Grande Plano MancheteCrime | Governo não divulga dados sobre suicídios e tentativas Andreia Sofia Silva - 15 Dez 2025 Depois de os Serviços de Saúde, também a tutela da Segurança deixou de divulgar os dados de suicídio e tentativas, ao fim de dez anos de publicação. A ausência foi notada na divulgação dos dados da criminalidade relativos aos meses de Janeiro a Setembro deste ano, que mostram o aumento de abusos sexuais de menores para quase o dobro O Governo deixou de divulgar os dados sobre os casos de suicídio ocorridos em Macau, assim como as tentativas. A ausência destes números foi notada pelo jornal Cheng Pou aquando da divulgação na sexta-feira dos dados da criminalidade entre os meses de Janeiro e Setembro deste ano. A publicação questiona mesmo se “os dados sobre o suicídio se tornaram ‘no segredo que não se pode dizer’ das autoridades, empenhadas em construir uma Macau feliz”, lembrando ainda que estes dados começaram a ser divulgados em 2015. Destaque para o facto de os Serviços de Saúde também terem deixado de divulgar a estatística, algo que era feito a cada três meses. No caso da secretaria para a Segurança, os dados eram mensais e era feita a discriminação por sexo, grupo etária e métodos utilizados. A ausência de números surge depois de Macau ter batido os recordes em termos de casos de suicídio em 2024, registando 90 mortes, mais 2,27 por cento em relação aos casos de 2023. Face a 2022, o aumento foi de 12,5 por cento. Dos 90 casos, 48 diziam respeito a vítimas do sexo masculino e 42 feminino, com idades compreendidas entre 12 e 76 anos. Os dados mais recentes, relativos ao primeiro semestre deste ano, revelam 41 mortes por suicídio e 101 tentativas. Na divulgação das estatísticas de crime, na sexta-feira, surge apenas um caso de morte por suicídio em relação a um episódio de homicídio entre irmãos, ocorrido em Agosto deste ano, na zona norte. Aqui, o irmão mais velho terá saltado da varanda, sendo suspeito de ter morto o irmão mais novo devido a disputas financeiras. Quebra no crime Olhando para o panorama da criminalidade em termos gerais, regista-se uma queda de 7,1 por cento nos meses em análise, em comparação com o mesmo período do ano passado. As autoridades do território sublinharam a queda acentuada dos delitos informáticos. O secretário para a Segurança, Chan Tsz King, disse que a quebra se deve à “tendência de diminuição” dos “crimes que despertam mais atenção da sociedade”, incluindo criminalidade violenta grave, furto, roubo, burla e crimes informáticos. Nos primeiros nove meses do ano, foram contabilizados 187 crimes violentos, o que traduz uma queda de 11 por cento face ao período homólogo de 2024 (210). Já os furtos, roubos, burlas caíram 7,7, 5,9 e 23,6 por cento, respectivamente. A criminalidade informática, que contou nos nove primeiros meses de 2024 com 770 casos, apresentou no período em análise uma descida de 52,1 por cento, com 369 casos. A descida nos casos das burlas com recurso às telecomunicações, burlas cibernéticas e burlas informática, referiu Chan Tsz King, “reflecte a eficácia dos trabalhos de prevenção e combate desenvolvidos pela polícia, e o aumento significativo da consciência do público sobre a prevenção de burla”, disse. O Governo sinalizou também que a criminalidade relacionada com jogo ilícito disparou entre Janeiro e Setembro deste ano 985 por cento, com mais 394 casos em relação ao mesmo período de 2024. A subida deve-se à entrada em vigor, em Outubro do ano passado, da lei de combate aos crimes de jogo ilícito, que introduziu “o novo crime de ‘exploração de câmbio ilícito para jogo’ e alargou o âmbito de cobertura de alguns crimes conexos com o jogo ilícito”. Pela mesma razão, disse o secretário, dispararam nos três primeiros trimestres de 2025 os crimes relacionados com o jogo – 1.737 casos, mais 70,1 por cento do que no período homólogo. No passado, referiu o responsável, burlas cometidas por pessoas que trocam ilegalmente dinheiro fora dos casinos “não podiam ser identificadas como relacionadas com o jogo”. “No entanto, com a criminalização da ‘troca ilegal de dinheiro’ e o aperfeiçoamento das disposições legais”, estes casos “são agora incluídos nas estatísticas de crimes de jogo, aumentando assim o número de crimes”, indicou. Mais abusos de menores Chan Tsz King, que entrou em funções em Outubro e apresentou na sexta-feira pela primeira vez o balanço da criminalidade, referiu ainda uma subida de 6,1 por cento dos crimes contra a pessoa, com o abuso sexual de crianças a aumentar 86,7 por cento, de 15 casos nos primeiros nove meses de 2024 para 28 casos no mesmo período deste ano. O secretário explicou que se tratam, essencialmente, de “actos sexuais voluntários entre pessoas da mesma idade”, ocorrendo ainda a “transmissão de fotografias e imagens pornográficas”, sem esquecer casos de “importunações sexuais de gravidade menor”. Foram ainda “identificados casos que envolveram pessoas com relações familiares, o que merece a atenção da sociedade”, referiu Chan Tsz King, que divulgou os dados das acções de sensibilização para este problema: mais de 70 actividades realizadas pela polícia, que contaram com a participação de mais de 12.000 pessoas, incluindo alunos, encarregados de educação e pessoal docente. O tráfico e venda de drogas e o consumo de estupefacientes registaram, por sua vez, um aumento de 37,1 por cento, com mais 13 casos, e 72,7 por cento, mais oito casos, respectivamente. Segundo a apresentação do secretário, os 48 casos registados nos três trimestres e o respectivo aumento deve-se “à descoberta de vários casos de tráfico transfronteiriço de droga através do reforço da cooperação policial interna e externa”, destacando-se um caso ocorrido em Setembro, quando foram apreendidos 31 quilos de flor de canábis no valor de 31,77 milhões de patacas. Chan Tsz King referiu que este foi “o maior caso de contrabando de canábis apreendido na história de Macau”. Entre paredes No caso do crime de violação, assistiu-se a um recuo do número crimes de violação, para um total de 24 casos, menos 40 por cento do que no mesmo período do ano anterior. O secretário para a Segurança adiantou que “mais de 70 por cento das vítimas não eram residentes de Macau”, sendo que “a maioria destes crimes ocorreu em quartos de hotel”, enquanto “uma parte destes envolveram conflitos pecuniários entre as vítimas e os suspeitos, não sendo de afastar a hipótese de que alguns dos casos tenham ocorrido num contexto de transacção sexual”. Neste contexto, o secretário esclareceu que as autoridades policiais têm estado “em comunicação estreita com o sector hoteleiro”, tendo sido reforçados “os dispositivos policiais e inspecções nas zonas periféricas de hotéis e casinos”. Entre Janeiro e Setembro foram realizadas mais de 160 acções policiais de combate à prostituição, tendo sido interceptadas 192 pessoas suspeitas da prática de actividade de prostituição. Além disso, no período em causa foram resolvidos 17 casos da prática dos crimes de lenocínio ou de exploração de prostituição, com a detenção de 26 suspeitos. Silêncio de sempre Questionado pela Lusa durante a conferência de imprensa sobre o primeiro caso a ser investigado em Macau no âmbito da segurança nacional, o secretário não fez comentários. “O caso (…) está a ser tratado pelas entidades judiciais e, devido ao sigilo, não seria adequado ao secretário da Segurança comentar”, completou Chan Tsz King, que era Procurador do Ministério Público quando o ex-deputado Au Kam San foi detido. A polícia do território anunciou, no final de Julho, a detenção de Au Kam San, a primeira ao abrigo da lei de defesa da segurança do Estado, que entrou em vigor em 2009, tendo o âmbito sido alargado 14 anos depois. Ainda não é conhecida a acusação e não há informações sobre quem vai defender o ex-deputado. Com Lusa