EventosCasa de Vidro | Bruno Gaspar apresenta “Macau, um Encontro de Culturas” Andreia Sofia Silva - 10 Dez 2025 Um “encontro de culturas”, ou da arte com a literatura portuguesa, é o que Bruno Gaspar, artista português, apresenta até ao final do mês na Casa de Vidro do Tap Seac. “Macau, um Encontro de Culturas” é um projecto acolhido pela Casa de Portugal em Macau que revela pinturas sobre escritores portugueses A literatura portuguesa é pródiga em grandes obras e escritores e muitos deles passaram por Macau ou tiveram uma ligação muito forte com o território. Foi a pensar nessa dimensão literária que o artista português Bruno Gaspar desenvolveu um projecto, a convite da Casa de Portugal em Macau (CPM), que contou com o apoio da Fundação Macau. “Macau, um Encontro de Culturas” traz pinturas sobre escritores portugueses à Casa de Vidro do Tap Seac, uma mostra que pode ser visitada, de forma gratuita, até ao final do mês. Ao HM, Bruno Gaspar confessou que retratar os autores das maiores obras em língua portuguesa não é um tema novo no seu trabalho. “Há muitos anos que uso a literatura como ponto de partida para criar. Curiosamente, trouxe também desenhos que tinha feito em Macau, quando vivi cá entre 2016 e 2018, sobre a ‘Clepsidra’ de Camilo Pessanha, mas que acabaram por não ser expostos nesta exposição.” Na Casa de Vidro, podem ver-se trabalhos mais recentes, “que têm a ver com uma série inspirada na literatura lusófona”. “Alguns desses trabalhos retratam escritores que depois são envolvidos pelo ritmo das suas palavras, pintadas por mim”, descreveu. Depois, há outra série de trabalhos “que é o seguimento desses retratos”, onde Bruno Gaspar diz ter “mergulhado na linguagem pictórica tendencialmente abstracta”, dando “primazia ao instinto artístico, como se o pincel fosse seduzido pela beleza de cada poema”. O público pode, portanto, ver imagens de Camilo Pessanha ou do macaense Henrique de Senna Fernandes, numa selecção de nomes “bastante pessoal”. “Era importante que sentisse algo por cada escritor. Em relação a Macau, fiz questão de investigar a obra de cada um deles para depois transportá-los para o papel.” Entre Herberto e Pessanha Bruno Gaspar confessa que o autor que mais gostou de retratar foi Camilo Pessanha, expoente máximo do simbolismo português, e que morreu em Macau em 1926, depois de muitos anos a trabalhar como jurista e docente. Essa primazia deve-se “ao facto de ser a primeira pintura” de uma das séries. “Como as obras estão encadeadas, não posso deixar de referir o retrato de Deolinda da Conceição, pela vibração das cores, e de Henrique Senna Fernandes, pelo sorriso bondoso que consegui registar.” Na qualidade de leitor ou admirador, Bruno Gaspar também destaca Camilo Pessanha e o poeta Herberto Hélder. “Em cada poema surgem múltiplos caminhos para criar. A carga simbólica de ambos é perfeita para divagar com as cores e até mesmo em escultura. Criei várias esculturas sobre alguns poemas de Camilo Pessanha, mas não vieram até Macau pelo facto de a logística ser mais complicada para as transportar.” Bruno Gaspar confessa ter gostado “bastante de contactar com a comunidade portuguesa de Macau”, tendo encontrado “pessoas muito interessadas” no seu trabalho. “A exposição tem sido bem acolhida”, refere, destacando o trabalho que se vai fazendo na promoção da literatura portuguesa no território. “Nunca devemos achar que está tudo feito. Pelo que percebi, há gente muito empenhada na divulgação da literatura portuguesa. No meu caso, orientei dois workshops na CPM e a sala estava cheia de participantes muito interessados. Também tenho visitas guiadas à exposição, agendadas por escolas de Macau, e por isso os sinais são muito positivos.” Porém, o artista ressalva que é necessário “continuar a tentar aproximas as duas línguas, Portugal com a China”. “Se queremos que conheçam a nossa literatura, também devemos conhecer a literatura chinesa”, rematou. Bruno Gaspar nasceu em França, na cidade de Paris, em 1979, crescendo depois na aldeia de Torrinhas, já em Portugal. Licenciou-se em História da Arte na Universidade Nova de Lisboa. Formou-se em Cinema de Animação na Fundação Calouste Gulbenkian e desde os 15 anos que participa em diversos projectos artísticos nas áreas do cinema de animação, fotografia, design, publicidade e marketing, escultura, ilustração, murais e artes plásticas. Bruno Gaspar trabalhou como ilustrador e cronista de viagens na imprensa portuguesa, tendo sido por diversas vezes finalista do Prémio Stuart Carvalhais, organizado pelo El Corte Inglés. Venceu o Prémio Maria Alberta Menéres em 2011. Em 2017, conquistou o segundo prémio de Artes Plásticas, no concurso a propósito do 25 de Abril de 1974, organizado pela CPM. É ainda director do cinANTROP (Festival Internacional de Cinema Etnográfico de Portugal) e fundador dos projectos artístico-solidários, como “Olhares sem Abrigo/Homeless Heys”, “Bibliotecas com Vida” e “Natal numa Caixa de Sapatos”. Conta com várias exposições nacionais e internacionais e tem obras presentes em colecções públicas e privadas.