Ai Portugal VozesCriminoso André Namora - 22 Set 2025 A política em Portugal está a ultrapassar os limites da decência, da ética e da democracia. Cada vez mais assistimos ao progressivo comportamento de um antigo mau comentador de futebol, autarca do PSD e que resolveu fundar um partido neofascista. Obviamente que falamos de André Ventura. Olhos nos olhos sem qualquer receio das suas ameaças e dos seus capangas. Esta criatura ultrapassou todos os limites que possam existir na decência da prática política em termos públicos. O homem foi participar num comício em Espanha de um partido de extrema direita. Num país estrangeiro, Ventura teve o desplante de cometer o crime de ofender, insultar e denegrir a imagem do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, eleito democraticamente pelo povo nosso vizinho. Ventura com o seu discurso no comício, o qual não teve qualquer comparação com os próprios discursos dos membros do partido extremista espanhol que defende causas neonazis, chegou ao descaramento vergonhoso de dizer que “o primeiro-ministro do vosso país é um criminoso que tem de ir para a prisão”. Criminoso? Que tem de ir para a prisão? Dito por um estrangeiro no país que esse primeiro-ministro está em funções? Ofendendo os milhões de espanhóis que votaram em Pedro Sánchez? Mas o que é isto? Isto, é um crime político e humano. O Ministério Público de Espanha devia abrir de imediato um processo penal contra André Ventura. Já imaginaram o que aconteceria se Pedro Sánchez fosse a Lisboa e num comício do Partido Socialista, ao discursar, afirmasse que “Luís Montenegro é um criminoso, um corrupto e que já devia estar na prisão”? Obviamente que todos os portugueses sentiriam que um estrangeiro tinha no seu país ofendido e insultado a terceira figura do seu Estado. A revolta seria total, excepto nas hostes dos eleitores do Chega, e pediriam certamente que Pedro Sánchez nunca mais fosse autorizado a entrar em Portugal. André Ventura chamou “criminoso” ao chefe do Executivo espanhol, mas esqueceu-se de quem é criminoso. Esqueceu-se de um seu deputado que roubava malas nos aeroportos; esqueceu-se de dirigentes seus que foram acusados de pedofilia; esqueceu-se do crime que é receber financiamentos ilegais para o seu partido; esqueceu-se de um mandatário autárquico do Chega que deixou de pagar a renda de um edifício-armazém durante seis meses ao senhorio, deixou de pagar os salários das trabalhadoras e retirou todo o material de laboração do interior do edifício para poder abrir outra empresa noutro local. Criminosas são as divulgações que são feitas pelo jornalista premiado Manuel Carvalho, que acaba de lançar um livro que todos os portugueses deviam ler. Uma obra onde o Chega é absolutamente desmascarado ao lerem-se as mais diversas acções “criminosas” do Chega e de André Ventura. Um partido neonazi que em 2019 apresentou-se ao país dizendo que vinha para defender os “portugueses de bem, arrasar o sistema, limpar Portugal dos bandidos, expulsar imigrantes e erguer a Quarta República”. Forjado no sensacionalismo, o partido que galgou a escada do poder até se tornar a segunda maior força parlamentar em 2025 revelou-se um projecto político dominado por contradições, casos, vendettas e ambições desmedidas. Provocador em todas as linhas políticas que apresenta, trouxe polarização à vida democrática, cavalgou preconceitos e contribuiu para extremar a sociedade. Mas quem financia o Chega? Que enredos esconde? O que revelam os bastidores? A que redes internacionais está ligado? Como convive com saudosistas da ditadura e neonazis? Quais os perfis, percursos e métodos que disputam no interior do partido? Como atraiu eleitores de outros partidos? Que correntes religiosas e políticas disputam o poder? Como usa e reinterpreta o passado e a actualidade para conquistar sectores sociais fragilizados, jovens e zonas negligenciadas do país? Tudo isto, é respondido na obra excelente do jornalista Manuel Carvalho. E é este André Ventura que sem qualquer vergonha, depois de ter tentado cativar o almirante Gouveia e Melo para que o militar apoiasse o Chega e em contrapartida o almirante receberia o apoio do Chega nas eleições presidenciais – o que foi rejeitado pelo almirante -, veio agora armado em Messias anti-sistema candidatar-se a Presidente da República. E mais: para terminar a semana em oportunismo puro, Ventura infiltrou-se numa manifestação de protesto de um grupo de imigrantes com a intenção de levar uma bofetada, ao estilo da de Mário Soares na Marinha Grande, para poder ficar como mártir e angariar mais apoios. Obviamente que todos os portugueses que não esquecem os assassinatos, torturas e prisões durante a noite perpetrados pela PIDE de Salazar e Caetano, que não esquecem as mortes dos seus filhos numa guerra colonial absurda, que não esquecem os entes queridos que foram deportados para o Tarrafal e para Timor, que não esquecem a falta de liberdade e que não esquecem a censura na comunicação social, nunca irão votar numa criatura que mente diariamente com todos os dentes que tem na boca. O anúncio de Ventura como candidato a Presidente da República foi um chorrilho de ofensas a tudo e a todos, inclusivamente ao candidato Gouveia e Melo que Ventura tanto desejava apoiar, mas que teve uma virtude: os portugueses defensores da democracia ficaram a saber que uma qualquer vitória de Ventura, em qualquer eleição, representará o regresso do fascismo a Portugal. E depois disto tudo, o “criminoso” é o socialista Pedro Sánchez…