Montenegro é o bombeiro

No próximo domingo Portugal terá um novo primeiro-ministro. Entrámos na última semana de campanha eleitoral. Até agora tem sido um lavar de roupa suja entre os principais candidatos, Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro e André Ventura. Nunca tivemos tantos indecisos, cerca de 20 por cento, e tanta gente a dizer que não vai votar. A grande parte do eleitorado já não acredita nas promessas dos políticos e estes nada têm feito para sensibilizar o potencial eleitor a decidir-se pelo voto concreto. Durante a semana passada assistimos a um pouco de tudo com evidência profunda nas hostes da AD comandada por Luís Montenegro. Aconteceu-lhe um pouco de tudo, incluindo uma lata de tinta verde pela cabeça abaixo por parte de um jovem activista que diz defender o clima. A AD parece não ter conselheiros que entendam de política a sério. Vejam só: pediu a Cavaco Silva para “ressuscitar” e apelar no voto AD, o homem que foi o pior Presidente da República; convocou o ex-primeiro-ministro Passos Coelho para um comício no Algarve. O mesmo Passos Coelho que os pensionistas e muitos portugueses nem querem ouvir falar no seu nome pela governação destruidora que realizou enquanto governante contra os mais desfavorecidos, incluindo o corte nas pensões e a retirada do subsídio de Natal. Passos Coelho subiu ao palco e só deixou recados a Montenegro e misturou imigrantes com a falta de segurança existente no país. Uma aberração política que foi criticada por todos os analistas políticos. E depois rematou com um recado de lesa pátria. Deu a entender a Montenegro que a AD tinha de ganhar nem que para isso tivesse uma maioria parlamentar aliada ao Chega. Uma posição contrária ao líder da AD que sempre tem anunciado que nunca fará uma aliança com o Chega. Depois, a AD chamou a outra acção de campanha Assunção Cristas, a tal governante que deixou os inquilinos na desgraça e que ao mudar a lei a favor dos senhorios, provocou na classe média um sofrimento que ainda hoje é sentido pelo país fora. Sem consultores credíveis a AD rematou da pior maneira chamando ao palco Durão Barroso, o tal primeiro-ministro que fugiu à responsabilidade de governar o país para ocupar um “tacho” na União Europeia e a mesma criatura que o povo não esquece devido ao apoio que deu a Bush e seus capangas para invadir o Iraque. E foi este mesmo político que veio apelar ao voto na AD como se uma pessoa fosse ao mercado comprar bananas. E o que restou a Montenegro? Ser simplesmente bombeiro e apagar todos estes fogos que o estiveram a prejudicar para que possa realizar o seu sonho de ser primeiro-ministro. O que ainda lhe valeu foi a lata de tinta verde pela cabeça abaixo. Fez-nos recordar a bofetada que deram a Mário Soares na Marinha Grande, quando estava em maré baixa e que a bofetada o tornou num mártir e ganhou as eleições desse ano. Durante a campanha a AD tem anunciado várias patetices impossíveis de realizar e, talvez, por isso, as sondagens dão um empate técnico com o Partido Socialista.

Quanto a Pedro Nuno Santos, o seu partido cometeu um erro de palmatória em dar-lhe indicações para parecer um político moderado, sem radicalismos, e tentar conquistar votos ao centro que normalmente poderiam pertencer ao PSD. Nuno Santos tinha de ser ele próprio: o político frontal, que fala alto, olhos nos olhos seja com quem for, activo ao máximo e a anunciar a realização dos projectos que sempre sustentou. Pelo contrário, começou apagado, melhorou um pouco, mas sempre moderado e talvez só nesta semana irá aparecer o verdadeiro Nuno Santos e é se quer ganhar as eleições.

Quanto aos outros candidatos assistimos a uma pobreza franciscana. A Iniciativa Liberal perdeu Cotrim de Figueiredo e constata-se que Rui Rocha não tem perfil para conseguir mais que cinco por cento dos votos. Mariana Mortágua não chega nem aos calcanhares da filosofia política de Catarina Martins, uma seguidora das teses aprendidas no contacto com o grande político Francisco Louçã. Mortágua não apresentou nada de novo e apenas está preocupada que os socialistas ganhem as eleições para poder fazer parte de uma nova geringonça. A CDU, com a liderança do PCP, mostrou que Paulo Raimundo foi uma péssima escolha para secretário-geral. Não tem mesmo jeito nenhum para falar às massas e o PCP deve estar muito arrependido de ter posto de parte Bernardino Soares, o melhor político comunista. Para vos falar do Livre, é dizer-vos que a desilusão sobre Rui Tavares foi total. O líder do Livre que estava a subir nas intenções de voto estragou tudo de um dia para o outro quando afirmou que se a AD ganhasse poderia viabilizar um governo da direita democrática. Uma gaffe inacreditável, para quem sempre se anunciou como homem de esquerda. Por último, referir-vos o PAN, um partido que a maioria do país nunca leu o seu programa. E é pena, porque Inês de Sousa Real sabe o que diz e defende princípios de grande valor, especialmente em defesa da natureza e dos animais. Dá a ideia de estar sozinha e se conseguir voltar a ser eleita será um milagre.

Faltam apenas cinco dias de campanha eleitoral e obviamente que nestes dias serão jogadas todas as cartadas para que cada um consiga obter o melhor resultado. Uma coisa já é certa: a abstenção voltará a ser enorme, porque os descontentes aumentaram e não querem saber mais de eleições. Ganhe quem ganhar, teremos certamente um país praticamente ingovernável a aguardar que o Presidente da República marque novamente eleições para Outubro.

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