Li Qingzhao – Poemas do erotismo suave

Li Qingzhao李清照 (leia-se Li Chin-tsao) é a grande dama da poesia chinesa. Nasceu em 1084 em Jinan, hoje capital da província de Shandong e é, por certo, a maior poetisa da China. Aos dezassete anos casou com Zhao Mingsheng, um ilustre letrado e mandarim como ela amante das belas-artes, da poesia, da cultura. Viúva, após trinta anos de vida feliz em comum, Li Qingzhao dedicou-se por inteiro à poesia, tendo escrito alguns dos poemas de amor mais famosos e sentidos de toda a poesia chinesa. A sua obra – conhecem-se apenas sessenta e dois poemas – costuma ser dividida em três períodos, primeiro, os anos felizes de casamento e juventude; segundo, o tempo em que viveu separada do marido por causa das guerras que assolaram o império, com versos melancólicos e tristes, na esperança do reencontro com o homem amado; e o terceiro, os anos de viuvez, com poemas de profunda saudade pelo companheiro que partira. Faleceu em 1155. No mundo chinês ninguém mais a esqueceu.
Em Li Qingzhao, a extraordinária sensibilidade feminina mesclando a sublime natureza com o indefinível pulsar de um grande coração. Assim:

采桑子

晚来一阵风兼雨
洗尽炎光
理罢笙簧
却对菱花淡淡妆
绛绡缕薄冰肌莹
雪腻酥香
笑语檀郎
今夜纱幮枕簟凉

Colher fruta madura

A noite, o vento arrasta a chuva,
apaga o fogo sufocante do sol.
Fui buscar a flauta de bambu,
diante do espelho, retoco o meu rosto.
A minha carne,
sob o robe de seda púrpura,
como jade ou neve, liso e perfumado.
Sorrio e digo: “Meu amor, esta noite,
por detrás das cortinas de gaze,
na frescura do nosso leito.”

Ou:

如梦令

常记溪亭日暮
沉醉不知归路
兴尽晚回舟
误入藕花深处
争渡
争渡
惊起一滩鸥鹭

Como um sonho

Recordo o pavilhão junto às águas, ao entardecer,
e nós, embriagados, incapazes de encontrar o caminho de regresso.
Longe de tudo, encharcados em prazer,
remávamos ao acaso, entre tufos de lótus verdes.
Mais depressa, mais depressa…
Na margem, assustadas, garças e gaivotas levantavam voo.

Ou:

武陵春

风住尘香花已尽,
日晚倦梳头。
物是人非事事休,
欲语泪先流。
闻说双溪春尚好,
也拟泛轻舟。
只恐双溪舴艋舟,
载不动许多愁。

Primavera em Wuling

Cessou o vento, a terra exala o perfume das flores caídas,
cai a noite, para quê pentear os meus cabelos?
Sua roupa está lá, mas ele não. Nada mais faz sentido.
Queria falar-lhe e desfaço-me em lágrimas.
Dizem-me, nas margens do lago é esplendorosa a Primavera.
Eu também gostava de passear de barco,
mas receio que uma barca tão frágil
não aguente o peso de tanto sofrimento.

Ou, recreando a fala de uma cortesã, ou prostituta:

点绛唇
 
蹴罢秋千,
起来慵整纤纤手。
露浓花瘦,
薄汗轻衣透。

见有人来,
袜铲金钗溜,
和羞走。
倚门回首,
却把青梅嗅。

Pintar os lábios de vermelho

Após os muitos jogos do baloiço,
levanta-se, cansada, pinta outra vez o rosto.
Foi o orvalho pesado numa frágil flor,
pérolas de suor humedecem a sua roupa fina.
Chega um novo cliente,
volta a tirar as meias,
caem os alfinetes dourados.
Provocante, encosta-se à porta do quarto,
respirando o aroma de uma maçã verde.

traduções de António Graça de Abreu, Outubro 2022

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Catarina Delduque
Catarina Delduque
8 Nov 2022 22:52

Boa tarde. Muito obrigada por este artigo. Será possível encontrar estes poemas traduzidos para português em livro?
Agradeço
Catarina