Pedro Costa Ferreira, Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo | No Oriente, o céu é o limite

O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) fala da relação de enorme proximidade com as autoridades de Macau em promoção turística. Em entrevista ao HM, Pedro Costa Ferreira defende que Macau, como destino turístico para a Europa, tem mais a ganhar se for associado a regiões do sudeste asiático

 

Foi anunciada a realização do congresso da APAVT em Macau no próximo ano. O que poderemos esperar deste encontro?

Não lhe vou adiantar grandes detalhes porque ainda vamos ter o congresso deste ano em Huelva, Espanha. Mas posso dizer que escolhemos Macau para um congresso muito especial, sobretudo porque vai fazer de Macau o território que mais vezes acolheu o congresso da APAVT, em 1982, 1990, 1996, 2008 e 2017. Dá a ideia da solidez da nossa relação com o território ao longo deste tempo. Além disso, será no ano em que fazemos 75 anos de existência, além de ser o nosso 50º congresso. Queremos, assim, que este congresso seja especial a nível de conteúdos, figuras presentes, que costuma ser o sector do turismo português todo, e talvez europeu e espanhol.

Algumas linhas de cooperação especiais com Macau que serão lançadas no evento?

Mais do que termos algo específico a desenvolver, o congresso é o final de uma etapa importante no nosso relacionamento, tendo em conta que vamos desenvolver também outras etapas. Temos feito um trabalho metódico e plurianual com Macau. Julgo que Macau pode ser considerado, juntamente com a Madeira, o local que tem o melhor relacionamento e trabalho feito com as agências de viagens em Portugal. 2025 será certamente o ano de ouro para Macau no seio da APAVT. Vamos ter a presença de Macau na FITUR [Feira Internacional de Turismo], onde iremos aprofundar o nosso relacionamento com o mercado espanhol, depois teremos a presença da APAVT muito significativa na BTL [Feira de Turismo de Lisboa]. Teremos certamente uma presença multifacetada e dinâmica no MIT [Macau International Travel (Industry) Expo, ou Exposição Internacional de Viagens (Indústria) de Macau]. Tudo o que é liderança turística europeia vamos levar a Macau em 2025. Depois tudo culminará com o congresso, onde passaremos a uma nova agenda e acções.

Como explica essa ligação de Macau com as agências de viagens em Portugal?

As agendas que são formadas, e que definem o relacionamento entre a APAVT e os diversos destinos turísticos, dependem da atenção que é dada por esses destinos às dinâmicas de relacionamento. O que tem acontecido com Macau, antes e depois da pandemia, é a existência de um historial importante e um relacionamento que se foi intensificando. No pós-pandemia tivemos uma etapa nova e muito produtiva. Julgo que há uma vontade muito grande de Macau de voltar à procura europeia e a internacionalização da procura turística pela região. Da nossa parte estamos sempre disponíveis e recebemos de braços abertos todos os destinos turísticos que queiram trabalhar connosco. Depende da iniciativa dos destinos. Madeira tem tido um trabalho de proximidade que só é, de facto, comparável, a Macau.

Considera que será desafiante a tentativa de internacionalização de Macau como destino turístico, uma vontade do Governo que persiste há muitos anos?

Não quero responder como algo que será difícil ou fácil. Há determinadas características no relacionamento das agências de viagens com o destino. Temos uma primeira dificuldade a recuperar, que é o facto de termos dado um grande passo atrás na pandemia e todo o Oriente foi a região que mais tarde abriu. Portanto, há um maior atraso, dos mercados emissores, em relação à recuperação de valores de antes de 2019 no Oriente do que no Ocidente. Há essa primeira dificuldade. Recuperámos mais cedo os fluxos turísticos no Ocidente. Depois, do ponto de vista do mercado português, temos de pensar que Macau nunca vai ser ‘mass market’ [mercado de massas]. Temos de olhar para o destino de acordo com as suas valências e capacidade de procura. Em relação a Portugal temos uma dificuldade acrescida, que é a inexistência de voo directo. Isso tem sido falado e parece-me importante. Vejo com bons olhos as notícias de uma eventual ligação da Air Macau a Istambul, uma excelente ‘gateway’ para o Oriente, e isso pode facilitar as viagens. Devemos perceber quais as valências de Macau e como as podemos desenvolver.

E quais são elas?

Existem valências específicas em Macau, que é um excelente momento de encontro de culturas, com uma oferta turística muito moderna. Macau tem excelentes condições de acolhimento, uma gastronomia que pode ser considerada das melhores do mundo, tem é de ser descoberta. É diversa e de grande qualidade. Tem ainda uma indústria de entretenimento que, não sendo a sua principal característica, não deixa de se desenvolver. Temos de acrescentar a capacidade de gerar produto mais global, que podem ser oportunidades para Macau. Para o mercado emissor ocidental, Macau tem de estar estruturado com mais alguma coisa. O mais óbvio é a China, mas também se pode juntar o território à Tailândia, Filipinas, Camboja mais o Vietname. Há muitas possibilidades. Os turistas quando fazem estas viagens de longa distância têm a apetência para ficar mais tempo e juntar as valências de Macau a mais destinos a Oriente pode levar a uma recuperação e desenvolvimento dos fluxos turísticos.

O turismo de Macau está gradualmente a transformar-se desde as novas licenças de jogo, que trouxeram novas exigências às operadoras.

Julgo que se está a diversificar e muitas das transformações recentes podem, eventualmente, ser associadas às novas concessões. Sentimos que há uma necessidade, vontade e óbvia estratégia de diversificação da oferta, e do ponto de vista dos mercados emissores ocidentais, é o que faz sentido. Portanto, a abordagem de Macau aos principais factores de desenvolvimento [do sector] é muito correcta e perceptível. Isso é bom para quem trabalha com destinos turísticos, porque dá confiança ao relacionamento.

Que análise faz à evolução do turismo do território desde o período da Administração portuguesa, quando a APAVT começou a fazer as primeiras acções em Macau?

Parece-me óbvio que os últimos anos foram de explosão em termos de desenvolvimento económico e de capacidades de acolhimento de turistas, disso não tenho dúvidas. É uma oferta mais complexa e diversificada, acompanhando também o desenvolvimento de várias ofertas e destinos. Talvez Macau estivesse mais centrada na história portuguesa, e agora parece-me mais evidente e importante para mercados emissores europeus, não portugueses, é que seja vendido como um local de encontro entre culturas, história, modos de vida ocidental e oriental.

O Chefe do Executivo esteve em Portugal em 2023. Como tem sido a comunicação com as autoridades de Macau desde a visita?

Essa visita foi, para nós, simbólica e muito motivadora. Expressou uma aposta do destino que sentimos no nosso trabalho diário e que acabou por nos ser transmitido a um nível superior. De resto, a relação com a Direcção dos Serviços de Turismo é quase perfeita. Temos uma comunicação próxima porque a agenda é complexa e dinâmica, além de contínua. Os nossos agentes de viagens sentem-se muito apoiados.

Macau está progressivamente a integrar-se na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e Hengqin. Como pode o mercado turístico português tirar partido disso?

Não se trata de um botão em que se carrega e começa a funcionar. É mais um processo e uma estratégia. Ganhamos todos com a clarividência e transparência da comunicação que é feita pela região. Fomos a Hengqin e observámos as novas oportunidades e interesse que Macau tem em criar novas capacidades de estruturação do produto [turístico] além do território. É alargar a região em termos de destino turístico. É preciso criar condições de acolhimento.

Tem gerado debate público o facto de a China ainda não ter incluído Portugal na lista de países isentos de visto. É um entrave ao turismo?

A abolição de vistos é sempre bem-vinda para quem trabalha em turismo. Aqui não é excepção. Há afirmações de responsáveis políticos que abrem a porta à nossa inclusão. Temos de nos concentrar na tentativa de sermos incluídos o mais cedo possível, e as vantagens são óbvias. Quando falamos em estruturação de produto, juntamente com outros territórios a Oriente, o mais natural é com a China. Necessitar de visto quando se vai de Macau para a China perturba a construção da oferta [turística]. Esperamos com optimismo.

Como é hoje o perfil do turista chinês que visita Portugal?

Neste momento, o mercado emissor chinês não é de elevada importância para Portugal, nem tem números que mostrem que seja um dos primeiros, ou mais importantes. O mercado chinês tem características que podem ser relevantes no futuro, por ser um mercado que não visita as regiões turísticas mais sazonais em Portugal, por não ser virado para a praia, por exemplo. Assim, é um mercado que nos pode ajudar a diminuir a nossa sazonalidade e a ter mais território turístico. É um mercado que trabalha bem com o Alentejo, centro do país, o Porto. O melhor estará para vir. Do que aprendi na relação com o Oriente é que o início é mais demorado, é preciso formar confiança, mas depois é um mercado em que o céu é o limite. Ainda estamos na fase de obtenção de confiança.

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