Manchete SociedadeTufões | Especialistas avisam para necessidade de reforçar preparação Hoje Macau - 29 Set 2025 Vários académicos destacam que o facto de não ter havido mortos durante a passagem do super tufão Ragasa se deveu aos mecanismos de protecção civil, implementados depois dos grandes tufões de 2017 e 2018 Após o super tufão Ragasa, a mais poderosa tempestade registada no planeta em 2025, especialistas disseram à Lusa que Macau e Hong Kong têm de aprender a viver num mundo de constantes inundações e clima extremo. O Ragasa obrigou as duas regiões administrativas especiais chinesas a manterem o alerta máximo de tufão – nível 10 – durante mais de dez horas, um novo recorde histórico. As autoridades tinham alertado que este super tufão poderia trazer condições comparáveis ao Mangkhut, que em Setembro de 2018 provocou danos estimados em 4,6 mil milhões de dólares de Hong na antiga colónia britânica, e ao Hato, considerado o pior tufão em mais de 50 anos a atingir Macau, que em 2017 causou dez mortos e 240 feridos no território. O impacto do Ragasa foi muito menor. Em Hong Kong, houve cerca de 100 pessoas feridas, 1.220 árvores caídas e mais de mil voos cancelados. Em Macau, as inundações atingiram 1,51 metros, mas apenas foram registados sete feridos. Yau Yung, professor da Universidade Lingnan, em Hong Kong, defende que não foi sorte, mas sim “adaptação estrutural”. Faith Chan Ka Shun, professor na Universidade de Nottingham Ningbo, diz que a ausência de mortes foi “uma vitória”, que se deve a melhorias no sistema de alertas e na preparação da protecção civil. “Desta vez prepararam-se muito cedo, mais de 12 horas [antes da passagem do Ragasa]. As pessoas podiam decidir perder dinheiro porque pararam o trabalho, as escolas e tudo o mais”, sublinhou o académico nascido em Hong Kong. Perdas nos casinos Em Macau as autoridades encerraram os casinos durante 33 horas. As operadoras terão perdido 880 milhões de patacas em receitas, quase 5 por cento do previsto para Setembro, estimou Jeffrey Kiang, analista da consultora CLSA, citado pelo portal de notícias GGRAsia. Ainda antes da passagem do Ragasa, o líder do Governo de Macau já mostrava optimismo, apontando para a implementação de planos de evacuação para as zonas baixas e a realização anual de exercícios. Sam Hou Fai sublinhou ainda a entrada em funcionamento de estações elevatórias de águas pluviais e projectos de esgotos, que “melhoraram significativamente” a capacidade de drenagem e prevenção de cheias. Yau Yung admitiu que seria possível “realmente projectar uma cidade para a tornar à prova de inundações”, construindo “infra-estruturas em grande escala”, como os quebra-mares que protegem a cidade italiana de Veneza. Mas, com grande parte de Macau praticamente ao nível do mar, um sistema em larga escala “pode não ser eficaz nem economicamente viável”, avisou o especialista em planeamento urbano. Aproveitar o mar Por outro lado, sublinhou Faith Chan, tornaria mais difícil à população usufruir do mar, parte da história e cultura de ambas as cidades. O professor de ciências ambientais recordou que há zonas de Macau e Hong Kong onde as inundações são crónicas durante a estação chuvosa, entre Maio e Setembro, mesmo sem tufões. Por isso, Chan defendeu que faz mais sentido construir infra-estruturas para mitigar o impacto das cheias, nomeadamente tanques subterrâneos para armazenar águas da chuva. O especialista em gestão sustentável de inundações deu o exemplo dos Países Baixos, onde parques de estacionamento são desenhados com espaço para desviar a água pluvial. Yau Yung defendeu que incluir tanques para a água da chuva deveria ser “um requisito obrigatório” para qualquer edifício a ser construído em Macau e Hong Kong. “Claro que iria custar algum dinheiro, mas, na verdade, os benefícios podem compensar o investimento a médio prazo. Eu diria que é um bom negócio”, acrescentou o especialista em cidades inclusivas.