Ai Portugal Vozes11 mortos sem importância André Namora - 18 Nov 2024 Ai, Portugal, Portugal onde acontece tudo o de mais inacreditável referindo apenas os aspectos sociais e políticos. Morreram 11 portugueses por alegada falta de socorro do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Custa a acreditar, não custa? Mas foi o caso mais grave e mais triste da semana passada neste jardim mal plantado à beira-mar. O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar, uma profissão que inventaram e que não é carne nem peixe, ou melhor, esses técnicos não são enfermeiros nem médicos – mas alguns têm raiva aos enfermeiros -, só porque aprenderam a executar os primeiros socorros quando uma ambulância se dirige a um paciente que esteja mal de saúde num acidente rodoviário, em casa à beira de um ataque cardíaco ou noutra situação qualquer incluindo confirmarem a morte do socorrido, resolveram reivindicar o pagamento das horas de trabalho extra e, vai daí, decidiram fazer uma greve, como se moralmente os enfermeiros, médicos e técnicos de saúde devessem ter o direito à greve, quando está em causa a vida das pessoas. E não venham com a conversa da treta dos serviços mínimos. Foi por causa dos serviços mínimos que morreram 11 portugueses sem socorro de emergência. Como assim? Passo a explicar: o referido sindicato enviou para o presidente do conselho de administração do INEM, para a secretária de Estado da Saúde, para a ministra da Saúde e para o Gabinete do primeiro-ministro um aviso de pré greve às horas extraordinárias, que são imensas. Todas as entidades que receberam o pré-aviso de greve não ligaram nenhuma ao assunto, tomaram conhecimento e assobiaram para o lado. No dia da greve começaram a chover centenas, ou mais, de telefonemas oriundos dos mais diversos locais do país a pedir o habitual socorro do INEM. Mas, os tais serviços mínimos não tinham sido accionados e neste ponto, em nosso entender, a culpa não é só das autoridades avisadas, mas também do sindicato. As senhoras e senhores técnicos de emergência pré-hospitalar tinham a obrigação de ser humanistas e pensarem que estava em causa uma única coisa, a vida dos portugueses. Obviamente que sem serviços mínimos não haveria socorro e os pedidos de emergência clínica chegaram a ter uma resposta entre meia hora e duas horas, acabando por morrer 11 portugueses alegadamente devido à causa efeito da greve dos técnicos do INEM. Permitam-me um parêntesis apenas para vos dizer que ainda me recordo que todas as ambulâncias do INEM em socorro tinham uma equipa constituída pelo motorista, que algumas vezes era assistente de enfermagem, um médico e um enfermeiro. Depois, devido à falta de médicos e de enfermeiros, formaram estes técnicos que chegam ao local onde se encontra o doente ou sinistrado, medem a tensão arterial, fazem algumas perguntas ao doente quando este pode falar, registam toda a situação que encontraram num computador e transportam o doente para a ambulância e vão a caminho do hospital mais próximo. Voltando ao grave acontecimento de 11 mortes por alegada culpa de uma greve de técnicos do INEM e de políticos incompetentes, saliente-se que está tudo preparado para que a culpa morra solteira. O primeiro-ministro pouco ou nada disse sobre o caso, aliás, disse que não podia haver uma ambulância em cada prédio… que horrível para um chefe do Executivo. A ministra da Saúde quando toda a gente começou a exigir a sua demissão foi à Assembleia da República pronunciar umas baboseiras, entre elas, que não se demitia porque não mentia, não se escondia e que ia assumir a total responsabilidade e a pasta do INEM. Houve deputados que riram para não chorar. A secretária de Estado da Saúde ficou de boca aberta quando soube pela televisão que tinha ficado sem a tutela do INEM, ficando absolutamente fragilizada politicamente e, nem assim, pediu a demissão do cargo. O presidente do INEM, o quarto presidente do INEM nomeado pela ministra desde que o Governo tomou posse, nem sabia o que dizer aos jornalistas, para além de mais parecer um “menino de copo de leite”… E o sindicato que foi para a greve e que provocou alegadamente a morte de 11 portugueses por falta de socorro médico? Bem, o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar é um caso sui generis. Em primeiro lugar, nunca tinha visto uma entidade sindical a louvar uma ministra. Afinal que raio de sindicato é este politicamente? Defende os seus trabalhadores, a greve ou um governo de direita com aliados da extrema direita? Mas que raio de sindicalismo é este? Ou os sindicatos agora têm cada um a sua cor de política partidária? Este sindicato, depois dos factos graves que vos descrevi, louva a ministra e atira as culpas para a secretária de Estado. Coisa feia e inadmissível para uma instituição que apenas devia defender os direitos dos trabalhadores. Um presidente de sindicato que aparece nas televisões de fato e gravata como se fosse um ministro e a “explicar” o que ninguém entende… E afinal, de quem é a culpa das 11 mortes sem socorro? A secretária de Estado da Saúde, ao tirar a água do capote, teve o desplante e a pouca vergonha de afirmar que a culpa era do anterior Governo… Ai, Portugal, Portugal ao que chegámos. Então a senhora está a governar há mais de oito meses, mandou embora outros presidentes do INEM e a culpa da falta de socorro em Novembro de 2024 é do Governo de 2023? Absurdo, para não lhe chamar um nome feio. Resumindo: a ministra terminou a semana dizendo que terá de se aguardar pelo resultado dos inquéritos que decorrem sobre as 11 mortes dos portugueses sem socorro, quando todos sabemos que normalmente a abertura de um inquérito tem a intenção de fazer esquecer o assunto grave acontecido e deixar passar um qualquer resultado sentencioso para as calendas. Neste particular, recordando que a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, se demitiu quando morreu uma mulher grávida num hospital por alegada assistência negligente, resta dizer-vos que estamos absolutamente convencidos que a culpa irá morrer solteira e os 11 mortos para toda esta gentinha não tiveram qualquer importância… P.S. – O Governo nem sequer se pronunciou sobre eventuais indemnizações aos familiares das vítimas por falta de socorro estatal.