Sexanálise VozesNo mês da diversidade sexual, a quem pregamos? Tânia dos Santos - 11 Jun 2025 A minha intuição diz-me que estamos no caminho errado. Estamos a entrar num complexo sistema de túneis tenebrosos, numa montanha labiríntica, com pouca possibilidade de ver pontos de luz. Esses clarões ainda estão longe do nosso alcance — não antes de atravessarmos a escuridão e as curvas sinuosas que a rocha naturalmente forma. No jogo entre a luz e as sombras, perdemo-nos em dicotomias que nos iludiram, julgando-nos no caminho do progresso, da união, da diversidade e do respeito. Face ao que está a acontecer no mundo, social e politicamente, surgem teorias vazias — teorias de quem julga compreender o sistema complexo de desenvolvimento que é o nosso: o humano. Somos peixes no oceano a tentar dar sentido à água, sem nunca termos estado fora dela. Junho é o mês de celebração LGBTQIA+, e a tensão é palpável. O pinkwashing, i.e., o marketing que se aproveita de causas sociais e de movimentos cívicos para fins lucrativos — revela-se frágil. Já não se veem as cores do arco-íris como se viam no ano passado ou há dois anos. Agora, defender a causa LGBTQIA+ pode causar prejuízo. Para além disso, as redes sociais enchem-se de queixumes, como se a celebração do orgulho homossexual exigisse uma celebração oposta do “orgulho heterossexual”. Como se ser heterossexual não fosse já celebrado em cada esquina do mundo, com direitos plenos no amor e na união. O que vemos, ao invés, é uma incompreensão que só alimenta mais ódio, mais preconceito — e, em muitos casos, mais morte. Vivemos num mundo esquizofrénico: de um lado, a ilusão; do outro, a podridão disfarçada. Ambos os lados padecem dos mesmos males. Desenvolver espaços para falar sobre sexualidade — para que as pessoas se compreendam melhor a si próprias e aos outros — pareceu-me um mecanismo natural para a normalização do tema. No entanto, os caminhos de informação confusa e odiosa sobrepuseram-se. Como é que surge a teoria absurda de Elon Musk? De que a empatia destrói civilizações? E o amor — também as destrói? Esse ato tão natural, que leva ao sexo e à procriação, não se baseia nessa relação íntima e simples da empatia? Estamos perdidos. Rastejando nas trincheiras da batalha das ideias, há ainda assim esperança — esperança de que certas ideias não tenham de ser derrotadas por outras. Na Tailândia, em janeiro deste ano, legalizou-se o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em Hong Kong, agências noticiosas celebram uniões homoafetivas — impossíveis na China, em Macau ou em Hong Kong— que encontram noutros países do Sudeste Asiático a possibilidade de aceitação. Tenho refletido muito sobre como alcançar quem mais precisa de se rever numa palavra amiga, e de entender que a liberdade de ser é um direito humano. Há muitas vidas, neste momento, cujo valor é minimizado — como se uma vida valesse menos do que outra. No mês da diversidade sexual e de género, onde reina o sentido do direito à existência, quero honrar as pessoas que se diminuem, que são apagadas, violentadas e mortas pelas piores razões. Da Palestina ao resto do mundo. Não sei se estou a pregar para os peixes, para os convertidos, ou simplesmente para ninguém. Mas, se algum dia estas palavras chegarem aos olhos de quem mais precisar, dou-me por satisfeita. Não há aqui fantasias revolucionárias — apenas a crença de que é preciso estar do lado da compreensão e da empatia. O mecanismo que permitiu o progresso das sociedades até hoje.