Arquitecto apela à intervenção de peritos portugueses para salvar Basílica em Goa

O arquitecto Fernando Velho, membro do grupo independente Coletivo de Goa, que defende a conservação de monumentos históricos naquele estado indiano, apelou ontem à intervenção de peritos portugueses para salvar a Basílica do Bom Jesus, ameaçada pelas chuvas. “Era preciso que especialistas portugueses se reunissem com peritos locais e fizessem um relatório” sobre o restauro da Basílica, apelou Fernando Velho, considerando “urgente” a intervenção naquele monumento, considerado património mundial.

O arquitecto indiano, que falava à Lusa após o reitor da Basílica em Goa Velha ter alertado que a igreja está em “grave perigo” de “colapso”, confirmou que a infiltração de água nas paredes ameaça o monumento, depois de o estuque que recobria originalmente a fachada ter sido removido nos anos 1950.

A polémica intervenção deixou a igreja, construída em rocha porosa pouco resistente ao clima húmido indiano, exposta à chuva e às monções. “Nos anos 1950, além de o estuque ter sido removido, houve uma série de outras intervenções, como a adição de lajes de betão e a modificação do telhado”, explicou Fernando Velho, um dos arquitectos consultados pelo reitor da Basílica, o padre Patrício Fernandes. “A integridade da estrutura da Basílica foi afectada”, explicou, e os reforços introduzidos há 70 anos “estão agora a ceder, por causa da deterioração do betão”.

Exposta aos elementos, “a pedra deteriorou-se muito em algumas áreas da fachada, por causa das monções”, explicou o arquitecto. A situação agravou-se devido às alterações climáticas, afirmou. “Por causa do aquecimento global, deixou de haver estação seca e monção na Índia, chove durante o ano todo. Todos os meses chove mais, o que não acontecia antes, e as paredes não têm oportunidade de secar”, disse o arquitecto.

A expansão urbana da vizinha Pangim, capital do estado de Goa, também ameaça o monumento, classificado pela UNESCO em 1986. “O governo de Goa não definiu zonas tampão, obrigatórias pela lei nacional”, disse o arquitecto, denunciando “interesses imobiliários”. “É um problema que não existia no passado, mas com a construção de uma autoestrada muito perto da Basílica e o aumento do betão naquela zona, toda a água é absorvida pela igreja”, lamentou.

Para Fernando Velho, “é urgente rebocar a igreja” e salvaguardar o monumento, considerando que a proteção da Basílica “é um problema transnacional”.

“Era importante ter peritos de Portugal envolvidos, porque o reboco em igrejas também foi feito lá”, disse, recordando que há vários especialistas portugueses que estudaram a Basílica do Bom Jesus. O reitor da Basílica do Bom Jesus disse hoje à Lusa que a igreja construída pelos portugueses no séc. XVI está “em grave risco” de “colapso”, apelando a obras urgentes.

O padre Patrício Fernandes alertou os serviços de conservação de monumentos de Goa (ASI), instando-os a rebocar as paredes da igreja e a fazer obras no telhado, mas segundo o prelado, tem havido resistência em proceder à intervenção. “A maioria das pessoas sempre conheceram esta igreja sem reboco, por isso pensam que era assim originalmente”, explicou.

Construída entre 1594 e 1605, a Basílica do Bom Jesus faz parte de um grupo de igrejas e conventos erigidos pelos portugueses, classificados pela Unesco como Património Mundial, em 1986. A Basílica, um dos monumentos mais visitados em Goa, alberga o túmulo de S. Francisco Xavier, missionário jesuíta canonizado no séc. XVII, conhecido como o “apóstolo do Oriente”.

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