Professores envergonhados

Os professores são estudo, conhecimento, cultura, dedicação e sofrimento. Não existem dois professores iguais. Uns do sexo feminino e outros do masculino. Em Portugal assistimos a professores, com filhos, a serem colocados a 300 quilómetros de casa.

A chegarem ao local de ensino e não terem as mínimas condições de habitabilidade. Os professores são o fundamental da formação dos nossos filhos. Muitos pais não compreendem que a formação dos seus descendentes tem a ver com os professores e que a educação tem de ser feita no seio familiar. Os professores devem ter sido a classe profissional que durante muitos anos foi a mais prejudicada e que mais manifestações de protesto realizou. Os seus protestos visaram a correcção da situação de milhares de professores que foram ultrapassados na carreira por colegas com menos tempo de serviço. Desde 2018, cerca de 50.000 professores não foram devidamente reposicionados, resultando na colocação de docentes com o mesmo tempo de serviço em escalões distintos, devido exclusivamente a normativos legais. Os professores sempre sublinharam que não lutavam por mais dinheiro, mas sim por justiça. Houve professores que estiveram mais de 30 anos no 10.º escalão quando já deviam ter sido colocados no sétimo escalão.

No ano passado realizou-se, em Lisboa, uma gigantesca manifestação com professores de todo o país, num encontro realizado pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e o líder Mário Nogueira defendeu que era preciso criar uma carreira mais atractiva que mantivesse os que ainda estavam nas escolas e que atraísse os jovens e os que optaram por abandonar a profissão antes do tempo. Os professores através dos seus representantes têm conquistado algumas reivindicações. No entanto, as escolas continuam a ser locais de grande preocupação. Os alunos perderam o respeito pelos professores e têm havido vários casos de violência em que alunos agridem professores. Não é fácil ser-se professor nos dias de hoje.

Todavia, na semana passada toda a classe dos professores deve ter ficado muito envergonhada. E é triste saber de professores envergonhados. Porquê? Porque foi divulgado nas redes sociais que uma professora teve um comportamento ignóbil de puro racismo. A docente, de alunos muito jovens, pediu que todos os presentes na aula afirmassem o que sonhavam para a sua vida adulta. Os alunos foram respondendo o que pensavam e quando chegou a vez de um aluno com raízes africanas, a professora retorquiu: “Tu, não vale a pena falares porque os fulanos da tua cor acabam todos no álcool e na miséria…”. Fez-se um silêncio sepulcral na sala de aula e o miúdo africano levantou-se e disse: “A senhora professora está muito enganada. A senhora vai acabar na miséria muito primeiro que eu porque fique sabendo que eu era órfão e fui adoptado por uma família muito rica, os meus avós são riquíssimos e os meus pais são muito, mesmo muito ricos e eu sou o neto e o filho único que receberei várias fortunas…”.

Este caso, tem chocado muitas comunidades e muitos professores ficaram envergonhados porque é inadmissível que uma professora seja racista ao ponto de poder traumatizar um aluno para o resto da vida. O racismo existe, sempre existiu. Mas, uma professora não pode dar um exemplo tão negativo da verdadeira função de formação numa sala de aula. O racismo é combatido por quantos defendem os direitos humanos e democráticos. Em Portugal temos um partido de extrema direita com laivos de racista. Possivelmente a professora em causa é eleitora desse partido. Quase que não se acredita que uma professora rejeite a palavra de um aluno “preto” apenas porque é “preto” e lhe diga que irá acabar no álcool e na miséria como todos os “pretos”. A professora mostrou não ter o mínimo conhecimento do mundo que a rodeia ou, então, é mesmo racista radical. Temos africanos milionários, advogados, engenheiros, arquitectos, médicos, jornalistas, deputados, líderes de grandes empresas, polícias, todos excelentes e, felizmente, temos portugueses de origem africana na maioria das profissões.

Esta professora não pode continuar a envergonhar os seus colegas. A docente tem de ser alvo de um processo disciplinar que vise ser expulsa da profissão e os pais do jovem ofendido deviam mover um processo-crime contra a professora pelas vias judiciais. Tratou-se de um caso lamentável e fica a pergunta: quantos mais casos semelhantes acontecerão pelas escolas de todo o país? Uma discriminação desta natureza, tão grave, não devia ficar impune e os directores das escolas têm de ter o completo conhecimento de que tipo de docentes têm nas suas escolas para poderem terminar com factos inadmissíveis como este que vos relatámos. Ai, Portugal, Portugal…

P.S. – Em crónica anterior escrevemos sobre as ilegalidades que se processavam nas prisões portuguesas. Na semana passada, a Polícia Judiciária levou a efeito uma mega operação em várias prisões e foram detidos dois guardas prisionais e um agente da PSP, conotados com a entrada de droga e telemóveis nos presídios.

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