Turismo | Análise diz que Macau é cada vez mais um destino de lazer

Os académicos Pedro Steenhagen e Sofia Xiaoying Hou analisaram a indústria do turismo de Macau, concluindo que, cada vez mais, o território é encarado como um destino de lazer e não tanto como uma terra de jogo. Os autores alertam para o “longo caminho a percorrer no que respeita à promoção do turismo sustentável”

 

O sector do turismo em Macau tem mudado nos últimos anos e as visões dos próprios turistas também, encarando cada vez mais o território como um local onde se pode passear e desfrutar de zonas de lazer, e não tanto como uma terra de jogo. Esta é uma das conclusões da análise “Tourism as a Driver of China’s Cultural Soft Power: The Role of Macau and the Convergences Between the New Silk Road and the Greater Bay Area” [O Turismo como Motor do Soft Power Cultural da China: O Papel de Macau e as Convergências entre a Nova Rota da Seda e a Área da Grande Baía], da autoria de Pedro Steenhagen, da Universidade de Fudan, e Sofia Xiaoying Hou, ligada à Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an. A análise à indústria do turismo na RAEM é um dos capítulos do livro “The Palgrave Handbook on China-Europe-Africa Relations”, recentemente editado.

Desta forma, conclui-se que “a percepção da imagem de Macau por parte dos turistas tem vindo a mudar nos últimos 10 anos, sendo a RAEM cada vez mais vista como um local de lazer e férias em geral, e não especificamente ou puramente como um centro de jogo”. Acrescenta-se ainda que “a imagem da RAEM como destino turístico está em transição, e as pessoas que visitam Macau têm valorizado muito as suas atracções culturais únicas, incluindo a sua arquitectura e gastronomia, resultado da mistura das culturas e heranças chinesa e portuguesa”.

Porém, os autores consideram que “Macau tem ainda um longo caminho a percorrer no que respeita à promoção de um turismo sustentável efectivo”. Entende-se que o turismo sustentável “deve ter plenamente em conta os seus impactos económicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, do sector, do ambiente e das comunidades relacionadas”.

Neste campo, os autores destacam, citando outro autor, que “Macau tem feito esforços para alcançar boas notas nestas e noutras matérias, pois a indústria do turismo da RAEM tem vindo a passar por uma ‘revolução silenciosa’ desde o início da pandemia”.

Destaca-se também que, a nível mundial, a Organização Internacional do Turismo criou algumas directrizes sobre sustentabilidade, criando “um importante quadro de turismo sustentável”. Para tal foram propostos “cinco pilares fundamentais para avaliar a sustentabilidade do sector turístico de um Estado”, tais como “política e governação do turismo; comércio, investimento, dados e competitividade; emprego, trabalho digno e capacitação; redução da pobreza e inclusão social; e sustentabilidade dos ambientes naturais e culturais”.

A Rota da Seda

Os académicos analisam também o papel do sector turístico de Macau na estratégia de “Uma Faixa, Uma Rota”, destacando que o território “tem vindo a ganhar um papel de destaque nas políticas locais, regionais e externas, sendo um actor capaz de melhorar a Rota da Seda do Turismo e dinamizar o turismo na região da Grande Baía”.

Entende-se que Macau traz novos contributos à forma como a China apresenta a sua cultura, pois “devido ao património e produtos turísticos existentes, apresenta a cultura chinesa aos visitantes estrangeiros através de uma nova lente, mais diversificada, que vai além da tradicional”. Desta forma, permite-se que os turistas, “em especial do mundo lusófono, [criem] uma melhor ligação e compreensão do país através de laços históricos e culturais comuns”.

No que diz respeito ao projecto da Grande Baía, considera-se também que tanto essa região como o próprio território de Macau têm “integrado activamente as estratégias de desenvolvimento turístico no quadro da BRI”, ou seja, a “Belt and Road Initiative”, designação inglesa para “Uma Faixa, Uma Rota”.

Macau possui “um leque diversificado e distinto de recursos turísticos, tais como as artes, a história, as construções e tradições religiosas, a gastronomia, o desporto, os museus, entre outros”, e as autoridades locais têm procurado, segundo os autores, “marcar a sua indústria turística, promovendo o ‘Turismo+’ com a cooperação transfronteiriça no âmbito da BRI”. A ideia é “criar uma imagem de Macau como uma cidade com culturas diversificadas, integrando os sectores do turismo, entretenimento, cultura, desporto, negócios, convenções e exposições, cuidados de saúde, recreação, tecnologia e grandes eventos”.

Melhorias em curso

Pedro Steenhagen e Sofia Xiaoying Hou entendem que o Governo de Macau “tem tentado melhorar o soft power cultural e aumentar a atractividade turística através do desenvolvimento de produtos, da melhoria das instalações e de propaganda”, além de que têm sido realizados “projectos para melhorar as instalações, como hotéis, restaurantes, transportes e passeios digitais”.

Dá-se o exemplo de dois percursos em formato digital criados pelo Instituto Cultural, nomeadamente, em 2021, “A Casa da Família de Zheng Guanying” e também “Fortaleza da Guia”. De resto, as autoridades têm criado diversas plataformas interactivas com recurso à realidade virtual aumentada.

Apesar de todos os esforços apontados às autoridades locais, entende-se que “a RAEM tem ainda um potencial inexplorado para reforçar os laços culturais entre a China e os países de língua portuguesa, podendo esta década apresentar grandes oportunidades nesse sentido”.

A aposta turística

Neste capítulo, os autores olham também para o posicionamento do turismo na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” por parte de Pequim, tendo em conta que “a China tem vindo a prestar cada vez mais atenção à necessidade de expandir o seu soft power cultural, tanto a nível regional como global”. Desta forma, o país “tem formulado vários planos de desenvolvimento cultural associados a “Uma Faixa, Uma Rota” e à área da Grande Baía, e o turismo tem aparecido constantemente como um elemento essencial da sua estratégia global”.

No próprio país “o turismo ganhou relevância, quer como meio de melhorar a imagem internacional, quer como fonte de receitas”. Só em 2018 “cerca de 159 milhões de visitantes viajaram para o país, que investiu 155 mil milhões de dólares em infra-estruturas turísticas – um valor que só fica atrás do dos Estados Unidos, mas que deverá tornar-se o primeiro até 2028 -, uma vez que viu o sector representar 11 por cento do seu produto interno bruto total”.

Os autores defendem que “ao ligar e aumentar a dinâmica entre a BRI [Belt and Road Initiative] e a área da Grande Baía, com um esforço interessante na diversificação da economia de Macau e no fortalecimento do seu sector turístico, bem como entre os objectivos nacionais e regionais, a China parece estar a encontrar uma forma de impulsionar o turismo e colher os frutos em termos de soft power cultural”.

Assim, e a longo prazo, considera-se que o país “poderá não só fazer crescer o poder das suas narrativas e da sua cultura, mas também melhorar o poder normativo e o posicionamento institucional na cena mundial, sobretudo no que diz respeito às questões de governação”.

De referir que o livro “The Palgrave Handbook on China-Europe-Africa Relations” é editado por Yichao Li, Jorge Tavares da Silva, Carlos Rodrigues e Francisco José Leandro, da Universidade de Macau. A edição está a cargo da Palgrave Macmillan.

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