Guan Daosheng (1262-1319), a pintora e poeta da dinastia Yuan, esposa do não menos célebre pintor Zhao Mengfu (1254-1322), chegou a fazer pinturas murais em paredes de templos budistas porém não seriam essas figuras desenhadas em fortes pedras que resistiriam à passagem do tempo mas aquelas que fez sobre frágeis folhas de papel ou seda que, enrolados e atados com uma fita de cetim foram passados de mão em mão.
E com uma mão, desenrolados, frequentemente no formato intímo como um segredo designado shoujuan, o «rolo horizontal», em que uma pintura ou uma caligrafia se destina ao olhar de um único observador. Dessa maneira subtil contribuiu para a criação e fiel transmisão da preciosa cultura literária e visual acarinhada durante séculos pelo uso do pincel.
A sua mais comentada pintura «Floresta de bambus entre chuva e nevoeiro» (rolo horizontal, tinta sobre papel, 23,1 x 113,7 cm, no Museu do Palácio Nacional, em Taipé) em que se vê um bosque de bambus na margem de um rio, devido a uma alusão à lenda das fiéis viúvas do lendário rei-sábio Shun que se afogaram no rio Xiang, depois de ele aí ter morrido, manchando os bambus das margens com as suas lágrimas de sangue, viria a ser entendida como uma figuração de uma outra fidelidade, a do amor conjugal.
E no modo único como pintava grupos de bambus inseridos na paisagem, um tema recorrente nas suas obras, houve quem reparasse na análoga motivação que pareciam ter os de um singular pintor chamado Tan Zhirui (c. de 1275- activo entre o fim do século XIII, início do XIV), não inscrito em registos tradicionais de pintores mas que no Japão seria percebido como um mestre genuíno da centenária arte do pincel.
Esse reconhecimento seria atestado através das palavras inscritas nas suas pinturas pelo prestigiado mestre do budismo Chan, conhecido pelo seu nome monástico Yishan Yining (1247-1317) que pode ser traduzido como «De preferência, uma montanha».
Tan Zhirui é o autor de uma invulgar pequena pintura que mostra Bambus na neve (tinta sobre papel, 31,5 x 20,6 cm, no Smithonian) em que Yishan Yining escreveu o poema:
«Na neve gelada, escassamente espalhados,
Uma míriade de jades verticais e compactos.
Durante todo o período do Inverno,
O bosque denso brilha, cintilante.»
Ao contrário da clássica representação de bambus isolados crescendo agarrados a rochas, uma fórmula que se refere à recta personalidade do junzi, o «homem justo», aqui os bambus referir-se-ão à anelada vida em comum em mosteiros.
Guan Daosheng evocaria os seus próprios filhos ao escrever, junto de uma sua pintura: «No dia em que foste embora, bambus tinham acabado de ser plantados,/ Os bambus crescendo tornaram-se num bosque, tu ainda não voltaste./ A minha face de jade desvanecendo dificilmente poderá ser restaurada,/ Ao contrário das flores que caem para de novo florescer.»