez que vou visitar a Ana a casa e ao atelier. É o mundo mágico de Ana. É uma coisa tão particular de se viver que esta mostra é só uma alusão a esse mundo. É importante esta experiência do mundo interior da artista para se compreender outra camada deste trabalho.” Ana Jacinto Nunes confessa que Catarina Mantero escolheu as “obras mais difíceis”, mas a curadora discorda. “Não acho que tenha escolhido as obras mais difíceis, escolhi aquelas que tinham mais a ver comigo, em que veja um factor de qualidade acrescido. Nesta criação da Ana revela-se quase uma compulsão, a forma dela de ver o mundo.” O que permanece sempre é uma “sensibilidade” da artista pelos materiais, e mais uma vez entra a ligação que Ana Jacinto Nunes tem com a China e com Macau, onde viveu alguns anos. “As coisas mais ricas que tenho vieram da China, os pincéis, a tinta da China”, apontou. Catarina Mantero destaca, assim, “a sensibilidade que ela tem com os materiais e as coisas que, se calhar, alguém simplesmente define como um simples papel”. “Isso é mágico e vê-se em cada trabalho da Ana, essa sensibilidade com os materiais e a sua crueza. Daí abraçar o que tem defeito, o que está partido ou amarrotado, porque tem um amor e fascínio pela imperfeição.” O projecto da galeria Belard nasceu há dois anos depois de Catarina Mantero, ela própria pintora, ter decidido estudar arte em Nova Iorque, onde aprendeu técnicas e todo o processo de negócio associado à arte, ganhando uma visão global da área. A galeria Belard assume o foco na arte figurativa, por querer mostrar algo diferente. “Estava saturada da arte conceptual pura queria apresentar neste espaço artistas que estivessem profundamente embebidos no léxico no qual comunicam, que passam a vida a aprimorar técnicas ao serviço de uma história que querem contar. Apresento aqui a técnica ao serviço do conceito”, descreve Catarina Mantero. A curadora queria trazer para Lisboa artistas nova-iorquinos, até que percebeu que era “hipócrita” não ter também artistas portugueses e lisboetas. Foi assim que surgiu a ligação ao trabalho de Ana Jacinto Nunes. “Sempre que a visito no atelier é como se entrasse, literalmente, na sua casa, porque ela não gosta de falar do seu trabalho, diz que não sabe, mas sabe perfeitamente o que faz”, remata.
Andreia Sofia Silva EventosVila da Taipa | Galeria acolhe a partir de hoje mostra de Bianca Lei “At the Crack of – Works by Bianca Lei Sio-Chong” é o nome da nova exposição que, a partir de hoje e até 30 de Novembro, pode ser vista na galeria Taipa Village Art Space. Eis a oportunidade para ver trabalhos de uma artista que quis trabalhar em torno da ideia de “ruptura” como símbolo de partidas e recomeços A artista local Bianca Lei Sio-Chong expõe, a partir de hoje, “At the Crack of – Works by Bianca Lei Sio-Chong”, na galeria Taipa Village Art Space, na Rua dos Clérigos, na Taipa Velha. A mostra fica patente até ao dia 30 de Novembro. Segundo uma nota de imprensa, trata-se de uma colecção que deriva da ideia de “ruptura”, interpretada pela artista com “fendas” que se verificam nas suas obras, nomeadamente gráficos, fotografias e gravuras. E aqui as “rupturas” podem ser entendidas como recomeços ou fins, evocando-se “impressões negativas de desastres naturais e provocados pelo homem, mas também um sentimento positivo de avanços e da chegada de coisas novas”. Com esta mostra, “a quebra e o esbatimento das fronteiras entre as obras de arte e o espaço revelam a orientação artística de Bianca, segundo a qual o local foi integrado como parte das obras de arte”, aponta a mesma nota. Sobre esta mostra, Bianca Lei aponta que sempre manteve “um pensamento fora da caixa e uma mentalidade criativa”, sendo que a ideia de ruptura tem estado bastante “persistente” na sua cabeça tendo em conta “as pessoas e as coisas que têm acontecido nos últimos anos”. Desta forma, a artista diz que começou a prestar mais atenção e a observar o mundo em volta, nomeadamente as “fendas” presentes nesse mundo. “Sob os factores naturais ou provocados pelo homem, a maioria das fendas na vida deve-se a várias razões que abrem um espaço estreito entre partes de algo. As fissuras dão-me sempre uma forte caraterística do tempo, pois formam-se normalmente durante um período de tempo, permanecendo num estado de ‘espera’ para voltarem a ‘estalar’ mais”, descreve a artista, que também acredita num ângulo mais optimista destas fendas, com recomeços e novas partidas. “A ‘racha’ do amanhecer e o ‘romper’ do dia significam que a luz do sol rompe a escuridão e dá início a um novo dia. Além disso, quebrar ou esbater as fronteiras existentes entre as obras de arte e o espaço de exposição sempre foi uma das minhas orientações artísticas”, descreve a artista. Parte de um todo Segundo Bianca Lei, nesta mostra a galeria de arte torna-se como uma parte de um todo que é a exposição. Esta é, para a artista, “um suporte para as obras de arte, uma definição idiomática e um estatuto”. Porém, “desta vez este espaço da galeria não é apenas usado para colocar as obras de arte, é também uma parte das obras de arte”. Assim, “algumas cenas que apareceram, no passado ou neste momento, neste espaço da galeria serão exibidas como obras de arte através de gráficos, fotografias e impressões, tais como as gotas de chuva que um dia ficaram nas janelas de vidro, bem como fendas, texturas, marcas e sombras nas paredes ou no chão. Esses elementos visuais do espaço da galeria que não foram vistos ou foram mesmo ignorados são transformados em obras de arte expostas”, acrescentou a artista. A curadoria da mostra está a cargo de João Ó, arquitecto também ligado ao projecto da Taipa Village Art Space. Numa nota sobre esta mostra, o curador descreve Bianca Lei Sio-Chong como “uma das mais proeminentes artistas conceptuais de Macau”. Na sua visão, a artista possui “a capacidade de explorar vários meios e expandir as possibilidades da arte, trazendo novas ideias para o espaço da galeria”. “Artistas como Bianca, com um forte sentido de exploração e necessidade experimental, quebram fronteiras e expandem os nossos horizontes. ‘At the Crack of…’ é a mais recente contribuição de Bianca para esse caminho exploratório”, frisou. João Ó destaca também o facto de a própria galeria se transformar num espaço de trabalho por parte de Bianca Lei, pois esta “manobra [o espaço] através de vários elementos arquitectónicos do espaço da galeria, tais como paredes, pavimento e vidro, tornando a exposição específica para o local”. Deste modo, “as obras de arte tocam em valores universais relacionados com o tempo, o espaço, a presença e a ausência”, estendendo “a sua transformação material de texturas ambientais a desenhos abstractos e de paredes brancas a telas estrategicamente dilapidadas”. Bianca Lei estudou belas-artes em Londres, sendo actualmente docente na Universidade Politécnica de Macau, bem como curadora da galeria do Armazém do Boi. Bianca Lei é também co-fundadora da AFA – Art for All Society, tendo já exposto em mostras individuais ou colectivas em Taipei, Xangai ou Hong Kong.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMASTV | Funcionários receberam todos os salários em atraso Antigos funcionários da falida estação televisiva MASTV receberam todos os salários que tinham em atraso desde que o canal fechou portas. Segundo o jornal All About Macau, em causa estavam 29 pessoas com salários em atraso no valor de cinco milhões de patacas O encerramento da estação televisiva MASTV a 16 de Julho fez com que funcionários tenham ficado com salários em atraso que só agora foram liquidados. Segundo o jornal All About Macau, um grupo de 29 pessoas tinha ordenados por receber no valor de cinco milhões de patacas que foram pagas graças ao Fundo de Garantia de Créditos Laborais. Este mecanismo foi criado em 2015 com o objectivo de assegurar pagamentos a trabalhadores sempre que haja incumprimento por parte do patronato. Um antigo funcionário da MASTV disse ao All About Macau estar satisfeito com o desfecho do processo. “Estou contente com o resultado, pois a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) fez o seu trabalho”, ainda que não tenha sido a estação a pagar os montantes em dívida. A MASTV foi declarada falida a 24 de Julho, levando os funcionários a pedir à DSAL apoios para o pagamento de salários, com o auxílio da deputada Ella Lei. A MASTV situava-se em Coloane e viu a licença de operação renovada por 15 anos em Março de 2019, era então Chui Sai On Chefe do Executivo. Na altura, a estação já enfrentava o problema de salários em atraso em Taipé. Queixas de 2021 Segundo noticiou o HM em Julho, as queixas de ordenados em atraso datam de 2021. “Em 2021, os trabalhadores fizeram uma queixa colectiva junto da DSAL, e, mais tarde, em tribunal foi decidido que a empresa tinha de pagar aos trabalhadores”, relatou um ex-funcionário, que não quis ser identificado. “Apesar da empregadora ter ficado obrigada a pagar os salários e outros direitos em prestações, só cumpriu com a primeira prestação. Todas as outras ficaram por pagar”, acrescentou. No passado dia 12 foi referido por Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau, que seria utilizada a caução de 2,5 milhões de patacas pagas pela MASTV na altura do pedido de licença, para pagamentos de impostos. Tal montante não poderia ser usado para pagar salários porque, como explicou, “os funcionários da MASTV envolvidos [no processo] não estão ligados aos assuntos relacionados com a supervisão da licença”, referiu.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteRAEM, 25 anos | Heitor Romana revela planos para evacuar portugueses Heitor Romana foi durante nove anos assessor do Governador Rocha Vieira. Numa palestra no Centro Científico e Cultural de Macau recordou os tempos da transição e a preparação de planos para evacuar portugueses em caso de turbulência política na China e na região Antes da assinatura da Declaração Conjunta, em 1987, Heitor Barras Romana, professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, foi para Macau a trabalhar numa unidade definidora de estratégias em matéria de segurança para o território, ainda durante o Governo de Carlos Melancia. Nessa fase chegaram a ser preparados planos para a retirada dos nacionais portugueses a residir em Macau caso se verificasse, na China e na região, um cenário de turbulência política. A confissão foi feita no âmbito da conferência “Contributos para uma análise estratégica do processo de transição de Macau”, proferida no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), no passado dia 19 de Setembro, nas semanais “Conversas Sábias”. As autoridades portuguesas pretendiam “sair a bem” do território e chegaram a ser elaborados “planos de contingência em relação a cenários em que se tivesse de retirar os portugueses de Macau”. Incluíam-se, assim, os portugueses e seus descendentes bem como os detentores de nacionalidade portuguesa cujo local de nascimento tivesse sido Macau até 1981. Tal iria ocorrer face a “um cenário de convulsão interna na China, em que se alterasse a ordem de equilíbrios e relações diplomáticas com Portugal”. “Era essa a perspectiva que se tinha e que não tinha nada de estratégico, mas situacional. Era essa a abordagem que se fazia de Macau. Ainda estava bem presente a memória do ‘1,2,3’, e se houvesse uma convulsão regional teriam de se antecipar cenários, de forma a retirar em segurança os portugueses que estivessem no território”, descreveu. Segundo Heitor Romana, estava em causa os últimos acontecimentos políticos na China, com o episódio de Tiananmen, em 1989, e a queda da URSS. “As atenções estavam viradas para aquilo que veio a acontecer em 1989, com o desmembramento da URSS e todo o sistema. Do ponto de vista geopolítico, a China não entrava no jogo das preocupações que Portugal tinha obrigação de acompanhar em determinados sectores. No essencial, Macau não era tido no jogo dos interesses geoestratégicos de Portugal, mas havia a vontade de uma boa resolução quando tivesse de ocorrer a saída de Portugal de Macau e o fim da sua administração.” A China vinha, desde 1978, vivendo o período de Reforma e Abertura, mas pensava-se que “o desmembramento da URSS poderia contaminar a realidade do sistema político e ideológico da China”. “Essa era uma das teses defendida não apenas em Portugal, mas por parte de analistas americanos e ingleses. Pensava-se que o fim da URSS iria contaminar o regime político chinês e levar à queda da República Popular da China”, lembrou, algo que não aconteceu, como a história veio a mostrar. O trabalho de análise em matéria de segurança do académico foi realizado quando tinha cerca de 30 anos, e foi por iniciativa de Carlos Melancia que se criou a “unidade de análise geoestratégica sobre Macau e China que também envolvia a ‘questão de Macau’, e já era uma questão política e diplomática”. Nesse sentido, frisou, “era importante perceber o que podia acontecer na China que pudesse afectar ou acelerar a saída [dos portugueses de Macau]”. “O trauma” do Império Heitor Romana recordou também que o desejo de “sair bem” de Macau, por parte das autoridades portuguesas, acarretava consigo o fantasma da descolonização em 1975, no rescaldo da Guerra Colonial. “Veio-se a perceber mais tarde, no quadro das relações bilaterais, e mais alargado ao multilateralismo e política internacional no seu todo, que ‘sair bem’ tinha como pano de fundo o trauma da descolonização, em relação à forma apressada como Portugal tinha saído dos territórios ultramarinos em 1975”, apontou. O responsável descreveu “o medo” que existia em relação “àquilo que ainda faltava ‘descolonizar’, nomeadamente Macau”, sem esquecer os episódios da perda da Índia portuguesa, em 1961, ou de Timor. “Havia na memória colectiva a ideia de que a saída de Portugal dos seus territórios não tinha corrido bem por variadas razões. A percepção era de que, em Macau, não havia razões para que corresse bem. A visão era muito pessimista.” Em 1989, após os acontecimentos de Tiananmen, Carlos Melancia vai a Pequim reunir com as autoridades chinesas, tendo sido “o primeiro representante de um país europeu a ir a Pequim depois desse episódio”. Segundo o académico, nos anos 90 a China vivia “um processo de ajustamento político e ideológico que teve repercussões não no processo de transição [de Macau], mas sim na natureza desse processo”, pois no seio do partido havia uma “luta surda entre sectores mais reformistas e ortodoxos”. O conceito “Um País, Dois Sistemas” tinha sido recentemente anunciado a pensar em Taiwan, e o primeiro-ministro chinês que assinou a Declaração Conjunta, Zhao Ziyang, acabou por “cair em desgraça três anos mais tarde”, pois, na visão de Heitor Romana, tinha sido secretário-geral do partido em Cantão e era “visto com desconfiança”. Isto porque “historicamente Cantão tinha tido relações privilegiadas com ocidentais, diga-se Portugal e Reino Unido, e essa relação próxima, comercial, política e de miscigenação gerava dúvidas quanto à lealdade desses dirigentes face aos princípios basilares do partido. O problema de Zhao Ziyang residia nesse facto”, afirmou. Melancia queixa-se Ainda relativamente ao período de governação de Carlos Melancia, falecido em Outubro de 2022, Heitor Romana lembrou uma reunião em que este lhe disse existirem “forças” que o queriam prejudicar. “Carlos Melancia disse-me que havia [essas] forças, mas não vou dizer nomes. Fiquei espantado com a franqueza dele, pois disse-me que o problema que tinha não era com a China, mas sim com Portugal e com aqueles que colaboravam consigo no gabinete.” Heitor Romana considera que a transição de Macau estava então envolvida numa teia difícil de jogos e tramas políticos. “Aí percebi que Portugal e os portugueses, Macau e a sua governação, estavam envolvidos numa trama muito complicada que poderia levar a resultados muito negativos para os interesses estratégicos de Portugal, incluindo as relações bilaterais e interesses da salvaguarda daquilo que, mais tarde, veio a ser identificado como a identidade de Macau e a sua singularidade.” Rocha Vieira, o último Entre 1990 e 1999 Heitor Romana foi assessor de Rocha Vieira, homem escolhido para ser “o último Governador de Macau” no sentido de assegurar a estabilidade necessária ao território. “Mário Soares [à época Presidente da República] tinha uma preocupação muito grande de que o próximo Governador fosse o último e que garantisse estabilidade. Já não era só a questão de irmos embora a bem, mas havia o possível efeito sistémico dos problemas gerados à volta de Macau”, e que se centravam em “jogos político-partidários que estavam muito acesos”. Havia, no fundo “questões ideológicas que também envolviam o aspecto político-partidário, pois o Governo [em Portugal, liderado por Cavaco Silva] era diferente da matriz ideológica do Presidente da República”, estando criadas “todas as condições para que não corresse bem” a transição de Macau. Vasco Rocha Vieira chegou a Macau numa fase de “vulnerabilidade e fragilidade política”, tendo gerado “uma enorme expectativa” para que “pudesse pôr ordem no território”. O novo Governador acabou por assumir, segundo o orador, “uma postura imune a todos esses processos, o que na altura suscitou muitas críticas, mas que foi eficaz”. Rocha Vieira ganhou “um espaço próprio, ajudando a definir muito bem o processo de transição até 1999 e depois”. “As autoridades chinesas perceberam que ele tinha uma personalidade muito própria e não podiam deixar de ser sensíveis nessa situação de liderança. Viam no Governador de Macau esse interlocutor desejado para que o processo [de transição] corresse bem”, disse ainda. Heitor Romana lembrou que, no processo de transição, procurou definir-se ainda a ideia de identidade própria de Macau. “Na fase final da presença portuguesa em Macau foi visível que o Governador tinha a missão da defesa e salvaguarda dos interesses de Portugal, e isso passava muito pela defesa da identidade de Macau. Era esse o elemento diferenciador, comparando com Hong Kong ou Taiwan.” Assim, a Lei Básica de Macau foi “obrigada a incorporar, de certa forma, esta visão da especificidade de Macau”. “Há uma estratégia para Macau, de Portugal, definida pelo Governador e a sua equipa, de que era importante ter uma identidade própria. O mito refundador de Macau está presente no papel do macaense, sendo um activo estratégico histórico que vai ser o eixo daquilo que é a natureza específica de Macau”, rematou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteClima | Sugerida criminalização de ligações ilegais de esgotos Um relatório recentemente divulgado pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos prevê que, até final deste século, Macau irá registar um aumento da precipitação e subida do nível do mar. O arquitecto Mário Duque propõe a criminalização de ligações ilegais de esgotos para tentar minimizar o impacto Segundo uma projecção apresentada recentemente pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), com base no sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), prevê-se não só a subida de precipitação em termos globais como da altura do nível do mar, isto entre o meio e o final deste século. Sendo assim, que respostas podem ser dadas em termos urbanísticos? O arquitecto Mário Duque tem-se debruçado sobre esta matéria em alguns artigos de opinião e, em resposta ao HM, sugere, por exemplo, a criminalização de todas as ligações ilegais de esgotos que, em época de tufões e subida do nível das águas, podem causar inúmeros estragos. Tendo em conta que “as circunstâncias que convergem para inundações na RAEM não são possíveis resolver em absoluto, ou definitivamente, importa medidas de adaptação para que os habitantes da cidade convivam com situações de inundação, mantendo-se funcionais e sem danos”. Assim, deve-se, no entender do arquitecto, “fiscalizar e penalizar como crimes contra o ambiente e a saúde pública todas as ligações privadas de esgotos domésticas feitas ilegalmente a redes pluviais”, devendo-se ainda “substituir todas as redes antigas de esgoto unitário”. Este tipo de esgoto, que existe no território, conjuga infra-estruturas de esgotos domésticos com pluviais, e, segundo Mário Duque, ainda funciona em muitas casas e fracções nas zonas mais baixas do território. Chuvas fortes Divulgado no passado dia 11 de Setembro pelos SMG, o relatório IPCC traça algumas conclusões preocupantes no que diz respeito ao futuro do território na sua relação com a água. “Estima-se que a temperatura global de Macau entre o meio e o fim do século XXI irá continuar a subir”, sendo que “os eventos climáticos de temperaturas elevadas tornar-se-ão mais frequentes”, e que “a precipitação global e a altura do nível do mar em Macau também vão sofrer alterações”. As autoridades estimam a ocorrência de crescentes cenários de “precipitação extrema”, e que “num cenário de emissões intermediárias, a precipitação anual e a precipitação máxima diária anual em Macau, em meados do século XXI, entre os anos de 2041 e 2060, irão aumentar cerca de 8,3 e 5,8 por cento, respectivamente”, em relação aos valores médios registados entre 1995 e 2014. Além disso, “num cenário de emissões muito elevadas, a precipitação máxima diária do ano no final do século XXI”, já para os anos de 2081 a 2100, “vai aumentar cerca de 30 por cento, reflectindo um aumento significativo da precipitação extrema”. O mesmo estudo acrescenta que “seja qual for o cenário do século XXI, a altura do nível do mar em Macau vai aumentar”, sendo traçadas várias previsões. “Num cenário de emissões intermediárias, em meados do século XXI (2041-2060), a altura do nível do mar em Macau vai aumentar cerca de 0,31 metros em relação aos valores médios de 1995 a 2014, e no final do século XXI (2081 a 2100), está projectado um aumento de cerca de 0,64 metros”, pode ler-se. Assim, indica o relatório, “é previsível que a subida do nível do mar venha a agravar o impacto das marés astronómicas e do ‘storm surge’ em Macau”. O documento destaca o lado universal destas mudanças, pois “à medida que o aquecimento global no século XXI se intensifica e a frequência de fenómenos meteorológicos extremos aumenta significativamente em todo o mundo, Macau vai enfrentar também problemas relacionados com as alterações climáticas, tais como temperaturas elevadas, aumento da precipitação extrema e subida do nível do mar”. Almeida Ribeiro é exemplo Perante estas previsões, os SMG defendem que cabe à população e sociedade adoptar uma série de medidas com base nos quatro pilares que norteiam os “Alertas antecipados para todos”, da Organização das Nações Unidas. São eles a “consciencialização e conhecimento sobre catástrofes e riscos”, a “observação e previsão”, “a preparação e capacidade de resposta” e também a “divulgação e comunicação de informações”. Tudo para que se possa “elevar a capacidade de resposta a desastres meteorológicos e enfrentar conjuntamente os desafios globais, tais como as alterações climáticas e os desastres naturais”. Os SMG sugerem, ainda o reforço do “intercâmbio e a cooperação com os serviços públicos e entidades privadas e promover a generalização da educação meteorológica”. Para Mário Duque, é também importante que “a forma urbana esteja vocacionada para admitir e canalizar ar através do espaço urbano, isto ao nível em que os habitantes das cidades o usam, ou seja, o espaço público ao nível do solo”. O arquitecto destaca o bom exemplo do planeamento da Avenida de Almeida Ribeiro. “É óbvio que a tipologia e a configuração urbana da Avenida de Almeida Ribeiro, planeada muito antes de se falar de alterações climáticas, é a solução mais adequada a muitas, senão todas, estas contingências actuais”, refere, apontando uma crítica à construção da Ponte Cais 16, onde se situa um hotel e casino. Esse empreendimento “não devia ter obstruído a abertura da avenida ao estuário”. “Em casos de alta densidade urbana, o espaço de canal, nomeadamente as ruas, desimpedido e em direcção à periferia será sempre a configuração urbana mais favorável”, pois quando chove “as praças mais interiores funcionam como superfícies de exaustão do ar quente da cidade”. No caso do aumento das chuvas nos próximos anos, Mário Duque refere a possibilidade de cobertura de percursos e locais de correspondência de transportes, “para conforto dos habitantes da cidade”. Para o responsável, “o acréscimo de temperaturas urbanas será sempre equilibrado com a repercussão em acréscimo de pluviosidade, se suportado por uma forma urbana favorável”. Mas coloca-se o caso das inundações, que ocorrem com frequência em Macau e quase sempre originadas pelos tufões. Neste contexto, “o acréscimo de inundações por redução do estuário, a elevação dos níveis de maré e o aumento de pluviosidade afigura-se uma batalha perdida, porque os desenvolvimentos de todos os factores não se atenuam entre si, antes contribuem para a mesma intensificação”. Dados do relatório da Organização Meteorológica Mundial referidos pelos SMG apontam que o ano passado “foi o mais quente de que há registos”, pois a temperatura média global próxima da superfície terrestre foi 1,45º, superior à média do período anterior à Revolução Industrial, entre os anos de 1850 e 1900. Neste contexto, “as principais concentrações de gases de efeito de estufa na atmosfera”, como é o caso do dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, “continuaram a aumentar”. “Ao mesmo tempo, o aquecimento oceânico, a acidificação oceânica, a subida do nível do mar, o manto de gelo nos oceanos antárticos e os icebergues voltaram a bater recordes. O nível médio global do mar também atingiu um novo máximo histórico, na última década, desde 2014 a 2023, pois subiu mais do dobro em relação ao valor do nível médio entre 1993 e 2002”, pode ler-se. No caso concreto de Macau, e desde a criação dos SMG, em 1952, até ao ano passado, “o aumento da temperatura média anual de Macau foi de 0,10 graus Celsius em cada 10 anos”, sendo que 2019 foi o ano mais quente, com uma temperatura média de 23,6 graus celsius. O segundo ano mais quente foi 2021, com uma temperatura média de 23,5 graus. Média semelhante foi registada no ano passado, com 23,4 graus celsius.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJosé Drummond, curador de “Aqui e Agora” | Histórias de um “espaço intermédio” Que arte se faz em Macau 25 anos depois da transição? Que mensagens os artistas passam? A exposição “Aqui e Agora”, patente até 20 de Dezembro em Lisboa na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, dá algumas respostas. José Drummond, um dos curadores da mostra, considera que o Governo da RAEM devia mudar o foco das políticas culturais e prestar apoio ao desenvolvimento de galerias de arte Esta exposição celebra o aniversário da RAEM. Quais as grandes mensagens reveladas nesta mostra? Até à data, que se saiba, é o único evento que fala sobre o 25º aniversário da RAEM em Portugal, o que é estranho, ou não, mas que demonstra o modo como os sucessivos Governos portugueses foram olhando para Macau antes e depois da transferência. “Aqui e Agora” é um título que remete para o estado deste momento, 25 anos depois. Graficamente temos 25 bolas [prateadas, colocadas na imagem oficial da exposição], em que cada uma corresponde a um artista, sendo que há a questão de funcionarem como espelhos. Porquê estes elementos? Remetem, no fundo, para a própria vivência em Macau, pois as pessoas, da comunidade chinesa e portuguesa, acabam sempre por viver num espaço intermédio. Nesse espaço as comunidades, apesar de relativamente separadas uma da outra, as coisas continuam a acontecer e a influência mútua de ambas as comunidades é muito intensa. A exposição, e os trabalhos que seleccionámos, falam um pouco sobre esse espaço híbrido que Macau é muito naturalmente, seja em termos arquitectónicos, com os monumentos, começando logo pelas Ruínas de São Paulo, que é um ícone da presença portuguesa, mas que continua a ser o ponto máximo do turismo da RAEM. Estes trabalhos que mostramos aqui falam, portanto, sobre identidade, esse potencial encontro entre duas culturas que, não diria opostas, acabam por se completar em Macau e têm uma presença muito particular, contribuindo em termos artísticos. Acho completamente notório que os artistas de Macau são completamente diferentes dos de Hong Kong, Taiwan ou Interior da China, exactamente pela existência dessas duas culturas e reflectirem sobre esse espaço onde vivem. Fale-me um pouco dos artistas escolhidos para esta mostra. Trata-se de 25 artistas que nunca expuseram em Portugal com a AFA – Art for All, que não é a primeira vez que expõe em Lisboa. Metade destes artistas pertencem à chamada nova geração, e, numa boa descrição do que é Macau, temos artistas chineses, que já nasceram no território, mas depois temos referências muito interessantes de artistas de Macau que deixaram o território para viver noutros lugares, como é o caso do Season Lao, que vive há muito tempo no Japão, ou o caso contrário, da MJ Lee, sul-coreana que passou por Macau e acabou por se tornar numa artista de Macau. Também o caso do Felix Vong, que tendo nascido em Portugal decidiu vir viver para cá estudar na ESBAL [Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa], depois de viver em Macau. Temos também o Rui Rasquinho, que é português, mas que vive em Macau há muitos anos, e Alexandre Marreiros que é macaense. Esta é a realidade de Macau, a variedade, um lugar de permanência e impermanência também. Porquê tão poucos nomes portugueses, por exemplo? São os artistas com obras mais recentes. No caso de Alexandre Marreiros foi uma referência quase imediata, no caso do Rui [Rasquinho] também, que tem estado bastante activo com várias exposições em Macau. Como descreve o “Aqui e Agora” da área cultural, em Macau? No fundo queremos perceber o que mudou ou não, e será que mudaram assim tantas coisas, e acentuar esse marco temporal, a ideia de que “25 anos depois é isto”. A cultura em Macau mudou superficialmente, com mais casinos ou coisas que os casinos estão a fazer, porque ao nível simbólico a cultura de Macau permanece muito própria. Continuamos a ter os temas essenciais da cultura de Macau, como a identidade, a construção, o passado, o futuro, as questões urbanas, e essas questões já existiam há 25 anos, apesar da cidade estar fisicamente diferente. É isso que vemos também nestes trabalhos. Mas sinto que os trabalhos destes artistas são obviamente diferentes dos trabalhos de pessoas da minha geração, dos anos 90. Hoje há mais formação superior, também. Isso influenciou a nova geração na forma de fazer arte? As opções continuam a ser mais ou menos as mesmas para estudar, como Paris, Portugal, Taiwan, Cantão ou Pequim. Mas a maior parte destes artistas fizeram formação em Pequim ou Taiwan. As coisas acabaram por ser relativamente mais fáceis do que poderiam ser há 25 anos, no sentido de potenciar estes talentos e poderem ambicionar estudar. Há 25 anos talvez a sociedade de Macau não estivesse tão preparada para aceitar que um filho quisesse estudar artes como hoje. Claro que isso também é fruto de uma série de associações que foram criadas nos últimos 25 anos, não foi apenas a AFA, e que acabaram por dinamizar a cultura e as artes plásticas dentro do território. Havendo mais estruturas, também mais jovens querem seguir esse caminho, e nesse sentido Macau está diferente. Não sei se o papel do Governo não será também importante aqui. Em que sentido? Há 25 anos o Governo operava de outra forma. No período da administração portuguesa, o Museu de Arte de Macau apareceu no último ano da administração [1999], pelo que não é apenas uma coisa da sociedade e das associações, até porque estas são largamente apoiadas por entidades governamentais. Em 25 anos não surgiram mais mecenas nas artes, por exemplo, um verdadeiro sector cultural com um importante movimento de compradores? O Governo tem tentado. Não sou completamente crítico nesse sentido, mas penso que é um erro pensar que as artes são uma indústria cultural, porque não podem ser. O que se faz a seguir, com os livros ou as t-shirts, isso é que são produtos. O objecto artístico em si não, a sua tendência natural é serem objectos únicos. Penso que é esse entendimento que falta ao Governo, perceber que a arte não pode ser tratada como um sector como é a área do design, por exemplo. Mas há meios que são criados em Macau que, em Portugal, os artistas adorariam ter, nomeadamente ao nível dos apoios. Apesar de ter havido mais interesse por parte das operadoras de jogo, como a MGM que faz exposições, e que apresentou obras de Joana Vasconcelos, continua a faltar entre aquilo que é promovido nos casinos e pelo Governo, um modelo económico que possa apoiar galerias comerciais. Aí sim poderíamos falar de uma indústria. Que são muito importantes para mostrar os trabalhos artísticos. A arte, em qualquer lado do mundo, vive dessa confluência de energias na qual as galerias comerciais são absolutamente necessárias porque são elas que irão dar independência ao artista, no sentido que ele não precisa de ter outro trabalho para viver ou comprar materiais. As galerias comerciais tornam mais fácil a existência de um artista que não está dependente dos subsídios, passando a depender do contrato com a galeria e as suas vendas. Aqui é que o Governo deveria realizar um estudo de viabilidade de apoios a galerias comerciais, que não são, forçosamente, indústrias culturais. Qual a obra mais marcante desta nova geração que o público poderá ver? Podemos falar do trabalho de Kay Zhang, que no fundo fala sobre as mulheres dos pescadores de Macau, que, quando os barcos desapareciam, guardavam os restos dos barcos. É um trabalho com uma grande carga emocional, muito directa sobre uma profissão que praticamente desapareceu em Macau. Podemos também falar do trabalho do Felix Vong, contrário ao da Kay, com mensagens mais directas, mas que falam essencialmente da solidão, de um certo voyeurismo, o querer fazer parte de qualquer coisa, continuando solitário, mas estando atento aos barulhos dos vizinhos, por exemplo. Temos o trabalho do Rui Rasquinho, muito abstracto, mas com uma clara inspiração na pintura tradicional chinesa. Passamos depois para o trabalho do Season Lao, que vive no Japão. Se no Rui Rasquinho há uma energia de Macau, num traço mais nervoso, no Season, que também tem a ver com a pintura tradicional chinesa, ele apresenta fotografias imprimidas por si que cola sobre papel de parede. É um processo mais trabalhoso que exige uma calma maior do que os livros do Rui, sendo que partem também de uma certa inspiração da pintura tradicional chinesa, com as montanhas e a paisagem. No mesmo espaço apresenta-se ainda outra exposição, “Ensemble”, da qual também fez a curadoria. De que se trata? É uma mostra que já esteve patente em Paris e Roma. Foi uma questão de oportunidade de mostrar a exposição em Lisboa, apresentando-se três artistas que, em teoria e visualmente, poderão não ter nada a ver uns com os outros. Daí nasceu a ideia de “Ensemble”, em que cada instrumento tem um som diferente, mas que juntos criam uma composição musical. A ideia da exposição passa por aí também, pois temos, por exemplo, os trabalhos do Eric Fok, com grande detalhe, extremamente figurativos, com uma alusão à memória, carregados de humor também. Mais de duas décadas de arte “Aqui e Agora” é uma exposição colectiva com artistas contemporâneos de Macau co-organizada pela Art for All Society (AFA) e com a curadoria de José Drummond e James Chu. O foco acabou por recair nos artistas da nova geração, que estudaram fora, que regressaram ou que partiram, com destaque para dois nomes portugueses. É o caso de Catherine Cheong, Rui Rasquinho e Alexandre Marreiros, e outros mais jovens, como Angel Chan, Chiang Wai Lan, Felix Vong, Ieon Man Hin, Karen Yun, Kuok Hou Tang, Kun Wan Tou, Lai Sut Weng, Lei Chek On, Lei Hio Lam, Kit Lei, Leon Chi-Mou, Leong Chon, Leong Fei In, Leong Man Teng, MJ Lee, Season Lao, Sisi Wong, Wong Hio-Chit, Xixia Wu, Yao Mou In e Kay Zhang. Na exposição “Ensemble”, que pode ser vista também na UCCLA, contam-se trabalhos de James Chu, Eric Fok e Kit Lee.
Andreia Sofia Silva SociedadeRestauração | Negócios com queda anual de 13,3% em Julho Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o volume de negócios dos restaurantes em Julho aumentou 7,4 por cento em relação ao mês anterior, com destaque para “os estabelecimentos de comidas e lojas de sopas de fitas e canja e restaurantes chineses”, com aumentos de 7,8 e 7,3 por cento, respectivamente. Porém, em termos anuais, o sector da restauração teve um menor volume de negócios em 13,3 por cento, face a Julho de 2023. Segundo a DSEC, “o volume de negócios dos proprietários entrevistados de todos os tipos de restauração desceu em termos anuais, salientando-se que o volume de negócios dos restaurantes chineses, o dos restaurantes japoneses e coreanos, assim como o dos restaurantes ocidentais caíram 18,3, 17 e 14,2 por cento, respectivamente”. No que diz respeito ao comércio a retalho, a subida mensal foi menor, de 5,4 por cento, com o maior aumento a registar-se no sector automóvel, entre Julho e Junho, de 38,4 por cento. Em termos anuais, ou seja, face a Julho do ano passado, o sector do retalho registou uma quebra no volume de negócios de 26,4 por cento, com destaque para a quebra de 39,1 por cento na venda de relógios e jóias. Porém, em termos anuais, o volume de negócio do sector automóvel subiu 80,8 por cento.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCEM | Governo iniciou negociações para renovar concessão O Governo iniciou as negociações sobre o contrato de concessão com a Companhia de Electricidade de Macau (CEM), que termina a 31 de Dezembro deste ano. Segundo uma nota da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), é referido que se pretende que o novo contrato “possa satisfazer as necessidades de desenvolvimento a longo prazo de Macau”. Até à data foi proposto à CEM que reforce “as obrigações por si assumidas no novo contrato de concessão, nomeadamente a necessidade de cooperar com a implementação da dupla meta de carbono”, além de “ponderar a introdução de outras energias amigas do ambiente, quando seja necessário substituir as unidades geradoras a gás natural, entre outras”. Na mesma nota, a DSPA aponta que vai continuar a “acompanhar os trabalhos relativos à renovação do contrato de concessão”. Entretanto, Un Iok Meng, antigo membro da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), defende que o Governo deve avançar para a renovação, em tempo útil, tendo em conta que o novo Chefe do Executivo, e uma nova equipa governativa, tomarão posse no dia 20 de Dezembro, aquando do aniversário da RAEM. Segundo o Jornal do Cidadão, o responsável, que é funcionário sénior da CEM, alertou para o facto de o Executivo nada ter dito até à data sobre o assunto, lembrando que o desenvolvimento e investimento da CEM é um projecto a longo prazo, necessitando a empresa de garantias para investir.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaChefe do Executivo | Ron Lam não assinou apoio a Sam Hou Fai Ron Lam foi um dos 17 membros da comissão eleitoral, entre 400, que não apoiou a candidatura de Sam Hou Fai. O deputado explicou a posição com falta de concorrência na corrida a líder do Governo e pelo facto de a recolha de apoios ser feita antes de o programa político do candidato ser conhecido O deputado Ron Lam foi um dos 17 membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, num total 400, que não assinou a declaração de apoio à propositura de candidatura de Sam Hou Fai às eleições para Chefe do Executivo. Ao jornal Cheng Pou, o deputado disse esperar que existam mais candidatos em eleições futuras. Ron Lam recordou que foi um dos participantes na visita que Sam Hou Fai fez aos deputados, no dia 2 de Setembro, tendo exposto os assuntos que, na sua óptica, carecem de rápida resolução, como a melhoria do relacionamento entre a Assembleia Legislativa (AL) e o Governo, para que o sistema governativo possa estar mais de acordo com as opiniões da população. O deputado revelou ter recebido uma resposta positiva do candidato, que admitiu serem necessárias melhorias. Ron Lam lembrou que Sam Hou Fai entregou, no dia 10 de Setembro, o apoio escrito de 383 dos 400 membros que fazem parte da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, pelo que decidiu não assinar o apoio à propositura. No dia 2 de Setembro, o deputado prometeu a Sam Hou Fai, pensar de forma prudente sobre o assunto. Porém, confessou ter dúvidas sobre a concretização do modelo de candidatura apresentado por Sam Hou Fai, por considerar que o actual sistema não é razoável. Isto porque, quando o candidato recolhe apoios sem ser conhecido o seu programa político, nem sequer pelos membros da Comissão Eleitoral. Ron Lam disse ter recebido um pedido para assinar a propositura de outro candidato, mas o conteúdo também não o convenceu e, por isso, não assinou. Mudanças na rua Ron Lam sugeriu ontem mudanças no modelo de zona pedonal na Rua da Felicidade, tendo acompanhado comerciantes da zona numa reunião com o Instituto Cultural (IC). O projecto piloto em vigor prevê a circulação pedonal apenas entre as 11h e a 01h, mas Ron Lam entende que é um período demasiado longo. Segundo o deputado, os comerciantes defendem que, depois das 20h, já não existem muitas pessoas a circular no local. Os representantes do IC prometeram estudar as opiniões apresentadas. “A ideia inicial do projecto é boa, mas os limites aos transportes originaram menos visitantes na zona. Por isso, esperamos o regresso da circulação de veículos. Foi dito que será considerado, de forma prudente, as opiniões apresentadas. O IC prometeu responder dentro de uma semana”, disse Ron Lam. O deputado explicou ainda que as autoridades pretendem que a Rua da Felicidade seja uma grande zona pedonal, tendo sido proposta uma zona sem carros desde a entrada do Beco da Felicidade até ao restaurante Fat Siu Lau. Ficou ainda a promessa de que voltaria a circulação “em breve” entre a Travessa do Aterro Novo e a Travessa do Mastro. Do lado dos comerciantes que participaram na reunião ficou uma opinião positiva de Deland Leong, presidente do IC. “Não esperava que o IC pudesse analisar os planos imediatamente. É difícil a entrada dos transportes na zona e penso que o regresso da circulação automóvel nas duas travessas pode reduzir a pressão de trânsito, mas espero a plena recuperação do trânsito. A Wynn costuma organizar eventos às sextas-feiras, sábados e domingos, então o Governo pode pensar no regresso total da circulação de veículos nos dias comuns”, defendeu a responsável do Restaurante Sai Nam, de apelido Tong. O projeto piloto da zona pedonal numa das mais antigas ruas de Macau começou a 29 de Setembro do ano passado.
Andreia Sofia Silva EventosColoane | Festivais “Hush!” e “Bem-Estar Ioga” regressam em Novembro Nos dias 9 e 10 de Novembro regressam à praia de Hac-Sá o festival “Hush!”, que promete uma “maratona de música” com concertos gratuitos, e o “Festival do Bem-Estar Ioga”, com actividades ligadas à saúde e bem-estar, com entrada paga. O cartaz do “Hush!” deste ano tem cerca de 60 bandas e músicos Está de regresso mais uma edição do “Hush! Concertos na Praia”, que decorre nos dias 9 e 10 de Novembro na praia de Hac-Sá, em Coloane, e que mais uma vez se associa a outro evento, com entrada paga, que é o “Festival do Bem-Estar Ioga”. Tal como o nome indica, esta iniciativa paralela pretende trazer actividades ligadas ao bem-estar, com o foco na prática do Ioga e Fitness, sendo convidados professores e especialistas nesta área. Ambos os eventos são organizados pelo Instituto Cultural (IC) em parceria com o Instituto para os Assuntos Municipais, a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água e a Direcção dos Serviços de Turismo, além do apoio da MGM. Segundo um comunicado divulgado pelo IC, o festival, que assume ser um “Festival de Música, Bem-estar e Fitness à beira-mar” tem como lema “Abraçar o litoral sem fim”, prometendo apresentar “experiências de lazer com um programa diversificado de música, recreações e desportos marítimos e terrestres, iluminando a maior linha costeira de Macau”. Promete-se ainda “uma festa de música e desportos urbanos com uma maratona de música pop junto à costa e múltiplas zonas dedicadas ao desporto ao ar livre”, sendo que o evento é ainda complementado com o “Hush Kids! Ioga Paraíso para Pais e Filhos”, integrando-se música infantil e sessões de ioga. Haverá ainda o habitual espaço com tendas que apresentam diversos produtos artísticos e criativos, bem como uma zona de comida e bebida. Ioga e música a rodos Em palco estarão 60 bandas, músicos e demais artistas locais, bem como de outras regiões, como tem sido habitual no “Hush!”. O cartaz ainda não está fechado, mas entre os primeiros músicos anunciados, contam-se o guitarrista canadiano Jay Leonard J, que subirá ao palco com o músico local Jun Kung e o produtor de música electrónica japonês DJ KRUSH, que irá co-produzir uma festa de música electrónica juntamente com músicos de Macau. Destaque também para a banda NeonGarden, que se juntará a uma banda local para um concerto. Os NeonGarden são uma banda de rock formada recentemente na China, sendo conhecida pelos êxitos “Silent Beach”, “Answers for the Future” e “Goodbye Wilson”. São uma das bandas mais populares da China continental. Foi ainda convidada a cantora e compositora taiwanesa “9m88”, nascida na década de 1990 em Taipei. Desde a sua estreia em 2016, lançou três álbuns, um EP de jazz e vários singles a solo e em coro, numa variedade de estilos que abrangem R&B, Neo-Soul, Jazz, Hip-Hop e Pop. É uma das poucas artistas independentes que já trabalhou nos domínios do teatro, da apresentação de podcasts, da moda e das artes visuais. Ensinar a vida saudável Do lado do “Festival do Bem-Estar Ioga 2024” espera-se um palco inteiramente dedicado a estas actividades, bem como uma zona para a prática de ioga junto à praia e ainda uma “zona dinâmica”. Mais de 30 instrutores de Fitness e Ioga de toda a Ásia darão aulas e orientações de treino com diversas modalidades, onde se inclui também dança. A ideia é que “os participantes explorem as infinitas possibilidades do seu corpo, mente e alma”. Estão confirmadas as presenças de Coffee Lam, instrutora de Ioga de Hong Kong; Emi Wong, influencer desportiva; J-Lin, mestre de zumba de Taiwan; JYAN, instrutora de Ioga de Singapura e ainda Gun Gun, instrutor de dança oriundo da Tailândia. Os instrutores convidados vão conduzir “vários cursos de alto nível num palco instalado na praia”. O “Hush!” vai sair, porém, de Hac-Sá, a fim de chamar a atenção dos moradores de outras zonas da cidade. Nos dias 2 e 8 de Novembro, ou seja, antes do festival, irá decorrer na zona da Barra, junto à Doca D. Carlos I, concertos do “Cruzeiro Musical”, uma festa com música electrónica, workshops de Ioga ao ar livre e ainda outros workshops musicais. Inclui-se ainda uma sessão de intercâmbio no dia 11 de Novembro com a presença de vários convidados, tal como fundadores de festivais de música pop, músicos e críticos musicais de diferentes regiões. O cartaz não está ainda fechado e, segundo o IC, mais detalhes serão dados nas próximas semanas. Os bilhetes já estão à venda e custam entre 60 a 360 patacas, mas apenas para o “Festival do Bem-Estar Ioga”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAuditoria | Apontadas falhas em instalações pedonais para cegos O Comissariado da Auditoria encontrou falhas no planeamento de instalações pedonais sem barreiras para invisuais. Em causa estão “descrições genéricas” em 34 projectos e obras que foram falsamente dadas como concluídas em relatórios, alguns entregues ao Chefe do Executivo O Governo voltou a falhar no planeamento e gestão de projectos públicos. Desta vez na concretização de instalações pedonais sem barreiras para pessoas com deficiência visual, uma iniciativa que visava a construção, entre 2016 e 2025, de 34 projectos, dos quais muitos foram mal planeados e outros nem sequer concluídos. As conclusões são do relatório do Comissariado de Auditoria (CA) divulgado na terça-feira. Em 2013 foi criado o Grupo Interdepartamental de Estudo do Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio, sendo que, três anos depois, foi definido o “Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio (2016-2025)”. Nessa altura foi criado um novo organismo, o Grupo Director Interdepartamental do Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio, que tinha como objectivo “concretizar o planeamento e as metas estabelecidas”. O CA aponta assim, em comunicado, que durante a definição do planeamento dos serviços de reabilitação para os anos de 2016 a 2025, “o Grupo de Estudo não teve como guia os resultados globais pretendidos”, além de que não houve “uma coordenação eficaz dos trabalhos que envolveram os vários serviços públicos que integravam o Grupo”. Os projectos em causa “apenas continham descrições genéricas e não foi encontrada qualquer referência ao serviço público encarregue da coordenação e distribuição das tarefas constantes nos planos, nem a concretização dos trabalhos a realizar”. Não foi também possível apurar “o número exacto de obras e trabalhos normativos”. O CA descreve que se registou “incerteza sobre o prazo de conclusão, o conteúdo concreto dos trabalhos a executar e o volume de trabalhos a executar”. Assim, era “difícil supervisionar o andamento dos trabalhos e avaliar o cumprimento dos objectivos dos projectos”. Obras sem resultados Os cenários apontados pelo CA levam a autoridade a afirmar que as instalações pedonais sem barreiras pensadas para pessoas cegas poderiam nem atingir os objectivos propostos, ou seja, ajudar estas pessoas na circulação diária. “Mesmo que os serviços públicos tivessem executado os trabalhos de acordo com o projectado, as instalações podiam não surtir o efeito desejado em termos de eficácia na deslocação de pessoas com deficiência visual.” Assim, concluiu-se que “as instalações construídas no âmbito do Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio não tinham ligação por pavimento táctil de orientação, os locais públicos de maior frequência não tinham pavimento táctil de orientação e existiam zonas da cidade que não estavam ligadas através de pavimento táctil de orientação”. Outra falha apontada pelo CA prende-se com a inclusão de projectos na lista de “projectos executados e concluídos” nos relatórios de avaliação anual de 2019 e 2020 do Grupo Director que, na prática, não estavam terminados. “Bastava que os mesmos tivessem sido iniciados para que fossem considerados, no relatório, como estando ‘executados e concluídos”, descreve o CA. Além disso, “alguns serviços públicos consideravam que os objectivos do projecto estavam cumpridos a partir do momento em que os trabalhos tivessem sido iniciados e o Grupo Director aceitava tal asserção, ainda que os trabalhos não tivessem sido efectivamente concluídos”. Houve, em termos gerais, “deficiências de planeamento, fiscalização ineficaz e deficiências na forma como eram declarados nos relatórios de avaliação entregues ao Chefe do Executivo aquando da conclusão dos projectos com um horizonte temporal de curto prazo (2017) e de médio prazo (2020)”. Estes documentos “apresentavam uma taxa de conclusão de trabalhos de 100 por cento, mas tal não foi a realidade, pois nem todas as instalações previstas no Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo de Decénio foram concluídas devidamente”. As melhoras O Governo reagiu ao relatório do Comissariado de Auditoria sobre as falhas de planeamento na construção de instalações pedonais sem barreiras para cegos. Segundo um comunicado do Instituto de Acção Social, fica prometido que o Grupo Director Interdepartamental do Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio irá “tomar medidas para melhorar os trabalhos, de maneira a poder fazer o melhor para apoiar a participação das pessoas portadoras de deficiência nas actividades comunitárias e ainda para elevar a qualidade de vida das mesmas”. Serão feitas negociações com “diversos departamentos” a fim de “optimizar a fiscalização relativa ao andamento dos diversos projectos”. O Governo diz ainda prestar “muita atenção aos serviços destinados às pessoas com deficiência”.
Andreia Sofia Silva EventosFestival do Meio Outono | Festa na Doca dos Pescadores e no Albergue A Associação dos Amigos da Cultura de Macau preparou para hoje uma dupla celebração do Festival do Meio Outono. Realiza-se, assim, uma festa na Doca dos Pescadores, no Harbourview Hotel, e também a inauguração da já tradicional exposição de lanternas de coelhinhos no Albergue SCM Em jeito de celebração do Festival do Meio Outono, a Associação dos Amigos da Cultura de Macau resolveu, este ano, apostar numa dupla comemoração. Assim, além da habitual exposição das lanternas dos coelhinhos, que decorre hoje no Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM), há também uma festa no “Castelo de Nam Wan Mun”. As celebrações desta tradicional festividade chinesa começam no Albergue SCM a partir das 18h30, com a inauguração da Exposição de Lanternas de Coelhinhos – Manjerona e Amigos – Parte 19|Celebração do 75.º Aniversário da Fundação da República Popular da China e do 25.º Aniversário da Reunificação de Macau”. Segundo um comunicado, nesta mostra irão apresentar-se ao público cerca de 20 lanternas de coelhinhos decoradas consoante o estilo de cada artista convidado a participar. A exposição será, assim, “uma mistura fascinante de cultura e criatividade de artistas de todo o mundo”, sendo que, para celebrar o Festival do Meio Outono, “os artistas juntaram-se para criar interpretações artísticas únicas de lanternas de coelho”. Além da mostra, o público poderá ficar no pátio do Albergue SCM, rodeado de alguma natureza, desfrutando da música ambiente e comida e bebida, com entrada totalmente gratuita. A ideia é “desfrutar do ambiente encantador do Albergue SCM enquanto o público se delicia com o brilho da lua cheia”. Festa na doca Apresentadas as lanternas, a festa prossegue na Doca dos Pescadores, nomeadamente no Nam Van Harbourview Hotel, entre as 18h30 e as 21h. A noite será pautada por uma “série de actividades interessantes”, podendo o público saborear “uma variedade de petiscos tradicionais” habitualmente servidos nas celebrações desta festividade. Irão também realizar-se espectáculos de música ao vivo, além de que “membros da Associação de Mulheres Calígrafas, Pintoras e Escultoras de Macau também estarão presentes para mostrar os seus talentos”. Apresenta-se também a “Exposição de Caligrafia do Meio Outono”, com trabalhos de artistas desta associação. Os participantes da festa irão receber lanternas de tinta. A ideia é que estes possam “explorar a cultura tradicional chinesa e experimentar a caligrafia chinesa durante a festa”. A associação CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau foi fundada em 1985 por Carlos Marreiros, Mio Pang Fei, Kwok Woon, Un Chi Iam, Ung Vai Meng e Victor Marreiros. Composto por um grupo de artistas e académicos, o CAC tem-se dedicado à promoção da cultura, arte, património, arquitectura, literatura e outras actividades culturais de Macau, bem como à apresentação dos talentos de Macau. Segundo a mesma nota, o CAC “é reconhecido como um pioneiro na cena artística de Macau”, expondo obras de artistas de todo o mundo e organizado diversos seminários e visitas de estudos, sempre com o objectivo de “contribuir para a RAEM”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriminalidade | Burlas com trocas ilegais de dinheiro dominam No primeiro semestre, os crimes de burla associados a trocas ilegais de dinheiro dominaram a criminalidade no território. Dados ontem divulgados mostram um aumento de 267 casos face a igual período do ano passado, num tipo de crime controlado por não residentes. Mais de dois mil burlões ligados à troca de dinheiro foram interceptados pelas autoridades A criminalidade associada ao jogo registou um “certo aumento” em relação a igual período do ano passado, destacam as autoridades no relatório sobre o balanço da criminalidade no primeiro semestre do ano, ontem divulgado. E neste cenário, destacam-se os casos de burla associados a troca ilegal de dinheiro. Dentro do rol de crimes ligados ao jogo, surge o crime de burla com 159 casos registados nos primeiros seis meses do ano, representando 23,3 por cento da criminalidade, seguindo-se 22 casos de usura, vulgo agiotagem. Relativamente aos “burlões de troca de dinheiro” contabilizaram-se 351 casos, um aumento de 267 casos em relação ao primeiro semestre de 2023 e de 262 face a igual período de 2019, antes da pandemia. O documento explica que, por norma, estes burlões apresentam “falsos comprovativos de transacção bancária, alegando que houve atrasos na remessa ou que o montante de transacção da vítima é suspeito de ser fruto de crime, levando esta a crer que a sua conta bancária do Interior da China foi congelada”. Os burlões costumam ter bastante dinheiro vivo consigo para efectuar a troca, “sendo vulneráveis a actos de furto, roubo, ofensas à integridade física e, até, homicídio, perturbando o ambiente de segurança dos casinos e das zonas periféricas”. As autoridades explicam o aumento do número de crimes ligados ao jogo com o “aumento substancial do número de turistas e com a recuperação da indústria do jogo”. Porém, as autoridades entendem não haver motivo para alarme. “Devido aos esforços de prevenção e combate da polícia, especialmente as acções de combate às actividades ilegais de troca de dinheiro nos casinos e seus arredores, a segurança é salvaguardada eficazmente e o número de crimes relacionados com o jogo, no primeiro semestre deste ano, ainda foi significativamente inferior ao do mesmo período de 2019, antes da epidemia.” Casa cheia No primeiro semestre deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) interceptaram 2.215 burlões deste tipo, tendo sido repatriados ou impedidos de entrar no território 2.072 não residentes envolvidos nestes crimes. No total da criminalidade associada ao jogo, foram identificados 123 residentes e 639 cidadãos do interior da China, bem como 44 residentes de Hong Kong, apenas quatro de Taiwan e 16 pessoas de nacionalidades estrangeiras, o que demostra que “a proporção de residentes face a não residentes é de cerca de 1 por 5,7”. Também nas vítimas existe um domínio de não residentes, registando-se apenas, em seis meses, 71 residentes face a 420 cidadãos do interior da China. Destaque ainda para o combate ao jogo ilegal online, pois, segundo o gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, “os websites de jogo ilegal fazem-se passar, muitas vezes, pelos portais das operadoras de jogo de Macau”. Com a ajuda de um mecanismo de comunicação interdepartamental foram bloqueados, no primeiro semestre, mais de 36.000 websites de jogo ilegal. Outros processos Nos primeiros seis meses do ano, as autoridades policiais instauraram 7.160 inquéritos criminais, mais 912 casos, numa subida de 14,6 por cento face a igual período de 2023. Em relação a 2019, contudo, o aumento foi de apenas 3,5 por cento. Só na Polícia Judiciária registaram-se 683 inquéritos criminais, um aumento de 261 processos em comparação com o período homólogo de 2023, representando uma subida de 61,8 por cento. Dominam, com 4.418 casos, os crimes contra o património, mais 17,8 por cento em relação aos primeiros seis meses de 2023, onde se incluem todos os casos de burla, com e sem ligação ao jogo, num total de 1.394 ocorrências; bem como furto, roubo, usura ou extorsão. Dentro dos casos de burla não associada ao jogo, registaram-se 188 casos de burla telefónica, mais 29 casos face a 2023 e mais 152 face a 2019. Cerca de 80 por cento dos burlões fizeram-se passar por funcionários de serviços públicos. Registaram-se ainda 408 casos de burla online, sendo mais frequentes os casos de aliciação para investimento, venda de bilhetes para espectáculos e compras online. Foram ainda detidos, e presentes ao Ministério Público (MP), 2.743 indivíduos, o que reflecte um aumento de 787 indivíduos, mais 40,2 por cento comparando com o mesmo período do ano 2023. Ainda assim, face a 2019, houve menos 525 pessoas apresentadas ao MP, menos 16,1 por cento. Mais violações No que diz respeito à criminalidade geral, ficam em segundo lugar os crimes contra pessoas, com 1.191 casos, destacando-se os 546 crimes de ofensa simples à integridade física e 34 casos de violação. Neste ponto, as autoridades alertam para um “aumento em comparação com os períodos homólogos de 2023 e 2019”. “Mais de 60 por cento das vítimas não eram residentes de Macau, sendo que os crimes ocorreram em quartos de hotel, não sendo de afastar a hipótese de que alguns dos casos tenham ocorrido num contexto de relações sexuais consentidas”, aponta o relatório. No caso de violações envolvendo residentes, as autoridades pensam que “alguns casos tiveram lugar após o consumo de bebidas alcoólicas em bares, sendo que, noutros casos, vítimas e suspeitos conheciam-se”. No primeiro semestre, foram ainda registados 13 crimes de abuso sexual de crianças, uma redução de 27,8 por cento em relação a 2023, “mas, ainda assim, mais do que em 2019, situação que deve merecer a atenção da sociedade”, pode ler-se.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstudo | Apontadas falhas históricas no acesso de macaenses ao ensino Em “Lingu Maquista – O Patoá, ou Língua de Macau”, Manuel Fernandes Rodrigues, da Universidade de York, expõe falhas históricas da administração portuguesa de Macau a partir do século XVIII que levaram ao afastamento parcial dos macaenses do ensino e, consequentemente, a redução da difusão do patuá “Lingu Maquista – O Patoá, ou Língua de Macau” é o mais recente estudo de Manuel Fernandes Rodrigues, macaense e académico ligado à Universidade de York, que acaba de ser publicado na “Daxyangguo – Revista Portuguesa de Estudos Asiáticos”, edição do Instituto do Oriente da Universidade de Lisboa. O artigo expõe falhas, que podem ser imputadas ao período da administração portuguesa de Macau a partir de meados do século XVIII, nomeadamente no que diz respeito ao afastamento dos macaenses do sistema de ensino, o que acabou por levar à redução gradual do seu crioulo, o patuá, que hoje está praticamente em vias de extinção. Nas conclusões do estudo, o autor aponta que “a língua materna macaense era ensinada nas escolas pelos frades a par do português e do latim”. Além disso, o patuá “era língua de comunicação, do comércio dos macaenses, chineses, asiáticos e escravos africanos e de raiz ásio-portuguesa até meados do século XX”. Numa altura em que as ordens religiosas dos jesuítas dominavam o sistema de ensino, Manuel Fernandes Rodrigues conclui que “com a [sua] expulsão, os governantes portugueses privaram os macaenses de instrução e ensino escolar, do primário ao universitário, a partir de 1762, ou seja, por mais de um século”. Não que os macaenses tenham ficado de braços cruzados. O estudo mostra que sempre tentaram recuperar o anterior sistema de ensino, com “insistentes pedidos de instrução e ensino escolar ao Governador, Vice-rei e Governo Central do Reino [que] nunca foram cabalmente satisfeitos nem explicadas as recusas”. Tendo em conta esses pedidos, só em 1862 se criou “A Nova Escola Macaense” pelo então Governador de Macau, o Visconde de Cercal, criada para “assegurar a instrução dos macaenses”, mas “a solução governativa, já por si tardia, não preenchia as mais básicas necessidades de instrução requerida pelos macaenses”. Depois, em 1870, foi ainda feita uma petição assinada por 300 macaenses dirigida a Sérgio de Sousa, à época Governador, “para a manutenção dos professores jesuítas no seminário [de S. José], que não foi atendida pelo Governo central do reino”, ou seja, em Portugal. Só depois seria criada a Escola Comercial Pedro Nolasco e a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses. Desta forma, a proibição do ensino à comunidade, bem como “a ausência de políticas sociais e económicas da administração portuguesa causou o total descalabro e muito contribuiu para o declínio comercial da cidade que foi grandemente acelerado pela perda dos seus mais enérgicos e melhores intelectuais, professores, administradores, embaixadores e gestores”, resultando “na perda de investimento, confiança e relacionamento comercial com as regiões vizinhas”. Segundo Manuel Fernandes Rodrigues, “as políticas económicas, de instrução e de ensino impostas pelo Governo português desnacionalizaram os macaenses, forçando-os a emigrar para procurar meios de subsistência para conseguirem sobreviver”. Apesar disso, “os macaenses souberam ultrapassar as intenções e negligências das políticas de instrução e ensino das autoridades portuguesas, mantendo-se fiéis à sua nacionalidade”, descreve. Em termos gerais, “durante 450 anos a instrução dos macaenses passou por grandes crises causadas, inicialmente, pela expulsão das Ordens Religiosas do Reino pelo Marquês de Pombal, em 1759”, e depois com o decreto-lei do tempo do Estado Novo, em 1939, que decreta o português como língua veícular no território e, consequentemente, nas escolas. “Esta crise duradora afectou, não só, a qualidade do ensino em geral como ostracizou a ‘Lingu Maquista’ em particular, tornando-a actualmente em uma língua com pouca expressão na população macaense em geral, apesar dos esforços de a reviver nas peças teatrais e na música religiosa e laica”, aponta o autor. Aparecimento da Escola Comercial Tendo em conta as dificuldades de acesso dos macaenses ao ensino, muitos deles tinham aulas em casa, sendo que “a instrução dos macaenses no ensino doméstico e particular manteve o patoá como língua vernacular das famílias macaenses até das mais distintas”. Só em 1878 se colmatou essa “privação de ensino” para os membros da comunidade, ou seja, 116 anos depois da expulsão dos religiosos e consequente fecho das escolas. Essa foi a data do estabelecimento da Escola Comercial “Pedro Nolasco”, criada pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), fundada anteriormente em 1871. Manuel Fernandes Rodrigues destaca que a escola era financiada pelos macaenses, porém, aos seus estudantes “estava vedado o acesso às universidades portuguesas”, uma interdição que apenas chegou ao fim em 1952. “Esta interdição de mais de 74 anos cortou o acesso da grande maioria dos estudantes macaenses ao ensino universitário em Portugal”. Referem-se ainda desigualdades no acesso aos cargos públicos no período da Administração portuguesa. “Os macaenses eram considerados bem qualificados para os empregos nas repartições dos respectivos governos estrangeiros em Hong Kong e Shanghai, mas estava-lhe vedado o acesso aos empregos do funcionalismo público e militar pelos governantes portugueses em Macau”. Criados “cargos simbólicos” Chegados aos anos 80 e à preparação para a transferência da administração portuguesa de Macau para a China, a 20 de Dezembro de 1999, não se colmataram as lacunas existentes desde tempos antigos no acesso ao ensino e empregos no Governo por parte da comunidade. Pelo contrário: para Manuel Fernandes Rodrigues, com o programa de “Localização dos Quadros” na Função Pública, criaram-se apenas “alguns lugares simbólicos [para macaenses] na Administração portuguesa, quando a decisão da transferência de soberania para a China já estava tomada”. Quais as consequências de vários anos de afastamento dos macaenses dos principais sistemas de ensino e do acesso ao ensino superior português? Na visão do autor do estudo, o maior impacto deu-se no desaparecimento progressivo do patuá. “O patoá, embora uma língua vernacular de fácil aprendizagem, não conseguiu resistir à falta de instrução escolar e de empregos”, sendo que, no contexto da emigração da comunidade macaense, “a política de instrução e de emprego seguidas em Hong Kong e nas concessões europeias de Shanghai permitiu a empregabilidade dos macaenses, levando à substituição do português pelo inglês”. Em termos gerais, Manuel Fernandes Rodrigues entende “a ausência de uma política para a Instrução e Ensino, Gestão e Política Económica dos governantes portugueses levou ao desaparecimento dos melhores administradores, gestores e professores”, bem como “ao declínio económico e a aniquilação da ‘língu maquista'”, ou língua macaense, em patuá. Quais as origens? O patuá começou a ser falado em Macau a partir de 1553, ainda antes do estabelecimento oficial dos portugueses no território (1557), tornando-se “na linguagem vernacular até meados do século XX”. Com a entrada em vigor de um decreto-lei a 3 de Setembro de 1939, já no Estado Novo, passou a ser obrigatório usar-se o português em Macau, sendo que “o patoá passou a ser escrito como patuá, mais em linha com a ortografia portuguesa”. Até então, as famílias mais antigas referiam-se à sua língua como patoá derivado do termo “patois”, ligado ao francês. Na relação dos macaenses com a aprendizagem, o estudo denota que “a sociedade macaense sempre entendeu a Instrução e Ensino como alicerce do desenvolvimento humano e económico”, sendo que uma das primeiras escolas católicas onde se ensinavam macaenses data de 1572, nomeadamente a “Escola de Ler e Escrever” fundada pelos padres Paulistas, nome dado pela comunidade macaense aos jesuítas. A escola destinava-se “a meninos e meninas da população lusitana, bem como aos próprios adultos de ambos os sexos”. O Colégio de São Paulo, anexo à Igreja de São Paulo ou de Madre de Deus, foi a primeira universidade do território, fundada em 1594. Eram ministrados “cursos superiores com o grau académico de Mestre em Artes, como nas universidades estrangeiras”. Em 1758, seria fundado o Seminário de S. José “que se tornou no centro, por excelência, da Instrução e Ensino dos macaenses”, onde grande parte dos docentes eram jesuítas.